ANO
8 |
www.professorchassot.pro.br
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EDIÇÃO
2735
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Nada melhor que amenidades ligeiras para uma
blogada dominical. Três locuções passaram por mim essa semana. Deram azo para
evocações e busca de explicações. Junto-as num assamblage para fazer saudades
neste domingo outonal.
1.- Fazer fita: quando usei
esta expressão, achei-me démodé. Perguntei-me pela origem. Minha interlocutora
sugeriu a ligação com ‘fita de cinema’; achei muito novo, mesmo que os ‘filmes’
não sejam mais ‘filmes’. Conferi: Fiteiro
(quem "faz fita") é todo aquele que, em pequenos jeitos ou modos de
ser, falar ou vestir, procura criar outra personalidade, na falta ou na pobreza
da sua própria capacidade de bem impressionar.
A expressão "fazer fita" tem
proveniência na cinematografia. O fato de se mostrar pública ou particularmente
uma pessoa, por vaidade mais que por negócio, aos olhos de milhares de outras,
arrancou do povo a sabedoria desta forma. A fita é hoje a espécie brasileira do
show off.
2.- Conversa para boi dormir:
uma conversa mole ou lero-lero, ainda: desculpa
esfarrapada ou mentira contada com a intenção de enganar alguém. As
explicações para possíveis origens desta locução não me pareceram convincentes,
como: que teria surgido numa altura em
que a pecuária era de suprema importância para a população local. O boi era dos
animais mais importantes e por tal, o boi tinha uma grande importância para os
pecuaristas, que tratavam o animal quase como uma pessoa, e muitas vezes até
conversavam com ele.
3.- Às brincas ou às ganhas? Esta
era a decisiva frase de abertura que faziam os meninos (não recordo de ter
visto menina jogar bolinha de gude) quando jogavam bolitas às brincas, ou às
ganhas? Isto é, o jogo é para brincar apenas, ou nele se pode perder as
preciosas bolinhas de gude? Quem jogava ‘às brincas’ queria se divertir com o
jogo, mas surgia no cenário um marmanjão que vinha só para jogar ‘às ganhas’ ou
‘às devas’ para valer ou para acumular mais posses, quem ganhava levava as
bolinhas do perdedor.
Mestre!
ResponderExcluirFoi emocionante ver o triângulo do jogo de bolita!
Lembro do "boco" e também não recordo de ter visto guria jogando bolota!
Concordo: saudosismo faz bem à saúde, especialmente se for às brincas.
Marcelo
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirDando azo ao saudosismo, tempo bom era aquele em que teríamos essa conversa na mesa de um café.
ResponderExcluirQuerido mestre!
ResponderExcluirQue bom poder voltar novamente a ler o blog! A vida de prof na universidade parece estar me consumindo! Mas este semestre leciono novamente a disciplina Saberes Químicos Escolares e, nesta, a leitura de seu blog é semanal! Viva! Quanto ao tema, fiquei pensando nos regionalismos que o envolvem e nas diferentes formas que ele ganha... É assim que a "conversa pra boi dormir" eu também conheço como "conversa fiada", o "fazer fita" conheço como "fazer doce" e "fazer média" e jogar bolinhas de gude para nós era "as brincas ou as veras" ... Mencionando o fato das meninas não jogarem bolinhas de gude, realmente não o fiz, mas assistia a meu irmão. Confesso que não jogava por pura falta de coordenação motora. Nunca dominei o movimento de mãos que faria a bolinha correr, mas que tentei, eu tentei! Quanto às expressões, o fato de a linguagem ser metafórica e estarmos sempre brincando com essas expressões me anima muito, pois tem bases na criatividade humana. Tem um filme produzido em 2009, chamado O primeiro mentiroso, que trata um pouco da questão ao problematizar como seria nossa vida se falássemos apenas a verdade e nossa fala fosse tomada literalmente, sem considerar metáforas. É muito interessante pensar como seria a vida se a linguagem fosse tomada as veras e não as brincas... Um bom domingo e até a semana.
Bolinha de gude (bolita): Nesta, sinto uma doce nostalgia de um tempo em que a pressa do tempo inexistia. Sempre havia tempo...para mais uma partida.
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