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quinta-feira, 28 de junho de 2012

28.- CIÊNCIA E CRIACIONISMO: MANIFESTO DA SBG.



Ano 6*** Porto Alegre/Santo Ângelo ***Edição 2157
Uma vez mais uma edição postada a bordo. Às 23h deixei Porto Alegre. O destino desta vez é Santo Ângelo, a quase 500 km.
 Na ‘Capital dos Sete Povos das Missões’ nesta quinta-feira participo do II Congresso Internacional de Educação Cientifica e Tecnológica — www.santoangelo.uri.br/ciecitec/ — inaugurado na noite de ontem e promovido com muito esmero pelo Mestrado em Ensino Científico e Tecnológico da URI, campus Santo Ângelo. À noite faço a conferência “A Ciência tem gênero?”. Pretendia falar sobre a capital missioneira, mas assoma algo muito importante.
A seguir a transcrição do MANIFESTO DA SBG SOBRE CIÊNCIA E CRIACIONISMO colhido no sítio oficial da entidade. Trata-se de uma peça de relevante valor e ouso afirmar que mereceria ser estudada na abertura de qualquer curso de História e Filosofia da Ciência.
A Sociedade Brasileira de Genética (SBG) vem a público comunicar que não existe qualquer respaldo científico para ideias criacionistas que vêm sendo divulgadas em escolas, universidades e meios de comunicação. O objetivo deste comunicado é esclarecer a sociedade brasileira e evitar prejuízos no médio e longo prazo ao ensino científico e à formação dos jovens no país.
A Ciência contemporânea é a principal responsável por todo o desenvolvimento tecnológico e grande parte da revolução cultural que vive a sociedade mundial. A Biologia do século XXI começou a se fundamentar como uma Ciência experimental bem estabelecida com a publicação das primeiras ideias sobre Evolução Biológica por Charles Darwin e Alfred Wallace, em meados do século XIX. Esta Teoria científica unifica todo o conhecimento biológico atual em suas várias disciplinas das áreas da saúde, ambiente, biotecnologia, etc. Além disso, a Teoria Evolutiva explica, com muitas evidências e dados experimentais, a origem e riqueza da biodiversidade, incluindo as espécies existentes e extintas, de nosso planeta.
Como as Teorias de outras áreas da Ciência, como Física (Gravitação, Relatividade etc) e Química (Modelo Atômico, Princípio da Incerteza etc), a Evolução Biológica está fundamentada no método científico, investigando fenômenos que podem ser medidos e testados experimentalmente. O processo científico é contínuo, incorporando constantemente as novas descobertas e aprofundando o conhecimento humano sobre os seres vivos, a Terra e o Universo. É isso que temos visto acontecer com o estudo da Evolução Biológica nos últimos 150 anos, período no qual uma enorme quantidade de dados confirmou e aprimorou a proposta original de Darwin e Wallace.  No entanto, as perguntas e as causas sobrenaturais não fazem parte do questionamento hipotético e nem das explicações em todas as Ciências experimentais modernas. Por exemplo, a pergunta “Deus existe?” pode ser discutida por filósofos e cientistas (como pessoas com diferentes crenças, opiniões e ideologias), mas não pode ser abordada e respondida pela Ciência.
Frequentemente são divulgados fenômenos que não podem ser explicados por uma Ciência devido a limitações do conhecimento no século XXI, tal como a gravidade no nível atômico, algumas propriedades da molécula da água ou a evolução das primeiras formas de vida há mais de 3,5 bilhões de anos. Para temas como estes, algumas pessoas argumentam com variantes de uma clássica falácia: “se a Ciência não explica, é porque a causa é sobrenatural”. Este argumento é utilizado por inúmeros criacionistas, incluindo os adeptos da Terra Nova, da Terra Antiga e da crença do Design Inteligente. Curiosamente, algumas dessas versões criacionistas se apresentam ao grande público como produto de “estudos científicos avançados”, como se fossem parte da atividade discutida em congressos científicos em diversos países, no Brasil inclusive. Nessas versões, a Teoria Evolutiva é deturpada, como se pouco ou nenhum trabalho científico tivesse sido efetuado desde sua proposta há mais de 150 anos, demonstrando um total desconhecimento dos milhares de resultados e evidências que consolidam essa Teoria. Alguns raros criacionistas são cientistas produtivos em suas áreas específicas de atuação, que não envolvem pesquisas na área da Evolução Biológica. Mas quando abordam o criacionismo, falam de sua crença particular e não das pesquisas que estudam e publicam. Como perguntas e explicações criacionistas não podem ser testadas pelo método científico, estes pesquisadores estão apenas emitindo uma opinião pessoal e subjetiva, motivada geralmente por uma crença religiosa.
