Aquele que foi o ensolarado último domingo de janeiro já
está quase no ocaso. Mas, continua densamente funério. Avizinha-se a hora de
postar o blogue e sou estéril intelectualmente. Escrever — para mim continuado
e revigorante prazer intelectual — hoje é quase nauseante.
Lembro quando em setembro de 2001, na hora que se esboroavam
as duas torres em Nova York eu sepultava minha mãe. Então, por semanas meu luto
se fazia dor numa amarga abstinência no escrever.
Hoje, desde meia manhã não consigo deixar Santa Maria. É
muito impressionante. Podemos ser sujeitos globais, que a toda hora nos condoemos
com tragédias e misérias. A cada dia morrem 30 mil pessoas (= a 10X os mortos
de 11SET01 no WTC). Somos, também, sujeitos locais. Neste domingo minha aldeia foi
ferida. Não foi um tsunami no Japão ou terremoto no Haiti. Santa Maria é ali.
Foi a primeira cidade que conheci, quando ainda não era alfabetizado,
participando de uma das primeiras romarias da Medianeira. Todos os trens que
passava por Jacuí iam ou vinham de Santa Maria. Para lá meu pai levou-me, de
carona em um trem, quando, com cerca de quatro anos, quase vazei um olho, ao
cair em uma lata enferrujada.
Em Santa Maria vivem parentes e lá já sepultei um tio.
Tenho muitos amigos na cidade que hoje esteve tragicamente nos jornais do
Planeta.
Estive inúmeras vezes naquela que foi a primeira
universidade federal de cidade não capital do Brasil (lembro quando suas
faculdades ainda pertenciam a UFRGS e eu atendia seus diretores no Restaurante
da Reitoria); hoje ela vela mais de duas centenas de seus alunos.
Na UFSM participei de projetos de formação de professores,
cursos, bancas, ajudei a organizar EDEQs e ainda em maio fiz palestra para nove
cursos de graduação, agora sei que mais de três centenas de jovens do campus de
Camobi, que festejavam êxitos acadêmicos são vítimas, talvez, de imprudências não
tão triviais e estão feridos ou mortos.
Estou triste. Não consigo mais acompanhar noticiosos onde
comentaristas esportivos descrevem tragédias falando baboseiras. Refugio-me na
música sacra de um coral de monastério búlgaro que uma vez visitei.
Assim, ao invés de cumprir a pauta do blogue prevista
para hoje, silencio e solidarizo-me com cada uma e cada um dos pais, familiares
e amigos dos envolvidos em tão infausto acontecimento.
Na proporção da tragédia é a irresponsabilidade de quem teria o dever de fiscalizar e prevenir tais acontecimentos. A ganância pelo lucro rápido e menos custoso sempre acabam com vidas ceifadas. Agora abrirão inquéritos, perícias, CPIs para ao final quem sabe prender um servente.
ResponderExcluirCom o coração contrito,
Antonio Jorge
Limerique
ResponderExcluirMestre profundamente consternado
Com esse genocídio anunciado
Marcou sua infância
Aquela bela estância
A qual sempre esteve a seu lado.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirLimerique
ResponderExcluirTerremoto no Japão, tragédias no Haiti
Muitos desastres pelo mundo, por aí
Mas agora algo nos toca
A realidade nos sufoca
Caros amigos, Santa Maria é aqui.
Querido professor Chassot, a consternação é de Norte a Sul. E a indignação, também. Aproveito o espaço para registrar a minha.
ResponderExcluirDe quem é a (ir)responsabilidade? O Antonio Jorge já apontou em seu comentário: autoridades que concedem Alvará e não fiscalizam o funcionamento; e proprietários gananciosos pelo lucro fácil. Em entrevista concedida à imprensa, o Corpo de Bombeiros - que havia emitido a última certificação para o funcionamento - afirma que estava tudo certinho com a segurança da boate. Que conceito de segurança é esse? Quando À conclusão do inquérito: se não for o servente o responsável, será o segurança que, segundo testemunhas, "demorou alguns segundos para liberar a porta".
Essa foi mais uma tragédia anunciada que poderá se repetir e enquanto houver omissão das autoridades que concedem Alvará de funcionamento a esses estabelecimentos, outras tragédias ocorrerão, pessoas morrerão e só restarão indignação e dor. Oxalá, antes de uma próxima tragédia, autoridades possam agir pelo bem da sociedade.
Indignada.
Conceição Cabral (professora, Belém-PA)
Caro amigo prof. Chassot:
ResponderExcluirReceba minha solidariedade pela tragédia de Santa Maria. Sua mensagem bo blog foi comovente e tocante.
Abs
José Carneiro
Prefiro não dizer nada em situações como essa. Mas vale lembrar que não permitamos esta hecatombe ser em vão.
ResponderExcluirVamos pressionar os locais públicos para que preparem saídas de emergência apropriadas...
Lamentável, triste, mais ainda por ser uma tragédia anunciada.
Chassot, escuta teus cantos gregorianos para renovar a alma.
ResponderExcluirAbraçøs meu querido, lamento não estar aí para te dar um abraço e tomarmos um vinho em bom assunto para esquecer o horror.
Muito queridas Conceição, Irlane, Célia, Ana Cláudia &
ResponderExcluirmuito queridos Jair, José, Jairo, Antonio Jorge, Guy
que de uma maneira ou outra trouxeram a sua solidariedade (aqui, no facebook...) e sua revolta à blogada de ontem, uma real crônica de mortes anunciadas.
Não vou destacar as manifestações de vocês. O que Conceição e o Antônio Jorge, por exemplo, diziam ontem está sintetizado na manchete da Zero Hora — principal Jornal da Região Sul —: Sofrimento evitável: Falhas e erros banais causaram incêndio, afirmam especialistas em segurança
Sigo compungido: Se é antinatural pais ou avós sepultarem filhos e netos; é contra o ciclo evolutivo, nós professores enterrarmos duas centenas de alunos.
Obrigado por todos nós.
attico chassot
Pôxa, Professor...nem sei o que comentar...
ResponderExcluirMas concordo com o senhor que "...é antinatural pais ou avós sepultarem filhos e netos; é contra o ciclo evolutivo.."
Perdi um tio há pouco tempo, e, desde então minha avó é "outra pessoa".
Meus sentimentos por tudo..
Abraços, saudosos.
Thaiza querida,
Excluirassim como a bárbara tragédia de Santa Maria (o adjetivo foi bem escolhido) dará ao Brasil legislação para casas de espetáculos (e aqui se conclui as perigosa casas de festas infantis, que tu como jovem mãe conheces) e ganhei o doloroso acidente, uma chegada tua aqui, ausente há muito.
Afagos com saudades,
attico chassot