Ano
6*** Porto Alegre/Frederico Westphalen ***Edição 2143
Esta edição, como muitas desde o
último novembro, entra em circulação quando viajo rumo a Frederico Westphalen, onde
terei atividades nesta quinta e sexta-feira. Quando esta edição entrar em
circulação, já terei percorrido um sexto das seis horas de viagem.
Anuncio que, como nas duas edições
anteriores, o assunto central ainda é a escrita — e esta ante as novidades
tecnológicas que transmutam hábitos milenares. Completa-se, assim, hoje a terceira folha de um tríptico acerca de
nossa agônica/prazerosa relação com a escrita. Antes, porém, faço um
comentário de meu dia de hoje na URI, campus de Frederico Westphalen.
Também
a partir de hoje, no box da Rio+20 — na clausura de cada edição — se comenta, a
cada dia, uma das sete prioridades da ONU para a conferência.
Esta nova estada em um de meus lócus de
trabalho que ocorre desde o último novembro não será para atividades docentes. Participo
do VII Simpósio Nacional de Educação e o I Colóquio Internacional de Políticas
Educacionais e Formação de Professores, a partir da manhã de hoje.
Com o tema central “Políticas
Educacionais e Formação Docente: protagonismo e autonomia”, o evento busca
oportunizar o debate e a reflexão sobre as Políticas Educacionais
contemporâneas e o processo de formação docente.
Estão inscritos para o evento, 600
participantes de toda a região, e também apresentadores oriundos de diferentes
cidades do Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais, São Paulo, Piauí e ainda,
dois participantes de Guiné-Bissau.
A programação envolve conferências,
painéis, comunicações, pôsteres, minicursos, momentos culturais, e também, a
conferência internacional com o professor Francisco Imbernón Muñoz, da Universitat
de Barcelona.
O Simpósio inicia com uma apresentação
criada especialmente para o evento: “A professora de neve e os 7 anões”. Ainda
pela manhã, haverá a conferência inaugural com a professora Íria Brzezinski
(PUC – Goiás).
À tarde os participantes terão a
oportunidade de acompanhar um dos 39 minicursos, das mais diversas áreas do
conhecimento, sendo que ministrarei um deles. Após esta atividade, às 16h30min,
inicia a mostra de pôsteres e as sessões de comunicação, onde também apresento
uma comunicação em uma das sessões coordenadas.
Já às 19 horas, o painel será aberto
pela apresentação de dança do grupo Petit Balet, e em seguida haverá o painel: Formação de Professores no Brasil:
percursos e percalços. Após esta atividade ocorre um jantar de confraternização.
A propósito de aportes
de acerca da resistência à escrita dita manual, quando citei, nas edições
destas terças e quartas feiras, excerto de texto que lera, Hélio Schwartsman,
também articulista da Folha de S. Paulo, escreveu O parto da escrita
que merece ser transcrito aqui.
No "Equilíbrio" da última terça, Rosely Sayão veio em
socorro de uma professora cujos alunos em fase de alfabetização se recusam a
escrever manualmente. De acordo com os diabretes, fazê-lo seria uma
inutilidade, já que o teclado é hoje onipresente.
A colunista defende a escrita manual e, mais especificamente, a
letra cursiva, afirmando que sua preservação é uma questão de cidadania, já que
existem ainda muitas pessoas que não têm acesso à tecnologia.
Em grandes linhas, concordo com a psicóloga, mas tenho uma ou
duas coisinhas a acrescentar. Rabiscar caracteres à mão -pode ser em letra de
forma; eu não colocaria tanta ênfase na cursiva- parece ser um elemento
importante para que as crianças dominem o código alfabético.
O problema é que, ao contrário da linguagem falada, que é um
item de fábrica no ser humano (não há bando que não disponha de um idioma), a
escrita, com seus 5.500 anos, é uma invenção relativamente moderna e rara. Não
surgiu mais do que três ou quatro vezes ao longo da história.
