Ano
6*** www.professorchassot.pro.br ***Edição 2136
Hoje é um dia santo restrito / um feriado ignoto ou,
para muitos, um dia laboral. Esta é uma data de evocação marcadamente católica:
o reverenciar da transubstanciação (passagem do pão e do vinho para o Corpo e o
Sangue de Jesus Cristo, ao padre pronunciar as palavras da consagração).
Esta é uma celebração litúrgica, que distingue a
igreja católica romana das demais denominações cristãs, não apenas das igrejas
evangélicas reformadas como também das igrejas ortodoxas. Esta data é tão
católica que até seu nome — Corpus Christi— é em latim, No Brasil é feriado em
muitos munícipios, inclusive da capital federal, mas não é feriado nacional.
Este feriado também é uma tradução da hegemonia (ainda, em tempos recentes) do
catolicismo.
Há em muitas localidades (do Brasil, que eu saiba;
talvez em Portugal, também!) manifestações religiosas caracterizadas pela
confecção de tapetes de areia e/ou serragem e/ou farinha e/ou retalhos de
tecidos (na ilustração). Em alguns essas criações são mais atrações turísticas do motivo de
elevo religioso.
Deixemos de lado as diferenciações dogmáticas área
que não é desta paróquia. Fruamos o feriado, aqueles que o tem hoje, ou os que
têm fé que a expressem nas celebrações litúrgicas da data e mesmo os que vivem
um dia de trabalho, que possam se juntar aos dois primeiros grupos e preparar a
Rio+20.
Ontem trouxe
uma parte da entrevista de Vandana Shiva à Folha de S. Paulo. Hoje prossigo,
assegurando que ela merece este bis, formado por estas edições consecutivas,
pois é figura de destaque no movimento anti-globalização e consultora para
questões ambientais da Third World Network.
Entre suas atividades mais recentes, incluem-se
iniciativas de ampla divulgação para a preservação das florestas da Índia, luta
em favor das sementes como patrimônio da humanidade e programas sobre
biodiversidade dirigidos a diferentes coletividades, além de pesquisas para o
desenvolvimento de uma nova estrutura legal para os direitos de propriedade
coletivos, como alternativa para os sistemas de direitos de propriedade
intelectual atualmente em vigor.
Eis, a continuação da entrevista iniciada na edição
de ontem:
E mudanças climáticas não estão na
agenda da Rio+20 Não há progressos nessa área desde a
conferência de Copenhague. Depois vieram os encontros de Cancún e Durban, sem
resultados efetivos. Por causa do lobby das grandes corporações, os países
estão 'desregulamentando' o que havia sido regulamentado antes.
A senhora poderia dar exemplos dessa
'desregulamentação'? O Brasil
é um exemplo, veja o que ocorreu com os transgênicos. Quando eu vim pela
primeira vez ao Rio Grande do Sul, a convite do José Lutzenberger [ex-ministro
do Meio Ambiente], havia um forte movimento dos agricultores contra as sementes
geneticamente modificadas.
Agora os campos estão cobertos de soja transgênica.
Isso é parte da mudança trazida pela globalização, da tomada do poder pelas
multinacionais que são contrárias a qualquer acordo ambiental.
Os setores mais nocivos são as empresas de
combustíveis fósseis, os gigantes do agronegócio e da biotecnologia. O Canadá
era um país progressista na Eco-92 e agora está paralisado nas negociações
ambientais por causa das empresas que exploram óleo nas areias betuminosas.
Como tornar a conferência relevante?
A resposta está nas pessoas. É por
isso que a Cúpula dos Povos é tão importante. Serão as pessoas e os movimentos
sociais que vão impor uma nova agenda para a humanidade. Conectados como nunca,
as pessoas farão a diferença no sentido de propor a construção de novos
caminhos. Veja o movimento "Occupy", por exemplo.
Outra discussão da Rio+20 será a
formulação de novos indicadores econômicos. A senhora acompanha esse debate? Sim, e fico feliz que muitos economistas
'mainstream', como Joseph Stiglitz, estejam empenhados nesse debate. Mas o que
não podemos é transformar a natureza em commodity. Devemos valorar a natureza,
mas não transformar o ar, a água, as florestas em mercadorias.
Esse é um dos riscos do conceito de economia verde.
Ele não é ruim em essência, mas o que me preocupa é se essa não será mais uma
manobra para os poderosos saquearem os recursos naturais em nome dessa
"nova economia". Temos de ter cuidado para não pintar a besta de
verde.
Caro Chassot,
ResponderExcluirpara nós metodistas, a diferenciação, com relação à Eucaristia é sobre o seu conteúdo dogmático teológico: para os Católicos, a Eucaristia é celebrada sobre a presença real do Corpo de Cristo enquanto que para nós a Eucaristia representa o Corpo de Cristo - é simbólico. Isso vale para os demais evangélicos. Portanto, para nós hoje não é feriado, mas vou ter que me render à maioria Católica - vou me dedicar ao ócio.
Um abraço,
Garin
Caro Chassot,
ResponderExcluirEm virtude de existirem efetivamente milhares de caminhos para o ponto de “não retorno”, onde os efeitos sobre os biomas são irreversíveis; onde os ciclos de auto-regeneração, sobre os quais repousa toda a dinâmica da vida, rompem como um elo fraco da corrente, devemos observar que é nossa responsabilidade, como sócios “inteligentes” do Planeta, fazer tudo ao nosso alcance para minorar os efeitos deletérios de nossas ações sobre a natureza.
Então, para não dizer que nada fiz a respeito, fica meu grito no deserto: De um lado, a inteligência humana lhe faculta a capacidade de “domar” a natureza para seu beneficio, de outro, sua ganância cega queima as pontes que lhe permitiriam retornar a um lugar seguro antes da catástrofe, de modo que, se a humanidade tem planos para o futuro, terá que parar por dez segundos e repensar suas estratégias de sobrevivência. Disso dependerá se o Planeta do porvir será dominado por seres humanos ou se tornará um “Planeta dos macacos”.
Abraços ecológicos, JAIR.
Caro Mestre: parece um terrível dilema, quando temos a opção de otimizar a produção de alimentos mas, ao mesmo tempo, não temos certeza quanto às consequências das mutações genéticas, supostamente benéficas...
ResponderExcluirE ainda existem os interesses corporativos se sobrepondo a tudo e influenciando as opiniões em benefício próprio!
Fica difícil saber onde acabam os radicalismos ambientalistas e onde começam os interesses financeiros...
Abraços!
Muito estimado Leonel, plenamente concorde contigo: os limites entre a defesa do ambiente e modo capitalista de gerir o Planeta êh muito tenue!
ResponderExcluirCom orgulho de te-ló como leitor aqui, attico chassot