Ano
6*** www.professorchassot.pro.br ***Edição
2147
O fim de semana / o domingo se
esvai. É quase hora de preparar um blogue para edição desta segunda-feira. Há
uma esterilidade intelectual. Não vou culpar a fadiga de sábado (uma noite de
viagem + uma manhã de Seminário no Centro Universitário Metodista do IPA +
algaravia gostosa trazida por sete netos à Morada dos Afagos), pois o domingo
plúmbeo ensejou gostoso descanso marcado por leituras de jornais.
Se anunciasse que o assunto seria
comentar as ligações sigma ligante e antiligante em uma molécula de hidrogênio
perderia uma leva de leitores no primeiro parágrafo. A propósito, hoje é o ‘Dia
do Químico’, mas relevem-me os colegas, mas hoje o professor de Química, que
fui por dezenas de anos, se transmutou num professor de Ciências. Logo, a
celebração da data não se faz pauta.
Como tenho leitores queridos em
Rondônia, poderia destacar que lá hoje é feriado estadual. Mas não é o trabalho
dos químicos na mineração da cassiterita que determina o feriado. Hoje é o dia
do evangélico e lá é uma dos poucas unidades da federação aonde os católicos
não são hegemônicos.
Se tivesse condições
intelectuais e anunciasse que tema de hoje seria a ‘parrésia segundo Michel Foucault [Na retórica, parrésia é descrita como franqueza, confiança ou ousadia para falar
em público] certamente teria muitos leitores, pois os estudos foucaultianos
estão cada vez mais em alta. Mas não saberia escrever mais que duas linhas.
A propósito de nos sentirmos
excluídos de tema, a cada 16 de junho me sinto fora de comemorações que
acontecem no mundo inteiro: o Bloomsday:
um feriado comemorado em 16 de junho na Irlanda em homenagem ao livro Ulysses, de James Joyce. É o único
feriado em todo o mundo dedicado a um livro, excetuando-se a Bíblia.
O Bloomsday é comemorado na
Irlanda e pelos amantes da literatura com diversos eventos oficiais e não
oficiais. Também é comemorado todos os anos em vários lugares e em várias
línguas. Em comum entre os muitos dedicados entusiastas e simpatizantes
envolvidos nestas comemorações há o esforço por relembrar os acontecimentos
vividos pelos personagens de Ulysses pelas dezenove ruas da cidade de Dublin.
O livro relata a odisseia do
personagem Leopold Bloom durante 16 horas do dia 16 de junho de 1904 e é
considerada um dos marcos da literatura contemporânea ocidental.
Há certa controvérsia sobre
quando o Bloomsday começou a ser de
fato comemorado. Alguns especialistas indicam 1925, três anos após o lançamento
do livro, outros que foi na década de 1940, logo após a morte de James Joyce,
enquanto a hipótese mais aceita indica que foi em 1954, na data do
quinquagésimo aniversário do dia retratado em Ulisses.
Hoje o Bloomsday é uma
efeméride inserida no calendário cultural de vários países que não é nem um
pouco restrita ao círculo dos leitores das cerca de 900 páginas da obra
Ulisses.
James Joyce [em desenho assinado pelo torno Constantin
Brâncusi (1876-1957)] escolheu o dia 16
de junho para ser imortalizado em sua obra porque foi nesse dia em que fez sexo
pela primeira vez com sua futura companheira Nora Barnacle, à época uma jovem
virgem de vinte anos, apesar de a imprensa irlandesa publicar que nesse dia
eles "caminharam juntos" pela primeira vez.
Ulysses, de James Joyce, talvez
seja o romance mais seminal do século 20. Seguramente é das histórias mais
completamente humanas já registradas em um livro, em um texto de ficção.
Publicado há 90 anos, continua provocando reações variadas tanto de estudiosos
e críticos especializados quanto do leitor comum (que é quem faz em última
instância a fortuna literária de qualquer autor).
Este é um ano particularmente
importante para quem se interessa pela obra de James Joyce. Além dos 90 anos da
edição original de Ulysses (1922) e dos 130 da data de nascimento de James
Joyce (1882), comemora-se também o fato auspicioso de toda a obra dele estar
agora em domínio público, 70 anos após a sua morte (1941). Os herdeiros de
Joyce eram extremamente zelosos de sua obra e dificultavam seu uso direto ou
adaptado em qualquer tipo de manifestação artística e/ou cultural. A realidade
jurídica de não haver mais direitos de copyright sobre a obra de Joyce é uma
espécie de libertação e está sendo celebrada com alegria em todo o mundo.
Somando-se a essas efemérides,
eis que a língua portuguesa ganhou recentemente uma nova tradução completa, a
de Caetano Galindo, publicada pela Penguin/Companhia das Letras. Esta tradução
encontrou nas prateleiras das livrarias duas outras, que continuam sendo
regularmente publicadas e lidas. A primeira delas é a de Antônio Houaiss,
publicada em 1966. A segunda, a de Bernardina da Silveira Pinheiro, de 2005.
Fiz o propósito de superar essa nódoa em meu currículo.
Vou tentar ler Ulisses. Tenho um ano um ano para vencer quase um milhar de
páginas, de um texto que sei ser hermético. Vou tentar. Cobrem-me em 16 de julho
de 2013!
Quinto dos
temas pré-estabelecidos pela ONU para a RIO+20
5
Acesso à água e às instalações sanitárias Dois milhões de pessoas, a maioria crianças, morrem
anualmente por doenças causadas pelo consumo de água não potável e pela falta
de instalações sanitárias. Além disso, 884 milhões de pessoas não têm acesso à
água potável de qualidade e mais de 2,6 bilhões não dispõem de infraestrutura
básica. O acesso à água potável e limpa e às instalações sanitárias é um
direito humano.
Caro Attico,
ResponderExcluirembora tenhas te transmutado em Professor de História e Filosofia da Ciência, não deixas de pensar a partir da Química. Não há como não te enviar um abraço especial pelo Dia do Químico.
Garin
Apesar do apelo literário da obra de James Joyce, não pude deixar de encantar-me pelo comentário sobre Foucault. Recentemente ao apresentar seminário na Universidade Candido Mendes sobre um de seus livros o "Vigiar e Punir" lembrei a garotada que este filósofo sofreu o peso do preconceito por toda sua vida por ser homossexual. Demonstrei-lhes também que o preconceito tem no mínimo a idade da escrita e citei oportunamente o "nosso" "A ciência é masculina? É sim senhora!" do mestre Attico Chassot. Fiquei muito admirado com a repercussão positiva em meio a garotada. O que me fez pensar, nem tudo está perdido. Em tempo parabéns pelo Dia do Químico!
ResponderExcluirAntonio Jorge
Caro Chassot,
ResponderExcluirPrimeiro parabéns pelo Dia do Químico, pois, embora você já não dê mais aulas, tua formação continua vitaliciamente.
Quanto ao "Ulisses", vou confessar, tentei lê-lo naquela tradução do Houaiss, mas não consegui. Diga-se que na época eu eram bem jovem e não tinha tanta vivência em leituras, e isso pode ter atrapalhado. Entretanto, li em algum lugar mais tarde, que aquela tradução tinha cometido milhares de "pecados" linguísticos que prejudicaram a estória. Talvez agora, com nova tradução e eu, leitor menos bisonho, consiga gostar do livro. Abraços literários, JAIR.