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terça-feira, 16 de agosto de 2011

16.- Cavalo humano

Ano 6

PORTO ALEGRE

Edição 1839

A blogada desta terça-feira é a crônica de Paulo Santana publicada no último domingo em Zero Hora. Mais que o cronista, que não precisa espaço aqui, pois ele considera-se o maior e melhor cronista do Brasil – se auto classificando como ‘o Megalomaníaco’ – a histórica verídica trazida emociona.

Cavalo humano: A Rádio Gaúcha, no programa Gaúcha Hoje, divulgou na última quinta-feira a notícia mais espetacular e fantástica do jornalismo brasileiro nos últimos 50 anos.

Avaliem se estou exagerando. Em Várzea Grande, região metropolitana de Cuiabá, Mato Grosso, um cavalo percorre desde abril passado, todos os dias, sete quadras da cidade e se dirige ao túmulo de seu ex-proprietário, que está sepultado há quatro meses no cemitério local.

O cavalo atravessa a cidade e vai visitar a sepultura do ex-dono. Todos os dias.

No primeiro mês após o falecimento de seu ex-proprietário, depõem os parentes do morto, o cavalo passava relinchando: “Parecia que ele estava chorando de saudade ou porque sabia que alguma coisa ruim tinha acontecido”.

“É só deixar o cavalo solto e ele já sabe para onde ir, caminha até o cemitério. E, entre tantas sepulturas, ele escolhe exatamente a de seu dono. Fica parado ali na lápide, balança com a cabeça para cima e para baixo e rende assim sua homenagem ao homem que o domou e cavalgava com ele todos os dias”, acrescenta a mãe do filho morto.

O cavalo Raposa acompanhou o cortejo do seu ex-dono até o cemitério, em meio a uma cavalgada em homenagem ao seu enterro, em abril passado.

Impressionante relação de afetividade existe entre animais e homens. Há inúmeros casos de pessoas que caem mortas e seus cães não se arredam de junto aos cadáveres.

Mas este caso é o mais curioso e ricamente amoroso que se conhece, porque a homenagem póstuma que o cavalo presta a seu dono acontece há meses e parece que, se não for impedido, o cavalo irá visitar o túmulo de seu domador até o dia de sua própria morte.

Não vou ousar dizer que o texto até não é dos melhores. Confesso que não o havia lido no domingo. Ante a autobadalação do autor, no rádio, enquanto esteirava na manhã de ontem, busquei-o. A história comoveu-me. Por isso a inseri aqui.

Por uma coincidência, quando editava esta blogada, marcada pelas perdas que enlutam, recebia a notícia da morte da Dona Karen Bolten, mãe de meu cunhado Aldo Bolten Lucion e sogra da Neusa, irmã da Gelsa. Esta tarde estaremos dizendo mais um ‘adeus’.

Lembrei-me a este propósito de um texto de Dráuzio Varella: Depois da perda da saúde, a face mais dura do envelhecimento é conviver com o desaparecimento dos personagens que construíram nossa história. Não importa quantos amigos íntimos tenhamos, cada um deles é insubstituível, os que ficam não preenchem o vazio deixado pelo que se ausentou.

Alguém já comparou essa situação à de uma floresta em que cada árvore que desaba abre uma clareira. Você poderá dizer que nela nascerão outras. É verdade, mas levarão tempo para crescer; até se tornarem frondosas e acolhedoras, talvez não estejamos mais aqui. A dona Karen era uma destas árvores frondosas que tombou com brio.

8 comentários:

  1. Caro Attico,

    que vocês possam celebrar a vida de dona Karen, relembrando tantas lembranças que certamente ela deixou a cada um, em especial.

    A história do cavalo lembrou-me a de Raimundo Jacó, vaqueiro assassinado no sertão pernambucano, que inspirou a música "Morte do vaqueiro", de Luiz Gonzaga. O cachorro foi fundamental para que encontrassem o corpo do vaqueiro, permanecendo sobre a cova rasa de seu dono ("Só lembrado do cachorro que ainda chora a sua dor"). Certas amizades vão além de espécie.

    Abraços,

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  2. Muito querido Paulo Marcelo,
    primeiro obrigado pela referência carinhosa à Dona Karen. Ela evocava-me ‘o jeito’ de minha mãe. Agora, ela é historia.
    Não conhecia a inspiração de ‘A morte do vaqueiro’. Realmente os animais dão lições.
    Com alegria por tua presença atenciosa e culta aqui
    attico chassot

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  3. Caro Chassot,
    A respeito da crônica do "maior cronista do mundo", este não é o único nem o mais inusitado caso desse desse tipo. O cão Hachiko da raça Akita, esperou o dono numa estação de trem no Japão por dez anos depois que este havia falecido. Foi produzido até um bom filme estrelado por Richard Gere baseado nessa história de fidelidade.
    Meus pêsames pelo passamento de Dona Karen Bolten, JAIR.

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  4. Muito estimado Jair,
    fui vizinho de um dos pioneiros da ortodontia gaúcha: o querido Prof. Dr. José Pereira Britto. Quando ele faleceu, no entorno de 1978, seu cão Columbus, enlutou-se a dar dó, num exemplo de fidelidade canina como o que narras do cão Hachiko. Isso é quase inexplicável.
    ¿Pode-se falar em ‘animais irracionais?
    Obrigado pela manifestação de sentimentos pela morte de Dona Karen;
    Com admiração
    attico chassot

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  5. Caro Chassot,
    junto com os queridos que partem vão as nossas referências e isso nos dói muito. Um amigo meu de Passo Fundo, dos seus 93 anos, sempre me dizia: "Pastor, estou esperando que Deus me chame: já cumpri tudo o que tinha para fazer!"
    Bom é quando podemos constatar que nossa missão está lista.
    Meus sentimentos a todos(as) que sentiram a partida da Dna. Karen.

    Um abraço,

    Garin

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  6. Muito prezado Garin,
    chego neste momento do cemitério. Foi literalmente um ‘enterro’. Algo que hoje, com as cremações, parece algo de antanho. Não são triviais estas partidas, até porque não sabemos, ainda ser como teu amigo de Passo Fundo e nos reconhecermos prontos para ir.
    Com agradecimento pela solidariedade,

    attico chassot

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  7. Nessas horas me pergunto quem é mesmo irracional???

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  8. Muito querida Janice,
    excelente pergunta,
    com estima

    attico chassot

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