Ano
7*** www.professorchassot.pro.br ***Edição 2233
Antes de
brindar meus leitores com algo mais acerca da escrita (acadêmica) por meio de O
caso Fox publicado por Hélio Schwartsman na p. A2, da Folha de S. Paulo
do último domingo trago dois esclarecimentos:
Um, se depreenderá
na abertura do texto, que foi Schwartsman que catalisou a trazida do artigo de João
Pereira Coutinho, que teve uma repercussão muito significativa.
Outro, no
Alfabetização científica: Questões e desafios para a Educação, até a 4ª edição
2000/2010, o capítulo 18, com 20 páginas, era “O caso ou farsa Sokal” onde se
analisava ‘as imposturas intelectuais’. A partir da 5ª edição este capítulo foi
suprimido, pois o livro precisou emagrecer 70 páginas (438 para 368) por razões
de viabilidade comercial, e o assunto que bombeava
quando escrevi o livro (1998 e 1999) e agora não tinha significado.
Muito a propósito,
uma noticia: ontem a Editora Unijuí informou-me que está pronta a 3ª reimpressão
da 5ª edição deste livro. Os 10% de direitos autorais em livros, assim com de
todas as edições anteriores, já foram encaminhados ao Departamento de Educação
do MST.
Isto posto,
desejo fruída leitura de Hélio Schwartsman, uma vez mais ‘colaborador’ deste
blogue.
O caso Fox - Meu colega
João Pereira Coutinho publicou na terça uma interessante coluna em que
criticava o estilo tortuoso de muitos textos das ciências humanas. Como estou
convencido de que mesmo ideias sutis podem ser expostas de forma clara,
concordo com Coutinho em gênero, número e caso.
Receio, contudo,
que ele tenha sido levemente injusto para com as humanidades. Não há dúvida de
que elas abusam do jargão e da impenetrabilidade. Prova-o um célebre caso de
1996, em que o físico Alan Sokal, disposto a demonstrar a falta de rigor das
ciências humanas, submeteu à revista "Social Text" um artigo-embuste
que foi aceito e publicado. O texto era uma coleção de disparates em linguagem
empolada, argumentando que a gravidade quântica é uma construção social e
linguística. Diga-se em favor da "Social Text" que, à época, ela não
contava com sistema de revisão por pares.
O problema é
que esse tipo de coisa não é exclusividade das ciências humanas. Num
experimento mais antigo e menos famoso, pesquisadores da Universidade da
Califórnia criaram o Dr. Myron L. Fox. Também era um engodo. Não existia nenhum
Dr. Fox. Para representá-lo, contrataram um ator, Michael Fox, que deu uma aula
sobre teoria dos jogos aplicada à educação médica. A exposição não tinha amparo
na lógica. Eram frases de duplo sentido sobrepostas a contradições e palavras
difíceis. Mas o ator tinha charme e dizia as bobagens com autoridade.
A plateia,
composta por psiquiatras e psicólogos, não percebeu o logro. Na verdade,
avaliou o desempenho do Dr. Fox muito positivamente. Vídeos da aula foram
exibidos a outros públicos sempre com os mesmos níveis de sucesso.
Hoje, o caso
Fox é usado em livros de psicologia para ilustrar as várias formas pelas quais
nossos cérebros se deixam seduzir por elementos não racionais. O problema, no
fundo, é a arquitetura de nossas mentes.
Em meu comentário sobre escrita acadêmica faço uma severa crítica e um apelo. Minha revolta é com o movimento atual no mundo ditático em querer classificar a obra de Monteiro Lobato como racista e assim bani-la dos bancos escolares. Outra alternativa seria a atrocidade de edita-la, prepotência de um possível editor medíocre. Lobato em sua época discutia a eugenia por ser ela um assunto comum de época, e sua postura contra a miscigenação era uma postura de sua opinião particular. Agora classificar sua obra como apológica ao racismo é de uma pobreza intelectual muito grande. Apelo em meu comentário que o Mestre Attico discorra sobre este tema na defesa do direito ao artista de sua obra. Quiça teremos que pintar a Gioconda de loiro para atender os anseios das mulheres louras discriminadas, ou colocaremos outros escritores nos bancos dos réus.
ResponderExcluirabraços
Antonio Jorge
Limerique
ResponderExcluirExiste suposição que há letradice
Em texto embolado de macaquice
Intelectuais pios
Tecem elogios
A qualquer teor eivado de sandice.
Limerique
ResponderExcluirSe, por acaso, em algum belo dia
Quer ser aprovado na academia
Nada precisa saber
Basta só escrever
Texto difícil cheio de polissemia.
Limerique
ResponderExcluirSe quiser ser chamado de doutor
Não precisa ser grande produtor
Seja apedeuta esperto
E com o peito aberto
De texto embolado seja autor.
ResponderExcluirEstimado Jair,
É significativa a tua capacidade de versejar, tomando motes tão diversificados e produzindo limeriques tão profundos.
Tentei, não sem dificuldades, fazer-te uma homenagem:
Imposturas acadêmicas vão cair
Pois têm atiçado a ira do Jair
Polímata categorizado
É contra texto embolado
E da peleia não vai jamais sair
Com admiração
attico chassot
ResponderExcluirLimerique
Quando aquele emérito professor
De belo limerique se faz autor
Se deixe encantar
Pelo seu versejar
Pois nessa prática ele é doutor.
Chassot,
ResponderExcluirgostei muito da blogada de hoje, lembrei do livro que li há alguns anos sobre imposturas científicas.
Acho uma tremenda ingenuidade crer que as ciências ditas duras são mais rigorosas que as humanas... Neste furor publicatório que despreza qualidade e foca na quantidade já vi pesquisador botar o filho estudante de ensino fundamental como autor principal... Fora a autocitação desenfreada para aumentar o fator H...
Abra ços,
Guy