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terça-feira, 27 de agosto de 2013

27.— NA ESCUTA DE UM (QUASE) UTOPISTA

ANO
  8
LIVRARIA VIRTUAL em
www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 2525


Nesta terça-feira, seguimos na esteira da blogada de ontem, que a julgar por um pico no número de acessos e pelos comentários muito significativos envolveu leitores. Nas aulas de Teorias do Desenvolvimento Humano, da noite de ontem a matéria da blogada se fez momentosa. Hoje se apresenta respostas a mais quatro perguntas feitas pelo jornalista Carlos André Moreira a Peter Singer. Acerca deste visionário filósofo contemporâneo — que fala no Fronteiras do Pensamento, hoje à noite em São Paulo —, remeto meus leitores à abertura da edição de ontem. Neste blogue, amanhã, outras quatro perguntas.
A integra desta entrevista está no Cultura de Zero Hora, que circulou no sábado, 24 de agosto. Amanhã pretendo editar a terceira e última parte.
ZH – O senhor escreve sobre valores éticos. Como pensa que devemos entender a ética: uma noção atemporal ou um conceito em constante mutação, sujeito à história e à geografia?
Peter Singer – Penso que as ideias mais básicas são atemporais, ideias que podemos descobrir com o uso da razão. Mas a forma como as entendemos e os limites do pensamento racional em ética dependem do estágio particular de desenvolvimento de uma dada sociedade e de visões e influências, religiosas ou culturais, por exemplo, que mudam de tempos em tempos.
ZH – As nações em desenvolvimento vêm tentando tirar pessoas da linha de pobreza investindo na expansão de parques industriais. Como elas podem lidar com essa necessidade de crescimento e ao mesmo tempo responder às demandas pelo desenvolvimento sustentável?
Singer – É óbvio que as nações em desenvolvimento querem diminuir a pobreza. Mas devem fazer isso tendo em vista o quadro maior. Não há sentido em reduzir a pobreza nesta geração e deixar as próximas voltarem à pobreza ou até a uma situação pior devido às mudanças climáticas. É essencial que o desenvolvimento percorra um caminho sustentável. Não sei dizer exatamente como isso deve ser feito, mas obviamente com o uso de energias renováveis que não produzam tantas emissões de gases causadores do efeito estufa. Penso que é importante fazer algo no sentido de não aumentar ou até reduzir o consumo de carne, especialmente a de gado, um dos principais fatores das emissões de gases no Brasil, devido à grande população bovina. Acho que é preciso fazer mudanças nos atuais métodos de desenvolvimento em uma direção mais sustentável.
ZH – A conscientização global a respeito dos direitos dos animais é maior hoje do que quando da publicação de seu livro “Libertação Animal”?
Singer – Sim, aumentou dramaticamente. Quando o livro foi
lançado, em 1975, não havia conscientização sobre a agricultura em escala industrial. Mesmo na Inglaterra as pessoas ficaram chocadas em saber das galinhas confinadas em gaiolas minúsculas, dos porcos mantidos enjaulados durante a vida toda. Acho que esses fatos são mais conhecidos agora, e não apenas na Europa e nos Estados Unidos, mas no mundo. Por onde eu viajo, encontro organizações debatendo a questão e tentando promover mudanças. Infelizmente, ao mesmo tempo em que a consciência a respeito cresceu, aumentou também a demanda por carne, ovos e outros produtos de origem animal, por causa do crescimento da população em países como a China, Índia e também Brasil. Há, provavelmente, mais animais sofrendo na agricultura industrial do que em 1975, mas ao menos se pode dizer que a consciência a respeito da questão mudou. Espero que isto seja um primeiro passo para mudanças práticas.
ZH – Há pessoas que, mesmo preocupadas com a questão animal, não fazem nada para mudar seus próprios hábitos de consumo e alimentação. Por quê?
Singer – Bem, as pessoas não querem mudar seus hábitos, e se veem que outros mantêm as mesmas atitudes, elas se sentem justificadas em continuar fazendo o que lhes é habitual. É uma daquelas situações em que, se você conseguisse que uma massa crítica de pessoas mudasse, seria fácil fazer com que, senão todos, a maioria os seguisse. Mas é difícil dar esse primeiro passo. Só uma pequena minoria está preparada para agir em acordo com princípios éticos com os animais. E na presente situação, o que vejo é que a maioria das pessoas não está fazendo isso.

5 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    1. Limerique

      A noção de ética é atemporal
      Bem colocado por Singer, afinal
      Todos temos direito
      Seja nosso conceito
      Pois eu sou, tu és, ele é animal.

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  2. Podemos constatar que realmente como afirma Singer que a retórica está em muitos geralmente não acompanhada da atitude. A "fome" pelo capital é aética e não mensura prejuízos a Gaia. De nada adianta movimentos e conscientizações se os "donos do mundo" diminuirem sua ganância.

    abraços

    Antonio Jorge

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  3. Ao Mestre Chassot: O tema é polêmico,parece ainda que vivemos na Roma Antiga,onde os gladiadores no coliseu de Roma ofereciam um espetáculo sangrento ao público,ainda no contexto tais práticas provocam sofrimento e crueldade nos animais, vimos ainda "farra do boi,rinhas,rodeios e animais em circo" e presos em gaiolas quantas barbárie.É mesmo a política do pão e circo a saída é a educação mas há muito que melhorar. Um forte abraço Ley

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