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quinta-feira, 7 de junho de 2012

07.- VANDANA SHIVA: UMA BISADA MERECIDA



Ano 6*** www.professorchassot.pro.br ***Edição 2136
Hoje é um dia santo restrito / um feriado ignoto ou, para muitos, um dia laboral. Esta é uma data de evocação marcadamente católica: o reverenciar da transubstanciação (passagem do pão e do vinho para o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, ao padre pronunciar as palavras da consagração).
Esta é uma celebração litúrgica, que distingue a igreja católica romana das demais denominações cristãs, não apenas das igrejas evangélicas reformadas como também das igrejas ortodoxas. Esta data é tão católica que até seu nome — Corpus Christi— é em latim, No Brasil é feriado em muitos munícipios, inclusive da capital federal, mas não é feriado nacional. Este feriado também é uma tradução da hegemonia (ainda, em tempos recentes) do catolicismo.
Há em muitas localidades (do Brasil, que eu saiba; talvez em Portugal, também!) manifestações religiosas caracterizadas pela confecção de tapetes de areia e/ou serragem e/ou farinha e/ou retalhos de tecidos (na ilustração). Em alguns essas criações são mais atrações turísticas do motivo de elevo religioso.

Deixemos de lado as diferenciações dogmáticas área que não é desta paróquia. Fruamos o feriado, aqueles que o tem hoje, ou os que têm fé que a expressem nas celebrações litúrgicas da data e mesmo os que vivem um dia de trabalho, que possam se juntar aos dois primeiros grupos e preparar a Rio+20.
 Ontem trouxe uma parte da entrevista de Vandana Shiva à Folha de S. Paulo. Hoje prossigo, assegurando que ela merece este bis, formado por estas edições consecutivas, pois é figura de destaque no movimento anti-globalização e consultora para questões ambientais da Third World Network.
Entre suas atividades mais recentes, incluem-se iniciativas de ampla divulgação para a preservação das florestas da Índia, luta em favor das sementes como patrimônio da humanidade e programas sobre biodiversidade dirigidos a diferentes coletividades, além de pesquisas para o desenvolvimento de uma nova estrutura legal para os direitos de propriedade coletivos, como alternativa para os sistemas de direitos de propriedade intelectual atualmente em vigor.
Eis, a continuação da entrevista iniciada na edição de ontem:
E mudanças climáticas não estão na agenda da Rio+20 Não há progressos nessa área desde a conferência de Copenhague. Depois vieram os encontros de Cancún e Durban, sem resultados efetivos. Por causa do lobby das grandes corporações, os países estão 'desregulamentando' o que havia sido regulamentado antes.
A senhora poderia dar exemplos dessa 'desregulamentação'? O Brasil é um exemplo, veja o que ocorreu com os transgênicos. Quando eu vim pela primeira vez ao Rio Grande do Sul, a convite do José Lutzenberger [ex-ministro do Meio Ambiente], havia um forte movimento dos agricultores contra as sementes geneticamente modificadas.
Agora os campos estão cobertos de soja transgênica. Isso é parte da mudança trazida pela globalização, da tomada do poder pelas multinacionais que são contrárias a qualquer acordo ambiental.
Os setores mais nocivos são as empresas de combustíveis fósseis, os gigantes do agronegócio e da biotecnologia. O Canadá era um país progressista na Eco-92 e agora está paralisado nas negociações ambientais por causa das empresas que exploram óleo nas areias betuminosas.
Como tornar a conferência relevante? A resposta está nas pessoas. É por isso que a Cúpula dos Povos é tão importante. Serão as pessoas e os movimentos sociais que vão impor uma nova agenda para a humanidade. Conectados como nunca, as pessoas farão a diferença no sentido de propor a construção de novos caminhos. Veja o movimento "Occupy", por exemplo.
Outra discussão da Rio+20 será a formulação de novos indicadores econômicos. A senhora acompanha esse debate? Sim, e fico feliz que muitos economistas 'mainstream', como Joseph Stiglitz, estejam empenhados nesse debate. Mas o que não podemos é transformar a natureza em commodity. Devemos valorar a natureza, mas não transformar o ar, a água, as florestas em mercadorias.
Esse é um dos riscos do conceito de economia verde. Ele não é ruim em essência, mas o que me preocupa é se essa não será mais uma manobra para os poderosos saquearem os recursos naturais em nome dessa "nova economia". Temos de ter cuidado para não pintar a besta de verde.

4 comentários:

  1. Caro Chassot,
    para nós metodistas, a diferenciação, com relação à Eucaristia é sobre o seu conteúdo dogmático teológico: para os Católicos, a Eucaristia é celebrada sobre a presença real do Corpo de Cristo enquanto que para nós a Eucaristia representa o Corpo de Cristo - é simbólico. Isso vale para os demais evangélicos. Portanto, para nós hoje não é feriado, mas vou ter que me render à maioria Católica - vou me dedicar ao ócio.
    Um abraço,

    Garin

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  2. Caro Chassot,
    Em virtude de existirem efetivamente milhares de caminhos para o ponto de “não retorno”, onde os efeitos sobre os biomas são irreversíveis; onde os ciclos de auto-regeneração, sobre os quais repousa toda a dinâmica da vida, rompem como um elo fraco da corrente, devemos observar que é nossa responsabilidade, como sócios “inteligentes” do Planeta, fazer tudo ao nosso alcance para minorar os efeitos deletérios de nossas ações sobre a natureza.
    Então, para não dizer que nada fiz a respeito, fica meu grito no deserto: De um lado, a inteligência humana lhe faculta a capacidade de “domar” a natureza para seu beneficio, de outro, sua ganância cega queima as pontes que lhe permitiriam retornar a um lugar seguro antes da catástrofe, de modo que, se a humanidade tem planos para o futuro, terá que parar por dez segundos e repensar suas estratégias de sobrevivência. Disso dependerá se o Planeta do porvir será dominado por seres humanos ou se tornará um “Planeta dos macacos”.
    Abraços ecológicos, JAIR.

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  3. Caro Mestre: parece um terrível dilema, quando temos a opção de otimizar a produção de alimentos mas, ao mesmo tempo, não temos certeza quanto às consequências das mutações genéticas, supostamente benéficas...
    E ainda existem os interesses corporativos se sobrepondo a tudo e influenciando as opiniões em benefício próprio!
    Fica difícil saber onde acabam os radicalismos ambientalistas e onde começam os interesses financeiros...
    Abraços!

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  4. Muito estimado Leonel, plenamente concorde contigo: os limites entre a defesa do ambiente e modo capitalista de gerir o Planeta êh muito tenue!
    Com orgulho de te-ló como leitor aqui, attico chassot

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