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quinta-feira, 18 de agosto de 2011

18.- Uma vez mais olhando o censo

Ano 6

PORTO ALEGRE

Edição 1841

Primeiro dois registros acadêmico-sociais, ambos prenhes de muitos afetos:

#1) No entardecer de ontem docentes dos Mestrados de Profissional de Reabilitação e Inclusão e de Biociências e Inclusão fizeram uma linda surpresa para a jornalista Ágata Pamplona, Assistente Editorial da Editora Universitária Metodista IPA: organizaram um chá de fraldas. A Fernanda, que deve chegar na próxima Semana da Pátria recebeu uma grande quantidade de fraldas. O Prof. Garin – um dos atuais mais assíduos comentaristas deste blogue, enquanto pastor, fez uma linda e comovente oração, mostrando quanto nós todos somos um pouco padrinhos da nascitura, pois por mais de oito meses curtimos seu crescimento nos muitos acarinhamentos à Ágata. Foram momentos de confraternização numa torcida por colega que todos querem muito bom. E como se dizia: “Uma boa hora, Ágata!”

#2) Sai do Centro Universitário Metodista, do IPA e fui à casa de meu colega Prof. Guy Barcellos – que foi nosso cicerone à Mauritius nesta segunda-feira, aqui no blogue. Com ele e com a Heidi – como contei aqui em 9 de julho: sua avó, minha coetânea, com muitos evocares tempos em que ambos éramos alunos das irmãs de São José de Chambery – tomei um gostoso chá de trazido de Mauritius. Fui ainda presenteado com o último livro do Richard Dawkins, ‘O maior espetáculo da Terra’ que me faz sonhar com um feriadão para saboreá-lo.

Nesta quinta-feira, uma vez mais, vale olhar alguns resultados do Censo de 2010. Hoje com análise de Antonio Gois e Hélio Schwartsman, trago matéria “Cresce o número de evangélicos sem ligação com igrejas” veiculada pela Folha de S. Paulo desta segunda-feira. Vale ver o esboroamento da ligação religiosa com igrejas instituição.

Verônica de Oliveira, 31, foi batizada católica e vai à missa aos domingos. No entanto, moradora do morro Santa Marta, no Rio, é vista com frequência também nos cultos das igrejas evangélicas Deus é Amor e Nova Vida. Quando questionada sobre sua filiação, dispara: "Nem eu sei explicar direito. Acho que Deus é um só".

Em cada igreja, ela gosta de uma característica. Na Católica, são os folhetos distribuídos na missa. Na Deus é Amor, "um pastor que fala uma língua meio doida". Na Nova Vida, aprecia o fato de lerem bastante a Bíblia.

Mais do que trair hesitações teológicas, casos como o de Verônica, de "religiosos genéricos", que não se prendem a uma denominação, crescem nas estatísticas. Um bom indício do fenômeno surge nos dados sobre religião da POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares), do IBGE, que pesquisou o tema em 2003 e 2009. No período, só entre evangélicos, a fatia dos que se disseram sem vínculo institucional foi de 4% para 14% - um salto de mais de quatro milhões de pessoas.

Entram nesse balaio, além de multievangélicos como Verônica, pessoas que não se sentem ligadas a nenhuma igreja específica, mas não deixaram de considerar-se evangélicos, em processo análogo ao dos chamados "católicos não praticantes".

A intensidade exata do fenômeno só será conhecida quando saírem dados de religião do Censo de 2010. No entanto, para especialistas consultados pela Folha, a pesquisa, feita a partir de amostra de 56 mil entrevistas, é suficiente para dar boas pistas do movimento.

O pesquisador Ricardo Mariano, da PUC-RS, reconhece que vem ocorrendo aumento de protestantes e pentecostais sem vínculos institucionais, ainda que ele tenha dúvidas se o crescimento foi mesmo tão intenso quanto o revelado pelo IBGE.

INDIVIDUALISMO Para ele, a desinstitucionalização é resultado do individualismo e da busca de autonomia diante de instituições que defendem valores extemporâneos e exigem elevados custos de seus filiados.

De acordo com o professor, parte dos evangélicos adota o "Believing without belonging" (crer sem pertencer), expressão cunhada pela socióloga britânica Grace Davie sobre o esvaziamento das igrejas ao mesmo tempo em que se mantêm as crenças religiosas na Europa Ocidental.

Para a antropóloga Regina Novaes, uma pergunta que a pesquisa levanta é se este "evangélico genérico" tem semelhanças com o católico não praticante. Para ela, "ambos usufruem de rituais e serviços religiosos mas se sentem livres para ir e vir".

Diana Lima, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos, levanta outra hipótese: "Minha suspeita é que as distinções denominacionais talvez não façam para a população o mesmo sentido que fazem para religiosos e cientistas sociais. Tendo um Jesus Cristo ali para iluminar o ambiente, está tudo certo".

