Ano 6 | PORTO ALEGRE | Edição 1836 |
Este é um sábado muito especial aqui na Morada dos Afagos. Esta manhã e tarde estaremos antecipando a celebração do dia dos pais. A Gelsa e eu reuniremos filhos e filhas, nora e genros e quatro netos e três netas (já incluída a Carolina, nascitura em dezembro). Seremos cinco os pais homenageados. Do clã apenas estarão ausentes Julia e Benjamin, que moram em Paris.
Mas sábado é dia de dica de leitura. Esta hoje é diferente, Não resenharei um livro, mas trago informações de uma Biblioteca especial e muito acessível.
Já referi em edição anterior (01MAIO2009) a BIBLIOTECA DIGITAL MUNDIAL, mas hoje junto mais algumas informações, acerca deste presente da UNESCO à humanidade. Vale apena, uma vez mais, divulgar o tema. Quando a referi pela primeira vez ela tinha sido recém-inaugurada em 21ABRIL2009.
Já escrevi várias vezes aqui sobre bibliotecas. Comentei acerca do privilégio de já ter estado em bibliotecas muito importantes. Assim estive na nova Biblioteca de Alexandria, no dia 23 de abril de 2002, quando estava prevista sua inauguração (depois adiada para outubro daquele ano, por razões de tensões no Oriente Médio). Contei aqui, em fevereiro de 2008, minha visita (talvez, a quarta) a magnífica biblioteca Nacional Francesa, abrigada em um dos mais impressionantes complexos arquitetônicos de Paris. Em outubro de 2008 estive por frutuosas horas na Biblioteca Britânica e reparti aqui o quanto ficara impressionado com as preciosidades que fruíra em Londres. Estive já na Biblioteca da Universidade de Coimbra e em fevereiro de 2009 visitei duas impressionantes bibliotecas na Espanha: aquela do Real Monasterio de San Lourenzo, El Escorial e a da Universidade Complutense de Alcalá de Henares. Claro que estou referindo bibliotecas-monumentos. Há aquelas que vamos para pesquisar. Recordo com saudades os dias quase inteiros que passava em 2002 na Biblioteca da UNED – Universidad Nacional de Educación a Distancia em Madrid ou as gostosas ‘viajadas’ que fazia na Biblioteca da Unisinos, nos anos que lá fui professor.
Por estes dias estive, de novo, passeando na BIBLIOTECA DIGITAL MUNDIAL, disponível na Internet, no endereço www.wdl.org uma biblioteca que reúne mapas, textos, fotos, gravações e filmes de todos os tempos e explica em sete idiomas as joias e relíquias culturais de todas as bibliotecas do planeta.
Curto uma biblioteca, como aquela que Matthew Battles descreve em A conturbada história das Bibliotecas, onde o leitor vai tocando os livros expostos nas estantes, levanta-os, sente-lhes o peso, aprecia as letras inclinadas, dispostas numa página de rosto, examina marcas deixadas por outros leitores e, quanto mais toca, mais fugidio lhe parece o saber ali contido. Todas as coisas que desconhece parecem estar lhe acenando por detrás das capas, nas entrelinhas. Na biblioteca o leitor é obrigado a despertar daquele sonho de comunhão íntima provocado pela leitura. Ele é forçado a reconhecer a materialidade do mundo na sucessão interminável das lombadas, nos sons das páginas virando sobre as mesas, no atrito das capas que se espremem nas prateleiras, e nesse cheiro rançoso [Aqui, permito-me discordar de Battles; os livros têm um cheiro agradável, às vezes até sensual] que impregna qualquer ambiente em que há livros em grande número.
Na minha biblioteca deleita-me, vez em vez, aconchegar na rede e passear pelas prateleiras e mirar as lombadas. Evoco leituras. Recordo como determinado exemplar se fez meu. Sonho ter um dia tempo para ler exemplares ainda por desvirginar. Degusto olhar meus livros.
Na Biblioteca Digital Mundial a visita é – nos seus momentos iniciais – fisicamente insípida. Talvez, ainda, tenhamos que aprender a não apenas espiar esses novos espaços, mas adentrar dentro deles, reconhecendo suas diferenças e suas similaridades. Não é fácil essa aprendizagem. São ‘novas’ maneiras de estar no mundo. Talvez, valha pensar no quanto, em tempos bem recentes cambiamos as maneiras de fazermos nossos registros escritos. A significativa maioria do que escrevemos jamais passa para um suporte material. Vivi uma sensação muito estranha, quando, certa vez, vi em um espaço público uma página deste blogue impressa e afixada em mural. Parecia estar diante de uma peça de museu. O clássico ‘papel e lápis’ (para não regredir em minha situação pessoal a pedra com estilete, ou na história dos humanos, a papiros, couros, cascas de árvores, peças cerâmicas) ainda faz saudade.
