Porto Alegre * Ano 5 # 1484
Peço que seja relevado, mas desde a última edição, alguns parágrafos quando postados se convertem em caixa alta. Peço ajuda para uma possível solução.
Peço que seja relevado, mas desde a última edição, alguns parágrafos quando postados se convertem em caixa alta. Peço ajuda para uma possível solução.
Ontem, de maneira muito continuada aqui sonhávamos ver a chuva que ameaçava cair e nesta queda, por arraste, levar a densa ‘fumaça’ que há alguns dias tolda-nos a visão do horizonte. Mas a chuva ficou apenas em tímidos respingos. E as queimadas continuam.
Estou postando esta blogada antes de ir a Academia Treinar esta manhã. Mesmo que faça isso, usualmente três vezes por semana, hoje cabe o registro aqui. Completo nesta data 5 anos de AT. Ratifico o costume de sermos dados a celebrar certos marcos. Festejo hoje meu primeiro lustro. Talvez um dia faça dele um quartel.
Hoje, desejo brindar leitores com a última crônica semanal de Moacyr Scliar publicada sábado no caderno Vida. Mas antes me permitam dizer algo do autor do texto dolorosamente ilustrativo.
Moacyr Scliar nasceu em Porto Alegre, mais precisamente no bairro Bom Fim, em 23 de março de 1937. É formado em medicina. Scliar publicou mais de setenta livros, entre crônicas, contos, ensaios, romances e literatura infanto-juvenil. Seu estilo leve e irônico lhe garantiu um público bastante amplo de leitores, e em 2003 foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, tendo recebido antes uma grande quantidade de prêmios literários como o Jabuti (três vezes), o Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) (1989) e o Casa de las Americas (1989).
Suas obras frequentemente abordam a imigração judaica no Brasil, e também temas como o socialismo, a medicina, a vida de classe média. O autor já teve obras suas traduzidas para doze idiomas. Entre suas obras mais importantes estão os seus contos e os romances O ciclo das águas, A estranha nação de Rafael Mendes, O exército de um homem só e O centauro no jardim, este último incluído na lista dos 100 melhores livros de temática judaica dos últimos 200 anos, feita pelo National Yiddish Book Center nos Estados Unidos.
Agora, ofereço o texto. Parece incrível que ele esteja narrando algo da História da Medicina daquele que foi o século de nascimento de meus avós.
Diagnósticos em debate
Vocês têm ideia do que seja drapetomania? Provavelmente não. O estranho termo vem do grego, drapetes, fugitivo, e significa mania de fuga. Um diagnóstico médico, portanto. Foi proposto em 1851 pelo dr. Samuel A. Cartwright, da Louisiana, no escravagista sul dos Estados Unidos. Segundo o dr. Cartwright, era um mal que acometia os escravos negros que insistiam em escapar das fazendas. Esse mal, dizia o bom doutor, não tinha tratamento, mas podia ser evitado com a aplicação de chicotadas a escravos rebeldes e também com a amputação – isso mesmo, a amputação – dos dedos dos pés.
Convenhamos: a medicina evoluiu bastante desde aquela época. Isto não impede que ainda surjam diagnósticos controversos. Foi o que aconteceu com a última edição do Manual Diagnóstico e Estatístico dos Problemas Mentais (DSM), publicado pela Associação Americana de Psiquiatria (APA). Muito famoso, mas não aceito pacificamente; no passado, foram várias as polêmicas suscitadas. Um exemplo: a inclusão do homossexualismo na lista de distúrbios sexuais, o que desencadeou uma onda de protestos e levou a APA a voltar atrás, considerando o homoerotismo uma variante do comportamento sexual normal.
Recentemente novos diagnósticos foram objeto de discussão. É o caso das entidades batizadas como síndrome de risco de psicose, distúrbio de desregulação de temperamento e também aquilo que os americanos chamam de toddler tantrums, os ataques de zanga das crianças. Dois médicos ingleses, Til Wykes, do Instituto de Psiquiatria do Kings College de Londres, e Felicity Callard, da Universidade de Cardiff, publicaram artigo no Journal of Mental Health expressando sua preocupação com diagnósticos considerados imprecisos e exagerados: será que não estamos todos sujeitos a uma desregulação de temperamento? E qual a criança que, em algum momento, não grita, não esperneia?
