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terça-feira, 4 de setembro de 2012

04.- UM TRÍDUO KUHNIANO * 1º DIA



Ano 7*** www.professorchassot.pro.br ***Edição 2225
Quem já assistiu algumas de minhas palestras ou assistiu algum curso de História e Filosofia da Ciência me ouviu falar encantado no livro “A estrutura das revoluções científicas” de Thomas Kuhn (1922-1996). Eis que no último domingo [02SET2012] o suplemento Ilustríssima da Folha de S. Paulo, publicou um excerto do artigo Thomas Kuhn: o homem que mudou a forma pela qual o mundo vê a ciência de John Naughton, um jornalista irlandês, nascido em 1946 e laureado professor da Open University em Londres.
Tenho a versão integral e convido a cada uma e cada um dos leitores deste blogue a hoje, amanhã e quinta-feira celebrarmos com um tríduo (pois há que fracionar o texto) os 50 anos de um dos livros mais importantes. Partes entre colchetes e ilustrações eu as acrescentei.
Thomas Kuhn: o homem que mudou a forma pela qual o mundo vê a ciência Há 50 anos, em agosto, um dos livros mais influentes do século 20 foi lançado pela University of Chicago Press. Muita gente, se não todo mundo, provavelmente já ouviu falar de seu autor, Thomas Kuhn, ou do livro, "A Estrutura das Revoluções Científicas", e é certo que o pensamento de quase todos nós foi influenciado por suas ideias. O teste dessa afirmação é determinar se você já ouviu ou usou a expressão "mudança de paradigma", provavelmente a mais usada — e abusada — nas discussões contemporâneas de mudança organizacional e progresso intelectual. Uma busca pelo termo no Google gera mais de 10 milhões de respostas, e ele consta de não menos de 18,3 mil dos livros à venda na Amazon. O livro de Kuhn também é um dos trabalhos acadêmicos mais citados de todos os tempos. Assim, se uma grande ideia pode ser definida como "viral", é esta.
A verdadeira medida da importância de Kuhn, no entanto, não está na popularidade de um de seus conceitos, mas sim em ele ter mudado praticamente sem ajuda a maneira pela qual pensamos sobre a mais organizada tentativa da humanidade para compreender o mundo. Antes de Kuhn, nossa visão sobre a ciência era dominada por ideias filosóficas sobre como ela deveria se desenvolver ("o método científico"), acompanhadas por uma narrativa heroica de progresso científico como "a adição de novas verdades ao estoque de velhas verdades, ou uma crescente aproximação entre as teorias e a verdade, e, em casos isolados, a correção de passados erros", na definição da "Stanford Encyclopaedia of Philosophy". Antes de Kuhn, em outras palavras, tínhamos o equivalente a uma interpretação whig da história científica, de acordo com a qual pesquisadores, teóricos e cientistas experimentais do passado se haviam envolvido em uma longa marcha, se não rumo à verdade, então ao menos rumo a uma melhor compreensão do mundo natural.
[adj. e s. m. Na Inglaterra, membro do Partido Liberal. Os whigs eram partidários dos direitos populares na Inglaterra, por oposição aos tories, defensores da autoridade da Coroa. A partir de 1832, o Partido Whig denominou-se "Partido Liberal", e o Partido Tory, "Partido Conservador". No curso do séc. 19, alternaram-se no poder, com chefes como Gladstone e Disraeli.]
A versão de Kuhn quanto ao desenvolvimento da ciência difere dramaticamente da versão whig. Enquanto o relato padrão via "progresso" firme e cumulativo, ele via descontinuidades — um conjunto de fases "normais" e "revolucionárias" alternadas nas quais comunidades de especialistas em determinados campos passavam por períodos de tumulto, incerteza e angústia. Essas fases revolucionárias — por exemplo, a transição da física newtoniana para a mecânica quântica — correspondem a grandes avanços conceituais e criam as bases para uma fase posterior, de funcionamento "normal". O fato de que sua versão pareça natural agora é, de certa forma, a maior medida de seu sucesso. Mas em 1962 quase tudo era controverso em sua ideia, devido ao desafio que representava a suposições filosóficas fortemente estabelecidas sobre como a ciência não só funcionava, mas deveria funcionar.
RELES CIENTISTA O que incomodava ainda mais os filósofos da ciência é que Kuhn não era filósofo, mas um reles físico. Nascido em Cincinnati, em 1922, ele estudou física em Harvard, formando-se com distinção em 1943. Ao deixar a faculdade, ele colaborou no esforço de guerra, trabalhando no desenvolvimento de radares. Voltou a Harvard no pós-guerra para fazer seu doutorado — de novo em Física —, concluído em 1949. Foi eleito para a Society of Fellows, a elite da universidade, e poderia ter continuado a trabalhar em física quântica até o final de sua carreira se não tivesse sido encarregado de lecionar um curso sobre ciências para estudantes de Humanas, como parte do currículo de educação científica geral. Era uma ideia do reitor James Conant, que reformou a universidade e acreditava que todas as pessoas educadas precisavam saber alguma coisa sobre ciência.
O curso tinha por base o estudo de casos históricos, e lecioná-lo forçou Kuhn a estudar textos científicos antigos detalhadamente pela primeira vez. (Os físicos de sua era, como os atuais, não ligavam muito para História.) O encontro entre Kuhn e as obras científicas de Aristóteles resultou em uma epifania que mudaria sua vida e sua carreira.
"A questão que eu esperava responder", ele recordou mais tarde, "era o quanto Aristóteles sabia sobre Mecânica e o quanto ele havia deixado para que pessoas como Galileu e Newton descobrissem. Dada essa formulação, percebi rapidamente que Aristóteles praticamente não tinha conhecimentos sobre mecânica... era a conclusão-padrão, e em princípio poderia estar correta. Mas me incomodei com isso porque, ao lê-lo, Aristóteles começou a me parecer não só ignorante sobre mecânica como um péssimo cientista físico em termos mais amplos. Quanto ao movimento, em particular, seus escritos me pareciam repletos de erros grosseiros, tanto de lógica quanto de observação".

4 comentários:

  1. Assim como o universo a entopria domina até o conhecimento.Comte, decerto o maior positivista da história foi tido como louco, tendo tentado até o suicídio. Podemos concluir que não há verdade absoluta. E ir em direção contrária a corrente dominante da época nem sempre é vista com bons olhos. Um bom exemplo, dentre muitos, seria Jesus Cristo. Vamos aguardar e aprender mais nas duas próximas blogadas do Mestre.

    Abraços

    Antonio Jorge

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  2. Limerique

    Um físico que disse não à anuência
    Destruiu paradigmas com paciência
    Seu grande trabalho
    Mostrou-nos atalhos
    Thomas Kuhn, remodelou a ciência.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Limerique

    Desde que Thomas Kuhn sozinho
    Mostrou-nos um novo caminho
    Desvendou o enigma
    Criou outro paradigma
    A ciência emergiu de seu ninho.

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