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terça-feira, 10 de janeiro de 2012

10.- ABISMO JUDAICO



Ano 6 *** www.professorchassot.pro.br *** Edição 1987
É difícil acreditar que já na segunda década do século 21, em um dos países mais adiantados do Planeta, meninas e mulheres sejam molestadas, por exemplo, quando em ônibus público, não se assentam nos últimos bancos, separadas dos homens, que por definição, tomam os lugares da frente. Parece algo do medievo se exigir que mulheres tenham que estar separadas do homens em qualquer lugar público e que homens não possam ouvir mulheres cantar, sob risco de ‘caírem em tentação e pecarem’
No último sábado, dia 7 de janeiro, a Folha de S. Paulo, publicou na Ilustrada um texto de Isabel Fleck que merece profunda reflexão sobre as imposições de religiosos ultraortodoxos aos demais israelenses.


Ultraortodoxo e menina dividem parada de ônibus em Beit Shemesh, palco de protestos antissegregação  

De um lado, uma garotinha de oito anos chora de medo após ter sido assediada a caminho da escola por judeus ultraortodoxos que consideram suas roupas impróprias.
Do outro, um menino haredi (ultraortodoxo), aparentemente da mesma idade, que protesta contra a perseguição à sua comunidade enfiado em um uniforme de campo de concentração nazista.
As duas imagens chocaram Israel e ganharam o mundo, expondo o profundo abismo que se formou entre os mais radicais judeus, cerca de 10% da população do país, e o restante dos israelenses, religiosos ou seculares.
O estopim foi o assédio dos radicais para garantir a separação entre homens e mulheres em espaços públicos.
A pequena judia Naama Margolese virou ícone, assim como Tanya Rosenbilt, que não aceitou sentar no banco de trás de um ônibus, como seria próprio a uma mulher, na visão de radicais judeus.
Muitos ultraortodoxos consideraram exagerada as reações contra eles. Inclusive a do primeiro-ministro, Binyamin Netanyahu, que foi à TV condenar extremismo, embora seja apoiado por partidos com presença de ultraortodoxos, como Torá Unida e Shas.
"Há definitivamente uma campanha nacional contra os ultraortodoxos", afirma o haredi Mordecai Plaut, 60, morador de Jerusalém e diretor do site ultraortodoxo chareidi.org. Ele, porém, não acha que seja orquestrada "por alguém com motivos nefastos".
Assim como a maioria dos haredim (forma plural de haredi), ele condena o que ocorreu com a menina Naama na cidade de Beit Shemesh, mas sustenta a demanda por separação entre sexos opostos nos espaços públicos.
"O Talmud [livro das leis judaicas] diz que sexos opostos não devem estar juntos em contextos públicos. Não é uma honra maior estar na frente do ônibus. A principal questão é a separação", disse à Folha, por e-mail.
Os ultraortodoxos seguem à risca sua interpretação do Talmud e da Torá, livro sagrado. Defendem moderação ao agir e se vestir, o que significa para as mulheres usar saias abaixo dos joelhos e camisas que cubram os cotovelos e com golas rentes ao pescoço.
As casadas devem esconder também os cabelos — às vezes, até com perucas. Para não terem despertados pensamentos "impuros", os haredim mais radicais não admitem ouvir mulheres cantando, muito menos dançando.
Esse seria um dos motivos pelos quais o rabino-chefe da Força Aérea, Moshe Ravad, abandonou, nesta semana, um programa de integração dos ultraortodoxos às Forças Armadas.
A inclusão dos haredim levou à revisão das regras internas, o que poderá proibir militares mulheres de cantar em cerimônias oficiais. Essa não seria a primeira concessão que os haredim conseguem. Segundo o "Haaretz", a empresa de cartões Isracard vetou modelos mulheres de suas propagandas em outdoors de Jerusalém.
Porém, segundo Plaut, os haredim não querem mudanças políticas. "Pedimos para sermos deixados sozinhos para levarmos nossas vidas, andar em ônibus como preferirmos. Nunca buscamos expandir o status quo religioso, tal como acordado pelos fundadores do Estado de Israel."
Contudo, para muitos, as concessões feitas por David Ben Gurion, fundador de Israel, aos ultraortodoxos são o cerne do problema.
Desde então, ficou acordado que os haredim poderiam ser dispensados do serviço militar — obrigatório para homens e mulheres — para continuar seus estudos religiosos. Muitos recebem pensões e são isentos de impostos, o que já gerava revolta entre os seculares antes do caso Naama.
"O sonho secular é de que Israel seja um país como qualquer outro, e os haredim, ao tentarem segurar a tradição judaica, os incomodam", avalia Avi Shafran, 57, do grupo ultraortodoxo Agudath Israel of America, de Nova York.

13 comentários:

  1. Muito estimado Attico, boa noite!

    Fico receoso de comentar algo aqui e, assim como o senhor, ser considerado como antissemita(está correto, segundo as recentes reformas ortográficas), o que, sinceramente, não é o caso.

    Se me permite a opinião, haja vista que procuro ler sobre várias religiões, não tomando partido por nenhuma delas, esse extremismo é imensamente ridículo. As tradições devem ser cultuadas paralelamente às aplicações de bom senso por parte de um povo. E não me venham colocar a culpa na "cultura".

    Balela!

    "Bactérias num meio também é Cultura", trocadilho bem recitado pelo poeta e compositor Arnaldo Antunes.

    Existe um excelente documentário intitulado Zeitgeist que mostra parte das conjunturas formadas pela própria igreja católica assemelhando o Cristianismo com os cultos pagãos. Sendo, caro Chassot, onde está a fundamentação de tudo.