Nossas mentes, forjadas para uma existência pré-histórica, não
lidam tão bem com esse código. Trabalhos de neurocientistas como Maryanne Wolf
e Stanislas Dehaene mostram que o ato de ler implica reprogramar o cérebro,
integrando, com a criação de conexões neuronais, estruturas especializadas em
percepção visual, processamento léxico e fonológico e cognição. Essas novas
sinapses permitem que áreas tão diversas sejam cooptadas para trabalhar com
harmonia e rapidez, nos dando a falsa impressão de que ler é natural.
Outra neurocientista, Karin Harman James, sustenta que a escrita
manual, o desenhar das letras, ao acrescentar uma dimensão motora a essa
sinfonia, contribui para catalisar o aprendizado e fixar melhor os elementos da
escrita na memória.
A pergunta não é se jovens precisam escrever à mão, mas a partir
de que idade podem deixar de fazê-lo.
Primeiro dos
temas pré-estabelecidos pela ONU para a RIO+20
1
Empregos via economia verde A economia verde inclui vários níveis
de qualificação: desde um catador que tira seu sustento do lixo até um
cientista. Estudo divulgado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT)
mostra que, nos próximos 20 anos, a economia verde levará à criação de até 60
milhões de novos empregos no mundo. No Brasil, o estudo diz que já se criaram 3
milhões de empregos “verdes”.
Alexandre Lavras-MG
ResponderExcluirÓtima postagem Professor.
Parabéns...
Um abraço!
Prezado mestre Chassot, certamente o Simpósio ao qual participará é evento que trata de questão de tanta ou até maior relevância da nossa Rio+20. Afinal estamos destruindo o ambiente, e não em menor escala, a educação também. Que o seu espírito de saber "contamine" e tambem se fortaleça cada vez mais aquele ambiente!
ResponderExcluirAntonio Jorge
Caro Chassot,
ResponderExcluirCorroborando o que Hélio Schwartsman coloca muito bem em sua análise acerca dos aprendizados adquiridos em contraposição aos "naturais" como alinguagem, é só lembrar que nossa civilização é toda ela "construída" a partir de experiências, descobertas, invenções e escolhas, todas elas contribuindo para que nosso cérebro se adapte aos novos tempos. Praticamente nada do que fazemos no dia-a-dia é inato, quase tudo é adquirido, então a escrita cursiva ou não é uma ação adquirida que, além de tudo, propiciou a cultura que nos envolve. Não desejo viver num mundo em que o teclado substitua a caneta ou o lápis. Abraços, JAIR.
Não sei se ajuda ou atrapalha, mas aí vai mais uma consideração:
ResponderExcluirO aprendizado da música também depende de um aprendizado de leitura e escrita, a notação musical... Tradicionalmente as crianças aprendem notação musical a partir dos 7 anos, quando se considera que ela está apta para aprender símbolos abstrados. Aliás é a mesma explicação para se começar a alfabetizar crianças a partir dos 7 anos.
Pois bem, alguns métodos de técnicas de instrumentos, como o Suzuki, passaram por cima disso e passaram a ensinar violino, piano, etc, a crianças a partir de 2 ou 3 anos. Não sou grande conhecedora do método em si, mas tenho visto resultados surpreendentes, com crianças que são verdadeiros virtuoses nos instrumentos. Parece que isto não dificulta o aprendizado um pouco posterior da notação musical. Mesmo assim as crianças que utilizam este método aprendem notação antes dos 7 anos também sem as dificuldades que eram esperadas.
Acho que é preciso revisar esta coisa de idades ideiais para se aprender isso ou aquilo... Atualmente não é raro crianças com 5 anos ou menos serem alfabetizadas devido ao estímulo de tv, computadores, etc... acho que padrões deveriam ser revistos.
Caro Chassot,
ResponderExcluirconfesso que, quando escrevo à mão, fixo mais o conteúdo registrado. Quando isso ocorre virtualmente não tenho a mesma facilidade de retomar os dados.
Lamento não poder encontrar o colega no Seminário de hoje à noite aqui no IPA. Desejo bom evento aí por Frederico.
Um abraço,
Garin