TRADUÇAO / TRANSLATE / TRADUCCIÓN

terça-feira, 26 de junho de 2012

26.- KERB: O QUE ISSO?



Ano 6*** www.professorchassot.pro.br ***Edição 2155
Na edição do último sábado escrevi: “Como vivi uma parte significativa de minha vida em Montenegro, onde o orago é São João Batista e a cidade é inserida em região marcada pela colonização alemã, a data era celebrada com os kerbes (algo que mereceria uma blogada especial) os bailes e as cucas me atiçam saudades”.
Cumpro hoje o prometido então. Pode parecer pouco pertinente, trazer em uma terça-feira, um assunto de folguedos. Há uma justificativa natural, que apresento adiante.
 No sul do Brasil, é do cotidiano, referir um encontro, usualmente uma festa família, que dure mais de um dia como: “parece um kerb”. Na minha infância esperávamos o ano inteiro pelo Kerb de Bom Principio, na primeira semana de fevereiro. O referencial kerb muda de significado na minha juventude quando nos referíamos a kerb de Harmonia, de Tupandi, de Brochier, de Maratá, de Cafundó... então era o local onde íamos a bailes partindo ‘com a turma de amigos’ desde Montenegro.
Como esta segunda referência era apenas ir a um baile, meus comentários hão de referir as celebrações familiares de minha meninice, aonde íamos a Bom Princípio terra natal de minha mãe.  Claro, que os rituais de cada localidade eram semelhantes, mesmo que, na segunda situação, só desfrutávamos os bailes. É preciso dizer que ainda nesse século 21 estas comemorações continuam sendo praticadas em muitos vilarejos, hoje já alçados a cidades.
Trago um logo do Kerb de Maravilha, SC, onde este blogue tem uma leitora diária. A Elzira nestes dias está em Saint Paul, nos Estados Unidos, avonando a Mikeila, que acaba de chegar para habitar nosso Planeta.
Assim, ainda hoje, ao falarmos em Kerb nos recordamos imediatamente às festividades germânicas do sul do Brasil. É bastante comum no interior do Rio Grande do Sul ouvirmos a expressão "Baile de Kerb". Para entendermos um pouco sobre este festejo, vale observar o que significa a palavra Kerb.
"Die Kerb" ("Die" é o artigo  "A") é a designação regional dos estados alemães do Hessen e da Renânia Palatinado onde é corrente o vocábulo Kirchweih, que quer dizer "Inauguração da Igreja" como explica Denis Gerson Simões em www.portal25.com/index.php?a=12&h=deutsch/fest/fes006&l=1. A autora conecta Kerb com Kirmes, que tem origem na palavra Kirmesse e esta, por sua vez, de Kirchmesse.
Se fossemos fazer uma tradução literal, Kirchmesse quer dizer "Missa da Igreja". A Festa da Kirmes é a Kirmesfest, ou em uma tradução um pouco forçada seria a "Festa da Missa da Igreja". A designação mais próxima do português é sonoramente parecida com Kirchmesse, que é a "Quermesse".
Vale assinalar que a "Quermesse Alemã" tem suas características próprias. É comemorada na data da inauguração solene do templo ou em algumas localidades esta festa já era feita anualmente por ocasião da celebração do padroeiro da paróquia. Por exemplo, Bom Princípio, que referi antes tem como padroeira Nossa Senhora da Purificação (em 2 de fevereiro quando se cumpre a quarentena do parto de Maria em 25 de dezembro).
O Kerb era uma comemoração familiar e da localidade. Estas se preparavam com semanas de antecedência, limpando suas casas e fazendo bolos. Na data, todos iam para o Kerb utilizando trajes festivos. A roupa nova que ganhávamos no Natal só era estreada no Kerb de Bom Princípio.
Nos antigos costumes dos imigrantes alemães e descendentes, o Kerb era realizada realmente com base na data da inauguração da igreja local. Esta comemoração iniciava no domingo e encerrava na terça-feira, durando 3 dias (está justificado porque num ‘dia útil’ traga um assunto de folgaz). O todo poderoso vigário da localidade proibia bailes aos sábados, para que os fiéis não faltassem à missa dominical. Lembro ainda que, na manhã de domingo ‘a orquestra contratada para animar os bailes’ estava na porta da igreja para conduzir os participantes em cortejo ao salão da comunidade para começar o primeiro baile, este matinal.
As famílias enfeitavam as casas e utilizavam roupas festivas. Nestes dias ocorriam bailes locais e visitas às casas. Com muita hospitalidade, a comunidade e familiares eram recebidos nos lares com fartura de alimentos e bebidas.
Em algumas localidades havia o costume de se pregar com alfinetes fitas coloridas na lapela da roupa dos rapazes, que atestava que havia contribuído financeiramente para o pagamento dos músicos. Diz a tradição que o rapaz deveria receber uma fita de cor diferente por noite de Kerb, sendo um ponto positivo estar na terça-feira à noite com as três fitas na lapela.
Na região sul do Brasil o Kerb já se incorporou como atividade característica das comunidades germânicas. Mesmo havendo a possibilidade de traduzir para "Quermesse", esta festa germânica muito se distingue da quermesse de origem lusitana e hispânica, muito comum no território latino americano. Esta palavra alemã já tem espaço próprio no vocabulário sulino.
Mas assim como na Alemanha, o Kerb brasileiro já recebeu variações, ou por vezes se aplicou no Brasil as variações alemãs. Muitos utilizam como base a data da colocação da pedra fundamental da igreja. Outros a data do Santo padroeiro. Outra variação é a utilização da data de inauguração de alguma coisa ou emancipação da cidade. Além da questão do calendário, muitos condensaram as comemorações de 3 dias em 1, ou prolongaram durante semanas como festa oficial do municipal (estilo às Oktoberfest). Para muitos o simples fato de ser uma festividade germânica (ou parecida) já é motivo de se utilizar o nome de Kerb. Cada localidade passou a ter particularidades em suas atividades.
Assim expliquei um pouco do folclore sulino, mostrando algo do Kerb. Foi bom ser um pouco memorista. Uma muito boa terça-feira — que não é mais o terceiro dia de Kerb — para cada uma e cada um.

