ANO
8 |
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EDIÇÃO
2747
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Vivemos, uma vez mais, uma Sexta-feira Santa, que envolve crentes e não crentes. É
talvez o dia de maior religiosidade do calendário cristão. Não sem razão que
existam os ‘cristãos de Sexta-feira Santa’. A imagem do crucificado, quanto
mais parecer dolorosa, mais impregna ‘devoção’. Há também aqueles que durante o
ano não são frequentadores de igreja, mas hoje se transvestem de penitentes.
A Sexta-feira Santa talvez seja a data da cristandade de mais densa
em tradições. Recordo, em minha infância que nesse dia não ligávamos rádio (as
emissoras de rádio, nesse dia só apresentavam música clássica, sem qualquer
comercial ou noticioso – talvez por isso que no meu imaginário a música
clássica foi por um tempo associada à música fúnebre), não se varria a casa,
não se ordenhava as vacas, falava-se baixo e cantar ou assoviar jamais; o risco
de pecar por assoviar nunca corri, pois até hoje não sei fazê-lo. A infração
mais grave era pregar algo, pois então estaríamos repregando Jesus na cruz.
Como filho de marceneiro pode-se imaginar quanto isto era cuidado.
Era o dia de colher marcela, antes
que o sol secasse o sereno que ela recebera na noite da prisão de Jesus. A
propósito desta tradição popular — ainda muito presente nos dias de hoje —
escrevi um “Uma sexta-feira (ainda) santa”, conto que foi premiado no ‘Concurso os botos do rio Tramandaí’,
nos anos 90, promovido pela Prefeitura de Tramandaí e pela UFRGS.
A manchete desta blogada: Uma
sexta-feira (ex)santa se faz em contraponto ao titulo do conto antes citado.
Agora, quando até os supermercados abrem na data, parece que a sacralidade da celebração
se esvanece. Isto parece traduzir bastante o abandono do mundo religioso que
vivêramos, há não muito.
Em 2002, quando vivi na Espanha
durante o pós-doutorado, tive o privilégio de passar a Semana Santa na
Andaluzia. Acompanhar as procissões — que podem ser lidas como verdadeiros
desfiles de arte, organizadas pelas confrarias que as preparam o ano inteiro —
é algo quase inenarrável. Fiz isto em Córdoba, Granada, Cádiz e Sevilha. Tenho
um livro ‘Memórias de Viagens’ pré-pronto, no qual a Semana Santa andaluz de
2002 é um dos capítulos mais prenhe de emoções. Talvez, se pudesse bisar apenas
uma de minhas dezenas de viagens, esta seria uma das preferida.
Neste dia desejo aqueles e aquelas que cultuam a data um dia de
frutuosas meditações. A todos um muito curtido plenilúnio na noite de hoje. Como recordar faz bem à saúde, que este recesso seja tempo de remexer naquele baú rotulado semana santa.
Recordo-me também Mestre dos cuidados recomendados por meus pais no respeito cristão a essa data. Não cantávamos, não ríamos, não comíamos carne, costume esse que perdura até os dia de hoje me nossa casa. Porém uma notícia que circulou na mídia hoje me chamou a atenção. segue parte da notícia "in verbis" :
ResponderExcluir"A Arquidiocese do Rio de Janeiro cancelou a encenação do Auto da Paixão de Cristo que seria realizada na Catedral Metropolitana, no Centro. O motivo: falta de segurança. Desde a manhã, um grupo de 50 pessoas acampou em frente à igreja, que ficou fechada durante todo o dia. Nem os atores que ensaiavam para a tradicional celebração da Sexta-Feira Santa, no início da noite, puderam permanecer no local. Também não haverá missa nem procissão.".
Pergunto: Não seria a igreja a casa dos excluídos? Na época de Jesus cerravam-se as portas diante dos famintos? Não foi dito por Jesus "Vinde a mim os que tem fome e sede de justiça" ?