Os dados do IBGE também confirmam tendências registradas na década passada, como a queda da proporção de católicos e protestantes históricos e alta dos sem religião e neopentecostais.

No caso dos sem religião, eles foram de 5,1% da população para 6,7%. Embora a categoria seja em geral identificada com ateus e agnósticos, pode incluir quem migra de uma fé para outra ou criou seu próprio "blend" de crenças - o que reforça a tese da desinstitucionalização.

Para o demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, do IBGE, o que está ocorrendo é um processo de democratização religiosa, "com todos os problemas da democracia".

O maior perdedor é a Igreja Católica, que ficou sem seu monopólio. Segundo Alves, ela vai ceder mais terreno, porque os católicos se concentram nas parcelas de menor dinamismo demográfico.

Já os evangélicos ainda vão crescer muito, garante o demógrafo, pois ganham entre as parcelas da população que têm maior fecundidade.

Outro dado interessante da POF é que aumentou o número dos que declararam uma religião não identificada pelos pesquisadores, o que indica que na década passada mais igrejas surgiram e passaram a disputar o "supermercado da fé", na expressão depreciativa utilizada pelo papa Bento XVI.

Por ser amplo, o levantamento permite também identificar, denominação por denominação, o tamanho de cada igreja.

A Igreja Universal do Reino de Deus, por exemplo, registrou queda de 24% no número de fiéis. O recuo pode estar relacionado com a criação de igrejas dissidentes.

Ao analisar os números, porém, os pesquisadores consultados dizem que é preciso esperar o Censo para confirmar esse movimento.

12 comentários:

  1. Interessante, Mestre.
    Eu acredito que ter fé seja uma coisa inerente e instintiva ao ser humano.
    Dá uma certa tranquilidade, como quando éramos crianças e nos sentiamos seguros em casa com nossos pais.
    Porém, ser crente em religiões que enfatizam demais seu interesse na conta bancária dos devotos, está ficando difícil, mesmo para os que necessitam deste conforto espiritual.
    O nível de informação do mundo atual, que tende a colocar tudo em debate, também ajuda a colocar em dúvida a autenticidade de certas igrejas.
    Cada vez mais, as pessoas tendem a procurar seus próprios caminhos e nem sempre sentem necessidade de tradutores no seu diálogo com Deus.
    "Para variar", assunto interessante, Mestre!
    Como sempre! Abraços! Boa noite!

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  2. Muito estimado Leonel,
    primeiro a distinção de tê-lo colo leitor e comentarista aqui. Há um tempo leio teus comentários no blogue do polímata Jair – que recebe este comentário, por eu não ter teu endereço –.
    Adiro a tua tese quanto a espiritualidade inerente a natureza humana. Acredito que um ateu possa ter ‘uma religiosidade’. Parece que as religiões cartoriais, ou bancárias (como referes) estão cada vez mais em descrédito. Talvez, precisemos de novo Lutero.
    Mais uma vez expresso a emoção de tê-lo aqui,

    attico chassot

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  3. Caro Chassot,
    Assunto delicado esse, as pessoas que professam religiões ditas alternativas acreditam tanto em entidades como àquelas que vão a igrejas. O que as torna diferentes é que preferem se livrar do "engessamento" que as doutrinas e dogmas submetem seus crentes. Crer é liberdade, frequentar igrejas é restrição à liberdade de pensar. Abraços, JAIR.

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  4. Estimado Jair,
    realmente delicado o assunto. Parece-me ‘natural’ que os fiéis queiram se sentir menos ‘engessados’ para usar a tua metáfora. Todas nossas ‘rebeldias’ são tentativas de abandonar a formatação (há os que preferem enquadramentos) que os dominadores (sociedade, governos, igreja...) nos impõem.
    ¿O que são as revoluções? tentativas de modificar paradigmas.
    A proliferação de igrejas é resposta às tentativas de sair de um jugo. Aliás, os dados do censo mostram quanto a IURD é produtora de igrejiolas, onde um pastor diz ‘por que vou continuar obedecendo (e transferindo o dizimo) para este bispo. Vou ser o bispo de minha igreja.
    Assunto sumarento este. Tem porque o estudo da historia das religiões ser tão desafiador. Defendo a desse que para conhecer a História e Filosofia da Ciência é preciso conhecermos a História das Religiões. Se tivesse que citar para tal apenas um livro escolheria História natural da religião, da autoria do filósofo e iluminista escocês David Hume (1711-1776). Ele é autor de várias obras filosóficas e entre essas há destaques àquelas sobre religião, nas quais se opõe usualmente à ideologia dominante em seu tempo. O mais penetrante, filosófico e substancial de seus trabalhos sobre o tema são Diálogos sobre a religião natural, que, mesmo tendo sido escrito durante quatro anos, só foi publicado 21 anos depois de sua morte. Amigos que leram os manuscritos o aconselharam a esperar que serenassem os ânimos mais exaltados contra outras de suas publicações (“Dos Milagres” e “De uma providência particular e de um estado futuro”) que haviam provocado a ira de religiosos ao solapar a crença nos milagres e numa providência divina.
    Vale discutirmos mais isto em nossos blogues.
    Com admiração