Com o objetivo de informar à sociedade, inúmeros cientistas, filósofos e educadores da área biológica têm apresentado várias críticas substantivas às diferentes versões criacionistas, demonstrando seus alicerces na crença e não no questionamento científico, erros elementares e significativas falhas conceituais em sua formulação, a falta de evidências, assim como deturpações dos fatos e métodos científicos. Essas críticas têm sido divulgadas no Brasil e em vários países, sendo que algumas podem ser lidas nos sites da internet indicados abaixo. Reconhecendo que a divulgação destas ideias criacionistas representa uma deterioração na qualidade do ensino de Ciências, a Sociedade Brasileira de Genética (SBG) vem aqui ratificar que a Evolução Biológica por Seleção Natural é imensamente respaldada pelas evidências e experimentações nas áreas de Genética, Biologia Celular, Bioquímica, Genômica, etc. Além disto, reiteramos que, como qualquer outra Teoria científica, a Evolução Biológica tem sido remodelada com a incorporação de várias novas evidências (incluindo da área de Genética), tornando suas hipóteses e explicações mais complexas e robustas a cada ano, desde a primeira publicação de Charles Darwin em 1859.
Esta manifestação da SBG visa comunicar de forma muito clara à Sociedade Brasileira que não existe qualquer respaldo científico para ideias criacionistas (incluindo o Design Inteligente) que têm sido divulgadas em algumas escolas, universidades e meios de comunicação. Entendemos que explicações baseadas na fé e crença religiosa, e no sobrenatural podem ser interessantes e reconfortantes para muitas pessoas, mas não fazem parte do conteúdo da pesquisa ou de disciplinas científicas nas áreas de Biologia, Química, Física etc. Ao lado do respeito à liberdade de crença religiosa, deve ser também observado o respeito à Ciência que tem enfrentado todo tipo de obscurantismo político e religioso, de modo similar às situações vividas por Galileu Galilei e o próprio Charles Darwin. Mesmo com toda a limitação do método científico e dos recursos tecnológicos em cada época, a Ciência alargou o conhecimento humano e o entendimento científico dos mais diversos fenômenos. A SBG reitera os princípios que vem defendendo ao longo de seus 58 anos de existência e reafirma que o ensino da Ciência, em todos os níveis, deve se dedicar à sua finalidade precípua, em respeito ao ditame constitucional da qualidade da educação, sem deixar-se perverter pela pseudociência e pelo obscurantismo político ou religioso.
Alguns criacionistas também utilizam o argumento de que a Ciência brasileira é retrógrada (ou “tupiniquim”, como a chamam), afirmando que o criacionismo é “aceito” no exterior, mas a Ciência é unânime em todos os países sobre este assunto, o que pode ser verificado no final deste documento em vários textos parecidos com este, sancionados por organizações científicas e educacionais de várias partes do mundo.
Concluímos que, embora o criacionismo possa ser abordado como explicações não científicas em disciplinas de religião e de teologia, estas versões criacionistas não podem fazer parte do conteúdo ministrado por disciplinas científicas. Entendemos que o ensino científico de boa qualidade no Brasil e em outros países depende da compreensão da metodologia científica, de suas potencialidades e de suas limitações, além da discussão de evidências e dados experimentais. No entanto, interpretações e ideias pseudocientíficas (criacionismo, astrologia etc.) prejudicam seriamente o Ensino Científico de qualidade e o desenvolvimento do país.
Documentos oficiais divulgados por organizações científicas e educativas:
Resolução da Associação Americana para o Avanço das Ciências (AAAS - EUA)
www.aaas.org/news/releases/2002/1106id2.shtml
Texto oficial da National Academies dos EUA que congrega a Academia Nacional de Ciências (NAS), Academia Nacional dos Engenheiros, Instituto de Medicina e Conselho Nacional de Pesquisas 
http://nationalacademies.org/evolution/IntelligentDesign.html
Centro Nacional para Educação Científica (NCSE - EUA)
http://ncse.com/creationism
Academia Australiana de Ciências (Austrália)
http://www.science.org.au/policy/creation.html
Centro Britânico para Educação Científica (Reino Unido) – destacando a estratégia criacionista na imprensa e escolas, tentando deturpar o ensino científico 
http://www.bcseweb.org.uk
Sociedade Internacional sobre Ciência e Religião (Reino Unido) 
http://www.issr.org.uk/issr-statements/the-concept-of-intelligent-design
Ensinando Ciência – artigo da UNESCO sobre importância dos princípios e conceitos científicos na educação
http://www.ibe.unesco.org/fileadmin/user_upload/Publications/Educational_Practices/EdPractices_17po.pdf

