Ano
7*** www.professorchassot.pro.br ***Edição 2225
Quem já
assistiu algumas de minhas palestras ou assistiu algum curso de História e
Filosofia da Ciência me ouviu falar encantado no livro “A estrutura das revoluções científicas” de Thomas Kuhn (1922-1996). Eis que no
último domingo [02SET2012] o suplemento Ilustríssima
da Folha de S. Paulo, publicou um
excerto do artigo Thomas Kuhn: o homem
que mudou a forma pela qual o mundo vê a ciência de John Naughton, um
jornalista irlandês, nascido em 1946 e laureado professor da Open University em
Londres.
Tenho a versão
integral e convido a cada uma e cada um dos leitores deste blogue a hoje,
amanhã e quinta-feira celebrarmos com um tríduo (pois há que fracionar o texto)
os 50 anos de um dos livros mais importantes. Partes entre colchetes e
ilustrações eu as acrescentei.
Thomas
Kuhn: o homem que mudou a forma pela qual o mundo vê a ciência Há 50 anos, em agosto, um dos
livros mais influentes do século 20 foi lançado pela University of Chicago
Press. Muita gente, se não todo mundo, provavelmente já ouviu falar de seu
autor, Thomas Kuhn, ou do livro, "A
Estrutura das Revoluções Científicas", e é certo que o pensamento de
quase todos nós foi influenciado por suas ideias. O teste dessa afirmação é
determinar se você já ouviu ou usou a expressão "mudança de
paradigma", provavelmente a mais usada — e abusada — nas discussões
contemporâneas de mudança organizacional e progresso intelectual. Uma busca
pelo termo no Google gera mais de 10 milhões de respostas, e ele consta de não
menos de 18,3 mil dos livros à venda na Amazon. O livro de Kuhn também é um dos
trabalhos acadêmicos mais citados de todos os tempos. Assim, se uma grande
ideia pode ser definida como "viral", é esta.
A verdadeira
medida da importância de Kuhn, no entanto, não está na popularidade de um de
seus conceitos, mas sim em ele ter mudado praticamente sem ajuda a maneira pela
qual pensamos sobre a mais organizada tentativa da humanidade para compreender
o mundo. Antes de Kuhn, nossa visão sobre a ciência era dominada por ideias
filosóficas sobre como ela deveria se desenvolver ("o método
científico"), acompanhadas por uma narrativa heroica de progresso
científico como "a adição de novas verdades ao estoque de velhas verdades,
ou uma crescente aproximação entre as teorias e a verdade, e, em casos
isolados, a correção de passados erros", na definição da "Stanford
Encyclopaedia of Philosophy". Antes de Kuhn, em outras palavras, tínhamos
o equivalente a uma interpretação whig da história científica, de acordo com a
qual pesquisadores, teóricos e cientistas experimentais do passado se haviam
envolvido em uma longa marcha, se não rumo à verdade, então ao menos rumo a uma
melhor compreensão do mundo natural.
[adj. e s. m. Na
Inglaterra, membro do Partido Liberal. Os whigs eram partidários dos direitos
populares na Inglaterra, por oposição aos tories, defensores da autoridade da
Coroa. A partir de 1832, o Partido Whig denominou-se "Partido
Liberal", e o Partido Tory, "Partido Conservador". No curso do
séc. 19, alternaram-se no poder, com chefes como Gladstone e Disraeli.]
A versão de
Kuhn quanto ao desenvolvimento da ciência difere dramaticamente da versão whig.
Enquanto o relato padrão via "progresso" firme e cumulativo, ele via
descontinuidades — um conjunto de fases "normais" e
"revolucionárias" alternadas nas quais comunidades de especialistas
em determinados campos passavam por períodos de tumulto, incerteza e angústia.
Essas fases revolucionárias — por exemplo, a transição da física newtoniana
para a mecânica quântica — correspondem a grandes avanços conceituais e criam
as bases para uma fase posterior, de funcionamento "normal". O fato
de que sua versão pareça natural agora é, de certa forma, a maior medida de seu
sucesso. Mas em 1962 quase tudo era controverso em sua ideia, devido ao desafio
que representava a suposições filosóficas fortemente estabelecidas sobre como a
ciência não só funcionava, mas deveria funcionar.
RELES CIENTISTA O que incomodava ainda mais os
filósofos da ciência é que Kuhn não era filósofo, mas um reles físico. Nascido
em Cincinnati, em 1922, ele estudou física em Harvard, formando-se com
distinção em 1943. Ao deixar a faculdade, ele colaborou no esforço de guerra,
trabalhando no desenvolvimento de radares. Voltou a Harvard no pós-guerra para
fazer seu doutorado — de novo em Física —, concluído em 1949. Foi eleito para a
Society of Fellows, a elite da universidade, e poderia ter continuado a
trabalhar em física quântica até o final de sua carreira se não tivesse sido
encarregado de lecionar um curso sobre ciências para estudantes de Humanas,
como parte do currículo de educação científica geral. Era uma ideia do reitor
James Conant, que reformou a universidade e acreditava que todas as pessoas
educadas precisavam saber alguma coisa sobre ciência.
O curso tinha
por base o estudo de casos históricos, e lecioná-lo forçou Kuhn a estudar
textos científicos antigos detalhadamente pela primeira vez. (Os físicos de sua
era, como os atuais, não ligavam muito para História.) O encontro entre Kuhn e
as obras científicas de Aristóteles resultou em uma epifania que mudaria sua
vida e sua carreira.
"A
questão que eu esperava responder", ele recordou mais tarde, "era o
quanto Aristóteles sabia sobre Mecânica e o quanto ele havia deixado para que
pessoas como Galileu e Newton descobrissem. Dada essa formulação, percebi
rapidamente que Aristóteles praticamente não tinha conhecimentos sobre
mecânica... era a conclusão-padrão, e em princípio poderia estar correta. Mas
me incomodei com isso porque, ao lê-lo, Aristóteles começou a me parecer não só
ignorante sobre mecânica como um péssimo cientista físico em termos mais
amplos. Quanto ao movimento, em particular, seus escritos me pareciam repletos
de erros grosseiros, tanto de lógica quanto de observação".
Assim como o universo a entopria domina até o conhecimento.Comte, decerto o maior positivista da história foi tido como louco, tendo tentado até o suicídio. Podemos concluir que não há verdade absoluta. E ir em direção contrária a corrente dominante da época nem sempre é vista com bons olhos. Um bom exemplo, dentre muitos, seria Jesus Cristo. Vamos aguardar e aprender mais nas duas próximas blogadas do Mestre.
ResponderExcluirAbraços
Antonio Jorge
Limerique
ResponderExcluirUm físico que disse não à anuência
Destruiu paradigmas com paciência
Seu grande trabalho
Mostrou-nos atalhos
Thomas Kuhn, remodelou a ciência.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirLimerique
ResponderExcluirDesde que Thomas Kuhn sozinho
Mostrou-nos um novo caminho
Desvendou o enigma
Criou outro paradigma
A ciência emergiu de seu ninho.