Os diagnósticos são cada vez mais numerosos: eram 106 na primeira edição do DSM e passaram para 365 na quarta revisão, um aumento de mais de 300%. Pode ser o resultado de um refinamento dos critérios usados para categorizar entidades mórbidas, e pode alertar doutores para problemas em potencial, mas mesmo assim para muitos esse incremento parece estranho. Não falta quem veja aí o dedo da indústria farmacêutica, para a qual um diagnóstico é igual a um ou a vários medicamentos, em geral usados por longo tempo.
Vamos deixar bem claro: na imensa maioria dos casos, a medicação beneficiou extraordinariamente os pacientes. A revolução psiquiátrica dos anos 50 representou um grande avanço. O alerta se refere àqueles casos em que uma variação do normal é considerada doença. Numa época, usou-se o termo “medicalização” para a situação na qual a medicina e, sobretudo, os remédios adquirem um poder extraordinário.
Em O Alienista, Machado de Assis conta a história de um doutor que praticamente mandava em uma cidade, decidindo quem ia para o hospício. Uma situação caricatural; mas, pelo jeito, os doutores Wykes e Callard acham que não é tão impossível assim.
... e o último paciente da Casa Verde foi justamente o Dr.Bacamarte! (só para lembrar)
ResponderExcluirum bom dia!!
Muito querida Marília,
ResponderExcluirbem lembrada a tua alusão a ‘O alienista’ de Machado de Assis que Scliar cita no texto. Para refrescar a algum leitor desavisado vale recordar que
Simão Bacamarte é o protagonista, médico conceituado em Portugal e na Espanha, decide enveredar-se pelo campo da psiquiatria e inicia um estudo sobre a loucura e seus graus, classificando-os. Se instalou em Itaguaí ,onde Funda a Casa Verde, um hospício na vila de Itaguaí e abastece-o de cobaias humanas ,para as suas pesquisas. Como dizes, depois de confinar meio mundo, é ele que trancafiado para curar a sua loucura. Indiscultivelmente o único demente do conto realista é Simão Bacamarte. Ele é o louco de Itaguaí e quer prender os outros para usa-los como cobaia nas suas experiencias, logo o casarão da Casa Verde se torna um hospício.
Obrigado pelos teus sempre inteligentes comentários.
attico chassot
Professor Attico!
ResponderExcluirFiquei pensando... o aumento do número de diagnósticos pode ser o indício do quanto o ser humano nas últimas décadas vem necessitando enquadrar-se em algo, numa busca pela própria identidade. "Sou bipolar", "tenho depressão, sou então um deprimido", "tenho TOC"... e a maioria dessas pessoas não possuem nada disso, mas conseguem dizer, assim, que são alguma coisa. E, dessa forma, virou moda "ter" alguma doença. Crescerá também a fábrica das camisas de força!
Muito querida Thaíssa,
ResponderExcluirtu como profissional da área conheces bem os ‘doentes imaginários’. Claro que de vez em vez topamos com portadores do chamado Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC). Eu tive um colega brilhante no Instituto de Química que outro colega que quando se perguntava pelo seu fim de semana dizia: “Fui na sexta-feira, à tarde a Cape Canaveral prestar uma assessoria a NASA acerca de alimentos para astronautas. Trouxeram-me esta manhã!” ou “Estive na Romênia para fazer um teste em tecidos que vão usar para confecção de barracas militares!”
O Alienista, de Machado de Assis que o Scliar cita no texto – e que comentei na resposta à Marília é uma obra paradigmática acerca daquilo que trazes.
Obrigado por teu tão pertinente comentário,
um afago carinhoso
attico chassot
Querido Prof Chassot!
ResponderExcluirMuito interessante e relevante esse texto.
Às vezes me pergunto se as pessoas realmente estão tão doentes como demonstram estar. Sem querer generalizar, mas... Esse mundo praticamente informacional talvez esteja confundindo os sentimentos das pessoas... Talvez falte um pouco de criticidade; talvez fosse melhor filtrarmos mais as informações que vêm em avalanche ou até mesmo ignorar algumas delas... Tristeza atrai tristeza... O bom mesmo é buscarmos a presença de pessoas animadas e alegres, para nos contagiarmos com o bom.