    attico chassot

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  5. Carrísimo Prof. Chassot, excelente provocação!Temas com religião, Deus/Deuses, dogmas, espiritualidade ou sua falta são ,essencialmente, uma tentativa de dar sentido a vida ou própria morte. Muitas vezes, a tentativa é frustada. A reflexão é extinta e o dogmatismo vence.Salve a provocação, professor!
    Um abração do amigo .

    Milton Paulo

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  6. Estimado amigo Dr Milton,
    primeiro celebro a alegria do reencontro. Há um tempo perdêramos o contato. Vibro com teu estar aqui.
    Realmente as religiões são bons ‘consolos’ para minimizar as dificuldades de lidar com a vida/a morte. Parece que a formatação exigida pelas igrejas enquanto instituições bitolam escolhas. Digo que os ateus não creem em tudo em os outros creem, mas não são totalmente incréus.
    Vale trazer estas reflexões e vibrar com a pluralidade de opiniões.
    Com estima e continuada admiração

    attico chassot

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  7. Caro Chassot,

    em 1982 participei de um grande Seminário sobre os rumos da Evangelização na América Latina, em Itaici, SP. Junto estavam católicos, evangélicos da IECLB, presbiterianos, metodistas, anglicanos, membros da Igreja o Brasil para Cristo entre outras. Havia arcebispos, bispos, pastores e leigos de diferentes matizes religiosas. Nesse evento, José Carlos Brandão, então sociólogo da UNICAMP, expos uma pesquisa sua, recém realizada que apontava para essa nova tendência religiosa. Estava certo. Ela se confirma a cada ano e crescem os crentes sem igreja. Há benefícios e riscos. Na maioria das vezes as igrejas institucionalizadas cobram um envolvimento volumoso, tanto de recursos (os dízimos) como de tempo (dedicação à diversos ministérios religiosos). A sociedade contemporânea não suporta mais esse envolvimento. Por outro lado, a crença sem um cuidado teológico-doutrinário tem o benefício de poder ser praticado livremente e em qualquer lugar, sem necessidade de igrejas e templos. Entretanto, há riscos, como cair em certos fanatismos tão ou mais opressores que as religiões institucionalizadas. Diria que é impossível prever agora como será a caminhada da religiosidade para o futuro. Uma perspectiva pelo menos se avista: a trajetória das igrejas tradicionais está cada vez mais ameaçada.

    Acho que me estendi demais, mil desculpas!

    Um abraço,

    Garin

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  8. Meu caro colega Garin,
    já conheço a ‘paróquia’ e esperava teu comentário, pois sabia ser assunto da tua seara. Obrigado por tão elucidativo comentário. Valeu ter aqui o teu denso comentário que se junta a outros também preciosos.
    É surpreendente que há 30 anos este quadro de hoje era previsível. Concordo com a previsão de que das igrejas tradicionais só restará o arcabouço burocrático (=bancário ou arrecadador).
    Temo, como tu, pelos riscos do fanatismo dos ‘que correm livre da tutela’ que formata. O anarquismo (no sentido de recusar uma ortodoxia) religioso é muito perigoso. Não foi sem razão que Jeová deu os dez mandamentos, dizendo como tinha que ser.
    Estes temas deveriam estar também nas discussões acadêmicas. Repito o que escrevi para o Jair hoje: a História e Filosofia da construção do conhecimento estão permeadas pela história das religiões.
    Há que reconhecer que os blogues são hoje espaços privilegiados para estas discussões. É lamentável que poucos participem. É verdade que também não teríamos ‘tempo’ para ampliar as discussões.
    Obrigado pela parceria
    attico chassot

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  9. Ave Chassot,

    achei este assunto muito interessante e me trouxe novidades. Foi muito bom receber-te aqui em casa.

    Grande abraço,
    Guy

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  10. rsrs, estranho ler que entre os evangélicos a fecundidade é maior... Será o poder da fé atuando?

    abraços, Mestre!

    Marília Müller

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  11. Salve Guy,
    aprender mais sobre Mauritius com saborosa companhias e com chá da Ilha que nos revelastes foi bom

    attico chassot

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  12. Muito querida Marília,
    primeiro – ainda que atrasado – cumprimentos pelo dia da Filósofa. ¿E a leitura fundamentalista do preceito bíblico. “Crescei e multiplicai-vos e enchei a terra!”
    Obrigado por chegares aqui,
    attico chassot

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