    Não diferencio essa pútrida prática de preconceito de gêneros em nada de uma crime hediondo.

    Perdo-me, prezado companheiro, se fui muito acre no meu humilde comentário de hoje!

    Muita Paz!

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  2. Caro Chassot,

    nosso cotidiano ocidental nos faz crer ser absurdo esse tipo de comportamento. Mas até que ponto podemos realmente acreditar que temos a melhor opção?

    Não se trata de uma defesa ao modo com que os ultraortodoxos se comportam diante desta situação, mas da proposta de reflexão sobre nossa postura (é a melhor?).

    Infelizmente, dentro de nossa visão ocidental, ainda encontramos mulheres recebendo menos por um mesmo trabalho, mulheres impedidas de trabalhar em indústrias, mulheres violentadas, mulheres impedidas de sua plenitude.

    A sociedade humana talvez seja por demais complexa para a adoção de um modelo único, mas o ponto que talvez seja o elemento diferenciador chama-se acesso à educação e à cultura universal. Só assim o homem e a mulher poderão expandir seu pensamento além do batente em que fixam os pés.

    Grande abraço,

    PAULO MARCELO

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  3. Caro Chassot,
    Essa reportagem prova aquilo que fica patente em outros contextos: Qualquer radicalização é hedionda. Não importa que sejam cristãos torturando e mandando matar "bruxas"; que xiitas e até sunitas coloquem bombas em locais públicos para matar infiéis; ou que judeus ortodoxos apliquem de forma literal o que está escrito no Talmude. É tudo intolerância em nome de DEUS. Em nome de DEUS até Hitler praticou o genocídio. Aproveito para convidá-lo a visitar meu blogue e ler "Sobre gêneros", texto que dá uma pincelada na discriminação da mulher. Abraços tolorentes, JAIR.

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  4. Jair tocou em um ponto fundamental: mais mortes foram praticadas em nome de Deus que em nome de Lúcifer...

    Incoerente com a mensagem religiosa, não?


    Abraços,

    PAULO MARCELO

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  5. Caro Chassot,

    como tu muito bem conheces a minha posição em relação à tolerância, seja religiosa ou de qualquer outra natureza. Entretanto, uma coisa tem me ocupado a reflexão: precisamos ter limites para a tolerância? Se precisamos, até que ponto ela deve ir? Se há necessidade de limites, quem os colocará?

    Um abraço,

    Garin

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  6. Caro Chassot,
    Chamo-me Lílian, tenho 14 anos e sou de Pernambuco.
    Apesar do pouco conhecimento que tenho, gostaria de expor minha opinião.
    Eu respeito todas as religiões, mas há casos em que o bom senso deve prevalecer. Acho esse extremismo um tanto absurdo! É como se tratassem a mulher como cidadãs de 2ª classe, tanto o governo como a população. Sei que é comum “julgarmos” os outros costumes como contrários a razão quando estes se opõem aos nossos, mas o que acontece no judaísmo é um desrespeito à mulher.
    Homem e mulher, somos todos iguais!

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  7. Toda intolerância é intolerável.

    Me choco ao ver, em pleno século XXI, pessoas letradas seguirem regras estabelecidas por livros escritos há milênios sabe-se lá por quem e para quais razões...

    Haja paciência...

    Abraços,
    Guy

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  8. Muito estimado Marcel,
    admitindo que a crítica trazida pudesse ser tida como antissemita ela seria em favor de 90% dos judeus do Estado de Israel que não são outraortodoxos.
    A crítica é contra os que se fundamentam (dai fundamentalista) na interpretação de textos ‘ditos de origem divina’ e com eles se fazem intolerantes.
    Festejo tua presença aqui. Obrigado

    attico chassot

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  9. Meu caro Paulo Marcelo,
    a questão não postura Ocidental versus Oriental. Não de achar que os ultaortodoxos estão certos ou errados. A crítica é ao seu fundamentalismo ser intolerante com as posições dos outros, que até são religiosos´
    É bom te-lo entre os divulgadores deste blogue,

    attico chassot

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  10. Meu caro Jair,
    quando li a chamada da ultima edição do ‘Blog que pensa’ vi que estamos em convergência.
    Concordo contigo: em qualquer matiz — religioso (nas mais diferentes dominações), politico, científico... — os fundamentalistas terminam sendo como os judeus aultaortodoxo e fazem estragos.
    Obrigado pela parceria,

    attico chassot

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  11. Meu caro Garin,
    talvez mais que ninguém eu — por ter partilhado um seminário de Historia e Filosofia da Ciência com o teólogo e filósofos sábios — possa atestar a tua grande tolerância. Faço disto testemunha um teólogo da Assembleia de Deus, o Alexandre, que recebe cópia deste comentário como homenagem àqueles que creem e não são fundamentalistas;.
    Com reiterada admiração,

    attico chassot

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  12. Muito querida Lilian
    ~~como não achei um endereço, envio a resposta para o Paulo Marcelo, um pernambucano que hoje divulgou este pelo Facebook ~~
    Primeiro a minha vibração em ter uma jovem leitora com 14 anos aqui e trazendo um comentário muito pertinente, Viva!
    O que acontece no judaísmo ultraortodoxos (como fundamentalistas de outras religiões) é um desrespeito aos seres humanos: mulheres e homens.
    Convido-te para de vez em vez apareceres aqui.
    Com admiração
    attico chassot

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  13. Meu caro Guy,
    fizeste uma síntese admirável.
    Permito repeti-la para não repeli-la:
    Toda intolerância é intolerável.
    Obrigado
    attico chassot

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