Ano 6 | PORTO ALEGRE | Edição 1831 |
Em função de minha viagem estou rigorosamente começando hoje o meu 2011/2 letivo. A tarde ocorre a abertura das aulas da Universidade do Adulto Maior, onde pelo 4º semestre tenho a disciplina ‘Enfoque Histórico e Sócio Antropológico’. Já referi aqui, muitas vezes o quanto me gratifica esta atividade.
Ainda à tarde participo da defesa de doutorado de Patrícia dos Santos Nunes “Em busca do “tesouro”: inserção profissional e inclusão digital nas trajetórias de egressos/integralizados de um curso de Técnico em Informática – PROEJA”, no Programa de Pós-Graduação em Educação da Unisinos, em São Leopoldo. Meu parecer será enviado por escrito, pois não houve conciliação de agendas. Lamento, pois gostaria de estar presente: a Patrícia foi minha orientada de mestrado e estabelecemos laços significativos. Em seus agradecimentos na tese refere-me como ‘meu eterno orientador’.
Mas, esta segunda-feira tem uma marca dramática. Li num jornal de sábado – por casualidade no dia que se recordava 66 anos do bombardeio de Hiroshima; amanhã é a data do bombardeio de Nagasaki, no mesmo ano de 1945 – uma notícia que também vergonhosa. Se duas guerras mundiais são marcas trágicas do século 20, este 21 é – uma vez mais – enlutado pela fome. Eis a tragédia trazida pela Associated Press:
Kaltum Mohamed está sentada ao lado de um montículo de terra. O montinho é o túmulo de seu filho. E há três outros iguais.Três semanas atrás, ela era mãe de cinco crianças pequenas. Mas a fome generalizada que devasta a Somália matou quatro de seus filhos.
Sobrou apenas uma filha. Os outros morreram de fome diante dos olhos de Kaltum e seu
marido, enquanto eles caminhavam até a capital somali, Mogadício, em busca de ajuda.
Milhares de pais na Somália e nos campos de refugiados de países vizinhos estão chorando seus filhos mortos.
Kaltum Mohamed e seu marido tentaram levar seus filhos do sul esturricado do país para Mogadício, em tempo para receber ajuda emergencial das poucas organizações humanitárias que estão operando ali.
Eles iniciaram sua jornada na região de Baixa Shabelle, onde a ONU declarou situação de fome generalizada no dia 20 de julho.
A equipe da AP Television News encontrou Kaltum depois daquele dia aninhando seus filhos gravemente desnutridos em seus braços. A família de Kaltum pertence a uma tribo de nômades pastoris, mas todo o gado da tribo morreu na seca.
Quando seus filhos adoeceram, ela os levou a um hospital de Baixa Shabelle, mas não teve como pagar o tratamento de que precisavam. A maior parte da ajuda humanitária não está chegando ao sul do país. Um grupo aliado à Al Qaeda, o Al Shabab, controla boa parte do sul da Somália e insiste que não há fome generalizada.
A viagem da família Mohamed até Mogadício, a mesma que vem sendo feita por milhares de outros somalis, aconteceu tarde demais. Os filhos de Kaltum morreram no caminho, de desnutrição aguda e problemas relacionados.
"A morte é inevitável", disse Kaltum à AP Television News ontem em um acampamento improvisado de Mogadício, onde estão centenas de outras pessoas deslocadas.
"Mas a surpresa foi como eu de repente perdi quatro de meus filhos em menos de 24 horas, por causa da fome." Kaltum se agachou perto de um dos túmulos dos filhos e alisou com ternura a terra que o cobria. A mãe chorou e depois enxugou as lágrimas. Ela ainda tem uma filha que precisa tentar alimentar.
O mês sagrado muçulmano do Ramadã já começou, e a família está jejuando todos os dias. Sem comida, porém, Kaltum não sabe como eles poderão quebrar o jejum quando o sol se põe. "A comunidade internacional precisa fazer mais para ajudar", disse ela.
Este Planeta Terra que se gaba tão espetacular e tão poderoso: chega enviar naves a outros pontos do sistema solar, todavia, estima-se que 29 mil crianças com menos de cinco anos morreram de fome na Somália nos últimos três meses (média de 10 mil por mês). Haveria, segundo a ONU, 640 mil crianças desnutridas no país. As estatísticas dão a dimensão da tragédia, ao mesmo tempo em que a desumanizam. Seriam 10 milhões de pessoas passando fome, literalmente e em graus variados, em função da pior seca em décadas na região onde estão Etiópia, Quênia, Djibuti e Somália, o mais atingido.
