ANO
8 |
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EDIÇÃO
2743
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Nesta segunda-feira, alunas e alunos de Teorias
do Desenvolvimento Humano das turmas da manhã e da noite do curso de Licenciatura
em Música assistem comigo ao filme “A Guerra do fogo”. Parece ser, quando se
deseja conhecer diferentes leituras acerca do desenvolvimento dos humanos, significativo conhecer nossa gênese.
Esta edição se faz em três movimentos: 1) uma
ficha técnica do filme; 2) uma breve sinopse; e 3) comentários formados por três
excertos retirados de CHASSOT, Attico.; RIBEIRO, Vândiner.
O fogo catalisador de guerras que já são milenares. In: OLIVEIRA, Bernardo Jeferson de. (Org.). História da Ciência no Cinema 2 - O retorno. 1 ed. Belo Horizonte:
Argvmentvm, 2007, v. 2, p. 85-94. ISSN:
9788598885131
1
FICHA TÉCNICA Jean-Jacques Arnaud (diretor, recebendo o “Cesar’ de melhor
diretor em 1981) /Roteiro de Anthoni Burgess (La Guerre du feu) Produção França e Canadá // 100 minutos
// 1981 // Legendado em Português // Colorido // Com: Everett McGill, Rae Dawn Chong,
Ron Perlman, Nameer El Kadi.
2
SINOPSE Um mergulho no tempo em busca da maior conquista da
humanidade: o domínio do fogo. Filmado em paisagens da Escócia, Islândia,
Canadá e Quênia este belo trabalho de Arnaud recria o mundo como deve ter sido
há 80 000 anos. O filme trata de dois grupos de hominídios de tempos
imemoráveis: um que cultuava o fogo como algo sobrenatural e outro que dominava
a tecnologia de fazer o fogo. Em termos de linguagem, o primeiro não está muito
longe dos demais primatas, emitindo gritos e grunhidos quase na totalidade
vocálicos. Há
outros elementos culturais, como habitações e ritos, que denotam um maior grau
de complexidade do segundo grupo com relação ao primeiro. Há um
enfrentamento entre as duas tribos e se pode observar o surgimento da
necessidade da comunicação.
3 COMENTÁRIOS [...] Quando
discutimos acerca da gênesis de nossa história
de humanos no Planeta
surgem sempre pelo
menos duas grandes
invenções tidas como
aquelas fundantes. As descobertas da roda e da conservação do fogo . A primeira
delas é realmente significativa ,
mas devemos nos
dar conta que houve civilizações ,
os incas , por
exemplo , que
construíram uma civilização marcada por significativas realizações
sem conhecer
a roda1 .
Realmente, a conservação do fogo foi algo muito significativo na história da construção do conhecimento e sua
ocorrência não
deve estar muito
distante temporalmente
do inicio do uso das patas dianteiras ,
ou melhor ,
das mãos , para
a realização de trabalho ,
algo decisivo
na nossa caracterização
como humanos .
[...] Talvez pudéssemos nos atrever e ampliar a
afirmação: os filmes
nos permitem visitar
os eventos ocorridos ou imaginados e também ,
em muitas situações
nos levam a ver
o antes inimaginável . Parece que a maioria
das cenas que
presenciamos em A guerra
do fogo não
teria sido por nós
imaginadas, não fosse o talento e a criatividade de Jean Jacques Arnaud e sua equipe , que depois
desse filme foi também
o premiado diretor em
O nome
da Rosa (França, 1986) e Sete anos
no Tibet (França, 1997), dois títulos excepcionais
na filmografia mundial.
[...] O filme permite discussões a acerca da construção do
conhecimento em tempos remotos, que não muitas vezes é explorado pela sétima
arte. Muitos assuntos podem ser levantados a partir de A Guerra do fogo.
Uma discussão sobressai: a relação de poder com a tecnologia, neste caso o
fogo, revelada basicamente pela detenção do conhecimento. O filme contempla
muitas áreas do saber tais como a antropologia, a paleontologia, a biologia, a linguística,
a química, a história, dentre outras. Tantas nuances numa mesma obra pode ser
um muito atrativo convite a atividades escolares envolventes. Convidamos a
experimentar.
[1] O capítulo 5 de A ciência através dos tempos (Chassot, 1994), nas edições a
partir de 2004, traz uma leitura de uma Ciência pré-colombiana, tomando os
incas com um estudo de caso. Há também análises acerca dos silvícolas
brasileiros antes de 1500.
2 Há a necessidade de
uma releitura desse parágrafo, quando sabemos que vários macacos ditos
"superiores" – como chimpanzés, gorilas e orangotangos – utilizam
ferramentas com regularidade, inclusive modificando os materiais originais para
servir melhor aos propósitos da tarefa. E, para diminuir ainda mais a brecha
entre humanos e símios, recentemente se descobriu que chimpanzés utilizam e
modificam pedras criando instrumentos líticos em nada diferentes aos associados
aos primeiros hominídeos (i.e. Homo habilis e Homo ergaster). Ver: http://www.sciencenews.org/articles/20020330/fob2.asp
acessado em 16 de agosto de 2006.
Querido mestre!
ResponderExcluirA guerra do fogo é um filme clássico nas aulas de diferentes áreas de conhecimento em também diferentes modalidades e níveis de ensino, não é mesmo? O que sobressai, para mim, é justamente essa relação do humano com o conhecimento, que ainda hoje, milênios depois das situações representadas no filme, ainda se dá pelo viés do poder e dominação. Me parece que ao ser humano não é natural ou próximo partilhar o conhecimento. Lhe cai muito bem o deter, possuir, ter exclusividade sobre... Nesse ponto, ainda não cruzamos os portais da pré história. Se externamente, no mundo dos fenômenos, muita coisa mudou, parece que internamente, no mundo subjetivo, continuamos pré históricos. Se não individualmente, pelo menos, coletivamente...