ANO
8 |
Frederico Westphalen/ Porto Alegre
|
EDIÇÃO
2745
|
Depois de dois dias em Frederico Westphalen volto
durante a madrugada à Porto Alegre. Dos três momentos na EE EM Sepé Tiaraju, o
mais emocionante não foi nem a palestra para cerca de uma centena de alunos do
ensino médio e nem à noite a fala para professores de diferentes escolas. Foi
em uma situação em que não falei onde por mais de meia hora fui envolvido por 50
ou mais crianças das séries iniciais do ensino fundamental que queriam
autógrafos. Em outra edição devo contar acerca disso. Agora, embalo sonhos para
um curtido feriadão.
A propósito de feriadão, quando já vivemos
noites de lindos plenilúnios e estes — por serem os primeiros depois do
equinócio de outono no Hemisfério Sul — nos remetem à semana santa. Hoje a
liturgia cristã recorda a última ceia. Não há como não
evocar uma das obras de Leonardo da Vinci (1452-1519) mais reproduzidas e
também mais marcada pelo machismo, traduzida na presença de 13 homens e nenhuma
mulher.
Notícia do jornal espanhol ‘El Pais’ do
último dia 12 de abril relata que um fragmento de papiro do século IV, escrito
em copta, a língua do antigo Egito, que já causou um grande reboliço ao ser
descoberto, em 2012, de acaba de ser considerado autêntico pela prestigiosa
Escola de Teologia da Universidade Harvard, pela Universidade Columbia e pelo
MIT.
A notícia da suposta
autenticidade desse documento, embora não de seu, conteúdo, atraiu uma enorme
atenção dos acadêmicos depois de ele ser exposto em público numa conferência
sobre língua copta que acontece em Roma, porque nele, e pela primeira vez,
Jesus de Nazaré fala da “minha mulher”, o que significaria que era casado. Mas,
nesse caso, quem era ela?
O papiro gnóstico deve seu nome
(Evangelho da Esposa de Jesus, embora não revele sua identidade) e a
pesquisadora estadunidense, Karen King, diz que está convencida de que se trata
de Maria Madalena.
A pesquisadora afirma: “Para
nós, que há anos analisamos os textos evangélicos da Igreja, sejam os canônicos
ou os apócrifos, sobretudo os gnósticos, não é nenhuma novidade que Jesus foi
casado e certamente teve filhos, pois seria algo muito anormal na sociedade
judaica daquela época que não fosse assim”.
Nada mais precioso para um
judeu do que a prole. A ponto de que, na Bíblia, Deus permite aos patriarcas,
cujas esposas eram estéreis, que se deitassem com uma escrava que lhes desse um
filho.
O papiro não nos diz quem era
essa mulher de Jesus. Quem revela esse enigma com uma simples análise
hermenêutica são os quatro Evangelhos canônicos, que nos contam que, durante a
crucificação, Maria Madalena estava na primeira fila, enquanto todos os
discípulos homens ficaram escondidos e com medo.
Madalena aparece também ungindo
o cadáver do Jesus. E no domingo de Páscoa é ela a que vai de novo ao lugar da
crucificação, e é para ela que aparece ressuscitado.
O Doutor da Igreja, são Tomás
de Aquino, perguntava-se, incrédulo, por que Jesus, ao ressuscitar, apareceu a
Madalena e não a Pedro e aos seus apóstolos. Isso porque, além do mais, a
mulher judia não era fiável nem podia atuar como testemunha em um processo
judicial. Por isso, Pedro “não acredita” quando ela vai lhe dizer que Jesus
havia ressuscitado, e ele mesmo se dirige ao sepulcro para comprovar isso,
encontrando-o vazio.
Os quatro evangelistas colocam
Maria Madalena aos pés da cruz. Os três sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) a
citam junto com “outras mulheres”, mas o Evangelho de João, que foi o último e
mais recente, 90 anos depois da morte de Jesus, e que conhecia bem os outros
três, cita apenas Madalena. Mais ainda, oferece detalhes que unicamente ela
poderia ter lhe contado em vida, como sua saída no domingo para o Gólgota “na
alvorada”, quando “ainda estava muito escuro”, e que diante do sepulcro vazio
“se pôs a chorar”.
Quando o escritor José
Saramago, Nobel de Literatura, ele comentou com Pilar, sua esposa: “Se apareceu
para ela, antes que a Pedro e até mesmo à sua mesma mãe, claro que era sua
mulher”, e acrescentou: “Pilar, se quando eu morrer pudesse ressuscitar, a quem
iria aparecer primeiro se não a ti?”.
O papiro copta encontrado em
que Jesus fala da “minha mulher”, se for realmente autêntico, como parece, não
faria mais do que corroborar o que os teólogos biblistas defendem há mais de 50
anos: que Jesus foi casado com a gnóstica Maria Madalena, a quem aparece antes
mesmo que aos apóstolos, que precisaram se resignar a saber por ela da
importante noticia da ressurreição.
Penso que se faz necessário compreendermos que as religiões são organizadas dogmamente por homens (mesmo que alguns não necessariamente humanos) com seus devidos interesses. Confio que a ciência ainda elucidará acerca do possível espôsa de Jesus. E acredito que isso não vá alterar o conteúdo da mensagem deste profeta. Não sei como se portará a Igreja Católica que veemente nega tal fato. Um pouco de Ciência, Razão não faz mal a ninguém. Se é pecado, a Igreja é a primeira, maior e eternamente pecadora. Ou voltará nos tempos? Ele disse: "[...] conhecereis a verdade e a verdade vos libertará"(João 8,32) c.f. versão Ave Maria, Edição Claretiana, 1992.
ResponderExcluirGrande Abraço.
Mestre Chassot,
ResponderExcluiro senhor escreve, com acerto, que hoje é o dia da comemoração da última ceia. Na liturgia católica este também seria o dia da instituição do sacerdócio. A igreja católica romana (e algumas outras denominações) invocam o celibato de Jesus como modelo para se impor o celibato dos padres e bispos.
Se verdadeira a matéria da edição de hoje, como fica essa norma tardia (Século IV, com o concílio de Elvira) de impor o celibato a modelo de Cristo, se ele não foi celibatário. Bom assunto para o papa Francisco...
L L L
Gente como a gente
ResponderExcluirJesus com Madalena foi casado
Nada mais lógico minha gente
Se eles conviviam lado a lado
Por que não agir normalmente?
Pelo que sabem e pelo que sei
Jesus vivia e agia como varão
Compredendo que não era gay
Espera-se ter cedido à paixão.
Viu aquela samaritana um dia
Conversa vai e conversa vem
Foram eles direto prá pretoria.
E exatamente como convém
Maria muitos filhos lhe pedia
E isso atendeu Jesus também.