Ano 6 | PORTO ALEGRE | Edição 1832 |
Primeiro, uma auspiciosa notícia da chuvosa segunda-feira: com quatro dias + oito horas de atraso, a mala chegou. Parece ter sido decisivo, termos postado no Facebook da British Airwais, um protesto. Antes mais de uma dezena de correios eletrônicos, telefonemas etc. não surtiram resultados. Feita a publicação, imediatamente veio uma mensagem que a mala fora localizada. É verdade que se seguiram ainda vários percalços.
Mais uma terça-feira de estreias. A de ontem na Universidade do Adulto Maior foi saborosa. Esta noite tenho o primeiro encontro com dois grupos de quatro licenciaturas para a disciplina de Conhecimento, Linguagem e Ação Comunicativa. Das 19h10min às 20h50min um grupo de alunos de Música e Pedagogia e das 21h10min às 22h50min com os cursos de Biologia e Educação Física. Vivo expectativas.
Álvaro Pereira Júnior publicou no último sábado, na contracapa da Ilustrada da Folha de S. Paulo “O YouTube matou o passado” onde mostra que são evidentes os pontos positivos de tanta informação. Mas, na sua avaliação, talvez haja um lado perverso pois parece deixa de existir o passado.
Se as premissas estão muito bem postas, parece que há certo exagero no que é colocado como ‘destruição do passado. Ofereço, com votos de uma muito boa terça-feira, o texto deixando ao leitor seu posicionamento acerca de minha assertiva.
Porque Russo está vivo na internet, mais precisamente nos 27,8 mil vídeos que são obtidos ao se digitar "Renato Russo" ou "Legião Urbana" no campo de buscas do YouTube.
Estão lá as coreografias espasmódicas, como as de Ian Curtis (do Joy Division). O visual florido igual ao de Morrissey (dos Smiths). O mico no especial de Natal do Chacrinha, com a banda toda de chapeuzinho de Papai Noel. As letras sem fim, simplórias, mas sinceras. Renato Russo, vivo em voz e rosto. E essa perenidade on-line não é exclusividade dele. É geral.
O YouTube matou o passado. Além de exterminar mistérios e mitos.
Os Beatles fizeram um show em cima de um prédio, em 1969. Loucura! Soava como lenda para a meninada do meu tempo. Esse tipo de sentimento acabou. As lendas juvenis se tornaram realidade palpável. Basta procurar na web por "Beatles rooftop concert". Show na íntegra, em alta definição.
Os Sex Pistols falando palavrões na TV inglesa, em 1976, num dos momentos mais marcantes da história do rock? A cena está na web. David Byrne em 1983, tenso, mordendo os lábios, incapaz de se comunicar com o apresentador David Letterman? Está on-line também. No século passado, um amigo dizia: "Das minhas dez bandas favoritas, nove eu nunca escutei". Explicando: só conhecíamos aqueles grupos no papel, em revistas e em jornais importados.
Fotos espetaculares, nomes impossivelmente sonoros: Alien Sex Fiend, Sex Gang Children, June Brides, Inca Babies. Que som faziam? Não tínhamos ideia, exceto uma vaga noção de que deveria ser "dark" (o que atualmente é chamado de gótico). Hoje, essa paixão misteriosa seria impensável. Haveria dezenas de clipes na rede. E os exemplos não ficam só na música. Na ciência, poucos encontros foram mais importantes do que a conferência Solvay, de 1927. Meses antes, rejeitando a física probabilística, Albert Einstein sentenciara: "Deus não joga dados".
Junto a ele, no congresso, debatiam intensamente Niels Bohr, Werner Heisenberg, Paul Dirac, Erwin Schrödinger, Wolfgang Pauli, Max Born e outros físicos estelares.
Um encontro monumental. Difícil acreditar que tivesse mesmo acontecido. Mas veja e creia: no YouTube, é "Solvay Physics Conference 1927". O vídeo foi visto quase 115 mil vezes. Antes disso, deve ter mofado por anos, esquecido em algum arquivo de universidade. Era passado. Virou presente.