Não vou contar muito a cerca da Biblioteca Digital Mundial. Qualquer leitor que tem acesso a esse blogue, diferente as outras bibliotecas que antes mencionei, pode visitá-la no quase mágico clicar em www.wdl.org Ali estão disponibilizadas, gratuitamente e em formato multilíngue, mais de um milhar de importantes fontes provenientes de países e culturas de todo o mundo.
A Biblioteca Digital Mundial possibilita descobrir, estudar e desfrutar de tesouros culturais de todo o mundo em um único lugar, de diversas formas. Estes tesouros culturais incluem - mas não estão limitados a - manuscritos, mapas, livros raros, partituras, gravações, filmes, gravuras, fotografias e desenhos arquitetônicos.
Ferramentas de navegação e descrições das diferentes peças do acervo são fornecidas em árabe, chinês, inglês, francês, português, russo e espanhol. Muitos outros idiomas estão representados nos livros, manuscritos, mapas e fotografias reais e em outros materiais essenciais, que são fornecidos em seus idiomas originais. A Biblioteca Digital Mundial foi desenvolvida por uma equipe da Biblioteca do Congresso dos EUA, com contribuições de instituições parceiras em muitos países, o apoio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO); e o apoio financeiro de uma série de empresas e fundações privadas.
Os itens da Biblioteca Digital Mundial podem ser facilmente pesquisados por lugar, período, tema, tipo de item e instituição contribuinte, ou podem ser localizados por uma pesquisa aberta, em vários idiomas. Características especiais incluem agrupamentos geográficos interativos, cronologia, sistema avançado de visualização de imagens, além de capacidades interpretativas. Descrições relacionadas aos itens e entrevistas com curadores sobre os itens apresentados fornecem informações adicionais.
Os principais objetivos da Biblioteca Digital Mundial são: Promover a compreensão internacional e intercultural; expandir o volume e a variedade de conteúdo cultural na Internet; fornecer recursos para educadores, acadêmicos e o público em geral; desenvolver capacidades em instituições parceiras, a fim de reduzir a lacuna digital dentro dos e entre os países.
Fácil de navegar: Cada joia da cultura universal aparece acompanhada de uma breve explicação do seu conteúdo e seu significado. Os documentos foram passados por scanners e incorporados no seu idioma original, mas as explicações aparecem em sete línguas, entre elas o português. A biblioteca começa com 1200 documentos, mas foi pensada para receber um número ilimitado de textos, gravados, mapas, fotografias e ilustrações.
Como se chega à biblioteca global? Embora seja apresentado oficialmente na sede da UNESCO, em Paris, a Biblioteca Digital Mundial está disponível na Internet, no endereço: www.wdl.org O acesso é gratuito e os usuários podem ingressar diretamente pela Web, sem necessidade de se registrar.
Permite ao internauta orientar a sua busca por épocas, zonas geográficas, tipo de documento e instituição. O sistema propõe as explicações em sete idiomas (árabe, chinês, inglês, francês, russo, espanhol e português), embora os originais existam na sua língua original.
Desse modo, é possível, por exemplo, estudar em detalhe o Evangelho de São Mateus traduzido em aleutiano pelo missionário russo Ioann Veniamiov, em 1840. Com um simples clique, podem-se passar as páginas um livro, aproximar ou afastar os textos e movê-los em todos os sentidos. A excelente definição das imagens permite uma leitura cômoda e minuciosa.
Entre as joias que contem no momento a BDM está a Declaração de Independência dos
Estados Unidos, assim como as Constituições de numerosos países; um texto japonês do século 16 considerado a primeira impressão da história; o jornal de um estudioso veneziano que acompanhou Fernão de Magalhães na sua viagem ao redor do mundo; o original das "Fábulas" de La Fontaine, o primeiro livro publicado nas Filipinas em espanhol e tagalog, a Bíblia de Gutenberg (um detalhe na ilustração), e umas pinturas rupestres africanas que datam de 8.000 a.C.
