Ano
6*** www.professorchassot.pro.br ***Edição 2135
Esta manhã tenho uma atividade pouco
usual. Estarei no Colégio São Mateus-Ulbra em Cachoeirinha, na grande Porto
Alegre. Já deve ser a sexta vez que em 1,5 ano que vou a esta escola. Falo
acerca de Ciências a alunos da sexta série
do Ensino Fundamental. Meu contato com esta etapa da escolarização, onde iniciei
minha docência, está distante. O professor Guy Barros Barcellos, que catalisa
este encontro, atende a um pedido de seus alunos que leem o livro A ciência através dos tempos e querem
dialogar com o autor.
Como já havia anunciado na abertura
das blogadas juninas, hoje, trago primeiros excertos de entrevistas com a física,
ecofeminista e ativista ambiental da Índia, Vanda Shiva, que esteve na semana
passada em Porto Alegre e São Paulo, participando de “Fronteiras do Pensamento”
e volta ao Brasil na próxima semana para participar da Rio+20.
Vandana Shiva nasceu em Dehradun, em 5
de novembro de 1952. Na década de 1970, participou daquele que ficou conhecido
como o Movimento das Mulheres de Chipko, formado em sua maioria por mulheres
que adotaram a tática de se amarrar às árvores para impedir sua derrubada e o
despejo de lixo atômico na região. Uma das líderes do International Forum on
Globalization, Shiva ganhou o Right Livelihood Award em 1993, considerado uma
versão alternativa do Prêmio Nobel da Paz. Antes de se dedicar integralmente ao
ativismo político, às causas feministas e à defesa do meio ambiente, Shiva foi
uma das mais importantes físicas da Índia.
Enquanto professor da Unisinos,
assisti uma de suas falas e tive um breve encontro com ela, quando contei de
uma dissertação acerca de sementes crioulas que orientava, então. Tenho como
uma de minhas preciosidades de bibliófilo um exemplar de Biopirataria: a pilhagem da natureza e do conhecimento (Vozes, 2001)
com dedicatória autografada por ela.
A seguir trechos de matéria de Andrea
Vialli, publicada na Folha de S. Paulo, na última sexta-feira, dia 01 de junho:
A física e ativista indiana Vandana
Shiva, uma das grandes vozes da atualidade sobre desenvolvimento sustentável,
crê que a Rio+20 não será um fracasso, contrariando as previsões pessimistas. A
conferência se salvará não pelos acordos que serão firmados — que devem ser menos impactantes do que
aqueles feitos na Eco-92 — mas pela força de pressão da sociedade e dos
movimentos sociais, na visão dela.
"Conectadas como nunca, as
pessoas farão a diferença no sentido de propor a construção de novos caminhos
para o mundo", diz a ativista.
Crítica feroz da globalização e da
biotecnologia, Shiva ressalta que os governos estão apáticos nas principais
convenções ambientais (clima, biodiversidade) por causa de avanços dos grandes
grupos transnacionais e seus lobbies poderosos, os quais, mais do que nunca,
influenciam as decisões dos governos. Em São Paulo, ela falou dos riscos do
conceito de "economia verde", foco da conferência.
A
senhora virá à Rio+20? Sim,
chego no dia 17 de junho para os painéis que estão sendo preparados pelo
governo brasileiro. Um deles é sobre segurança alimentar e energética. Uma das
grandes mudanças da Rio+20, em relação à Eco-92, da qual também participei, é
que agora a agricultura está no centro das discussões. Especialmente a
agricultura tradicional, que ganha importância como uma questão ecológica.
Também farei parte de várias atividades na Cúpula dos Povos, com o objetivo de
acordar os líderes.
Os
líderes mundiais precisam acordar para o desenvolvimento sustentável? Há
críticas sobre a agenda difusa da Rio+20. Em 1992, a agenda era bem clara: incluir a proteção
da natureza entre as obrigações da comunidade internacional. Daí surgiram as
principais convenções, como a do clima e da biodiversidade, e também os
Princípios do Rio, que foram um balizador das leis ambientais no mundo todo.
