O tema eleito
para esta domingueira não é produção do acaso. Ele foi adrede selecionado. Hoje
é ‘dia dos reis magos’. Antes da
trazida do que se faz manchete, um comentário acerca desses misteriosos três
personagens.
Na igreja cristã, talvez poucos episódios
foram tão incrementados de maneiras mirabolantes como um relato que está apenas
em um dos 4 evangelistas. Eis o que diz Mateus: "E vendo a estrela, alegraram-se eles com
grande e intenso júbilo. Entrando na casa, viram o menino (Jesus), com Maria
sua mãe. Prostrando-se, o adoraram; e abrindo os seus tesouros, entregaram-lhe
suas ofertas: ouro, incenso e mirra. Sendo por divina advertência prevenidos em
sonho a não voltarem à presença de Herodes, regressaram por outro caminho a sua
terra".
Não há nenhuma informação que fossem reis e
muito menos que fossem três. Foi Beda, o Venerável, um monge inglês, que viveu
no final do século sétimo e começo do oitavo, que lhes deu nomes e traçou
características: ”Melchior era velho de
setenta anos, de cabelos e barbas brancas, tendo partido de Ur, terra dos
Caldeus. Gaspar era moço, de vinte anos, robusto e partira de uma distante
região montanhosa, perto do Mar Cáspio. E Baltazar era mouro, de barba cerrada
e com quarenta anos, partira do Golfo Pérsico, na Arábia Feliz”.
Só no século 16 se definiu que cada dos três representavam descendentes
dos três filhos de Noé, e então Baltazar passou a ser da linhagem de Cam, que
teria como descendente os negros. Já comentei em outro momento que em minha
infância recebíamos a recomendação — eivada de preconceitos racistas — de
colocar Baltazar mais atrás, para não assustar o Menino Jesus. Enquanto
Melquior (ou Belquior) passa ser o representante da raça branca e Gaspar, da
amarela. Conta-se também que Gaspar teria chegado de navio; Melquior, a cavalo;
e Baltazar de camelo. De acordo com a tradição os três reis magos repousam hoje
na catedral de Colônia.
Nas igrejas
ortodoxas o dia de se presentear pelo nascimento de Jesus é hoje e, por isso,
escolhi esta data para o relato que me parece oportuno trazer e que vivi no
último Natal.
A prática do “amigo
secreto”, em grupos familiares, colegas de trabalho ou de escola é, entre nós,
razoavelmente recente e tem uma dimensão ‘econômica’: ao invés de se presentear
uma dezena ou mais de pessoas se faz apenas para uma. Existem algumas variações
e já há inclusive sorteio e comunicação on-line.
Neste último
natal participei de duas modalidades que desconhecia: uma, em que se pode
‘roubar’ o presente de alguém e outra em que a regra estabelece que se
presenteie com algo pessoal (não se pode comprar o presente). Acerca desta
alternativa amealho comentários.
A celebração do
natal familiar 2012, participei na família de uma de minhas noras. Um dos anfitriões propôs que a
segunda modalidade acima descrita.
Para “amiga secreta”,
que é avó muito dedicada, escolhi, talvez, um dos títulos mais lindos entre os
3211 livros de minha biblioteca e o embalei em um fino lenço de seda: ‘O Sorriso Etrusco’ [São Paulo: Martins Fonte, 1996, 363p. ISBN 85-336-523-4] do
espanhol José Luís Sampedro. É uma
lindíssima epopeia dedicada ao amor de um avô ao seu neto. É particularmente um
verdadeiro hino ao avonado, isso é a vivência dos dulçores de ser avô.
Livros
de história de amor são usualmente lindos. O Sorriso Etrusco conta
com muita poesia a história de um campônio, transplantado de sua pequena
comunidade rural da Calábria, no Sul da Itália, para Milão. Vem morar na casa
do filho para tratamento de grave doença. Então conhece o neto, que para sua
surpresa não é um nenê como imaginava, pois já tem treze meses e inicia a
caminhar. O choque cultural com o filho e com a nora é fantástico.
Mas
este registro não é para destacar o que eu presentei e sim o que eu recebi. Aquele que foi destinado ser
o meu presenteador proporcionou-me uma imensa surpresa, que traduz sua
imensa generosidade.
Ele participara
em 01DEZ2013 da ‘Corrida de Despedida do Olímpico Monumental’. A suada medalha
de premiação ganha então por ele foi seu presente generoso para mim. Fiquei surpreso
e comovido. Para mim, que registrei em 02DEZ2012, aqui, significados do
Olímpico em minha história, representa um presente curtido.
Agora
a medalha e sua fita para fazê-la pendente ocupam um local onde amealho placas
e troféus de homenagens de patrono de turmas ou de feiras do livro e de eventos
acadêmicos. Ela evoca para mim mais que Olímpico: será a recordação e exemplo permanente
de um gesto generoso, ensinando-me algo que preciso aprender: ser mais
desprendido.
Tambem tive a grata experiência de conhecer nestes fetejos a modalidade do amigo secreto com a opção de "roubar" o presente alheio. E para minha surpresa vi minha mãe, nos seus lúcidos 91 anos participar perfeitamente da brincadeira, inclusive exercendo o seu direito de "roubar" na sua vez.
ResponderExcluirComo se diz, "Não tem preço".
abraços
Antonio Jorge
Limerique
ResponderExcluirEra uma vez aqueles três reis magos
Frutos de Beda e seu pensamento vago
Sequer eram reis
E tampouco três
Talvez fossem dois e um deles gago.
Limerique
ResponderExcluirUma imagem que jamais apago
Toda vez que pelo natal eu vago
Homens que não eram reis
E, parece, nem eram três
Comuns nobilitados e feitos magos.