ANO
8 |
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EDIÇÃO
2748
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Vivemos uma semana muito especial. Mesmo que
adjetivada de ‘santa’ nesta semana, neste sábado de aleluia, se cometia [com otimismo usei o tempo
verbal no passado] as maiores discriminações e atos de violência. Refiro-me à
‘malhação de judas’.
Se ontem dizia que neste século 21 cada vez mais parecem
se esvair manifestações de religiosidade, parece que preconceitos contra os
judeus estão desaparecendo no sábado santo, dia em que as imagem eram
desvestidas de roxo e se quebrava os sinais de luto.
Nestes dias é usual interrogações acerca da
definição da data da Páscoa e porque e como varia. Há poucas pessoas, quando se faz esta discussão,
que fazem a associação de sempre a noite de Sexta-feira Santa ser
de plenilúnio, ou seja, a lua é contemplada em sua intensidade máxima (= lua
cheia).
A Páscoa ocorre sempre na primeira lua cheia do
equinócio de primavera no Hemisfério Norte (ou de outono no Hemisfério Sul).
Como o calendário lunar é independente do calendário solar vemos que essa
variação é de trinta e quatro dias, ou seja, cinco semanas menos um dia. Como o
equinócio (quando temos o dia com 12 horas de sol e 12 horas de noite) de
outono (no Hemisfério Sul) é em 22 de março, há a possibilidade de variação
entre 22 de março e 25 de abril.
Esta
maneira de se definir a data da Páscoa aconteceu em 325, quando ocorreu
Concílio de Niceia, tido na história como primeiro Concílio ecumênico. Até
então o Cristianismo permanecia tão somente como uma seita do judaísmo tal como
os Fariseus, os Saduceus ou os Essênios - os
cristãos eram inicialmente conhecidos como Nazarenos -. É a
partir deste Concílio que se pode falar em uma Igreja cristã.
Nicéia, atual cidade de Iznik, está localizada na província de
Anatólia (nome que se costuma dar à antiga Ásia Menor), na Turquia asiática.
Este primeiro Concílio Ecumênico da Igreja, foi convocado pelo Imperador
Flavius Valerius Constantinus (285-337). Constantino, estadista sagaz que era,
inverteu a política vigente, passando da perseguição aos cristãos, à promoção do
Cristianismo, vislumbrando a oportunidade de relançar, através da Igreja, a
unidade religiosa do seu Império. Contudo, durante todo o seu regime, não abriu
mão de sua condição de sumo-sacerdote do culto pagão ao "Sol
Invictus". O Imperador Constantino tinha um conhecimento rudimentar da
doutrina cristã e suas intervenções em matéria religiosa visavam, a princípio,
fortalecer a hegemonia do seu governo. Assim, buscou com o Concílio a
unificação de uma religião oficial para o Império e para tal trouxe propostas
as mais diversas.
Uma das propostas de Constantino, aos mais de 300 prelados
conciliares foi dissociar a data da celebração da Páscoa da data judaica. Há
uma carta, marcada por um repugnante antissemitismo e provavelmente apócrifa,
atribuída ao Imperador, da qual transcrevo um excerto, mesmo não crendo em sua
autenticidade1. Não podemos,
portanto, ter nada em comum com os judeus, porque o Salvador nos mostrou outro
caminho; nosso trabalho segue um curso mais legítimo e mais conveniente (a
ordem dos dias da semana): e, consequentemente, deste modo, numa adoção
unânime, desejamos, caros irmãos, separar-nos da imprópria companhia
dos judeus, porque nos é verdadeiramente vergonhoso os ouvirmos se vangloriarem
de que, sem sua orientação, não podemos guardar essa Festa. Como podem eles
estar corretos, se após a morte do Senhor, não se apoiam mais na razão, senão
na violência, já que a ilusão é quem os impele? Como judeus e cristãos observavam o Shabat e participavam das
mesmas festividades era preciso demarcar diferenças. Assim, outra decisão deste
Concílio de Nicéia consistiu na transferência do dia santo e de descanso
semanal guardado pelos primeiros seguidores de Cristo, de Sábado para a Prima
Feria, que passou a denominar-se dies
domini, daí Domingo.
[1] A íntegra da Carta de
Constantino sobre a Celebração da Páscoa está no sítio http://www.veritatis.com.br/doutrina/documentos-da-igreja/6837
(Acessado em 17 de abril de 2014).
Bom dia, Mestre!
ResponderExcluirInteressantes eventos, garimpados dos antigos tempos, mostrando que pequenos atos de pessoas daquela época causaram mudanças que permanecem até os nossos dias, e hoje se apresentam como fatos irrefutáveis e dogmáticos dentro da fé religiosa...
Mas, esta é a natureza humana, onde a religiosidade e o misticismo sempre encontram espaço...
A política também...
Abraços!
A historia do Cristianismo sempre foi coroada de contradições. Agora mesmo nos é anunciado que haverá missa nesse domingo de Páscoa nas mais de 270 paróquias da cidade do Rio de Janeiro para alento dos pobres e necessitados, menos na Arquidiocese onde efetivamente nesse momento existem pobres e necessitados em busca de ajuda...
ResponderExcluirImaginar a Religião desvinculada de interesses(políticos e de poder) é praticamente uma miragem. Me lembro uma passagem ao voltar para minha cidade, depois de alguns anos, ao conversar com um professor aposentado, dono de estabelecimento comercial e pessoa de influência intelectual e na Igreja católica local. Me falou descaradamente: "Mete religião nas tuas aulas. Fala de religião aos teus alunos".
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