Mas a agenda da Rio+20 está difusa por um motivo claro: a ascensão, nos últimos
anos, do poder das grandes corporações multinacionais.
As
empresas estão influenciando as decisões globais sobre ambiente? Sem dúvida, e não para o bem. A ascensão do poder
das grandes empresas se deu em razão dos acordos de livre comércio da OMC
(Organização Mundial do Comércio). Esses acordos permitiram amplo acesso das
empresas aos recursos naturais e estão ajudando a desregulamentar o que foi
duramente regulamentado durante a Eco-92. Desde então, as multinacionais estão
destruindo o futuro da humanidade. Foi por causa delas que não há avanços nas
negociações de clima, por exemplo.
[Esta primeira parte traz boas informações. Em outra blogada
fruiremos mais das ideias de Vandana Shiva. Até, então!]
Caro Attico,
ResponderExcluirapesar de não concordar pessoalmente que assim seja em todos os aspectos,já para o nosso planeta,como diz na bíblia o dinheiro é raiz de todos os males,o sistema capitalista está cada vez mais espoliando nosso mundo,tenho em vista somente uma saída,criação de leis que punam com multas pesadas e fiscalização redobrada há quem gerar lucros de forma não sustentável.
Ave Mestre,
ResponderExcluirserá uma honra receber-te, mais uma vez, na nossa escola.
Grande abraço e até logo!
Caro Chassot,
ResponderExcluirTranscrevo aqui, em homenagem a Vandana Shiva, o que já publiquei sobre o assunto:
"E aqui vai uma profissão de fé sem a qual o que resta é o niilismo: O Homo sapiens é capaz de adquirir uma profunda consciência de seu lugar no mundo natural; e não há razão para que a humanidade não possa agir em sintonia, harmonia e até humildade com o Planeta no qual nascemos e vivemos. Durante nossa evolução diferenciada dos demais seres, as pressões evolucionárias forjaram um cérebro excepcional, - muitos pontos acima dos cérebros de nossos parentes mais próximos, os outros primatas - capaz de compreender o mundo a sua volta, um cérebro analítico e hábil para lucubrar pensamentos abstratos. O cômputo das conquistas científicas e intelectuais do século vinte dá-nos uma ampla visão do que a mente humana é capaz de realizar. O resultado chega a espantar, o mesmo cérebro que realiza, se assombra com as conquistas. Podemos, se assim o desejarmos, fazer praticamente qualquer coisa: terras áridas se tornarão férteis; doenças hoje consideradas incuráveis poderão ser extintas pela engenharia genética, o estudo das células tronco está aí para comprovar; viagens interplanetárias serão mais que apenas sonhos de ficcionistas; a profundeza dos oceanos será explorada; e poderemos até mesmo entender como funciona a mente humana!
Ninguém, por carente de imaginação que seja, poderá excluir essas “previsões”, elas são viáveis à luz das descobertas e pesquisas atuais. O que se pergunta é se as nações poderão viver em paz e harmonia umas com as outras para que o objetivo maior da humanidade se concretize: a sobrevivência da espécie. A resposta se impõe por não termos opção: SIM. Temos o equipamento intelectual para conseguir isso. Nossa capacidade de análise deverá conduzir-nos a compreender que o futuro só depende de nós. Seria uma suprema ironia, termos chegado ao que somos, a espécie mais bem sucedida do Planeta, para dele partir em conseqüência de nossa arrogância e falta de visão. Façamos jus à nossa inteligência e nos poupemos do vexame de sermos objetos e agentes de nossa própria extinção".
Caro Attico,
ResponderExcluirpois é, as grandes corporações sempre mandaram nos poderosos, especialmente os governos - só que agora essa influência está aparecendo mais e parte da mídia massiva tem conseguido colocar às claras. Isso é um ponto positivo e talvez isso possa ter uma nova etapa durante a Rio+20.
Um abraço,
Garin