Ano 6 *** www.professorchassot.pro.br ***
Edição 1983
Nesta
sexta-feira, como na anterior e nas próximas este blogue dá voz ao seu
correspondente internacional. Este blogue tem o privilégio de neste verão do Hemisfério
Sul receber, semanalmente, Guy Barros Barcellos, biólogo e professor. Como
curador do Museu da Natureza — mais de uma vez destacado aqui — , tem a finesse dos cultores da arte.
Na última sexta-feira fruímos acompanhá-lo a uma exposição acerca de Darwin, em
Atlanta. hoje, voltamos ao Hemisfério Norte para podermos nos deleitar com virada do
ano naquela que é o ícone planetário das metrópoles: Nova Iorque. Eu que já
tive o privilégio de estar entre as borboletas do American Museum of Natural History e ouvir o órgão da Saint Patrick
Cathedral matei saudades com as descrições de nosso guia. Aqueles que debutarão
aqui na city, estão autorizados a ter uma ‘santa inveja'. Vejam a seguir a arte e
o humor com que o Guy nos relata seu périplo por NYC.
Um guya de Ciência e Arte em Nova Iorque
Neste relato irei tratar sobre locais interessantes de
Manhattan, que nem sempre são sugeridos pelos celebrados “guias” hodiernos de
Nova Iorque. Talvez o polêmico e saudoso Paulo Francis faria algo parecido, mas
um Pedro Andrade (atual guia do Manhattan Connection) não seria capaz de ir
além de uma galeria de arte com coisas estranhas e incompreensíveis, uma
cachaçaria brasileira, uma loja de roupas descoladas, ou uma confeitaria que
faz doces de espuma... Desprezando totalmente a grande oferta cultural-lírica
da cidade ou as atrações científicas que florescem. Bom, desabafos a parte,
vamos ao que interessa. Hoje eu sou o guya.
Nesta época do ano a cidade fica (ainda mais) entupida de
turistas, portanto deve-se carregar na mala uma pesada capa de paciência ou ir
em outra época. Eu, particularmente, costumo ir no fim de janeiro. Só fiz esta
aventura por interesse nas óperas que estavam em cartaz no Metropolitan Opera
House (tratarei disso mais adiante) e no clima de rejúbilo que se alastra pela
ilha na virada do ano. Mas como disse: levei a capa de paciência.
Sabe-se que o trânsito de Nova Iorque costuma ser horrendo, pior
que Porto Alegre numa sexta-feira. No entanto a metrópole possui um eficiente
sistema de metrô, por ele pode-se acessar praticamente qualquer área da cidade.
Abandonai o mito de que os nova-iorquinos são grosseiros, fui muito bem tratado
sempre, há uma grande simpatia pelos brasileiros. Fui ao American Museum of Natural History (AMNH) de metrô, a linha azul C
uptown tem parada DENTRO do museu. Uma maravilha. O AMNH abre às 10h, nesta
época o ideal é chegar pelas 9h30min, para evitar filas. Folguei em ver quantos
brasileiros estavam na fila. Nosso povo interessado no conhecimento!
O AMNH é um dos maiores e mais celebrados museus do planeta
(Notavelmente com o filme “Uma noite no museu”. História imbecilizante, mas uma
bela propaganda dos museus de Ciências). Foi fundado pelo aguerrido e genial
Theodore Roosevelt em 1869. Possui 25 prédios interconectados, 46 galerias de
exposição, uma coleção com mais de 32 milhões de espécimes e mais de 200
funcionários. Mas não é só em números que impressiona, a alta qualidade dos
dioramas (altamente realísticos), a fabulosa coleção de fósseis e as exposições
temporárias modernas são notáveis. Nesta ocasião estava a exposição sobre os
dinossauros gigantes. Um imenso Braquiossauro ao centro mostrava suas entranhas
em funcionamento. Pudemos ver seu coração ribombando, seus pulmões se inflando
e os alimentos descendo pelo longo esôfago. Uma gravação com legendas em um
visor explicavam de forma didática a morfofisiologia deste gigante.
O museu também possui uma área dedicada às ciências físicas e
astronômicas. Uma gigantesca esfera oferece ao visitante uma viagem pela formação
do Cosmos e uma visão do céu noturno. É importante verificar na entrada do
museu quais exposições precisam ser pagas a parte. Quem tiver carteirinha de
estudante ou professor leve e apresente a sua, paguei 19 dólares dos 25 que
seria o integral incluindo a exposição temporária dos dinossauros gigantes (6
dólares). O preço é salgado, visto que o Smithsonian
Museum de Washington D.C. é gratuito, mas eu garanto que é um bom investimento.
Uma grande atração nesta época é o “Borboletário”, as mais lindas borboletas
azuis voando em enxame por uma estufa a 30o C e 90% de umidade
montada em uma das galerias do Museu, é uma maravilhosa e sensível experiência.
O AMNH pede um dia inteiro (ou mais) para ser visto na íntegra,
como já visitara em outras ocasiões vi o que me interessava e fui fazer outras
coisas. Para quem quer fugir do óbvio é interessante uma visita ao Soho, bairro
alternativo de NYC. Encontrei uma loja chamada “Evolution – Art and Sciencie at
Soho”, é uma boutique de fósseis raríssimos (levo seis muito especiais para o
meu Museu da Natureza), conchas, esqueletos, kits de ensino de Ciências,
taxidermias, exsicatas de insetos e até monstros! Depois fomos almoçar no
“Manhattan Bistrot”, ainda no Soho, um cozinheiro veneziano fez um sanduíche
caprese (com berinjela, queijo de cabra, estragão etc) que valeu a pena ter
nascido para provar. Glutonerias findadas fui para o hotel me preparar para a
ópera.
