Ano 6 *** Porto Alegre *** Edição 1981
Em
algum dia do recesso natalino — que já parece tão distante, acompanhava a Gelsa
em uma de suas (a)venturas: zapear em busca de filmes que estão em andamento,
‘entrar’ em um eleito, para provavelmente estar de olhos marejados ao final.
Adentramos em um; provavelmente, ‘Desejo de viver’ [não consegui localizar a
ficha técnica do mesmo]. Era baseado na vida e obra de Françoise Dolto.
Dei-me
conta que nunca havia ouvido falar de uma mulher muito importante com uma
contribuição significativa, de maneira especial, para a psicanálise infantil. Estava,
então, conosco nosso genro Benjamin Motte-Baumvol que ratificou a importância que
ela tem. Ainda hoje, na França. Encontrei muitos textos enriquecedores.
Imaginei
que, como eu, para alguns leitores deste blogue esta mulher fosse desconhecida.
Assim, a blogada de hoje se faz com uma pequena seleção do muito que encontrei.
Tomara que seja algo importante para aqueles e aquelas que se interessam como
se deu / dá / dará a construção do conhecimento em tempos tão próximos de nós,
pois Françoise Dolto é do século passado, como são (quase) todos os leitores
deste blogue.
Médica e psicanalista francesa, Françoise Dolto
nasceu a 6 de novembro de 1908 [*]. Defendeu tese em Medicina, em 1939, sobre o
tema das relações entre a psicanálise e a pediatria. Teve um grande mestre na
sua vida que a aconselhou em diversos momentos, Édouard Piehon.
O método de trabalho usado com as crianças consistia em abandonar a técnica do jogo e da interpretação dos desenhos e em praticar uma escuta capaz de traduzir a linguagem infantil. Segundo Dolto, o psicanalista deveria usar as mesmas palavras que a criança e comunicar-lhe os seus próprios pensamentos sob o seu aspeto real. Em 1938, conhece Jacques Lacan que acompanhou ao longo da sua carreira de psicanalista. Durante 40 anos, Lacan e Dolto seriam o casal "parental" para gerações de psicanalistas franceses. Em 1940, inaugura no Hospital Trousseau um consultório aberto a todos os analistas que desejassem formar-se na prática da psicanálise das crianças. Este consultório foi encerrado em 1978, na sequência de diversas controvérsias. Em 1953, acompanhou Daniel Lagache na criação da Sociedade Francesa de Psicanálise, na qual começou a formar alunos. Publicou diversos livros, todos eles ligados à psicanálise de crianças e adolescentes e fez vários estudos e tratamentos longitudinais de adolescentes com problemas.
Em 1977, com Gérard Sevérin, psicanalista e
editorialista do Jornal La Vie, propôs uma leitura psicanalítica
dos Evangelhos, que a levou a conferir um significado espiritualista à
questão do desejo, concebido como uma transcendência humanizante e a
acrescentar uma base mística à sua tese da imagem do corpo. Esse livro
- A Psicanálise dos Evangelhos - foi traduzido em nove
línguas e criticado tanto pelos cristãos, quanto pelos teólogos e pelos
psicanalistas, gerando muita polêmica na época.
Em janeiro de 1979, criou em Paris a primeira "Casa Verde", para acolher crianças até aos três anos, acompanhadas pelos pais. Tratava-se de evitar os traumas que marcam a entrada no pré-escolar e de manter a segurança que a criança adquire no nascimento e vai perdendo ao longo do tempo. Obteve um imenso sucesso e muitas outras "Casas Verdes" foram inauguradas, no Canadá, Rússia, Bélgica etc.
Durante a sua carreira, pela rádio e televisão, continuou a lutar pela "causa" das crianças, à qual dedicou toda a sua vida profissional. Faleceu em 1988.
Publicou, entre outros, Psicanálise e pediatria: as grandes noções da psicanálise, dezesseis observações de crianças; L'image inconsciente du corps, onde aborda a sua teoria sobre a imagem do corpo; Como educar os nossos filhos: compreensão e comunicação entre pais e filhos; As etapas da infância: a relação entre os pais e filhos: do nascimento aos quatro anos; Transtornos na infância: reflexões sobre os problemas psicológicos e emocionais mais comuns na criança; O caso Dominique: relato exaustivo do tratamento analítico de um adolescente; e o polêmico A Psicanálise dos Evangelhos.
[*] Françoise
Dolto. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora,
2003-2012. [Acesso em 2012-01-02].
Disponível na www:
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Três filmes consagrados à vida e obra
de Françoise Dolto considerados como referências sobre sua obra. Realizados a
partir de muitas horas de entrevistas inéditas e de testemunhos, esta
trilogia permite entrar na vida cotidiana e avaliar o valor das descobertas
de Françoise Dolto para a vida diária.
DVD 1 - Tu as choisi de
naître
DVD 2 - N´ayez pas peur DVD 3 - Parler vrai Direção: Elisabeth Coronel e Arnaud de Mezamat
País: França
Idioma: Francês
Legendas: Português
Ano: 1994
Cor: Colorido
DVD 1 - FRANÇOISE DOLTO 1 - Tu as
choisi de naître
1994 - 53 min
Como a pequena Françoise Marette tornou-se Françoise Dolto? A sua biografia singular permite compreender o seu percurso para a psicanálise nos anos 30, a época onde as crianças eram “cuidadas” com métodos asilares. Arquivos inéditos permitem reencontrar Françoise Dolto e descrevem seus primeiros casos. Há testemunhos de diversos psicanalistas.
