Um livro muito especial inaugura as dicas sabáticas de 2013. Em
18 de novembro, fizera, aqui, uma promessa que só agora venho cumprir. Contava
que, em meio à leitura do xaroposo 50
tons de cinza, recebera um presente de meu querido amigo Prof. Jairo
Brasil, a quem tive o privilégio de orientar, quando de seu mestrado.
Então estava grávido de desejo de terminar aquela trilogia
maçante (não perdi meu tempo com o terceiro volume) para envolver-me com a obra
presenteada.
Lera então apenas o primeiro parágrafo do livro
do qual faço hoje a primeira dica sabática deste adventício 2013.
PASHA, Kamram.
A Mãe dos fiéis: um romance sobre o
nascimento do Islã. [Original inglês: Mother of the Believers. Tradução:
Mariluce Pessoa] Rio de Janeiro: Record. 2012. 532p, 230x160x28 mm. ISBN 978-85-01-08995-3
Então brindara aos meus leitores com o parágrafo de
abertura pela sua poética beleza e o reapresento aqui e agora:
O que é a fé? Esta
é a pergunta que me faço há vários anos, querido sobrinho, e não estou mais
perto da resposta agora do que quando meus cabelos ainda eram avermelhados como
o despontar da aurora, e não como desse prata pálido como a luz do luar, como
são hoje.
Esta amostra não é fortuita. O livro onde é o
relato nascimento do islã na leitura de Aisha — a mais jovem e amada
esposa do Profeta Maomé — no texto ela fala na primeira pessoa —. “Eu tinha 6
anos quando me casei com o Mensageiro, embora nossa união só tenha sido
consumada quando se iniciaram minhas regras aos 9 anos de idade. Ao longo dos
anos, tomei consciência que meu casamento, em uma idade tão jovem, foi
considerado escandaloso, até mesmo bárbaro, pelas altivas mulheres nobres da
Pérsia e de Bizâncio, apesar de nenhuma delas se atrever a me dizer isso
pessoalmente. Claro, estou acostumada aos murmúrios cruéis de fofocas. Mais do
a maioria de mulheres de minha época, fui alvo das adagas ocultas do ciúmes e
do rumor. Talvez isso já fosse esperado. Um preço que devo pagar por ser a
esposa preferida do homem do homem mais reverenciado e odiado que o mundo
jamais conheceu” (p. 12).
O romance traz as memórias de Aisha de 613 — quando ela nasceu
sendo considerada a primeira pessoa a nascer no berço da nova religião até sua
morte em 678. Houve um período de sua vida que ela viveu ciúmes de ser uma das
oito esposas do Profeta, vivendo na mesma casa. Houve situação que Moema ainda
tinha, em outra casa como concubina uma escrava cristã que lhe fora presenteada
com que teve um filho, que ao nascer foi muito festejado pelos islâmicos.
A obra é de Kamram Pasha
(foto de sua página: www.kamranpasha.com), um paquistanês, que com três anos
mudou-se para os Estados Unidos, onde é aclamado produtor de televisão. Acerca
do autor, um depoimento significativo que está apenas no final do livro e que
parece importante para entendermos (e crermos mais em) o texto: “Quero que
saibam que sou muçulmano fervoroso e praticante. Teologicamente considero-me
sunita, e espiritualmente sinto grade inclinação para o sufismo, a essência
mística do islã. Por linhagem, sou um sayyid,
descendente direto do Profeta por meio de sua filha Fátima e de seu neto
Husayn. Para mim, este romance este romance foi tanto uma viagem gratificante
ao coração de minha tradição religiosa, como estudo elucidativo das pessoas
apaixonadas e complexas, que foram meus antepassados. Eles eram homens e
mulheres simples, que viviam num deserto remoto, e por isso mesmo poderiam ter
sido esquecidos pela História. Entretanto, pelo mero poder da fé, conseguiram
virar o mundo de cabeça para baixo” (p. 529).
O livro é excelente,
especialmente dedicado àqueles que — como eu — apreciam História das religiões.
Tive uma decepção histórica e uma dificuldade na narração.
Nos 65 anos em a obra
descreve há muitas lutas e muitas violências. Primeiro são lutas para eliminar
Maomé e nova religião por tribos rivais e comunidades judaicas, depois são as
batalhas entre Medina e Meca, com os mecanos superiores em número e poderio
bélico e Medina triunfando, pois lutava com (ou por) Alá, quando a religião se
expande são lutas de conquistas a outros povos e por fim, depois da morte do
Profeta são as lutas intestinas para se apoderar do lugar de sucessor de Maomé.
A conhecida divisa que nos foi apresentada, numa leitura cristã criticando a
maneira de expansão do islã: “Crê ou
morre!” é radical.
A minha dificuldade com
a narração decorre de minha não familiaridade com nomes árabes (difícil, às
vezes de identificar se masculino ou feminino) que no texto são numerosos e de
muitas diferentes dinastias.
Recomento aos meus
leitores de maneira entusiasmada, nesta primeira dica sabática: A Mãe dos fiéis: um romance sobre o
nascimento do Islã.
Uma curiosidade no islamismo é que encontramos em seus preceitos originais os primeiros e maiores avanços nos direitos das mulheres. Já com a interpretação radical dos movimentos modernos este avanço retrocedeu sucofando mais ainda a figura da mulher.
ResponderExcluirabraços
Antonio Jorge
Limerique
ResponderExcluirJudaísmo, cristianismo e islã
Rechaçam outras crenças pagãs
Adoram um só deus
Aquele dos hebreus
Cultivam porém rivalidades vãs.
Caro Chassot
ResponderExcluirFico muito contente que tenha acertado tua preferência neste regalo. Acredito que a partir de nossa convivencia de Mestre e Pupilo, desde a orientação no Mestrado da Unisinos, possibilitou-me entender um pouco de tuas preferências.
Grande abraço e um Bom Fim de Semana.
JB
Dear Mestre Chassot,
ResponderExcluirThank you for your wonderful review and kind words about my book. I was able to translate the Portuguese to English and was very moved by your comments.
I would love to visit Brazil one day and do a book reading. Perhaps I will be able to do so soon. Inshallah as we say, if God wills.
Peace,
Kamran