Ano 6 | PORTO ALEGRE | Edição 1848 |
Há assuntos que são recorrentes aqui. Assim, já mais de uma vez comentei os preconceitos históricos contra os ateus. Por outro lado já insisti o quanto ateísmo fanático militante (modelo Richard Dawkins) é pelo menos igual a fundamentalismos religiosos. A ilustração de palavras cruzada é de uma edição recente do Correio do Povo de Porto Alegre, foi oferecida pela Tania, que no semestre passado foi minha aluna na disciplina Conhecimento, Linguagem e Ação Comunicativa, enquanto aluna do curso de Música. Assim ateu é solução de quatro letras para Ímpio (=sacrílego)
Assim, vez ou outra é preciso uma edição buscando desencadear discussões, catalisando esclarecimentos, até por que ‘não existe o dono da verdade’. Isto ocorre hoje com um texto muito questionador e questionável. Renato José de Oliveira – que já contou aqui suas experiências acerca da busca do túmulo de Descartes publicou no seu blogue – educacao2010.criarumblog.com – "Elucubrações Agnósticas" Autorizado por ele ofereço a meus leitores buscando ouvir opiniões.
O Renato, licenciado em Química buscou outras searas. Doutor em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1996). É professor Associado de Filosofia da Educação no Departamento de Fundamentos da Educação da Faculdade de Educação – UFRJ.
Desejo boas leituras, Antecipo que valerá apenas contestar alguma afirmação do texto que pode mudar dimensões na olhada para o ateu. Mas farei isso nos comentários que sonho venham ser suscitados.
Pensar sobre a vida é também refletir sobre o que existe além dela. As religiões, cujo número eu não saberia precisar (tal a quantidade de crenças que nós, homens, temos a criatividade de produzir), apresentam-nos cenários distintos e, frequentemente, conflitantes entre si. O ateísmo, por sua vez, nega todos esses cenários, constituindo outro: o da inexistência de qualquer tipo de continuidade ou de permanência após a morte corporal.
Quem tem razão? De um ponto de vista agnóstico (ou seja, o do não conhecimento) é impossível responder. Isso, porém, não nos impede de elucubrar. Assim sendo, aqui faço minhas precárias elucubrações sobre tema tão complexo e fascinante.
Talvez existam múltiplas possibilidades de continuação após a morte. Talvez Deus (ou o princípio criador) seja muito diferente do que todas as religiões imaginam. Talvez não seja o justiceiro severo que anota tudo em seu “caderno”, mas apenas o observador arguto de tudo o que acontece no universo. Nessa perspectiva, emitiria “sons” que os seres viventes capazes de pensar - não só os da Terra, porque isso seria exclusivismo - captariam de formas diversas e converteriam em imagens, as “religiões” ou “crenças”. Valho-me, aqui, de uma analogia, mas as analogias são, também, parte inalienável da retórica religiosa.
Assim como a “conversão” de uma “impressão sonora” em “impressão visual” inevitavelmente produz "interpretações" variadas, os seres pensantes percebem algo para além da sua existência corpórea (os "sons"), mas expressam esse algo sob a forma de "imagens" (religiões) que certamente não traduzem o que foi "emitido". Dito em outras palavras, todas as religiões são boas e ruins, conexas e desconexas, verdadeiras e falsas. Tal ambiguidade talvez angustie, mas a resposta final, pela qual todos ansiamos, provavelmente é muito diferente de todas as interpretações até hoje feitas pelas diferentes religiões e também pela sua sumária negação (ateísmo).
A resposta agnóstica não é uma resposta: é antes um convite a novas perguntas. Para os que apreciam esse tipo de posicionamento, as veredas da discussão são fartas! Para os que não apreciam, bom conforto em qualquer uma das múltiplas crenças ou, também, na não crença.
Por isso sou Ateu" Graças a Deus!!! (kkkkk)...
ResponderExcluirSegue a dica de reportagem: Bispo justifica pedofilia: 'tem criança que provoca' - "Se ficares distraído, provocam-te". Refere-se assim a meninos de 13 anos. O bispo Bernardo Álvarez encerra nesta justificativa a origem de um crime: os abusos sexuais contra menores.
http://pragmatismopolitico.blogspot.com/2011/08/bispo-justifica-pedofilia-tem-criancas.html
Caro Chassot,
ResponderExcluirparece uma pegadinha, mas há alguns elementos que precisam ser colocados. Quando debatemos teísmo e ateísmo precisamos nos reportar a que tipo de teísmo estamos nos referindo. Percebo que boa parte dos argumentos estão alicerçados sobre uma interpretação um tanto equivocada do teísmo. Ainda se recorre a imagem de um Deus castigador presente em antigos catecismos. Uma passagem pelas Ciências da Religião pode nos auxiliar na compreensão do fenômeno religioso para elucidar as noções antropológicas de crença e descrença. Não há como o ser humano ser descrente. Um descrente não sobrevive na sociedade contemporânea. Acho que deveríamos centrar nossa discussão sobre a natureza do objeto da crença como um construto cultural universal.
