Ano 6 *** Porto Alegre/Frederico Westphalen ***
Edição 1988
Quando, nesta quarta-feira, esta edição entrar em circulação já
terá transcorrido 1h15min das 6h15min, que o ônibus leva para percorrer os 450
quilômetros para chegar a meu destino. Depois que assumi, quando da aula
inaugural em 4 de novembro, como professor da Universidade Regional Integrada
do Alto Uruguai e das Missões (URI) no Campus de Frederico Westphalen, esta é
minha terceira viagem mensal para ministrar o seminário Teorias do conhecimento e Educação. Desta vez tenho um tríduo: dou
aulas hoje, amanhã e sexta-feira, concluindo as atividades deste seminário.
Retorno à Porto Alegre na noite de sexta-feira para sábado.
Este é um período em que uma grande parcela de jovens está
envolvida em vestibular. Reascendem-se, em cima de pelo menos um caso [em que
houve grave problema de avaliação de uma redação no ENEM], as discussões acerca
dos critérios de correção de questões de resposta livre e mais especificamente as
redações.
Quando olho uma das etapas de minha formação encontro:
Mestre em Educação Área de concentração:
Ensino - 1974/76 Curso de Pós-Graduação em Educação - UFRGS
Orientador : Prof. Dr. Ray Arthur CHESTERFIELD. Dissertação: Comparação de dois instrumentos de
avaliação: questões de resposta livre X questões objetivas, Porto Alegre: Programa de Pós-Graduação em Educação,
UFRGS, 1976, 164 p [detalhes em www.professorchassot.pro.br
em publicações / produção pós-graduada].
Logo, há mais de 35 anos discutia o
assunto e não vou tergiversar aqui e agora.
Hoje ofereço um pequeno artigo, publicado
no domingo na Folha de S. Paulo. Mesmo que, provavelmente, não haja vestibulandos
leitor deste blogue, muitos de nós estamos envolvidos na produção e avaliação de
textos. Assim “Critérios de correção da
redação são subjetivos” produzido por Carlos
Eduardo Bindi, educador do Grupo
Educacional Etapa para a Folha pode interessar àquelas e àqueles que são
leitores deste blogue. Para mim o texto foi importante.
No vestibular, um estudante poderá
escrever sua redação usando vocabulário simples, sintaxe correta, de forma
clara, cristalina.
Como um bom jornalista faz, ele poderá
comunicar-se bem, mas sem estar sendo propriamente "criativo".
Ou ele poderá redigir seu texto
agregando, à redação clara, maior sofisticação, com vocabulário denso, sintaxe
menos trivial, citações bem colocadas, como um articulista. O texto terá,
assim, um pouco mais de "criatividade".
Também poderá, o estudante, tentar
fazer sua redação com a habilidade de um escritor profissional, valendo-se de
mais recursos retóricos, refinando o texto, dando a ele estilo e um formato
mais artístico ou literário.
Se um jovem de 17 ou 18 anos pudesse
escrever com a simplicidade e clareza de um jornalista já seria excelente.
Afinal, clareza na comunicação é algo precioso em nosso confuso mundo de
interconexões. E o domínio artesanal da palavra vai além do que fornece a boa
educação básica — ele exige tempo e também maturidade. O que conta nos exames
de redação?
Embora as propostas pareçam claras,
muito da subjetividade que afeta a correção pode decorrer da má definição da
finalidade da prova, do que se espera dos alunos.
Não é preciso esforço para encontrarmos
problemas nas correções das redações. Ainda agora, um candidato do Enem
questionou o fato de sua redação ter sido anulada — por dois corretores — e, na
revisão, sua nota subiu para 880, ficando entre as maiores do exame.
Certamente os problemas da redação nos
vestibulares merecem atenção e cuidados de todos. O que menos precisamos é de
complacência com suas deficiências.
No exame da Fuvest do ano passado,
foram aprovados estudantes com apenas 21 pontos (máximo 100) em
português/redação. Em letras, na USP, no curso que forma futuros corretores de
provas. Um paradoxo, para reflexão.
Caro Chassot,
ResponderExcluiro velho e sempre presente tema da avaliação. Posso dizer, contraditoriamente à minha formação (filosofia) que tenho uma certeza: esse tema não sairá da agenda dos educadores nos próximos anos. Sobre redação, prefiro uma linguagem clara, simples e direta: mais gente consegue entender.
Boas aulas!
Garin
Mestre Chassot! Tambem tenho me deparado nos cursos tecnicos com a grande dificuldade da lingua portuguesa e de seu uso correto. Parece que cada vez mais há uma certa preguiça na produçao de textos, e que nós professores deixamos de lado este exercício, como se a responsabilidade pelo desenvolvimento desta habilidade fosse exclusiva do professor(a) de Português. Na verdade todos nós docentes, somos responsaveis nesta questao. Bom tema para reflexao. Abraços do JB e boa jornada em FW.
ResponderExcluirCaro Chassot,
ResponderExcluirEsse eterno problema de escrever ou não escrever, é particularmente agudo quando se trata de vestibular. Tenho a solução: LEITURA. Sei por experiência própria que só se aprende escrever escrevendo. E para escrever necessita-se conteúdo. Conteúdo que só se adquire LENDO. Não há soluções intermediárias ou mágicas, ou os pais incutem nos seus filhos que leitura é essencial à vida, ou corremos o risco de termos um país de analfabetos nas próximas gerações. LEIAM, não importa o quê. Abraços, JAIR.
Boa noite, Mestre!
ResponderExcluirO meu amigo Jair como de costume, me roubou a fala, o que só me confirma mais um acerto, já que compartilhamos a mesma opinião.
E a palavra mágica é LEITURA!
Quem muito leu, acaba aprendendo a escrever, por menos criativo que seja.
Como já disseram "nada se cria, tudo se copia".
Frases, formas e trechos podem ser adaptados em novas combinações e acabam por fazer parte da forma de expressão do leitor.
Desde quando fui vestibulando já sabia qual era a dificuldade da maioria das turma com as redações: falta de leitura!
Isto naquela época (anos 70). Imagine agora!
É só ver entrevistas na TV para se observar a dificuldade que as pessoas tem para se expressar. Eu não estou falando de jogadores de futebol, mas até de estudantes e pessoas públicas...
Haverá solução?
Abraços, Mestre!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirAve Chassot,
ResponderExcluirpara mim não há nada melhor do que ler um texto bem escrito.
Sofisticado ou simples, criativo ou contido, se o sujeito souber como sinfonizar as palavras: é puro prazer!
Lamento que muitos escritores e articulistas hodiernos sejam verdadeiros roceiros da língua portuguesa.
Fazendo textos pobres, cuidando para usar palavras que as pessoas entendam...
Imagina se o Saramago (maior escritor da história da língua portuguesa) se preocupasse que as pessoas não fossem entender o que ele escrevia...
Agora, para escrever bem há uma fórmula: leitura + saber as regras + criatividade... ou nascer Saramago.
Abraços
Estimado Leonel,
ResponderExcluirteu comentário, mesmo ainda de quarta-feira não envelhece.
Ainda hoje (sexta-feira) aqui em Frederico Westphalen dizia ao alunos do Programa de Pós-Graduação em Educação da URI que devem ler ficção e blogues para melhorar o escrever. TU e o Jair recomendam na mesma direção.
Com muito apreço
attico chassot