Ópera é um delicioso gênero artístico visto por alguns com certo
ressaibo por parecer algo elitista e ultrapassado, cantado por mulheres gordas
aos gritos. Ledo engano. A ópera, de acordo com uma amiga cineasta e diretora
de teatro de Porto Alegre, é a mãe do cinema e dos musicais. É teatro cantado. Com
lindas cantoras e cantores encenando com muita delicadeza e emoção (e técnica
vocal burilada por décadas). Os cantores são atores e cantam sem microfone, em
teatros de 4 mil lugares com uma orquestra acompanhando. Isto é extraordinário!
Vale a pena conhecer, e ainda tem repertório para todos os gostos. Nova Iorque
possui a melhor casa de ópera do mundo, o Metropolitan Opera House, o
simplesmente The Met. Apresenta quase
duas óperas por dia durante as temporadas!
Nesta ocasião fui assistir ao pasticcio barroco “The Enchanted Island”, uma coletânea de árias,
coros e balés de Vivaldi, Handel e Rameau reconstruídos em um libreto feito por
um poeta atual, em inglês e contando uma história fantástica/ pagã baseada em
lendas barrocas e antigas. Em suma, uma beleza para os ouvidos e para os olhos,
com Plácido Domingo dando um show como Netuno. O ingresso mais barato chega a
25 dólares, quem quiser comprar antecipado pode fazê-lo no site do Met, e quem
chegar na hora pode comprar na bilheteria. Nunca vi filas, até porque Luciano
Pavarotti e Joan Sutherland já não cantam mais. É arte de alta qualidade, por
um bom preço e sem estresse de filas. E para os glutões de plantão, o Met tem
um excelente restaurante e bares em todos os 5 andares. Para se chegar lá
pode-se ir de metrô também, pela linha vermelha 1 uptown. Vi uma fila quilométrica
para comprar ingressos para musicais na Broadway (que são ótimos) e fiquei
pensando, porque este pessoal não prova um pouco de ópera, talvez iriam se
encantar.
Na noite o réveillon fiquei em um pub Irlandês na Times Square
na grande festa que se transforma Manhattan. Há que se ficar num hotel próximo
ou chegar muito cedo para ver a folia de perto, muitos shows acontecem e à
meia-noite uma bola de luzes cai na Times Square, seguido de um show de fogos.
Não há azáfama nem atropelos, a polícia de NYC organiza tudo de forma rigorosa
e gentil.
Na manhã de primeiro de janeiro fui à catedral de São Patrício
assistir à missa, regada por coros e oratórios de Handel e Bach com um órgão de
tubos que submergia a todos em um êxtase religioso (no meu caso musical). Tudo
isto com a soberba acústica da imensa catedral gótica repleta de belas obras de
arte. Parafraseando meu amigo escritor e poeta Fernando Cacciatore de Garcia
sobre a música de Bach: “Quem não acredita acreditará!”.
Poderia escrever um tractatus
sobre tudo que gosto de fazer na capital do mundo, escolhi minhas duas paixões:
a Ciência e a Ópera. Se quiser se apaixonar também dê uma passada em Nova
Iorque.
Para saber mais: http://www.metoperafamily.org/ & http://www.amnh.org
Para encerrar dois lembretes: 1) hoje é ‘Dia de Reis’ — talvez, nada mais que uma inserção popular nos evangelhos — é dia de desmanchar o presépio e a árvore de natal. 2) amanhã é dia de dica de leitura e esta será muito especial. No mais uma boa sexta-feira, depois desta viajada a ‘big apple’.
Para encerrar dois lembretes: 1) hoje é ‘Dia de Reis’ — talvez, nada mais que uma inserção popular nos evangelhos — é dia de desmanchar o presépio e a árvore de natal. 2) amanhã é dia de dica de leitura e esta será muito especial. No mais uma boa sexta-feira, depois desta viajada a ‘big apple’.
Interessante conhecer essa outra face da Big Apple. Muita Paz!
ResponderExcluirOla Mestre Chassot!
ResponderExcluirTeu blog mais uma vez ultrapassa fronteiras, e agora com uma novidade que não é prá qualquer meio de comunicação, um correspondente internacional. Que maravilha trazer visões multifacetadas de outras realidades. Parabéns! JB
Caro Chassot,
ResponderExcluirCom um "guya" assim dá para sentirmo-nos dentro da "Big Apple" em pleno inverno, e, de quebra, podemos tomar um banho de cultura. Abraços e parabéns pelos blogares, JAIR.
Caro Chassot,
ResponderExcluirmuito boa a descrição da visita ao museu, à ópera e outras peripécias mais do Guya de NY: já disse e repito, cumprimentos pela iniciativa de publicar esses relatos de viagem no teu blog.
Vamos aguardar o que nos espera para amanhã. Um abraço,
Garin
Obrigado pela apreciação dos colegas.
ResponderExcluirSemana que vem vamos conhecer o Georgia Aquarium, o maior aquário do mundo, com 3 tubarões baleia.
Grande abraço!
Muito estimado Guy,
ResponderExcluiros devedores de agradecimento somos nós teus leitores que já aguardamos a vindoura sexta-feira.
Com gratidão e expectativa
attico chassot