Uma boa quinta-feira!
Garin
http://norberto-garin.blogspot.com
Caro Chassot,
ResponderExcluirPela definição de AGNÓSTICO eu seria um, contudo, como não gosto de rótulos, prefiro não me definir. Apenas digo, DEUS e as religiões são criações humanas para responder aquelas questões difíceis senão irrespondíveis sobre donde viemos e para onde vamos. Então, DEUS existe porque: "O homem criou Deus a sua imagem e semelhança". Abraços, JAIR.
Prezado Chassot,
ResponderExcluirNa minha humilde e prática opinião, ou a pessoa SENTE Deus ou não SENTE. Deus é abstrato, relativo e depende da personalidade do INDIVÍDUO. ELE me pede para RESPEITAR quem não consegue sentí-lo e me diz que jamais foi feito para ser RACIONALIZADO. Se um ATEU tiver o costume de utilizar o BOM SENSO e for HONESTO consigo mesmo e com a sociedade, com certeza ele é muito mais digno do meu respeito do que muitos cristãos (e etc) que existem por aí.
Abraços!!!
Caro amigo Chassot. Obrigado por ter postado o meu texto. Concordo com vc quando diz que atéismo militante é igual a fundamentalismo religioso, por isso não me filio à ATEA. E quanto à polêmica teísmo x ateísmo, vamos pôr uma pouco mais de lenha...
ResponderExcluir"Se Deus não existisse, precisaria ser inventado" (Voltaire)
"Se Deus existisse, precisaria ser abolido" (Bakunin)
Abs
Renato
Mestre, longe de mim querer apreesentar ou sugerir soluções para questões como esta, que sempre provocam confrontos.
ResponderExcluirMas eu tenho um palpite, baseado nas dimensões que conhecemos desta parte do universo visível e perceptível e na própria lógica das coisas terrenas: acho bem mais difícil acreditar que tanta coisa que existe foi fruto do acaso do que admitir a forte possibilidade de ter havido uma inteligência criadora.
Agora, acreditar que uma inteligência deste porte fique se preocupando com questões morais e interferindo nas ridículas polêmicas dos minúsculos seres que habitam este minúsculo grãozinho de areia, é demais para mim!
E ainda mais inútil me parece discutir sobre a natureza deste possível criador.
Para mim, isto vem da presunção do ser humano, que se julga a coisa mais importante nesta imensidão onde ele pouco ou nada representa!
Eu já citei em diversas ocasiões que eu comparo os humanos à uma colonia de bactérias numa lâmina de laboratório, querendo debater sobre a natureza do cientista que as examina no microscópio!
Pelo menos eu me vejo pequeno assim!
Me perdoem os que se julgam grandes.
Abraços, Mestre!
Bom dia Mestre!
ResponderExcluirhumm... eu me sinto, e sinto o que me rodeia assim tmb, parte de "deus" ou da "deusa", então acredito nele/nela, sim. E como acredito.
Muito querida Janice,
ResponderExcluiracredito que mandamento ‘não tomar o santo nome em vão’ se destina a estes que a toda hora dizem ‘graças a Deus’ sem pensar.
Olhei o material do bispo de Tenerife. Inacreditável.
Saudades,
attico chassot
Meu caro Garin,
ResponderExcluiracompanho a tua tese: somos todos crentes mesmo aqueles que tem a crença de as religiões e seus mitos são construções humanas. Vou comentar algo na resposta ao Renato, que te respondeu acerca de teísmo e ateísmo.
Por outro lado, a frase “Sorria, você está sendo filmado” não é diferente daquela que havia na época em colégios católicos: “Deus me vê”. Podes imaginar quanta masturbação foi sustada por uma frase como esta em um banheiro.
Comporta-te se não te castigo. Este é o Deus que nos foi passado. A este propósito te pergunto: quem sãos os privilegiados que conhecem Ciências da Religião.
Com admiração
attico chassot
Meu Caro Jhon,
ResponderExcluiristo que apropriadamente chamas de experiência de Deus é o que os teólogos chamam de receber a ‘revelação’.
Penso que para tal privilégio se pode prescindir das igrejas.
Vais mais adiante: não exorcizas àqueles que não recebem ‘a graça’ e os aceita.
