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quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

19.- Museo de la Memoria y de los Derechos Humanos



Ano 6 *** Santiago/Mendonza *** Edição 1996
Na manhã desta quinta-feira estamos deixando de ônibus Santiago rumo a Mendonza. Vamos subir e descer a Cordilheira, que desde domingo está em nossos horizontes.
Assim aqui vai um breve relato de nosso quarto é último dia chileno. Se a cada um dos dias anteriores fiz destaque (entre o muito que vi) a um artista -- no relato do domingo, destaquei Beryl Cook, no de segunda-feira, Roberto Matta e na terça-feira, Palolo -- hoje, ao invés de um artista, dou destaque a uma instituição.
A quarta-feira foi o dia mais emocionante, mas a estrela do dia vai para uma instituição: Museo de la Memoria y de los Derechos Humanos. Nele estivemos por cerca de cinco emocionantes e dolorosas horas.
Mas há algo singular. Antes e depois desta estada dois dos maiores poetas chilenos deram matizes especiais ao dia: Gabriela Mistral e Pablo Neruda, uma e outro Prêmios Nobel de Literatura e muito amigos entre si. Eu que, mesmo tenha estado no Museu do Prêmio Nobel em Estocolmo, que nunca havia visto o diploma e a medalha que recebem os laureados, vi ontem diplomas e medalhas dos dois Nobel de literatura. Mas sobre este antes e depois da estada no Museo de la Memoria y de los Derechos Humanos falo depois. Primeiro o destaque de ontem. Primeiro um comentário do jornal O Globo.
Aberto em 2010 em Santiago, o museu foi criado para revelar ao mundo o que esteve encoberto por longos anos nas sombras de um período de dor e sofrimento: a ditadura militar chilena entre 1973 e 1990 - um dos episódios mais violentos da história da América Latina. É uma homenagem às 30 mil vitimas, aos 3.200 mortos e aos 1.200 desaparecidos da época do governo militar chileno. Um monumento à liberdade e à democracia. 
"Nunca más". Essa pequena frase escrita em uma das paredes do museu revela, de forma imperativa, o pedido, o desejo, o compromisso: não se repitam atentados contra a vida e a dignidade. Ao percorrer os andares envidraçados e luminosos do museu da Memória e dos Direitos Humanos, o visitante poderá voltar no tempo e entender como os fatos que aconteceram a partir de 11 de setembro de 1973, dia do golpe militar, mudaram definitivamente a vida de milhares de chilenos. 
O museu chileno tem uma forte ligação com o Brasil. Em 2007, o Ministério de Obras Públicas do Chile abriu um concurso internacional para selecionar o projeto de arquitetura. Cinquenta e sete projetos foram inscritos. Os vencedores foram os arquitetos Mario Figueroa, Lucas Fehr e Carlos Dias do Estúdio América, de São Paulo. Uma das características do projeto é a concepção de uma área interna de grande amplitude em três andares sem paredes transversais e totalmente integrada, com muita luz natural através das fachadas de cristal, criando um espaço que ajuda a desvendar a injustiça sofrida pelas vítimas da ditadura em toda a sua dimensão. 
Michele Bachelet, na época presidente do Chile e ela própria detida e torturada durante o governo militar, inaugurou o museu em 11 de janeiro de 2010. Em seu discurso afirmou: "Não podemos mudar o passado, somente nos resta aprender com o que vivemos".
Os espaços e galerias do Museo de la Memoria trazem a percepção de como a dor se transforma em luta e a luta consolida valores e gera perspectivas de futuro. 
Diria que são inenarráveis as emoções que a Gelsa e eu vivemos nas horas que passamos no Museo de la Memoria y de los Derechos Humanos. Em mais de uma oportunidade as lágrimas mais que umedeceram nossos olhos.
Talvez por primeiro a assim chamada ligação do Museu com o Brasil. Logo na entrada se encontra referências a ações de ‘comissões da memória’ de dezenas países, alguns quase ignotos, como Granada. Não vimos referências ao Brasil, que por quase vinte anos viveu sob uma ditadura militar. Aliás, foi muito significativo ver dezenas de jovens brasileiros visitando o museu.
Se tivesse que recomendar apenas um programa em Santiago não teria dificuldades: Museo de la Memoria y de los Derechos Humanos. Permitiria-me uma recomendação pedagógica: uma (re)estudada na História da América Latina, mais particularmente do Chile, no entorno de 11 de setembro de 1973. Para quem acolher minha sugestão pelo menos três adição ao programa. Primeira, o acolhimento especial dos funcionários, muito ligados à história que ajudam a disseminar. Segunda, um dos mais simpáticos e acessíveis restaurantes que conhecemos em Santiago. Terceira, uma das mais lindas e simpáticas estações de metrô — Quintal Moral — que conheço.
Mas ao leitor que pergunta sobre o antes e depois do Museo de la Memoria y de los Derechos Humanos o que respondo, quando no Brasil já começou a quinta-feira.
Pela manhã voltei a igreja São Francisco, iniciada em 1572. Visitei o Museo de Arte Colonial San Francisco. O museu apresenta uma série de obras que representam a arte colonial do país, a história das formas de arte na época colonial é apresentada neste centro cultural de Santiago.
Neste museu uma surpresa: uma capela dedicada a Gabriela Mistral [pseudônimo escolhido de Lucila de María del Perpetuo Socorro Godoy Alcayaga (Vicuña, 7 de abril de 1889 — Nova Iorque, 10 de janeiro de 1957), foi uma poetisa, educadora, diplomata e feminista chilena], pois ela doou todos seus bens à ordem franciscana para ser destinado a educação de menores. Nesta capela esta a medalha e o diploma que ela foi galardoada com o Nobel de Literatura de 1945. Encantado com o que aprendi dela, prometo uma blogada sobre a ex-consul do Chile no Brasil.
Depois do Museu da Memória fomos La Chascona, Casa de Pablo Neruda [(Parral, 12 de julho de 1904 — Santiago, 23 de setembro de 1973) foi um poeta chileno, bem como um dos mais importantes poetas da língua castelhana do século XX e cônsul do Chile na Espanha (1934 — 1938) e no México] com sua terceira mulher, Matilde Urrutia.
Batizada pelo próprio poeta de La Chascona, que significa "a desgrenhada" em homenagem aos ruivos cabelos de Matilde. La Chascona foi construída por Pablo Neruda para estar com sua terceira mulher, Matilde Urrutia, onde viveu até 1973, ano do golpe militar. La Chascona começa a ser construída em 1953 ao lado do Cerro San Cristóbal em vários níveis e rodeada por trilhas feitas pelo jardim da própria casa, revelando-se cheia de deliciosas histórias do casal e das viagens do poeta. Foi a casa onde o poeta foi velado 12 dias depois do golpe, talvez assassinado pelos militares. Uma chave de ouro encerrou nossa estada em Santiago. La Chascona me emocionou.
Assim como prometi uma blogada sobre Gabriela Mistral, fico devendo uma edição sobre Pablo Neruda. Uma boa quinta-feira e lemo-nos na sexta-feira, com relatos do Prof. Guy e algo da travessia dos Andes.