Na política, acontece algo semelhante. Em 1960, Richard Nixon foi massacrado por John Kennedy em um debate presidencial. O velho escroque republicano, inseguro, suarento e mal vestido, viu desaparecerem suas últimas chances de vitória diante do democrata bonitão e bem ensaiado.
Cresci lendo sobre esse debate, que Paulo Francis citava com frequência aqui mesmo na Folha. Passei anos imaginando como teria sido. Hoje, não seria necessário. O programa está na íntegra no YouTube ("Kennedy-Nixon debate").
São evidentes os pontos positivos de tanta informação disponível. O rigor da comprovação factual. A fartura de fontes primárias. A falta de necessidade de intermediários ou epígonos: os originais estão todos à mão. Mas talvez haja um lado perverso desse "continuum". Onde não há passado, não há ruptura. Se tudo está vivo, nada pode ser superado.
Um exemplo cristalino vem, de novo, da música. Na segunda metade dos anos 70, o punk inglês queria (e conseguiu) enterrar os dinossauros do rock grandioso e autoindulgente. Foi uma revolução, uma quebra de paradigma. A instalação de uma nova ordem (infelizmente, apenas musical).
Hoje, no entanto, é difícil pensar em um fenômeno do tipo. Nada vai embora de verdade. O leitor de estômago mais forte pode procurar no YouTube por "Emerson Lake Palmer Gnome" e rapidamente verá o trio progressivo assassinar a suíte para piano "Quadros de uma Exposição", do compositor clássico Modest Mussorgsky.
No YouTube, Emerson, Lake and Palmer estão tão vivos quanto os Sex Pistols. O que talvez explique a situação da música atual, onde tudo é válido, manso, todos se amam e não se enxerga conflito geracional. Tema para uma próxima coluna.
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ResponderExcluirCaro Attico,
ResponderExcluirConsidero importantíssima a atuação do YouTube no snetido de vivificar o passado.
É fantástico saber que as novas e as futuras gerações terão acesso a informações que antes sobreviviam apenas na memória de quem as vivenciou, correndo sempre o risco do esquecimento. Vivemos o nascimento de uma memória digital coletiva, que poderá salvaguardar muito das culturas, evitando que tradições continuem a se perder com o passar das gerações.
Pensemos em como os futuros historiadores da ciência farão pesquisa, diante de um acervo tão rico.
Abraços,
Muito estimado Paulo Marcelo,
ResponderExcluirconcordo contigo e mais há ‘passados’ e ‘passados’. Em alguns deles o You Tube não bole. Nos outros faz facilitação para pesquisas, como bem colocas.
Uma boa terça-feira com agradecimentos por tua crítica presença aqui,
attico chassot
Caro Chassot,
ResponderExcluirNo livro "O Mundo é plano" de Thomas Friedman (2005) o autor já explicava que a internet havia superado as formas antigas de comunicação - sem extingui-las, é claro - e estabelecido novos paradigmas. O YouTube é a ponta de lança dessa nova visão que provavelmente vai imperar neste milênio. Se matou o passado é uma questão de definição: O que é passado? Acho que o passado para música, por exemplo, só existe porque aqueles que morreram não podem mais produzir algo novo, mas na medida que os ouvimos ou vemos suas imagens esses estão vivos e são tão presentes com o você e eu. Afinal, Elvis não morreu, não é mesmo? Abraços, JAIR.
Caro Chassot,
ResponderExcluirnão. O YouTube não matou o passado. Pelo contrário, revive-o em algumas frestas por onde se espia elementos do passado. Trata-se de produções que nos avivam a memória, mas o passado não pode ser reduzido ao que ali é apresentado. Concordo com o Jair quando se posiciona pelo conceito que temos de passado. É uma ferramenta a mais para o historiador, mas as leituras que podem ser feitas, considerando os contextos, são inúmeras.
