Ano
7*** www.professorchassot.pro.br ***Edição 2232
Hoje trago um
texto sumarento em distintas dimensões, inclusive com informações que me
surpreenderam; de uma fiz manchete. Mas, João Pereira Coutinho, que o publicou
na contracapa da Ilustrada da Folha de S. Paulo da última terça-feira,
04SET2012, merece ser lido por muito mais. Amanhã, o tema da escrita tão
recorrente aqui, volta com outro texto.
Batalhas verbais No dia em que
terminei de escrever a minha tese de doutorado, enviei o manuscrito para um
colega. E pedi uma opinião sincera.
Três dias
volvidos, ele respondeu: "Você vai ser fuzilado pela banca".
O problema
estava na qualidade do texto. A tese estava bem escrita. Pior: bem escrita e
totalmente compreensível.
Eu tinha
cometido uma heresia nas ciências sociais: escrever uma tese de doutorado com o
propósito honesto de ser lido e compreendido. Sugestão dele para evitar o
desastre: reescrever o texto e transformar cada parágrafo em paralelepípedo.
Lembro essa
história agora por dois motivos. Primeiro, porque Barton Swaim escreve na
"Weekly Standard" sobre a qualidade da prosa acadêmica. Qualidade
atroz, entenda-se. Por que motivo a fauna universitária faz um esforço tão
tortuoso para ser tortuosa?
Swaim arrisca
três hipóteses. Para começar, as humanidades vivem o complexo de inferioridade
que as atormenta desde o século 18, quando as ciências naturais deram o seu
salto cosmológico. A impenetrabilidade dos textos humanísticos é uma forma de
simular "profundidade".
Depois, existe
o problema das influências. Das más influências. O aluno escreve mal porque o
supervisor e os seus pares escrevem pior. E porque as revistas da especialidade
só publicam esses horrores.
Por fim, a
hipótese mais provável: a obscuridade obscurece. Quando nada temos de relevante
para dizer, só há uma forma de esconder o vazio: com a babugem das palavras.
Admito que
essas hipóteses sejam válidas. Mas se lembro o meu calvário acadêmico é por
outra razão: a Morgan Library de Nova York dedica exposição ao escritor Winston
Churchill até 23 de setembro. E foi Churchill quem me infetou com o vírus da
clareza e da legibilidade.
Sim, eu sei:
quando falamos de Churchill, surge a imagem clichê do velho premiê inglês com o
seu charuto. O prêmio Nobel da Literatura que ele recebeu em 1953 é visto
apenas como prêmio político, uma homenagem ao herói da 2ª Guerra.
Lamento
discordar. Churchill merece o Nobel da Literatura como ninguém. Ele é o único
escritor do século 20 que mudou o século com a força das palavras. Basta ler os
seus livros e discursos para entender a proeza. Uma proeza que, obviamente,
começa por ser o resultado de uma vida inteira de leitura.
Primeira
lição: não existem grandes escritores que
não sejam grandes leitores também. E Churchill era um grande leitor.
Biografias apressadas dirão que o rapaz foi aluno relapso e uma nulidade em
francês ou matemática.
Essas
biografias esquecem-se de acrescentar o resto: a paixão pela História. Ainda na
juventude, e nas primeiras campanhas militares, foram os volumes de Macaulay
sobre a história de Inglaterra ou a monumental obra de Edward Gibbon sobre a
Roma Antiga que acompanharam e formaram o soldado (e jornalista) Winston.
Ler esses
primeiros textos de Churchill é sentir, em cada frase, a cadência e a elegância
dos mestres da língua inglesa.
Mas Macaulay
ou Gibbon não lhe forneceram só os instrumentos técnicos do "métier".
Legaram-lhe, sobretudo, uma visão poderosa e inspiradora sobre a grandeza da
civilização ocidental — uma grandeza ancorada na liberdade individual e na
dignidade da pessoa humana.
Armado com
tais certezas, Churchill teve a oportunidade de as testar. Primeiro, na
denúncia solitária da Alemanha nazista na década de 1930. E, depois, no
confronto direto com Hitler, fazendo com que os ingleses acreditassem no
inacreditável: a possibilidade de resistir — e vencer.
Hoje, quando
olhamos para trás, dizemos que a Inglaterra ganhou a guerra com o apoio
americano e o incomensurável sacrifício soviético. Verdade.
Mas os
ingleses ganharam a guerra porque acreditaram também nas palavras de Churchill.
Palavras simples sobre a importância da liberdade, da honra e do sacrifício.
Como disse
Isaiah Berlin em retrato magistral, a proeza maior de Churchill não foi
política ou militar. Foi ter recrutado a língua e a história inglesas para a
frente de combate. Elas foram tão importantes como as armas. Brindo a ele.
E, mais
modestamente, brindo a mim, que derrotei a banca sem mudar uma vírgula. Cada um
trava as batalhas que merece.
UM ADENDO:
ResponderExcluirRecebi uma mensagem da qual transcrevo um excerto: “li o blog. O texto que transcreves é DOS MELHORES que já li. Conheci um pouco da história do Churchill, da força de suas palavras. E deu também pra refletir sobre a hermética escrita acadêmica – à qual tu continuamente subvertes, com teu jeito intimista, mas profundo, de fazer educação contando histórias.” Acrescento agradecido: Dou-me conta o quanto preciso ler Churchill!
Muitos dirão que foi fácil para Churchil chegar à posição que alcançou devido ao seu berço de ouro. Mas na realidade tal qual a beleza a fortuna geralmente desestimula o sacrifício. Nosso amigo canhoto, assim como Fidel, Bill Clinton, Bush, Julio Cesar foram seres iluminados e determinados a brilhar. Dizem alguns autores que Churchil apesar de sua excelente oratória sofria de dislexia.
ResponderExcluirabraços
Antonio Jorge
Limerique
ResponderExcluirChurchill homem sagaz e guerreiro
À pátria deu sua verve por inteiro
Lágrimas, sangue e suor
Colocou-o no altar mor
Reconhecido herói no mundo inteiro.
Limerique
ResponderExcluirAtrás de palavras escondem-se teses
Que se dizem eruditas catequeses
Temas tão enigmáticos
Como bares temáticos
Enunciados que cheiram a fezes.
Limerique
ResponderExcluirFrases em linguagem emaranhada
Lembram-nos gostosa macarronada
Ofuscam nossa mente
São contraproducentes
Falam um monte e não dizem nada.