8 comentários:

  1. Caro Chassot,

    para quem viveu aqueles pesados dias de setembro de 1973, essa andança pelo museu representa uma re-visita aos horrores de um dos mais despóticos períodos de ditadura.

    O Neruda está no nosso caderninho para te cobrar.

    Um abraço

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  2. Caro Attico,

    coincidentemente, ao abrir teu blogue, tinha em minhas mãos o Memorial de Isla Negra, escrito pelo Neruda em referência ao local onde comprou uma casa, próximo a Valparaíso - local onde Neruda e Matilde estão enterrados. A emoção tomou conta de mim.

    La chascona, que fica em Santiago e onde Matilde fez questão de velar o poeta morto (a casa havia sido alvo de vandalismos), também foi tema de um poema de Neruda, inserido no livro citado. Eis um trecho:

    "[...] A noite encontrada por fim na nave que construímos,
    a paz de madeira perfumada que segue com pássaros,
    que segue o sussurro do vento perdido nas folhas
    e das raízes que comem a paz suculenta do húmus
    enquanto sobreveio sobre mim adormecida a lua da água
    como uma pomba do bosque do Sul que dirige o domínio
    do céu, do ar, do vento sombrio que te pertence,
    adormecida dormindo na casa que fizeram tuas mãos,
    delgada no sonho, no germe do húmus noturno
    e multiplicada na sombra como o crescimento do trigo [...]"

    Abraço,

    Paulo Marcelo

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  3. Meu caro Paulo Marcelo,
    o amor de Neruda e Matilde emociona. Clandestino cinco anos em la Chascona depois público, mas sempre intensamente amoroso.
    Vê-la em la Chascona foi para fazer embaixadores do mundo ter que pisar sobre os livros que vandalismo militar destruíra.
    Uma retificação: em setembro de 1973 ele foi enterrado no Cemitério General de Santiago. Quando do restabelecimento da democracia ele e Matilde (que morrera dois anos depois) tiveram féretro sole e foram enterrados juntos em Isla Negra.
    Com agradecimentos e admiração

    attico chassot

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    1. Chassot, já mandei a crônica e as fotos para o teu email. Abraços.

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  4. Caro Cahssot,
    "Emoções", assim deve ser a reação a tão importante museu. Parabéns pela escolha do tema. Abraços, JAIR.

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  5. Aqui de Santa Terezinha curtindo vcs, o Carlos está indo para Palmas (não se preocupem que nos estamos aqui em Santa Terezinha),,beijos com saudades Clarissa Maria Clara e Carolina

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  6. Meu querido quarteto MCCCC,
    que bom que o Carlos, agora vai saciar seu desejo de viajar. Ontem na jornada transandina — ver fotos no blogue de hoje — lembramos de vez em vez dele.
    Aa trio de Santa Terezinha, saudades

    attico

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