ANO
8 |
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EDIÇÃO
2731
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Há alguns anos, José Carneiro, jornalista
e sociólogo, publica a cada domingo, em O
Liberal de Belém do Pará artigos de análises críticas. Os leitores deste
blogue, de vez em vez, têm sido brindados com reproduções de dominicálias de meu colega e amigo. A edição de hoje se
tece com o texto do domingo, dia 30. A este artigo aditei a ilustração, em ressonância com as duas últimas edições publicadas aqui.
50 ANOS DO COMÍCIO NA CENTRAL
DO BRASIL O último dia do mês de março
delimita bem a passagem dos 50 anos do golpe militar que lançou o país numa
férrea ditadura com a duração de longos e tortuosos 21 anos. Mas foi
efetivamente no dia 13 de março de 1964, uma sexta feira, que o presidente João
Goulart praticamente selou sua presença à frente do governo brasileiro, ao
discursar no comício em frente a Central do Brasil, no Rio de Janeiro,
acendendo os rastilhos da pólvora que, ao explodir, redundaria no golpe militar.
Na presença de sua esposa Maria Thereza e de seus principais ministros e
governadores aliados, o presidente João Goulart assinou (apenas assinou, pois
não houve tempo para produzir efeitos legais) alguns decretos por meio dos
quais ele esperava ganhar tempo suficiente para realinhar seus aliados e a base
de sustentação do seu frágil, e democrático, governo. Um dos decretos era sobre
a reforma agrária e outro sobre a remessa de lucros para o exterior de empresas
estrangeiras. A análise do período não cabe, obviamente, neste curto espaço deste
artigo rememorativo.
Eu me lembro com nitidez desse evento noturno. Morando
em Castanhal, escutei em transmissão da Rádio Nacional alguns dos oradores,
como Leonel Brizola e Miguel Arraes, que ajudavam a atiçar a fogueira daquilo
que, visto de hoje, mais parecia uma armadilha, ou uma aventura, às quais o
presidente Jango, cada vez mais isolado, foi lançado por aliados, assessores e
inimigos. Não deu outra coisa, como se viu e se sabe pela história decorrida. O
golpe já estava em curso, com forte apoio de forças externas (os Estados
Unidos, claramente) e internas (elites empresariais, setores da igreja e da
sociedade). Muitos se lembram do que ocorreu em seguida: o presidente João Goulart
despencou na ladeira rumo à guilhotina, sem conseguir a necessária articulação
civil e militar para deter o processo armado contra si próprio. Digamos que era
um destino selado ainda em 1961, quando ele foi compelido a aceitar, por
imposição dos ministros militares, a adoção do tosco parlamentarismo brasileiro
como alternativa para aceitação de sua posse legal na presidência, após a
renúncia do insano Jânio Quadros. O presidente João Goulart fora alertado por Juscelino
Kubitscheck e Tancredo Neves sobre a necessidade de algumas mudanças
ministeriais mas não deu ouvidos, acreditando num tal “dispositivo militar”
preparado pelo general Assis Brasil, chefe da Casa Militar, que se revelaria,
afinal, num completo fracasso. Assim, com tudo caminhando para o fim, o
histriônico general Mourão Filho deu partida às tropas federais de Minas Gerais
em direção ao Rio de Janeiro, o mesmo tendo sido feito com a esquadra norte
americana, também já deslocada para a costa brasileira, como prevenção e apoio.
Sem resistência do presidente Goulart, que deixou o Rio e logo em seguida Brasília
em direção ao exílio, teve inicio a sucessão de equívocos dentro do próprio
reduto militar, como o general Costa e Silva, por ser o mais antigo na ativa,
assumindo o comando do movimento dito revolucionário, outro grave equívoco a
contrariar todo os conceitos da ciência política sobre o que é revolução. Que
nome se queira dar à mudança de 1964, é incontestável que a democracia foi
transgredida desde o primeiro instante e a sociedade pagou um altíssimo preço
imposto pela força e pelo autoritarismo, que chegou ao paroxismo em 1968, com o
famigerado AI-5. Meio século depois cabe refletir para que o pesadelo de 64 nunca
mais se repita no Brasil e em parte alguma.
Ratifico minha afirmação de que os golpes só acontecem pelo fértil pasto propiciado pelos maus gestores. Caminhamos para anomia social, a cada dia os escândalos quando parecem o cúmulo da roubalheira são logo esquecidos por outros piores. Nossa sociedade vive entregue a própria sorte, enquanto nossos políticos apenas legislam em causa própria. Nossa polícia,corrupta e desacreditada, só se manifesta na hora de espancar os cidadãos por hora das suas justas manifestações, nossos hospitais verdadeiras pocilgas enquanto nossos estádios acomodações de primeiro mundo. É ridículo falar em tortura, quando tortura maior sofre o povo nessa existência miserável. Na realidade esses movimentos são fomentados pelos próprios políticos temerosos de perder as tetas nacionais.
ResponderExcluirUm outro golpe militar talvez seja pouco provável. E o golpe midiático, na saúde e na educação a cada dia???
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