Ano
7*** A M A R G O S A - BA ***Edição 2293
Esta domingueira, como a sabática, ainda é de Amargosa,
onde cheguei quando já era noite de sexta-feira, participando, então, das
atividades inaugurais do V Encontro de Química
da Bahia. Ontem pela manhã, assisti uma mesa-redonda "A pós-graduação em Química no interior do estado da Bahia” À
tarde ministrei a primeira sessão do minicurso: “Propostas para ações interdisciplinares usando a História e a
Filosofia da Ciência.” Esta tarde continuo o minicurso e à noite faço a
palestra de encerramento do evento.
Amargosa deve ser uma cidade de muitas igrejas. Nas
minhas idas hotel/UFRB tenho visto dezenas; na foto a imponente matriz católica. Vale lembrar, antes de trazer o que
é central hoje, que estou na terra tida como a produtora da melhor carne de sol
do Nordeste. Não tenho resistido às tentações da carne (de sol). Depois de
falar de um pecadilho pessoal um doloroso pecado social.
A Lei 9.394 de
20 de dezembro de 1996, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN),
foi modificada pela Lei 10639/03, que tornou
obrigatório o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira nas escolas de nível
básico. Eis como ficou um dos artigos da lei maior da Educação nacional.
Art.26-A. Nos
estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados,
torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena.
Hoje, na
palestra que encerra o V Encontro de Química da Bahia, falo que há que estarmos
atento a um recrudescimento do fundamentalismo. Eis uma notícia de jornais
desta semana:
Cerca de 14
alunos evangélicos da Escola Estadual Senador João Bosco Ramos de Lima, em
Manaus, AM — tida como um centro de excelência — protestaram na frente da
instituição nesta sexta-feira (9) contra a temática proposta na sétima feira
cultural realizada anualmente na escola.
De acordo com
um dos alunos, Ivo Rodrigo, de 16 anos, o tema "Conhecendo os paradigmas
das representações dos negros e índios na literatura brasileira, sensibilizamos
para o respeito à diversidade", vai de encontro aos preceitos religiosos
em que acredita. "A Bíblia Sagrada nos ensina que não devemos adorar
outros deuses e quando realizamos um trabalho desses estamos compactuando com a
idéia de que outros deuses existem e isso fere as nossas crenças no Deus
único", afirmou o aluno.
Para a
professora coordenadora do projeto, Raimunda Nonata, a feira cultural tem o
objetivo, através da literatura, de valorizar as diversas culturas presentes na
constituição do Brasil como nação. "Através deste projeto podemos
proporcionar um debate saudável sobre a diversidade étnico-racial brasileira.
Mas não foi isso que aconteceu", disse a professora.
Segundo a
professora, os alunos se recusaram a ler livros clássicos como 'Ubirajara',
'Iracema', 'O mulato', 'Tenda dos Milagres', 'O Guarany', 'Macunaíma', entre
outros, por apresentarem questões como "homossexualidade, umbanda e
candomblé".
Segundo a
diretora da escola, professora Isabel da Costa Carvalho, os alunos montaram uma
barraca sem a autorização da direção na qual abordaram outra temática que fugia
à proposta inicialmente. "Eles montaram uma tenda com o nome 'Missões na
África' na qual abordavam a evangelização do povo africano em seu próprio
território", explicou a diretora. A diretora afirmou ainda que a atitude
dos alunos desrespeita as normas e o plano de ensino da escola.
Estes jovens
que, provavelmente são alunos brilhantes, além de serem menores infratores,
pois desrespeitam a lei, lembram a situação na qual Nicolau Copérnico (1564-1642)
monta um telescópio nos jardins do Vaticano e convida a Cúria Romana para
assistir o movimento da terra. O papa e os cardeais resolvem não olhar, pois se
olharem poderão ver e se verem serem convencidos ao heliocentrismo.