16 comentários:

  1. Caro Attico,
    como sempre, teu blog prestando um grande serviço à divulgação da ciência e acendendo luzes para espantar a escuridão.
    Muito obrigado!

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  2. Caro Chassot,
    gostaria de ler a tua posição sobre esse assunto aqui no blog. Concordo que ideologias não devem monopolizar a pesquisa científica, mas perguntaria: há alguma pesquisa científica absolutamente isenta, como pretende dizer a Declaração? De outra sorte, toda a política, toda a teologia e toda a religião é obscurantista? Ainda, não estamos vivendo tempos em que os diferentes saberes necessitam dialogar? Não parece que essa Declaração é uma espécie de "confissão de única verdade"? Caso seja, não seria também uma Confissão?

    Um abraço,

    Garin

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    1. Meu muito prezado colega Garin,
      li e reli tua mensagem. Reli — de maneira muito atenta — a manifestação da SBG.
      Trago respostas sintéticas às teus questionamentos.
      1) há alguma pesquisa científica absolutamente isenta, como pretende dizer a Declaração? NÃO
      2) toda a política, toda a teologia e toda a religião é obscurantista? NÃO
      3) não estamos vivendo tempos em que os diferentes saberes necessitam dialogar? SIM, e isso fica difícil quando os dois lados radicalizam
      4) Não parece que essa Declaração é uma espécie de "confissão de única verdade"? PODE SER. Quando assume posições fundamentalistas e isso é deve ser objeto de diálogo se não se torna também uma Confissão?
      A demora na resposta foi devido à dificuldade com acesso à internet.
      Sonho que esse documento possa estar inserto no seminário de História e Filosofia da Ciência que conduziremos juntos.
      Com muita expectativa e muita paz
      attico chassot

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  3. Caro Chassot,
    Esse documento da SBG é um balde água fria na cabeça dos criacionistas disfarçados de todas as cores. Destaco "Evolução Biológica está fundamentada no método científico, investigando fenômenos que podem ser medidos e testados experimentalmente", que deixa claro para os cabeças de bagre que a ciência não se baseia em pressupostos e "achismos" como o faz o criacionismo. Pior é o criacionismo dizer que faz ciência, eles não se mancam que não possuem um só argumento válido para respaldar suas "teorias". Valeu! Abraços evolucionistas, JAIR.

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  4. Certamente o tópico e polêmico e difícil de discutí-lo. Ilustro meu comentário com as palavras de Seneca: "O homem é o único animal que tem consciência de fim". Então a tendência ao criacionismo, no meu entender, é uma necessidade latente de sobrevivência e paz espiritual. Acredito que religião, e quando digo religião refiro-me a origem da criação, e ciência são como água e óleo, não se misturam. Explicar a Deus é como discutir "os sexos dos anjos", ainda estamos muito aquem deste patamar, se é que algum dia chegaremos a qualquer lugar neste tema.

