Ano
7*** www.professorchassot.pro.br ***Edição 2224
Esta semana,
quando o Conselho Federal de Medicina baixou resolução acerca da ortotanásia,
uma atenta leitora deste blogue, por telefone, disse-me que isso era assunto
para uma blogada. Como o tema tem sido recorrente aqui, pensava no
fim-de-semana festejar a a decisão do CFM.
Havia muito a
fazer (em minhas ausências se acumulam jornais em suporte papel) que minguava o
tempo para escrever algo mais consistente. Fui agraciado com O fim
da metafísica, de Hélio Schwartsman publicado na Folha de S. Paulo, no
dia 31AGO12. Assim, este renomado, articulista uma vez mais é oferecido aos
leitores deste blogue. Subscrevo a defesa que faz texto a seguir, até porque eu
não teria competência de produzir algo tão pertinente. As ilustrações as inseri.
A função do
médico é preservar a vida do paciente, de modo que qualquer conduta que vá
contra esse princípio é condenável. Essa é uma ideia simples, cativante e
errada. O mundo é um lugar bem mais complexo e nuançado do que sugerem nossos
esquemas mentais.
É mais do que
bem-vinda a resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) que faculta a
pacientes registrar em seus prontuários os procedimentos aos quais não querem
ser submetidos. Em tese, isso lhes permitirá evitar intubações, choques
elétricos e outras técnicas invasivas que podem prolongar a agonia do doente
terminal. É uma medida necessária, mas que chega com décadas de atraso e apenas
arranha o problema das decisões de fim de vida.
A dificuldade
maior é que as fronteiras entre a ortotanásia (não aplicar tratamentos fúteis,
atitude que o CFM aprova) e a eutanásia (quando o médico toma medidas que
aceleram o óbito, legalmente considerada um homicídio) são tudo, menos claras.
Frequentemente, a fim de evitar que o paciente sinta dor, faz-se necessário
elevar o uso de sedativos. Só que uma sedação mais profunda favorece o
surgimento de complicações fatais. Se as drogas utilizadas forem da classe dos
opioides, elas podem provocar diretamente uma parada respiratória. Em que
medida o médico precipitou a morte? E, se não o faz, é legítimo deixar o
paciente sofrer?
Tentar
responder a esse tipo de questão é um exercício metafísico que até pode ser
intelectualmente estimulante, mas que não produzirá critérios inequívocos de
decisão.
Minha sugestão
é que abandonemos toda metafísica e estabeleçamos de uma vez por todas que cada
qual é dono de sua própria vida, podendo dela dispor como preferir. Isso
significa que, se quiser, o paciente deve ter o direito de receber doses letais
de sedativos e analgésicos. O bonito dessa solução é que, ao não impor crenças
externas a ninguém, maximiza a liberdade de todos.
Limerique
ResponderExcluirDeixar o paciente a sua própria sorte?
Ou induzir eventos que lhe causem morte?
Àquele terminal doente
Que já quase nada sente
Desligue aparelhos que lhe dão suporte.
Limerique
ResponderExcluirPaciente com existência assistida
Reverte-se em grana garantida
Então, não desligar
É modo de ganhar
Mas devemos dispor da própria vida.
A medicina aliada a eletrônica e a informática avançou muito em seus procedimentos. Só que cada vez mais o material humano é visto como uma peça. Os médicos não se referem a um paciente como por exemplo o "sr. Carlos do leito x" e sim "aquela hérnia do leito x". Então somos simples organismos os quais são esmiuçalhados em inúmeros procedimentos invasivos os quais na relação custo benefício deixam muito a desejar. Quem não já sofreu com uma endoscopia? Ou pior ainda uma "broncoscopia". Num agravante deste horror, caso o paciente tenha problemas respiratórios a analgesia não é recomendada, então a endoscopia é feita com o paciente totalmente lúcido e propenso a dor e o desconforto. Em pleno século XXI a medicina mostra-se em relação ao respeito a dignidade do ser humano, tão atrasada quanto da época das sangrias.
ResponderExcluirabraços
Antonio Jorge
Limerique
ResponderExcluirTratamento não é sacerdócio
Para hospital doença é negócio
Mantendo sinais vitais
Dos doentes terminais
Da sanidade médico vira sócio.
Boa tarde, Mestre!
ResponderExcluirUma questão difícil e polêmica!
Difícil para um leigo definir até que ponto se está tentando realmente salvar uma vida ou prolongando inutilmente o sofrimento de alguém sem chances. Atualmente, é possível manter as funções vitais quase indefinidamente, em casos onde sem os meios artificiais, seria uma morte rápida.
E isto pode fazer com que os interesses comerciais se confundam com os humanitários...
Uma diária numa UTI pode ser bem cara...
Abraços!