ANO
8 |
C H A P E C Ó - S C
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EDIÇÃO
2557
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Esta postagem ocorre
desde a casa do Antônio em Chapecó, que (re)apresentei na abertura da edição de
quarta-feira. Cheguei a capital do Oeste Catarinense, em um voo de 1h15min, ontem,
quando já anoitecia.
Hoje profiro a fala “Uma migração exigente: Das certezas às
incertezas” que
inaugura a etapa local do III Seminário de Ensino, Pesquisa e Extensão da UFFS.
Também na manhã desta quinta-feira ocorre a abertura do 33o EDEQ na
Unijuí. EDEQs são parte de minha história há 34 anos. Assim, logo depois da
fala desta manhã viajo, cerca de 300 km à Ijuí, onde hoje e amanhã tenho
extensa agenda.
Mas, o título
da blogada é outro. Depois da cacetada que recebi ontem, aplacada por generosas
‘tietagens’ e também por pelo menos dois prestigiados teólogos, falo de algo menos polêmico.
Escrevo o que
segue marcado pela irritação. Frequento uma academia — lamentavelmente não
daquele modelo que Platão fundou há mais de 2.400 anos. É destas que vamos por
questões de saúde. Há mais de oito anos, até quatro vezes por semana, estou
entre aqueles que abrem a academia, às 7h.
Diferente de
tempos mais recentes, não me agrada mais ir à academia. Ela tornou-se muito barulhenta.
Não são apenas as músicas malucas e as máquinas que produzem ruídos que irritam.
Uns poucos clientes, e pasmem, até instrutores competentes, algaraviam. Mas,
isso é o suficiente para que estude alternativa e busque outro endereço para
manter-me saudável.
Dizem que sou
implicante. Aceito a pecha. Mas, há aqueles que estão do meu lado. Vejam quem
trago como parceiro.
No último
sábado (05OUT13) Zero Hora publicou uma matéria acerca das graves consequências
do barulho, cada vez maior, no mundo contemporâneo. Estava inserta na reportagem
uma entrevista com o renomado pesquisador Iván Izquierdo, do Centro de Memória
da PUCRS da qualpincei excertos. O autor do livro Silêncio, Por Favor [São Leopoldo: Editora Unisinos, volume 11 da
coleção Aldus, 116 p, 2002] diz que “o problema do ruído incomoda a todas as
pessoas que precisam pensar e precisam se concentrar para entender algo, para
escrever ou simplesmente para ouvir. Há algo que eu e muitos outros pedimos:
‘Por favor, silêncio’. É um clamor geral de gente que eu conheço”.
Izquierdo
afirma mais: “O mundo hoje é muito mais barulhento do que tínhamos 20 anos ou
50 anos atrás. Hoje, há muito mais gente do que antes, mais máquinas que fazem
barulho”.
Quando
perguntado: O senhor diria que temos um nível de barulho que nos impede até de
ouvirmos uns aos outros?
Izquierdo responde:
“Sim. Vou a um restaurante para conversar com um amigo e não posso, porque todo
mundo grita ao redor, não se consegue falar nem entender o que o amigo está
dizendo. É um prazer que se perdeu. Antigamente, a gente ia comer em algum
lugar para conversar com alguém. Hoje quem quer conversar tem de ir para o
campo, no meio das vacas, ou não vai conseguir. As pessoas gritam. Para
começar, todo mundo anda um pouco surdo e se acostumou a gritar. Falam alto no
celular, um aparelho que não existia poucos anos atrás”.
O
neurocientista, nascido na Argentina, mas naturalizado brasileiro continua: “Vivemos
uma cultura do ruído. É algo prejudicial para o mundo. Uma das coisas
fundamentais é entender os outros e ser entendido. Se isso fica prejudicado, as
relações interpessoais também perdem.”
Perguntado se
o ruído constante traz prejuízos para a memória, responde: “Com relação à
capacidade de armazenar informações, não sei. Mas há prejuízo na capacidade de
perceber informações. O ruído constante traz impactos mentais. O barulho
extremo era uma forma de tortura nas prisões, por exemplo. O barulho que nos
distrai, que nos impede de perceber o que está acontecendo, pode ser fatal. É
perigoso. É uma das grandes causas de estresse. E de estresse se morre. As
pessoas fazem muito ruído e isso pode nos trazer consequências sérias, sobre as
quais prefiro não falar, para não assustar”.
Trago apenas
uma questão a mais: Se vamos a uma academia por razões de saúde, não seria mais
salutar se o local fosse menos estressante. Lá se cuida tanto que não lecionemos
músculos e ossos, por que não cuidar um pouco de nosso cérebro.
Não advogo um
silêncio hospitalar, com música clássica. Esse modelo reservo para minhas
utopias. Se um dia eu fosse um inimaginável proprietário de academia ela seria também
lócus para privilegiar o cérebro, não apenas músculos.
Em plena era da comunicação vivemos o pandemonio do barulho. No diálogo perfeito um fala, o outro escuta e responde; está estabelecida a comunicação perfeita. Hoje em dia esta cadeia rompe-se pois ninguem quer mais ouvir ninguem. Todos querem falar, todos querem berrar, todos fazem barulho. O facebook é um fenômeno que demonstra bem isso. Todos querem postar suas figuras e comentários, não importa se entendam ou comentem, basta "curtir". Tenho uma amiga professora nesse meio virtual que quando me encontra no "bate-papo",( usando uma expressão de minha avó) ," fala pelos cotovêlos" que mal tenho tempo de responder "é", "sei", "isso" etc. As pessoas vivem carentes de contato, de diálogo, então fazem barulho num apelo insano como quem grita "EU ESTOU AQUI"
ResponderExcluirabraços
Limerique
ResponderExcluirDa paz auditiva sou militante
Não me apraz sonido irritante
Até porque alto decibel
Costumam ser cruel
E acima de tudo muito brochante.
Ave Chassot,
ResponderExcluirnão ouso ser um paladino do silêncio, minha voz baritonal emposta-se inconscientemente e, quando vejo, em meio a um restaurante estou dando aula ou cantando (dependendo da bebida)... Para agravar não sei rir baixo, gargalhadas de galpão rasgam os ares quando me surpreendo com algo engraçado... Mas meus familiares e amigos mais íntimos já tem um código mímico para avisar que os decibéis estão excessivos... Mas, a despeito deste problema, sou partidário de um mundo menos ruidoso. A necessidade de músicas barulhentas e televisões ligadas, as máquinas em horários inoportunos, os carros e motos barulhentos são terríveis...
O pior de tudo, para mim, não é isso. Mas sim o olímpico desprezo das pessoas pela leitura alheia. Esses dias lia com gosto o "Paradigme Perdu" do Morin, no Parcão, quando um grupo de cinco conhecidos de parque dos meus avós pousaram com suas cadelinhas gasguitas, cadeiras e assuntos aborrecidos sobre problemas veterinários e técnicas de alongamento, tisnando meu pensamento filosófico com prosaicismo vazio e atrapalhando a mim e meus avós que, antes da chegada das gralhas, líamos em paz ao sol primaveiril...
Acho que deveríamos andar com placas pedindo silêncio, para sermos respeitados ao menos quando estamos lendo.
ResponderExcluirSó não se irrita com isso quem não lê.
Abraços
Limerique
ResponderExcluirQuem vos fala, leitor juramentado
Está sempre num livro atolado
Anseia por quietude
O silêncio é virtude
Que espera ter sempre a seu lado.