No
ano recém finalizado, em quase todas as minhas mais de meia centena de palestras,
homenageei Alan Mathison Turing (1912-1954) por ser o Ano Alan. Turing na
evocação do centenário de seu nascimento. Neste domingo, 06JAN13, Elio Gaspary,
em sua coluna semanal na Folha de S. Paulo escreveu: Turing, um gênio ofuscado pelo
folclore, que ratifica o que usualmente destaco e adita outros
detalhes.
Um
comentário acerca de algo presente no texto. Steve Job — isso consta em seu
livro de memórias — foi formalmente perguntado se a maçã, símbolo da Apple era
em homenagem a Turing. Desejava que fosse, respondeu, mas, não é!
As
ilustrações são uma a estátua a Turing — na sua mão direita se pode ver uma
maçã — em Manchester e a placa (com a
tradução) que se vê aos pés da homenagem. A seguir a íntegra do texto.
A
editora da Universidade de Oxford acaba de publicar "Turing: Pioneer of the Information Age" (Turing: O Pioneiro da
Era da Informação). É um bom livro, contando a história de um gênio que viveu
num mundo emocionante e morreu num enredo de romance policial em 1954, aos 41 anos.
Está na rede, em inglês, por R$ 23,63.
Em
1936, Alan Turing concebeu aquilo que chamou de "máquina universal".
Era a ideia do computador, inicialmente chamado de "cérebro
eletrônico".
Matemático
genial, se não tivesse feito mais nada seria celebrado como um dos pais da vida
moderna. Com o início da guerra, incorporou-se à tropa de ingleses que se
dedicava a quebrar os códigos alemães. Era uma comunidade que trabalhava em
segredo, na qual se juntavam físicos, engenheiros, malucos, militares e
campeões de xadrez.
Seus
2.000 servidores não puderam contar o que faziam nem para a família. Nos anos
70, quando o véu foi levantado, algumas mulheres queixaram-se por não terem
revelado o segredo aos maridos, que haviam morrido.
Turing
foi decisivo para desvendar o código dos submarinos alemães que afundavam os
comboios ingleses. Decifravam 84 mil mensagens a cada mês, influíram no
resultado da batalha de El Alamein e na de Kursk, ajudando os russos.
Suspeita-se
que Turing tenha colaborado na quebra dos códigos japoneses antes da batalha do
Midway. Alguns historiadores estimam que esse trabalho encurtou a duração da
Segunda Guerra em até dois anos. Exagero, a guerra terminaria em agosto de
1945, com uma bomba atômica caindo em Berlim.
Nesse
mundo excêntrico, Turing conseguia ser esquisito. Com o tempo, atribuíram-lhe
também a concepção do Colossus, o avô do computador que grampeava até as
comunicações de ADOLPH9HITLER9FUEHRER (o "9" significava espaço na
mensagem decifrada) e ajudou o sucesso do Dia D.
Para
administradores, uma aula: quando faltaram recursos, um deles levou uma carta a
Churchill. Não podia dizer aos secretários dele o que fazia nem o que queria. A
carta chegou a sir Winston, e ele escreveu: "Ação. Para hoje."
Jack
Copeland, o autor do livro é de longe o pesquisador que melhor estudou o
trabalho dos criptógrafos ingleses e a vida de Turing. O Colossus não foi coisa
dele e suas excentricidades acabaram abafando o gênio. Vestia-se mal, não
falava, raramente ouvia e corria 30 quilômetros. Era tudo isso e mais
homossexual, numa época que criminalizava essa preferência. Turing teve uma
namorada, caso rápido.
O
livro tem longos trechos onde Copeland explica as ideias e o trabalho do gênio.
Dão trabalho, mas, com paciência, podem se tornar aulas fascinantes.
O
fim da história é mais ou menos conhecido. Sua casa foi assaltada, ele foi à
polícia e deu queixa. Como não mentia, contou que dormira com um rapaz. Foi
processado por indecência. A Justiça mandou que escolhesse: cadeia ou
tratamento hormonal castrativo. Dois anos depois, Turing foi encontrado morto
em sua cama. Ao lado tinha uma maçã na qual teria injetado cianeto. Nessa
época, estudava o crescimento dos tecidos vivos. Ele jamais falou da quebra dos
códigos.
Diz
a lenda que a maçã mordida teria inspirado a marca da Apple. É apenas lenda.
Com bons argumentos, Copeland vai além: não se pode afirmar que Turing se
matou. A maçã nunca foi examinada e ele fazia experiências em casa com cianeto.
(Outro biógrafo sustenta que ele disfarçou o suicídio deliberadamente.)
Turing
tornou-se um ícone da comunidade gay mundial. Em 2009, o primeiro-ministro
Gordon Brown desculpou-se pelo sofrimento que lhe foi imposto e o companheiro
Obama saudou-o como um dos grandes gênios do século 20. Atualmente corre na
Inglaterra uma campanha para que o governo apague a condenação que lhe foi
imposta. Nela está o físico Stephen Hawking.
Sempre fomos seres preconceituosos. Preconceito de cor, raça, etnia, opção sexual, gênero, status, idade, ideologia religiosa, ideologia política, etc. etc. . Parece haver uma necessidade latente de se sentir superior a alguem. "Sou o síndico onde moro!", O sujeito estufa o peito e brada, só existem dois moradores, mas ele é o síndico. E nossa sociedade é tão hipócrita que primeiro mata, depois ovaciona. E diariamente milhares de Turing, João, Maria e tantos mais soçobram perante os ataques insanos do preconceito.
ResponderExcluirLimerique
ResponderExcluirMais uma vez a ignorância vence
Na verdade, autêntico nonsense
Alan Tuning matemático genial
Condenado por opção sexual
Num arranjo ridículo, circense.
Lembro-me bem do seu entusiasmo mestre ao falar de Alan Turing em uma palestra e um mini-curso que tive a honra de participar em Teresina em 2012. Pode-se perceber que tu és um fã deste gênio dos tempos modernos. Mais uma excelente blogada sua Mestre Chassot. Continue sempre nos brindando com suas palavras.
ResponderExcluirAbraços
Obrigado por mais esse texto interessante, professor!
ResponderExcluirObrigado por mais esse texto interessante, professor!
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