Um abraço,
Garin
Muito estimado Jair,
ResponderExcluira leitura do livro "O Mundo é plano" de Thomas Friedman (2005), quando de seu lançamento, foi das leituras mais significativas que fiz. Assim concordo com tua tese acerca de questionar-se o que é passado, Realmente o You Tube é apenas uma ferramenta para melhor conhecermos o passado, mas ele não se faz presente,
Obrigado por teu comentário precioso na discussão proposta,
attico chassot
Estimado Garin,
ResponderExcluirobrigado por te aliares a discussão. Gostei de tua metáfora das frestas. O conceito de passado é amplo. Dizia que há passado e passados. O You Tube não tem nada de um passado mais distante que 100 anos quando começa o cinema, como não tem nada do menino das barrancas do Jacuí lutando para o lampião não apagar. As premissas de Álvaro Pereira Júnior estão muito bem posta, mas a tese é no mínimo discutível.
Obrigado por tuas trazidas aqui
attico chassot
Ave Chassot,
ResponderExcluirendosso a blogada. Me delicio com o Youtube. O vídeo "Solvay Physics Conference 1927" é uma jóia.
Através do You Tube também os amantes de ópera podem ver 10 cantoras cantando uma mesma ária, muito comum entre esta estirpe de loucos, na qual me insiro... Ou mesmo ver raridades de vozes inesquecíveis e únicas como a de Joan Sutherland, mais conhecida como La Stupenda, cantando árias e grupos de óperas raras, que não foram editadas em DVD, ou gravações "piratas" (feitas ao vivo por espectadores) e que, sem o You Tube, ficariam eternamente no oblívio. Realmente é uma grande ferramenta deste admirável mundo atual.
Grande abraço,
Guy
Salve Guy,
ResponderExcluirpenso que para alguns, como tu que és um amante de operas, o You Tube é fonte inesgotável. Imagino-te curtindo a mesma ária cantada por diferentes Divas.
Obrigado por prestigiares este blogue que te faz um convite: um texto de umas 50 linhas, contando tu experiência em Mauritius. Te afianço uma centena de leitores no dia da publicação.
Vibro com tua aceitação,
attico chassot
Ave Chassot,
ResponderExcluirque honra! Aceito com júbilo e gáudio.
Enviar-to-ei amanhã até a meia noite, pode ser?
Vou escrever assim que voltar do São Mateus, às 19h. Posso mandar fotos também.
Grande abraço,
Guy.
Meu caro Guy,
ResponderExcluiraguardo com expectativa, Claro que pode ter fotos.
A urgência foste tu que definiste.
Com expectativa
attico chassot
Olá Mestre!
ResponderExcluirbom, os conteúdos resgatados pelo YT e outros meios da web, só são acessados por quem tem um conhecimento dos fatos. Para mim, muitos do que foi citado pelo autor, nunca "viveu"...
Querida Marília,
ResponderExcluirPerfeito, o You Tube só ‘funciona’ para quem tem o ‘background’.
Excelente a tua ponderação,
Obrigado por apareceres aqui, Sempre crítica,
attico chassot
Caro Mestre, não concordo com o Sr. Álvaro, pois não consigo ver como coisa negativa a preservação e divulgação do passado.
ResponderExcluirPara mim, é motivo de alegria e nostalgia quando vejo vídeos de fatos tão marcantes na música, na ciência e na história.
Uns tempos atrás, vi num canal de TV a cabo um vídeo autêntico que mostrava o Endurance, navio do explorador do pólo sul Ernest Shackleton, sendo esmagado e tragado pelo gelo!
Eu nem imaginava que eles tinham filmado! Deve estar lá no YouTube, onde também tem muita bobagem e lixo!
Mas, acho que justifica sua existência pelas coisas boas que tem!
Saudações, professor!
Cheguei aqui através de blog de meu amigo Jair, (UM BLOG QUE PENSA).
Nosso cantinho é:
http://asteroide-leonel.blogspot.com/
Muito caro Leonel,
ResponderExcluirprimeiro obrigado por direcionar-me ao “Asteroide”. Valeu muito, pois ali também é um cantinho onde se pensa, a modo do blogue do Jair. Concordo com o teu posicionamento acerca do texto pautado.
Realmente o YouTube adensa o passado, mas jamais o matará.
Minha blogada desta sexta-feira é um exemplo.
Obrigado por teu comentário,
attico chassot