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  5. Perdão, esqueci de me identificar no comentário acima

    Antonio Jorge

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  6. Caro Attico,
    vou me permitir o atrevimento de meter o bedelho em questões que foram endereçadas a ti e não a mim.

    Certamente não há pesquisa científica absolutamente isenta, assim como não há nenhuma atividade humana isenta. A ciência é feita por pessoas e por pessoas envolvidas no meu meio, não por entidades abstratas no vácuo. Porém a pesquisa deve ser feita seguindo o método que garante sua replicabilidade, sua revisão e com condições claras. Popper já definiu, a muito tempo, o chamado critério de demarcação, para distinguir ciência de não-ciência. E quero ser claro que isto não significa que eu (ou Popper) ache que o que não é ciência é ruim. Todos, absolutamente todos os conhecimentos tem um lugar na construção da identidade e da sociedade.

    Porém trata-se aqui de conhecimento que quer se mostrar como travestido. Quando o criacionismo quer se impor pretende se trasvestir de ciência, com as roupas do Design Inteligente, por exemplo, ou então, pior ainda, apresentar como alternativa de explicações cientificas a suposta "palavra revelada" e literal da bíblia esta usurpando um espaço que não lhe corresponde. Esse tipo de usurpação de espaços tem como objetivo principal substituir o senso crítico que a ciência precisa, por revelações inquestionáveis, preparando o terreno para o fundamentalismo acrítico e, assim a perda da liberdade.

    Certamente política e teologia são parte importante do nosso conhecimento, embora deva reconhecer que não tenho uma especial inclinação para a discussão teológica (mais por que acredito que seja ou uma disciplina sem objeto ou então com um objeto que esta fora das capacidade da indagação humana). A religião organizada pode ser benéfica para grandes grupos da sociedade, mas tem que se opcional e não obrigatória. E seus preceptos limitados, estritamente, aos seu adeptos livremente voluntários. Como uma ideologia que amalgama uma parte relevante da sociedade, tem que fazer parte da construção da mesma, mas de forma alguma tem que moldar essa sociedade, porque dessa forma mata o pluralismo enriquecedor.

    Quando política, religião ou teologia querem não apenas ser parte mas A PARTE, transformam-se e obscurantistas porque fecham as portas para o dissenso. Mas devo dizer que a ciência também não tem nem capacidade e nem vocação para moldar uma sociedade. Tal vez até pela sua própria natureza mutável. Não é a ciência que pode moldar a ética e a moral, mas pode ajudar a exercitar o espírito crítico que é necessário para isso.

    Os diferentes saberes precisam mesmo dialogar, mas cada um no e do seu lugar. Assim como não é a ciência que deve ditar a ética e a moral, não quero a religião limitando ou substituindo à ciência. Nos diálogos nenhuma das parte toma o lugar das outras. Empréstimos transversais são bem-vindos, contribuições são fundamentais, mas cada um no seu lugar.

    Não vejo o documento como declaração de única verdade, ate porque a verdade, absoluta, não é matéria da ciência. Porém certos posicionamentos tem que ser taxativos. Não existe espaço para ambiguidades e relativismos quando uma das "opções" é obviamente falsa ou muito inferior. Ainda mais se isso coloca em perigo o próprio sistema do qual vai se utilizar para ganhar espaços que não lhe correspondem. Uma posição de que tudo conhecimento é igualmente válido, sem definir o contexto é extremamente perigoso. A ciência pode não ter a VERDADE, mas é boa em detectar FALSOS. O criacionismo e suas variantes são falsos no contexto do conhecimento cientifico, ainda que sejam válidos em outros contextos.

    Mas que uma posição fundamentalista vejo este documento como uma definição clara e simples de posição, colocando um limite às pretensões daqueles que querem se infiltrar num lugar no qual não pertencem e do qual nada sabem e com claras intenções de criar desde aí uma sociedade controlada por um único e exclusivo ponto de vista. Se isto não é feito logo e do forma categórica, depois vamos chorar pela liberdade perdida e sabemos, por própria experiência que reconquista-la custa sangue.