6 comentários:

  1. Caro Chassot,
    numa terça-feira de quase encerramento de semestre, lembrar os Kerb é para refrescar (mesmo neste inverno frio), a cuca de todos nós professores. Podias ter mencionado que os Kerb são acompanhados de bastante chopp, acompanhado das bandas germânicas.

    Bom kerb para ti!

    Garin

    ResponderExcluir
  2. Mestre!
    Hoje bem cedo entre um `Ninar e outro de nossa pequena Mikeila abro ~a janela do mundo~ para dar uma espiadinha, e aparece a palavra Kerb, que para mim e uma das mais suaves lembrancas da infancia, que vivi no interior de Santo Cristo, RS...foi mais um motivo da boa leitura do blog...mas ainda quando mencionou o meu nome junto com minha neta tudo ficou mais lindo ainda....obrigada pela amorosa lembranca...continuada admiracao..
    Elzira

    ResponderExcluir
  3. Os relatos destas manifestações culturais assumem uma inebriante atmosfera poética que nos faz viajar no decorrer da narrativa. Não pude deixar de recordar de meu sogro ná época com seus bem vividos noventa anos a prosear lúcidamente sobre suas caçadas ao famigerado Lampião em sua época de delegado no sertão. Interessante que ele era apenas um sargento da Polícia Militar do Nordeste, pois naquele tempo era assim, delegado era recolhido a laço na autoridade disponível.
    Na narrativa do mestre meu imaginário me fez presente nos "Kerb" a ostentar orgulhoso minhas tres fitas multicores denotando meu espiríto participativo e solidario...

    abraços

    Antonio Jorge

    ResponderExcluir
  4. Caro Chassot,
    Sou oriundo de uma região no sul do Paraná onde a colonização sofreu fortíssima influência de Alemães, Poloneses, Ucranianos, Italianos e os chamados Russos Brancos (oriundos da Rússia pós 1917). Pois bem, apesar de ter sido criado em contato com a Colônia Witmarsum de alemães, jamais ouvi falar de Kerb. Por que será? Eu tenho uma teoria, éramos quase anarquistas, não acreditávamos em Deus. Leia abaixo a introdução de um texto que publiquei 10/07/10:
    Tenho a discutível honra de ter nascido na cidade de Palmeira, situada no planalto dos campos gerais do Paraná, local onde foi tentada na prática a única experiência de comunidade anarquista que se tem notícia na história da humanidade, a Colônia Cecília.
    "Tudo começou quando um movimento capitaneado por Giovanni Rossi, filósofo anarquista, pregava o anarquismo como forma de combater a pobreza, no norte da Itália em fins do século dezenove. Mas, vamos ver como o Brasil entra nessa jogada. Lembram que quando a Princesa Isabel aboliu a escravidão Don Pedro II encontrava-se na Europa? Pois é, o velhinho havia ido à Itália, em abril de 1888, para tratamento de saúde. Não é que Imperador toma conhecimento da obra “Il Commune in Riva al Mare”, de Rossi, e, logo ele um Monarca com pedigree impecável, mostra-se interessado pelo conteúdo humano dos escritos do revolucionário? Coisas que a História não consegue explicar. Os textos descreviam uma hipotética experiência anarquista em país americano, onde individualismo livre só cederia ao coletivismo se estivesse totalmente impregnado de egoísmo, onde o ideal de liberdade suporia amor livre, inexistência da propriedade privada, ausência de qualquer dogmatismo. Já em agosto, após o regresso ao Brasil, D. Pedro II escreve ao jovem professor, oferecendo-lhe oportunidade de efetivar, na região sul brasileira, na Província do Paraná, a consecução de seu ideal. Estava lançada a pedra fundamental do Anarquismo na minha cidade." Dai, teve início a experiência de anarquismo na Colônia Cecília. Abraços anarquistas, JAIR.
    PS - Se quiser ler o texto inteiro vá ao endereço: http://jairclopes.blogspot.com.br/2010/07/utopia.html

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Muito interessante. Obrigado pela informação. Abraço

      Excluir
  5. sjrsyjjjjjjjjjjjjfffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffgggggggggggggggggggggggggggggggggggggggggggggggggggggggggggggggggggggggggggggggggggggjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjj

    ResponderExcluir