Duas regiões do mundo estão particularmente bem representadas: América Latina e Médio Oriente. Isso se deve à ativa participação da Biblioteca Nacional do Brasil, à biblioteca de Alexandria no Egito e à Universidade Rei Abdulá da Arábia Saudita.
A estrutura da BDM foi inspirada no projeto de digitalização da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, que começou em 1991 e atualmente contém 11 milhões de documentos em linha.
Não muito sentido eu contar aqui acerca de algumas preciosidades que vi da Biblioteca Digital Mundial. Aqui um aperitivo.
Esta iluminura, em escrita javanesa, é de uma crônica de uma corte javanesa em Yogyakarta. Localizada em Java Central, Yogyakarta foi uma das duas principais cidades reais pré-coloniais de Java e um centro da cultura javanesa. A história dos líderes locais e das famílias reais foi gravada em crônicas como esta do século 19. O documento é das coleções do Real Instituto Holandês de Estudos do Caribe e do Sudeste Asiático/KITLV, em Leiden.
Convido o leitor ou a leitora para visitá-la. Não precisa ir a Alexandria, Paris, Londres ou Madrid. É só digitar www.wdl.org e maravilhar-se é um bom programa para curtir a dica de leitura sabática. Até amanhã, no curtido dia dos pais.
Caro Chassot,
ResponderExcluirUma preciosidade essa Biblioteca, já inseri seu endereço nos meus favoritos. Quanto ao teu texto, quero assinalar este trecho; "os livros têm um cheiro agradável, às vezes até sensual". Pois é, como eu já disse aqui algumas vezes, sou leitor compulsivo, mas quero contar um caso de quando estudava na UFSC aqui em Floripa nos anos setenta. Um colega de classe, Welington, era um leitor mais apaixonado que eu, ele também dizia que fica enebriado com o cheiro sensual dos livros. Então, um dia aguardávamos a chegada dele para entregar o trabalho que havíamos feito e ele estava encarregado de fazer o fechamento. Passaram as horas e ele não aparecia na sala de aula. Muito tempo depois, quando prazo já havia esgotado e tínhamos perdido a chance entregar o trabalho ele aparece. Contou-nos que havia ido à biblioteca pesquisar e encontrou um livro sobre Euclides da Cunha e se envolveu tanto na leitura que esqueceu o mundo. Bom fim de semana, JAIR.
Meu caro Jair,
ResponderExcluirrealmente é uma preciosidade. Corre-se o risco de acontecer algo semelhante ao Welington: esquecer-nos da vida.
Um sábado em tua apetecível Floripa,
attico chassot
Boa tarde,Professor!
ResponderExcluirEssa é daquelas dicas que me fascinam,e das que terei que passar adiante,afinal,tenho certeza que será bastante útil também aos meus alunos!
Um ótimo e abençoado sábado ao senhor e aos seus!Um mol de abraços a cada um dos pais presentes nesta comemoração hoje em sua casa!Boa tarde,Professor!
Essa é daquelas dicas que me fascinam,e das que terei que passar adiante,afinal,tenho certeza que será bastante útil também aos meus alunos!
Um ótimo e abençoado sábado ao senhor e aos seus!Um mol de abraços a cada um dos pais presentes nesta comemoração hoje em sua casa!
Caro Chassot,
ResponderExcluirjá falei por aqui, noutras ocasiões, que uma das visitas mais saborosas que curto é a livrarias e bibliotecas. Nas livrarias há o gosto de examinar as novidades, perceber as tendências, 'namorar' os lançamentos e fazer alguma compra, com certeza. Nas bibliotecas, o saboroso é encontrar raridades cujo conhecimento continua fundamental posto que clássico.
Um bom final de sábado,
Garin
Muito querida Thaiza,
ResponderExcluirpor razões que entendes (a casa transbordando queridamente de netos), só na madrugada de domingo posso agradecer teu comentário.
Obrigado pelos votos e desejo que repartas a teus alunos e leitores a Biblioteca dDigital Mundial.
Um abençoado domingo com cumprimentos ao pai de teus filhos
attico chassot
Muito prezado colega Garin,
ResponderExcluirassim como nas relações humanas, a visita internética, por mais significativa que seja a Biblioteca, não tem o erotismo da visita a uma biblioteca ‘real’. Lamentavelmente a internet diminui as visitas as ‘bibliotecas de verdade.
Obrigado pelo comentário
attico chassot