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    1. Muito querido Mario,
      subscrevo teu documento e encaminho cópia ao Prof. Dr. Norberto C. Garin,
      Com a gratidão do

      attico chassot

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  7. Para terminar mesmo, um aparte ao comentário do Antonio Jorge.

    Hoje sabemos que perdemos essa exclusividade que o grande Seneca tinha como só nossa.

    Vários animais, como todos os grandes primatas, os cetáceos e, recentemente soubemos que também os elefantes, tem consciência de sim mesmos e da sua própria finitude.

    Na verdade, já faz tempo que se sabe que os elefantes ao passar por locais onde um dos membros da sua família tinha morrido se detinhas e ficam mexendo nas ossadas por um bom tempo para depois continuar sua viagem.

    Grandes símios cuidam dos seus mortos de uma forma que evidencia sua consciência de morte. O mesmo acontece com golfinhos.

    Ou seja, no somos tão diferentes e essa semelhança esta relacionada a possuir um cérebro grande para o tamanho do corpo, no que "sobra espaço" para ir além de sobreviver. Se isso é espírito, tudo bem.

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    1. Caro Mario,
      também não sei se trata de espírito até porque nossa comunicação com os demais animais é bastante limitada. Entretanto, essa noção de finitude, que pode ser constatada também entre as demais espécies, nos remete ao questionamento sobre as coisas infinitas. Essa 'tendência' ao desconhecido pode ser entendida como transcendência, sobre a qual podemos adicionar diferentes tipos de adjetivos como divinos, sagrados, meta racionais etc. que sinalizam a inquietude sobre o além.

      Garin

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    2. Caro Norberto,
      eu prefiro ficar na observação da noção de sim mesmo e da sua finitude. Tendencias não podem serem observadas e tem mais a ver com quem as define e interpreta que com as observações que estimularam sua inferência.

      Abraços

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  8. Muito querido Mario,
    subscrevo teu documento e encaminho cópia ao Antônio Jorge.
    Com a gratidão do

    attico chassot

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  9. Caro mestre, perdoe-me se quebro alguma regra ética dos Blogs, prometo que vou pesquisar e se a prática for errada não repetirei o erro, mas gostaria de acrescentar ao rico comentário do professor Mario.
    Lembraria aqui Auguste Comte e suas teorias positivistas, toda sociedade evoluiria da teologia, passando pela metafísica e chegando finalmente a positiva, a capitalista. Só que Comte cometeu um erro grave, profetizou o fim da teologia, assim como Nietzsche "Deus está morto". E o que vemos cada vez mais o poder da fé humana mover o homem e manter um mínimo de civilidade em sua convivência. Não sou "carola", nem sou fanático. Acredito que a ciência é a ferramenta do homem que o motiva a existir, enquanto homem.

    Um abraço

    Antonio Jorge

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  10. Caro Antonio Jorge,
    vou me atrever a adiantar o que imagino que o Prof. Attico te diria. Não existe erro nisto. Você expressou o que você achava e ou sabia, com a melhor intenção, de forma que não tema nada de errado nisso.

    Sobre a previsão de Comte, também não concordo, mas por motivos diferentes dos teus. Não acredito e uma história linear, e acho que o positivismo comteano é reflexo de uma época onde se acreditava que podia se controlar tudo. Mas ao mesmo tempo discordo de ti que a fé humana, ao menos o conceito religioso de fé, tenha melhorado à humanidade ou a sociedade. Na prática a sociedade tem sido mais desde meados do seculo XX (embora temos tido "surtos" de religiosidade extrema recentemente). Quando a sociedade era mais religiosa, as guerras duravam 100 anos, uns escravizamos aos outros, mandávamos cruzadas para matar infiéis e assim por diante.