Penso que este é melhor caminho,
attico chassot
Meu caro Renato,
ResponderExcluirvou deixar a lenha que oferece para quem tenha mais expertise. Teu texto está sendo um sucesso de comentários. Diriam alguns que está bombando.
Minha questão com ele é outra. Ele me faz um crente. Tu me reconvertes!
Admito ser verdade tua tese: “O ateísmo, por sua vez, nega todos esses cenários, constituindo outro: o da inexistência de qualquer tipo de continuidade ou de permanência após a morte corporal.” Concluo, não sou ateu!
Ontem escrevia, a outro propósito. “Quando piá, cheguei uma vez com propaganda eleitoral que recolhera de algumas casas. Mesmo sendo candidato de quem meu pai era contrário, ele me fez ir de casa em casa devolver.”
¿O que é permanência após a morte?” Meu pai, que morreu há mais de 24 anos permanece em mim. ¿Os crentes não falam em ‘alma imortal’? Pergunto: ¿o que é alma?. Nunca pensei se meu pai está no céu, no purgatório ou no inferno. Ele existe para mim, para meus filhos e netos, (passa existir para ti) porque conto sua História, logo ele tem permanência depois da morte, assim não sou ateu, pelo menos racionalmente crente, segundo teu texto.
Obrigado por tua colaboração neste blogue
attico chassot
Meu caro Jair,
ResponderExcluirpor uma coincidência hoje é aniversário de morte de David Hume, que disse como tu: as religiões (e logo os deuses ou Deus) são criações humanas.
Nada a acrescentar.
attico chassot
Meu caro Leonel,
ResponderExcluirnão apenas achei preciosa a tua metáfora, mas muito bem posta. Imagina uma bactéria se comportando bem, para agradar o cientista ou outra merecendo sua ira, porque é desobediente.
Talvez, nada se precisasse acrescentar.
Uma nota: amanhã, queiram os deuses que cuidam dos (des)acordos, aqui teu texto.
Com admiração
attico chassot
Muito querido Marília,
ResponderExcluirque bom que vives os mistérios, ou melhor as experiências de crer.
Que as deusas e os deuses te guardem
attico chassot
Boa noite Mestre Chassot
ResponderExcluirCreio que acreditar que não há um Deus - Seja este da natureza qual for, pertença a que religião for, ou se este Deus for tão somente tudo e que está em tudo, que está na Ciência quando não se consegue achar motivo de tal resultado, pois o resultado está em si mesmo - pode ser mais fácil do que acreditar que há algo além do que se pode perceber, quando esse acreditar se faz ainda que se conheça as inúmeras explicações científicas para quase tudo que se conhece.
Mas cabe a nós tentar destrinchar a natureza para tentar entendê-la, mas infelizmente a desconectamos dela mesma, pois ela vem sendo vista como um objeto, a desconectamos de Deus.
Talvez, por isso, de cada vez mais haver desrespeito para com tudo, pois se acredita que tudo isso do qual fazemos parte seja um mero "objeto".
Mas esse é só um pensamento, uma opinião, de fato esse assunto é bem complicado.
Carla Cristina
Muito querida Carla Cristina,
ResponderExcluirparece que ser ateu, em comparação a ser religioso. Tem pelo menos duas dificuldades: o ateísmo é algo solitário e o religioso tem a solidariedade de seus confrades; a segunda, ser ateu exige uma conversão, pois usualmente do ‘abandona’ uma religião na qual nasceste.
Mas dizes bem: o tema é complexo.
Obrigado por participares de um assunto mais difícil que a astroquímica que tu ensinas
attico chassot
RENATO escreveu
ResponderExcluirCaríssimo.
Vejo que o texto bombou mesmo, o que me deixa feliz. É importante motivar discussões. E mais feliz ainda fico ao saber que o texto lhe proporcionou essa reflexão interior. A questão da permanência após a morte é algo fascinante e complexo. Sim, seu pai está vivo para vc e agora vive para mim, pois posso perceber a grandeza do sentimento que nutre por ele. Talvez me atreva a reformular a máxima do meu xará (Penso, logo existo), para: o que pode ser sentido, existe. Não se trata de uma existência absoluta, mas de uma existência relativa aos entes que sentem.
gde abraço
Renato
Renato meu caro,
ResponderExcluirrealmente o texto trouxe reflexões. Alguns comentários significativos. Hoje já teve 96 comentários (87 no Brasil e 9 no exterior (Portugal, Polônia, Nigéria, Espanha e Estados Unidos). Esta é hora mais fértil deverá passar de 100 no Brasil.
Parece que a máxima cartesiana possa ser repensada. Isso de morte é algo complexo.
Obrigada pela ajuda na edição de hoje.
attico chassot