ANO
8
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Livraria Virtual em
www.professorchassot.pro.br
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EDIÇÃO
2514
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Mais uma
edição sabatina com dica de leitura, com uma sugestão encontrada no caderno ‘Mercado’ (mais de uma vez desconsiderado,
quando de leitura mais rápida de jornais) da Folha de S. Paulo. Luís Eblak faz bem preparada resenha de mais um
livro do historiador Jacques Le Goff. Este, talvez, quem tenha mais expertise
sobre Idade Média. Em A ciência através
dos tempos, já em sua primeira edição em 1994, registrava o aparente
paradoxo: sabemos mais sobre a Antiguidade que sobre a Idade Média. Desde então
se publicou novas leituras sobre o período que deu, em outros tempos, ao
adjetivo medievo conotação — imprópria — de obscurantismo. Esta é uma acepção
cada vez mais revisada.
Ainda não li o
livro, mas a admiração que tenho por Le Goff, avaliza trazer aqui a resenha que
destaca as origens do capitalismo na Idade Média.
LE GOFF, Jacques.
Para uma outra idade média - tempo,
trabalho e cultura no ocidente. [Tradução Thiago de Abreu e Lima Florêncio e
Noéli Correia de Melo Sobrinho] Petrópolis: Vozes, 2013, 534 p.13,7 x 21,0 cm Preço
R$ 79,00. ISBN: 978-85-326-4376-6
Defensor da
tese segundo a qual a Idade Média durou até o século 18 (e não 15), o
historiador francês Jacques Le Goff é conhecido também por dar ao período uma
importância que vai além de uma sociedade dominada por clérigos e senhores
feudais.
No livro
"Para Uma Outra Idade Média -
Tempo, Trabalho e Cultura no Ocidente", lançado agora no Brasil, o
medievalista de 89 anos narra o que pode ser tratado como as origens do
capitalismo, numa época em que o sistema econômico não dava sequer sinais de
vida.
Originalmente
publicada na França em 1977, a obra é uma coletânea de artigos acadêmicos
divididos em quatro partes. Duas delas tratam das concepções de tempo e trabalho na época e como a Igreja Católica precisou adaptar as
visões que tinha sobre esses dois conceitos —básicos da sua teologia cristã. A
outra metade do livro aborda os temas cultura erudita e cultura popular e
antropologia histórica.
Os estudos
sobre o tempo e o trabalho já foram abordados em outras
obras. Sobre o primeiro, por exemplo, o próprio Le Goff já abordou o assunto em
"A Bolsa e a Vida" (ed.
Civilização Brasileira).
TEMPO SEM PRESSA: O que se destaca em "Para uma outra Idade Média" é
a forma como Le Goff descreve para o leitor — leigo, inclusive — o significado
sobre o tempo naquele mundo rural que começava a se urbanizar.
O tempo existia primeiramente de acordo
com os ciclos agrícolas e noções rudimentares de marcação, como dia e noite,
inverno e verão. Seguia também os ofícios religiosos — não à toa a palavra hora
se origina, no latim, de oração — e os sinos das igrejas guiavam os moradores
medievais. Como diz Le Goff, era basicamente um "tempo sem pressa".
O surgimento
da figura do mercador é decisivo. Negociante que vive da usura, ele vai causar
um grande conflito com a teologia da Igreja Católica, pois seu tempo se
contrapõe ao religioso.
Nos preceitos
que irão embasar as normas cristãs, clérigos irão tentar sustentar que a usura
não podia existir, pois o ganho do mercador "supõe uma hipoteca sobre um
tempo que só a Deus pertence". A condenação não se dava prioritariamente
pela cobrança abusiva de juros (noção ainda presente hoje, como nos protestos
da Grécia), mas sim pela "posse" que Deus tinha (tem!) do tempo.
Na história
das religiões, outras crenças também rejeitam a usura, como o islamismo e o
tema é bem atual. No mês passado, por exemplo, um jogador de futebol se recusou
a viajar com seu time, o inglês New Castle, por não aceitar a camisa do clube
patrocinado por uma financeira.
Na obra, Le
Goff descreve como zonas urbanas já estavam se consolidando a partir do século
10, como o norte da Itália e o da França, o sul da Inglaterra e a Alemanha.
Aliado ao
surgimento dos primeiros sobressaltos inflacionários e a multiplicação das
moedas, esses fatos irão exigir a concepção de um tempo bem diferente: aquele
medido matematicamente.
Daí o
aparecimento dos relógios a partir do século 14, que começam a ser instalados
em torres públicas. Seus sinos irão marcar com exatidão as horas das transações
comerciais e dos turnos operários, como já previa um documento de 1355, de
Aire-sur-la-lys, na França.
MORAL CALCULADORA: Assim, o "velho sino [das
igrejas], voz de um mundo que morre, vai passar a palavra a uma nova voz",
a dos relógios dessa época.