Que a segunda-feira seja boa, mas vale lembrar que a Somália é na nossa Terra. E mais, não é uma abstração.
Caro Chassot,
ResponderExcluirmuito me emociona o relato que trazes sobre a fome somali. É algo que nos entristece ver um semelhante nosso não ter acesso a uma alimentação digna. Sem alimentação não há vida nem esperanças.
São essas tragédias cotidianas que realmente nos fazem pensar se muito avançamos ou se ainda vivemos numa idade das trevas, em que a morte de crianças é apenas uma lembrança ocasional de nossos telejornais.
Meu caro Paulo Marcelo,
ResponderExcluirnossa dor não é diferente fosse em Recife ou Porto Alegre.
Parece haver um embrutecimento dos humanos,
Obrigado por seres solidário
attico chassot
Avançamos em tecnologia, retrocedemos nossa humanidade?
ResponderExcluirExatamente,
ResponderExcluirmeu caro Paulo Marcelo,
o que adiante termos robôs auscultando Marte e aqui acontece isso. Lamentavelmente a intolerância religiosa de grupos somalis impede a chegada de recursos e outros grupos assaltam ajudas humanitárias.
A estima e admiração do
attico chassot
Attico,
ResponderExcluirainda temos muito que avançar em relações humanas...
Em minha estadia em Istambul, fiquei perplexo ante a proibição de ajudar uma senhora que havia caído na estação do Metrobus... O curioso é que ela mesmo recusou-se a receber ajuda de um casal de turistas.
Abraços.
Caro Chassot,
ResponderExcluirO Homo sapiens, que se acha o ser mais perfeito da natureza, o topo da evolução, é o vírus do Planeta, um dia ele ainda vai causar sua própria extinção. Adquire Status de "rico" pela aquisição de bens materiais e fica olhando para o próprio umbigo enquanto seus iguais morrem de fome. É essa criatura que foi criada à imagem e semelhança do Criador? Já escrevi e repito: "Se todos os demais seres desaparecerem do Planeta o homem não sobreviverá, se o homem desaparecer, os outros nem notarão". Aliás, se homem desaparecer o mundo fica bem melhor, não tenhamos dúvida. Abraços e boa semana, JAIR.
Caro Chassot,
ResponderExcluiressa é uma história que se repete e cada vez que é revolvida causa a mesma estranheza. O pior é constatar que não há falta de alimentos no planeta, muito pelo contrário, a cada supersafra nos países desenvolvidos e em desenvolvimento tomamos conhecimento dos contingentes que são incinerados para regular os preços no mercado internacional.
Esse ser, somos nós! Onde está o motivo do orgulho? Onde está o resultado do conhecimento?
Um abraço,
Garin
Meu caro Jair,
ResponderExcluirplenamente de acordo. Somos predadores matamos e deixamos morrer.
Isso é doloroso,
Obrigado pelas posições trazidas,
attico chassot
Meu caro Paulo Marcelo,
ResponderExcluirEste tua experiência de Istambul é dramática.
Com estima
attico chassot
Meu caro Garin,
ResponderExcluirenquanto humanos temos que nos envergonhar.
Não temos razões para badalados orgulhos, enquanto matamos e deixamos morrer.
Que umidade não nos enregele,
attico chassot
Caro Mestre Chassot
ResponderExcluirQuanto deve ser doloroso para uma mae mirar seus filhos falecendo pela fome, sem nada a fazer. E como dizes, uma sociedade que se gaba do avanço tecnologico e que trata essas coisas como puro acaso do destino. Quem sabe um dia vivamos num planeta onde as riquezas sejam melhor distribuidas. Nestes momentos lembro-me do tom que foi marcante no discurso de nossa presidenta, quando empossada. Abraço JB
Meu caro Jairo,
ResponderExcluirsem combinarmos, nossos blogues trazem o mesmo assunto. A fome no chifre da África. Devíamos colocar nos mesmos um tarja preta. Não de luto pelas crianças que morrem, mas de vergonha que o mundo rico, mesmo ante esta fome, continua a esbanjar alimentos.
Com admiração e obrigado pela companhia,
attico chassot
MEU CARO PROFESSOR DE QUIMICA PAULO, É REALMENTE DOLOROSO VER TANTA GENTE PASSANDO FOME,SEDE E NÃO PODER FAZER NADA.ISRAEL
ResponderExcluirQuerido Chassot,
ResponderExcluirSempre me pergunto por que este povo é esquecido. Por que ainda não tem uma solução para tal problema....
Abraços,
Joélia querida,
ResponderExcluirRealmente algo incrível isto neste século 21.
Um afago marcado por saudades
attico chassot