DVD 2 - FRANÇOISE DOLTO 2 - Parler
vrai
1994 - 55 min
Como se pode saber que uma criança
tem necessidade de um tratamento psicanalítico? Como se desenrola a cura de
uma criança? Através de considerações clínicas surpreendentes de Françoise
Dolto desenham-se os contornos deste mundo desconhecido que é a doença
psíquica da criança e as possibilidades da sua cura. Das perturbações simples
ao autismo, Françoise Dolto esclarece por si mesma, graças a arquivos
inéditos, as suas hipóteses e as suas convicções.
DVD 3 - FRANÇOISE DOLTO 3 - N´ayez pas
peur
1994 - 53 min
Em 1976, o público descobre Françoise
Dolto através de um programa de TV: pela primeira vez um programa sobre
educação leva em conta o inconsciente e é acessível ao público. Neste filme,
Françoise Dolto conta numerosos casos que confirmam a necessidade de dizer a
verdade à criança sobre os fatos referentes a ela como o abandono, sua
origem, divórcio, a morte ou a adoção de suas teorias psicológicas.
ALGUMAS OBRAS EM PORTUGUES DE FRANÇOISE DOLTO:
• As Etapas Decisivas
da Infância, Ed. Martins Fontes;
• Destinos de Criança, Ed. Martins Fontes;
• Os Caminhos da
Educação, Ed. Martins Fontes;
• Sexualidade
Feminina, Ed. Martins Fontes;
• Tudo é Linguagem,
Ed. Martins Fontes;
• Solidão, Ed.
Martins Fontes.
• Quando Surge a
Criança (três volumes), Ed. Papirus;
• A Causa dos
Adolescentes, Ed. Nova Fronteira
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Preclaro Chassot, boa noite!
ResponderExcluirInteressantíssimo! Já tinha ouvido falar sobre as "Casas Verdes", contudo não sabia quem as havia fundado.
Um outro filme interessante, se você me permite a indicação, é "Jornada da Alma". O tema é análogo. Trata da vida de uma psicanalista russa(até então desconhecida pra mim também)que sofria de problemas e foi paciente e amante de Jung.
Vale a pena assistir!
Um forte abraço, prezado mestre!
Muita Paz!
Ave Chassot,
ResponderExcluirobrigado por trazer a nós a história desta formidável cientista. Desconhecia totalmente. Grande abraço, Guy.
Caro Chassot,
ResponderExcluirtambém não conhecia a biografia da Dolto. Obrigado por trazer à luz um pouco de sua história.
A mente infantil sempre me pareceu mais complexa que a adulta e certamente é mais desafiador dar aula aos pequenos do que aos maiores.
Abraços,
PAULO MARCELO
Muito estimados Cristiano, Guy e Paulo Marcelo,
ResponderExcluirchegar antes das 6h para ver como havia ficado a edição prepostada ontem e já encontrar comentários de vocês três traduzindo a relevância de apresentar a desconhecido — mas muito importante — Françoise Dolto foi muito bom.
Com agradecimentos e admiração
attico chassot
Oi Prof!
ResponderExcluirMesmo sendo psicóloga não compreendendo muito de psicanálise e realmente não tinha ouvido falar desta tão sábia pesquisadora da psicanálise. Fiquei curiosa para ver os filmes. Muito obrigado pela dica e pela lembrança.
Bj.
Caro Chassot,
ResponderExcluirPara expressar meu conhecimento a respeito dessa respeitável senhora, vou me valer de um vocábulo há muito em desuso: patavina.
Minha ignorância sobre essa importante personagem é tão grande que me envergonha, vou providenciar a compra de livro a respeito dela. Obrigado pela excelente blogada, JAIR.
Caro Chassot,
ResponderExcluirmesmo não sendo da segunda metade do século passado, afinal de contas nasci em outubro de 1950, não conhecia a Dra. Dolto. Chamou-me a atenção a publicação sobre "A Psicanálise dos Evangelhos"; fiquei curioso. Pretendo dar uma olhada nessa obra, especialmente porque foi criticada por teólogos - deve ser alguma coisa muito boa.
Um abraço,
Garin
THAÍSSA escreveu:
ResponderExcluirProfessor,
realmente a Dolto tem imensa contribuição nos nossos estudos de psicanalise. Eu sabia muito pouco da biografia dela, mas ja estudei alguns textos e considero que ela tem um pensamento muito tocante com relação a infância e as necessidades infantis. E acredito que isso me aproxima ainda mais da psicanalise!
Saudades, saudades!
Um beijo
Thaissa
Sabrina querida,
ResponderExcluirsabia que este assunto te tocaria.
Um afago e sucesso na dissertação
attico chassot
Meu caro Jair,
ResponderExcluiré muito bom quando a curiosidade catalisa novas buscas,
desencadeando aprenderes.
A amizade
attico chassot
Meu caro Garin,
ResponderExcluirgostei da pré-avaliação do livro “Psicanálise dos evangelhos”: — Pretendo dar uma olhada nessa obra, especialmente porque foi criticada por teólogos - deve ser alguma coisa muito boa —
Com admiração,
attico chassot
Thaíssa querida,
ResponderExcluirque bom que a Dra, Dolto catalisou este ‘matar saudades’.
Quando estudava sua história lembrei muito de ti escrevendo a sissertação e falando da importância de cuidados na infância.
Com admiração aumentada
attico chassot
A obra de Françoise é muito rica em conhecimento,pois tras para aqueles que se interessam pela obra conhecimentos acerca de como tratarmos com nossos filhos, muitos casos de crianças que precisam passar por psicanalise é porque houve uma quebra no relacionamento famíliar desta criança para que lea ficasse com algum trauma, é importante que nós aprendamos a lidar com cada fse do desenvolvimento de nossos filhos para que sejam pessoas sem complexos tanto emocional ou de complexidade.
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