Assim estes ‘crentes’
não querem conhecer outras culturas pois hão de ver que há outras cosmogonias,
onde pode haver outros deuses, que não apenas Jeová. Em 400 anos essa meninada
continua tacanha e teimosa. Que adultos preconceituosos estão sendo preparados
para um futuro que sonhamos mais humanos.
O fanatismo dota o indivíduo de antolhos, e tal qual o jumento ferrado só vai em uma direção. E pensamentos extremos levam a atitudes extremas, dando genese em nossa história a loucos e seus feitos bárbaros.
ResponderExcluirabraços
Antonio Jorge
Muito estimado Antônio Jorge,
ResponderExcluiruma vez mais obrigado por qualificares a cada dia este blogue. O exótico no relato manauara é que são jovens ferreteados no fundamentalismo.
Isto dói e preocupa.
attico chassot
Desculpe, mas eles são infratores? Acho demasiada essa conotação. Acredito sim que eles estão sendo estupidos, não por não aceitarem a crença, mas por não aceitarem a cultura brasileira, alem de serem bem "burrinhos", visto que são obras literárias de extrema importância social e cultural. Acho que isso e sim estupidez não infração. Por outro lado, existem grupos que querem vetar a leitura de monteiro lobato nas escolas públicas brasileiras. Só que esses não são estudantes, e sim "doutores" inclusive existe ação no STF para proibir o lobato nas escolas. Acredito, ainda que o ensino da cultura negra deveria se limitar a história e toda sua contextualizacao. Particularmente, acho bem errado ensinar sobre deuses africanos, visto que em escolas públicas não se ensina sobre islamismo, judaísmo, e todos etc que também fazem parte da divercidade cultural do Brasil e mundo.
ResponderExcluirMas acredito que o tema não era as religiões pelo que li, e sim sobre diversidade e aceitação. O que é um propósito excelente. Porém, acho bem todo comprar briga com esses estudantes, afinal o tema deles trata de algo real, que ocorre desde a colonização da áfrica. Independente de ser certo ou errado, sobre diferentes prismas. Acho que também é direito dos alunos expressaram suas opiniões. Acredito, que o melhor a ser feito nessa escola é debater. Se existe um estande evangélico, abram-se estandes de outras culturas e religiões e ao fim que se debata as opiniões sobre aceitação do próximo. Pq na realidade, eles tb tem direito a expressão.
Não há como converter pessoas, tanto p religião qnt para a troca delas no ambiente escolar. Deve-se abrir o debate, inclusão daqueles que não tinham a representação no tema inicial. Acho isso mais salutar que rotular de infratores e prerde-los para sempre dos fóruns de debate.
Quanto as obras literárias, incluso monteiro lobato, todas elas são expressão da literatura brasileira, quem não quiser ler, ok, leva zero na nota. Paciência... O mesmo acontece com quem não quer ler os livros de física, biologia e etc...
Bjus Eunice
Diversidade, desculpe os erros digitei no celular. Que corrige de forma bem esquizofrenica o texto.
ResponderExcluirBj eunice
Todos temos direito de expressão, acontece que os negros e suas culturas originidas da África e adotadas e adaptadas ao nosso trópico, tem importância na formação da nossa própria história e cultura, portanto tem que ser preservada, ou ao menos, como foi proposta pela escola, não tinha nenhuma intenção inicial, como alegam os alunos vítimas-coitadinhas de imposição ideológica, muito menos religiosa. Interpretaram mal, pois, escola pública é laica e nem pode ser usada como instrumento de divulgação de qualquer natureza religiosa, senão, para ensinar sobre as diferenças culturais, sejam qual forem.
