Ano
7*** PORTO ALEGRE
***Edição 2240
Uma quarta-feira
para qual se prognostica ainda chuva. Esta, pela qual tanto se pediu, desde
domingo, é desabrida. Já se fala de ‘enchentes de São Miguel’, cuja data está a
dez dias. Ontem tanto nas aulas da manhã quanto da noite de Teoria do
Desenvolvimento Humano a chuva justificou ausências.
Não
entro no clima de vigília de feriado (amanhã é festa maior dos gaúchos), pois
no começo desta tarde vou a Campinas, onde participo de mais uma edição (a
sexta) da Semana da Educação - Unicamp. Hoje e amanhã, à noite, ministro um
minicurso: PROPOSTAS PARA AÇÕES
INDISCIPLINARES USANDO A HISTÓRIA E A FILOSOFIA DA CIÊNCIA e amanhã pela manhã tenho um segmento em uma
mesa-redonda: “As Ciências Exatas nas Humanas”.
Ontem tive uma surpresa ao ler um texto acerca de
Hipátia na Zero Hora. Ela é assunto recorrente aqui e está presente em dois de
meus livros {A ciência através dos tempos e A Ciência é masculina? É, sim
senhora!} e também quando falo de ‘mulheres na Ciência. Já fiz aqui também
comentários do filme que foi lançado como “Ágora” e depois passou a chamar-se “Alexandria”.
Por tudo isso me encantou quando Cláudio Moreno —
articulista de Zero Hora e meu colega como professor de Cursinho nos anos 60 —
traz algo daquela que, com Giordano Bruno, faz parte de vitrais que tenho no meu
Scriptorium e por isso comparto com meus leitores.
Homens e mulheres (18) Pouco
se fala em Hipátia, a jovem e trágica filósofa de Alexandria, fascinante
personagem que a História praticamente escondeu. O que a perdeu foram suas
virtudes: além de jovem e bonita, era extremamente brilhante, uma qualidade
intolerável para uma mulher que, como ela, viveu no séc. 4 depois de Cristo.
Educada pelo pai, Téon, também cientista famoso, ela o suplantou em tudo, sendo
considerada por muitos autores contemporâneos – todos homens, é bom que se diga
– como a mais brilhante matemática e astrônoma de seu tempo. Além disso, foi
estudar filosofia em Atenas, onde conquistou o respeito unânime de seus mestres
e colegas.
De
volta a Alexandria, sua inteligência e sua erudição fora do comum atraíram
discípulos e admiradores incontáveis – alguns, inclusive, dela se enamoraram,
fascinados por aquela mistura preciosa de beleza e sabedoria; ela, no entanto,
nunca teve homem, dedicando a castidade e a juventude ao estudo e à ciência. Vestida
com o manto dos filósofos, andava pelas ruas centrais da cidade, explicando, a
quem pedisse, os escritos de Platão e de Aristóteles. O próprio prefeito da
cidade era seu discípulo e frequentemente vinha consultá-la, acompanhado de
seus magistrados. Ironicamente, a seriedade de sua carreira e o imenso
prestígio de que desfrutava atraíram a inveja de inimigos poderosos, que decidiram
que ela tinha de morrer.
O
cristianismo ainda estava se consolidando em Alexandria, e seus adeptos viam em
Hipátia uma perigosa representante do paganismo, pois ela, com todo seu brilho,
mantinha viva a cultura clássica dos gregos. Dizem que seu destino foi selado
quando um dos bispos passou em frente à casa dela e se espantou com a pequena
multidão ali reunida; ao saber que toda aquela gente estava ali para ouvi-la
falar, incitou seus seguidores para que calassem para sempre a voz da jovem
filósofa: quando ela saiu para sua caminhada costumeira, uma turba feroz de
fanáticos a atacou, despindo-a e arrastando-a pelas ruas até o pátio de uma
igreja. Ali, numa cena de incrível selvageria, retalharam seu corpo, arrancaram
seus olhos, separaram-lhe a carne dos ossos e queimaram depois os despojos
sanguinolentos; para justificar este crime hediondo, acusaram-na de feitiçaria
e magia negra e esconderam o nome de seus assassinos debaixo de uma rede de
versões contraditórias. A corajosa Hipátia pagou pelo pecado imperdoável de ser
uma mulher culta num mundo exclusivamente masculino; seus matadores, agindo
como se ela fosse uma aberração que precisava ser extinta, queimaram também
suas obras e sepultaram seu nome no silêncio inexplicável dos livros de
História. Hoje, mais do que nunca, ela volta para lembrar o quanto, apesar de
tudo, nosso mundo melhorou – e muito.
Interessante observar as diferentes manifestações culturais em torno da chuva. Aqui no Rio de Janeiro culpa-se São Sebastião pelas enchentes de janeiro que devastaram a cidade na década de sessenta.
ResponderExcluirMas relendo sobre Hipátia, pois ja havia lido no "A Ciência é masculina? É sim senhora!", em sua forma de ser executada meu pensamento arremeteu-me à uma similar, a de Damien, parricida que tem sua morte relatada no prefácio de "Vigiar e Punir" de Foucault. Independente de uma ser inocente e do outro ser culpado, o que me chama atenção é a barbarie da época.
abraços
Antonio Jorge
Limerique
ResponderExcluirCiência, mediocridade e machismo
Entre elas e eles criaram abismo
Hipátia imolada
Em nome do nada
Subsistiu apenas obscurantismo.
Aqui em Bagé não podemos reclamar da chuva professor, nosso município vivia em situação de emergência devido á estiagem, portanto é quase um benção.
ResponderExcluirNão tive acesso ao artigo da Zero Hora ainda, mas estou com o filme locada e faremos um seção de cinema durante o feriado.
Abraço.
Antonio Luiz Ortigara Filho