Séculos antes
da máxima capitalista ("tempo é dinheiro"), perder tempo passa a ser
pecado grave também na Idade Média, que cria sua "moral calculadora".
"O tempo que só pertencia a Deus agora é propriedade do homem."
Associada a
isso está também a visão cristã do trabalho,
ainda influenciada pela herança greco-romana, que vivia da escravatura e se
orgulhava do ócio.
A ideologia
medieval depõe contra o trabalho,
pois "não era um valor', não havia nem palavra para designá-lo". Na
cultura cristã, era "instrumento de penitência", e o homem deveria
trabalhar à semelhança de Deus. "Ora, o trabalho de Deus é a Criação.
Portanto, toda profissão que não cria é má ou inferior", o que se
confronta com os ofícios em gestação à época.
Daí a lista de
profissões ilícitas. Além do mercador havia taberneiros (que vendiam vinho) e
professores (que comercializavam conhecimento e ciência, "dom de
Deus", que não pode ser vendido).
Mas esses
dogmas vão se alterando conforme surgem novas profissões. A lista de ofícios
vetados diminui e os clérigos irão justificar até os "lucros dos
mercadores", inclusive a "amaldiçoada usura". Afinal, já é a
época da Reforma e os protestantes nascem lidando muito bem com o trabalho.
Muito atento Mestre Chassot,
ResponderExcluirvaleu não ter rejeitado o caderno Mercado da Folha. Até ali o senhor encontra preciosidades.
Este livro do Le Goff passa para a minha lista de dívidas para serem lidas. “Idade Média” nas obras de história o de ficção é um prato que degusto com prazer. É impressionante esta assíncrona tradução com o original francês: quase 40 anos. E baboseiras como 50 tons de cinzas tem tradução imediata.
Consola-me um dito popular: antes tarde do que nunca.
Obrigado por tão oportuna dica sabática.
.
Mirian de Salônica
É curioso observar que a burguesia mãe do capitalismo alavancou a Revolução Francesa para acabar com os privilégios e enterrar a monarquia, e hoje o que vemos é um sistema selvagem e injusto repleto de benesses a uma minoria. E para esse Leviatã não há ética, existe apenas a fome do capítal. Pelos seus dogmas embebedam uma juventude em idade cada vez mais precoce, e são os verdadeiros responsáveis em desgraçar famílias de atropeladores e de atropelados. Levam cada vez mais jovens a venderem a sua dignidade por um prato de comida, fazem do ser humano uma besta capaz de viciar uma criança apenas pela certeza de um futuro cliente. O homem desperdiça toda sua vida útil, escravo do consumir, e quando já velho é esquecido a um canto como objeto obsoleto. A religião também é objeto de consumo, "vende" a paz, e adapta-se ao mercado de acordo com as mais avançadas técnicas de marketing com direito até a concorrência. Tudo é negócio, tudo pelo capital.
ResponderExcluirabraços
Antonio Jorge
Limerique
ResponderExcluirDizem que de absoluta inédia
Fora essa tal de idade média
Contudo, Jacques Le Goff
Não economizou estrofe
Para desmascarar essa comédia.
Meu caro Jair,
ResponderExcluirteu poetar, uma vez mais, da azo para ratificar o qualificativo que há muito te ofertei: Polímata.
Mais, ensejaste que me abeberasse não apenas dos significados de “INÉDIA”, bem posto metaforicamente para ‘Idade Média’ como me conduziste a estudar metabolismos de abstinência de alimentos e ler sobre possibilidade de viver somente de prana (a força vital do Hinduísmo) ou, de acordo com alguns, se alimentando de luz solar. Nos últimos anos, o movimento foi popularizado pela australiana Ellen Greve, mais conhecida como Jasmuheen.
Realmente um limerique denso de aprendizagens — com pertinente rima Le Goff / estrofe.
Obrigado e um abraço para Floripa de uma Porto Alegre fria e chuviscosa,
attico chassot
Salutar saber que há quem se desafie e desbravar a, também, desmistificação de uma época e de um tempo cheio de, ainda, mistérios. Onde se plantou a origem de um novo tempo.
ExcluirUm forte abraço!
Meu amigo,
ResponderExcluiro Jair está cada vez melhor. Refinou muito as rimas. Esta bilacquiano.
Acho que deveria publicar seus limeriques em um limelivro.
Assisti, por recomendação tua, ao Hannah Arendt, achei estupendo. Fomentou-me pensamentos densos.
Achei a construção sobre a banalidade do mal profunda, densa e friamente racional (do jeito que eu góstio).
Agradou-me a perspectiva da filósofa que Eichmann não era um monstro, mas um verme, incapaz de pensar...
Enfim, belo filme. Sukowa genial no papel e as opções de fotografia e filmagem da Margarethe von Trotta de muito bom gosto...
Espero que possamos nos ver em breve!
Abraçøs, guy