    Nesta época, as sociedades mais fortemente religiosas são as mais violentas e desiguais. O pais com a menos população religiosa (e incluo neste conceito as ideologias materialistas que negam as liberdades individuais), as prisões estão vazias. Holanda esta augando presídios para a Bélgica porque não tem presos para ocupa-las. No outro extremo, os países governados por regimes islâmicos tradicionais ou os grupos religiosos radicais dentro de vários países, sempre estão ligados a violência, discriminação e pobreza.

    Assim, não acho que seja a fé que esta ajudando a deixar as coisas menos piores (ainda me resisto a falar "melhores"), mas atribuo isso ao espírito crítico e a capacidade de exercer a própria liberdade de forma responsável, assumindo suas próprias atitudes e exercitando a tolerância e a compaixão.

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  11. Querido novo amigo Chassot,
    Como proposto em nossa frutífera disciplina de Bases Epistemológicas para o Ensino de Ciências e Matemática da REAMEC e, após acurada leitura do Manifesto, atrevo-me a colocar em pauta, alguns questionamentos:
    A clara posição do manisfesto, em aferir veracidade científica à Evolução Biológica advém de uma imensidade de evidências e experimentações em aréas afins. Então,isto me faz perguntar:
    Seria esta, de fato, a linha mestra para aferir cientificidade à qualquer teoria?
    Tal questão me reporta a Chalmers, quando em seu livro faz uma desconstrução e discussão a respeito de uma ciência somente possível se mensurada, observada, experimentada e submetida a algum procedimento lógico.
    Para Chalmers, simplesmente não existe método que possibilite a comprovação de teorias científicas de forma conclusiva.
    AMIGO, COMO BEM ENSINAS, VIVEMOS NO TEMPO DAS INCERTEZAS!!

    Eliane Batista - Doutoranda em Ensino de Ciências e Matemática/REAMEC

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  12. Mestre Chassot, a resenha abaixo foi a que fiz na oficina de ontem e hoje ministrada aqui em Belém, quero expressar meus agradecimentos por tantas reflexões.

    No texto da Sociedade Brasileira de Genética (SBG) o tema abordado é referente à relação entre Ciência e Criacionismo. Essa organização comunica publicamente que “não existe qualquer respaldo científico para ideias criacionistas” comumente veiculadas nas escolas, universidades e meios de comunicação de massa. O objetivo desse comunicado seria evitar prejuízos de médio e longo prazo à educação científica e formação da juventude brasileira. O que seria tal respaldo científico? Ora, desde Galileu Galilei (século XVI) que a Ciência tem evoluído a partir de um processo que consiste em formular questões claras, imaginando modelos conceituais das coisas, às vezes teorias gerais e tentando justificar o que se pensa e o que se faz, seja por meio da lógica, seja por meio de outras teorias, seja por meio de experiências fundamentadas em teorias (BUNGE, 2013 ). Esse método de teorização/modelagem parece-nos permitir uma sensação de verdade científica, será que o Criacionismo “sobrevive” a tal método?
    O comunicado da SGB argumenta ainda que a “Teoria Evolutiva explica, com muitas evidências e dados experimentais, a origem e riqueza da biodiversidade, incluindo as espécies existentes e extintas, de nosso planeta.”. Em outro momento, a SGB reforça: “o processo científico é contínuo, incorporando constantemente as novas descobertas e aprofundando o conhecimento humano sobre os seres vivos, a Terra e o Universo.”. Ao que indica, o método de teorização/modelagem descrito acima pode subsidiar epistemologicamente a Teoria Evolutiva, possibilitando que a mesma possa ter mais aval científico que a Teoria Criacionista.
    Na conclusão do comunicado, a SBG considera que “estas versões criacionistas não podem fazer parte do conteúdo ministrado por disciplinas científicas”. Mesmo não sendo considerada uma teoria “científica”, penso, contudo, que impedir o ensino do criacionismo nas escolas pode retirar do estudante seu poder de decisão sobre em que/quem o mesmo acreditar, tal como feito na época da inquisição pela igreja católica. Nesse sentido, é importante que a escola mostre a diversidade de teorias (ou pseudoteorias) aos estudantes para que os mesmos adquiram subsídios suficientes que os capacite a tomar decisões conscientes em suas vidas de cidadãos.

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