ResponderExcluirCB
Só queria deixar consignado que tenho sérias restrições sobre as ações afirmativas. Acho que tudo isso está criando distorções prejudiciais demais para a nossa sociedade. Infelizmente, falar que se é contra esse tipo de política tem sido associado a ser racista. O que acredito ser um prejuízo grave. Mas, acho que deveríamos incluir mais sobre todas as diversas culturas que temos, não apenas uma. Por óbvio, sei da grande importância cultural dos africanos na cultura brasileira, importância que nos faz identificar quem somos como cultura e nação. Sem dúvidas, a influencia negra da nossa sociedade é deveras importante. Mas não é a única. Não podemos partir do princípio que somente essa tenha expressão nas escolas. Aceitar diversidade também é aceitar evangélicos, ateus, islâmicos, judeus. Todos deveriam ter direito a expressão num forum sobre diversidde cultural. Ao fim do forum Deve-se debater, sem preconceitos ou rótulos, sobre todas essas expressões. Os fóruns nao devem ser ambientes para que um ganhe ou perca, fóruns servem para debater. Esses alunos também devem ter direito a suas expressões, e o tema deles é de fato secular, não se pode negar que existe ou existiu, pode-se debater. Discutir. Aceitação é isso. Não podemos quer q somente parcela seja aceita e outra parcela não, que seja tratado como inquiridores. Até Pq isso da forma para que essas pessoas sejam ainda mais fechadas. Ainda mais preconceituosas. Não se pode fazer que todas as pessoas pensem da forma x ou y. Mas o debate de várias vertentes, não só uma, abrirá a cabeça daqueles que se põe em posições mais "maria vai com as outras". Pq os mais extremistas tendem a sempre ficarem nessa posição, porém sem debate aberto, eles abarcam legioes, o que é uma pena.
ResponderExcluirMais uma vez, quanto as obras literárias isso é só estupidez, tanto dos grupos afros que querem retirar o monteiro lobato, quanto desses alunos que não querem ler sobre a "virgem dos lábios de mel". Mas se a intolerância vem de exemplo de exemplo"cima" com o lobato, como repreender crianças que fazem o mesmo? Mas para quem não lê: "dá zero para ele".
Eunice
ResponderExcluirOutra coisa que penso, é que se o tema dos alunos fugiu ao debate inicial, não se pode negar que ele aconteceu. Os alunos querem falar sobre isso, e pelo jeito estão precisando falar. Se o tema inicial era a diversidade cultural e alunos se colocaram dessa forma é Pq isso nasceu dá demanda inicial, e os alunos estão precisando falar sobre isso. Os professores e a escola devem identificar essas necessidades e converte-las para um debate aberto e racional. Pq as escolas tb devem identificar as demandas cotidianas dos alunos. Os professores devem ouvir isso. Se eles querem falar sobre religião, que se faça um forum sobre isso, Pq isso faz parte dá cultura e diversidade também. As demandas do ensino devem vir dos alunos também, mas deve-se ter cuidado ao mexer com casa de marimbondo, Deve-se ter em mente a racionalização do tema e não concepções apaixonadas.
ResponderExcluirBj
Eunice
Desculpe estar monopolizando, mas acredito que uma ótima forma de debater racionalmente é por exemplo discutir os efeitos da não aceitação dá cultura e religião na problemática dá segunda guerra. Um professor preparado pode trazer essa demanda dos alunos sobre religião e o tema dá escola juntos, estudando a falta de aceitação dá religião e lembrar a segunda guerra. Não colocando os que pensam assim ou assado como nazistas, mas mostrando que o extremo nos leva ao massacre, contrário a todo tipo de religião. É preciso verificar que esses alunos precisam ser educados a pensar, não para atingir eles de forma imediata. Mas para quem sabe no futuro, quando adultos, consigam fazer contraposição de ideias. Acho errado tratar o tema rotulando qualquer dos lados. Eles estão precisando conversar sobre isso. É preciso identificar isso. Sair do tema diminuto que é o trabalho "rebelde" deles. E visualizar que essa escola precisa conversar de forma mais ampla sobre isso, sem pré formatacao, mas com objetivo de fomentar apenas a idéia de tolerância e respeito. Essa, eu acho, é a demanda identificada na problemática abordada. Abrir para o debate é também ouvi-los, educar é racionalizar essa escuta. Enfim, acho que é isso. Bj