Afinal de contas "De louco todo mundo tem um pouco".
Abraço gordo,
Neusa
Muito querida colega Neusa,
ResponderExcluirtuas sempre pertinentes trazidas estão na mesma direção daquelas do comentário da Thaíssa (que por tal recebe cópia deste comentário). Teu comentário me remete à última comédia de Molière (1622-1673) Le Malade imaginaire, A peça conta a história de um velho hipocondríaco, Argan, que se julga doente sem de fato o estar, e que, por isso, acata toda e qualquer ordem do médico que, por sua vez, se aproveita da situação.
Impressiona-me como a crianças, tal como no texto do 17 de Molière que são hipocondríacas;
Vale também ver o comentário sintético, mas sábio da Marília (recebe cópia por ser citada), acerca do Alienista, de Machado de Assis citado por Scliar.
Ver o quanto esta blogada nos enriqueceu. Para responder a Marília, a Thaíssa e a ti tive que pesquisar além de minha blogada. Só nesta edição de hoje tens boas inferências para levar a tua dissertação de mestrado.
Um afago e como dizes ‘abraços gordo’
attico chassot
O Alienista - muito interessante a crítica do autor à sociedade hipócrita...E não é que muitas das características ainda se mantém? rsrsrsrs
ResponderExcluirEssa blogada me fez pesquisar mesmo, pq pouco me lembro desse livro.
Um bom resto de noite.
Amanhã tem mais.
Abraço gordo,
Neusa
Muito obrigado,
ResponderExcluirNeusa querida, tu a Thaíssa e Marília fertilizaram a blogada de hoje.
Boa noite
attico chassot
Professor Chassot, não sou sua aluna, mas vou chama-lo assim.Já ouvi falar muito de Carlos Scliar, mas não tive o previlégio de ler sua obra.Porém, esse texto sobre a DSM e diagnósticos da psquiatria chamou-me atenção. Hoje nas escolas, crianças não podem mesmo ter um temperamento mais extravagante digamos assim. Virou moda no meio infanto-juvenil um diagnóstico: Transtorno de Déficit de Atenção E Hiperatividade, ou os dois juntos TDHA. Eu mesma presenciei muitos pais tirando seus filhos de escolas que insistiam em dizer que seus filhos precisavam ir ao psiquiatra.Creio que uma parte possa vir a ser diagnosticada realmente, mas me pergunto, até onde estamos dando remédios p crianças, p ela ficarem quietinhas, deixarem os pais tranquilos e por sua vez, a escola não ter tanto trabalho. Não são poucas crianças, professor, tenho dois filhos, um de 9 e outro de 13 anos. O mais velho faz uso de medicação.TDHA.Claro não vou citar aqui o nome do remédio, por ser já famoso no meio acadêmico e por saber tmb que na internet ele é facilmente adquirido no mercado negro por estudantes da faculdade e vestibulandos.
ResponderExcluirAbraços.
Estimada Carla,
ResponderExcluirprimeiro mais uma vez lamentar não ter tu endereço eletrônico
(elegi uma das n Carla que estão em minha lista. Se errei a que está recebendo esta mensagem que me releve).
Segundo, o Scliar citado é o Moacyr, médico e escritor. O Carlos é artista plástico. Quanto ao vocativo que me dás, encanta-me. Concordo contigo que rotular crianças é moda. TDHA é um preferido. Se for feita uma análise nos dejetos de banheiros de uma escola, sabemos qual o remédio que aparecerá na urina.
Obrigado pelo teu oportuno comentário.
Uma boa sexta-feira
attico chassot
Perdão pelo equivoco , foi a afobação do momento.Inclusive o Carlos é falecido.
ResponderExcluirSe fizermos análise dos dejetos, muito mais substâncias irão aparecer do que nossa imaginação possa imaginar. Uma pena.
abraços.
Muito estimada Carla,
ResponderExcluirnão cabe pedidos de perdão. Um engano tão trivial. Apenas o sinalizei, pois são usuais essas trocas entre estes dois gaúchos.
Obrigado por seres uma querida leitora deste blogue,
Afagos doces
attico chassot