ExcluirEunice
Qnt a taxa-los de infratores, Pq colocaram sua expressão contrária de forma pacífica, aliás muito parecida com expressões de grupos indígenas e dos sem terra, quanto a colocação do estante, é preciso ter muito cuidado com isso. Não podemos dizer que expressões desse tipo sejam certas qnd vai de encontro com nossas orientações políticas e dizer que é errado qnd ela é divergentes ao que pensamos. Democracia é também ouvir o que não case com nossos preceitos. Se estamos de acordo com expressões desse tipo qnd concordamos, devemos estar cientes que elas são legítimas qnd não concordamos. Ao contrário toda e qqr expressão política e cultural que irá contra uma lei pré existente será uma "infração". Acredito que a escola tem que se preparar para eencontrar debate mesmo qnd não se encontrou o que se esperava. Pq assim seria fácil, lançamos um debate q todos devem concordar e assim seremos todos felizes e a escola cumpriu seu papel. Mas a realidade não é essa. Talvez seja preciso dar dois passos atrás para começar abordar esse tema. Talvez primeiro se precise falar de tolerância a todas as expressões culturais e religiosas. Pois ficou claro que os alunos não estavam preparados. Se frustrar e tachar alunos que não responderam dá forma prevista não é produtivo. É preciso identificar o problema base. Que aliás, não é só desses alunos, mas da sociedade. Veja, não concordo com as ideias deles, mas acredito sinceramente que a abordagem das pessoas adultas a respeito dá demanda trazida por eles é segregatoria e contraprodutiva.
ExcluirEunice
Por último, o que significa estudo histórico e cultural da cultura afro brasileira? A lei não coloca como cultura afro brasileira aquela exclusivamente originada na áfrica, e é justo lembrar que milhões são os negros evangélicos e à séculos. A pergunta é eles não são expressões culturais dos negros brasileiros? A cultura de um povo não abraça vários tipos de religiões? Serão os negros
Excluirevangélicos parias e traídores da cultura negra brasileira?
Cultura afrobrasileira está restrita a expressões de umbanda e candomblé? Somente esses negros possuem o direito de serem conceituados culturalmente?
Não concordo com o tema escolhido -missões evangélicas na áfrica- mas a evangelização das pessoas brancas e negras não foi incorporada culturalmente? Quem dita o que é cultura afrobrasileira? O estudante evangélico negro não faz parte dela? Ele é o que culturalmente? Um crente sem cor ou cultura? Aqueles maravilhosos corais gospel das igrejas evangélicas américas não são expressões culturais negras pois eles foram evangelizados?
Veja não concordo com os livros, Pq isso é materia de literatura e isso é expressão dá cultura brasileira em si, e não apenas afro. E aqui entra o monteiro lobato também e seu sítio do fica pau amarelo. E todas as inúmeras expressões literárias, se ficar restringindo esse ou aquele livro é o fim da literatura e cultura brasileira em si. E nair isso é negar conhecimento em geral e ser visto como negar cultura afro, pois ela tem inúmeras expressões.
Eunice
Questões do processo seletivo simplificado de Docentes para o ano letivo de 2013 da Secretaria de Educação de SP, abordaram questões na prova de química de um dos livros do Prof. Chassot.
ResponderExcluirProf. Carlos.
Olá!
ResponderExcluirDeveria sim haver um debate na 'escola' em relação a este tema , sentar e discutir, pois assim como existe a Lei LDBEN em nossa constituição também existe a Lei que defende a liberdade de expressão religiosa. Talvez se existisse na escola um grupo de estudantes Islâmicos eles também poderiam se opor contra. Concordo no tocante que o fato de deixar de ler as obras citadas no Texto não influenciaria em nada no tocante a crença. Sou Evangélico e já li alguns livros citados e nem por isso deixei de ADORAR AO DEUS ÚNICO.No sentindo literal eles foram infratores , mas não concordo com esta conotação, pois, eles se posicionaram referente ao que acham certo. Talvez eu esteja errado, mas senti um toque de generalização nas afirmativas!
Obrigado