ANO
8 |
Livraria virtual em
www.professorchassot.pro.br
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EDIÇÃO
2520
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Um sábado
agustino de agenda gostosamente prenhe de atividades. Pela manhã tenho aulas na
disciplina Reabilitação e Educação no Mestrado Profissional de Reabilitação e
Inclusão do Centro Universitário Metodista do IPA. Ao anoitecer a Gelsa e eu recebemos
filhas, filhos, genros, noras, netas e netos para uma muito curtida celebração
familiar, que se realiza, ainda na esteira do dia dos pais.
Mas esta blogada
sabatina tem um objetivo: uma excepcional dica de leitura. Fico
sempre muito surpreso quando tomo conhecimento de um livro, de minha área,
publicado há um tempo e, sobre este, nada conhecesse. Há dias passados, a Gelsa
retornando do 13º Encontro Nacional de Educação Matemática, presenteou-me com
um livro, publicado no Brasil, há mais de cinco anos. Não sem razão surpreendi-me.
Mesmo que
ainda no ano passado tenha escrito um capítulo de um livro (ainda inédito)
sobre Marie Curie. Desconhecia a preciosidade que agora apresento entusiasmado
às leitoras e aos leitores deste blogue.
Aulas de Marie Curie: Anotadas por
Isabelle Chavannes em 1907", Isabelle Chavannes, [Leçons de Marie Curie
recueilles par Isabelle Chavannes; tradução de Waldyr Muniz Oliva] São Paulo:
editora da USP, 1a. edição (2007), brochura; 7x160x230 mm, 136 págs. ISBN:
978-85-314-1003-1 Preço aproximado R$37,00
Em
http://books.google.com.br/books/about/Aulas_de_Marie_Curie_Anotadas_por_Isabel.html?id=Ym4EW-wgILwC&redir_esc=y
podem ser vistas as 37 primeiras páginas, com detalhe de desenhos e as 1ª e 4ª
capas.
O nome da obra
faz síntese bem posta do texto. O livro reúne 10 aulas de Física ministradas
por Marie Sklodowska-Curie. Acredito que o nome da professora dispensa
apresentações.
Neste bloque, especialmente em 2011, por ocasião do Ano
Internacional da Química, muitas vezes foi referida esta mulher excepcional — e
aqui a questão de gênero é referência significativa —que foi galardoada, entre
muitas honrarias, com dois prêmios Nobel, um de Física, em 1903, e outro de
Química, em 1911. Ela, como destaco em A
Ciência é masculina? É, sim senhora!, é um dos nomes mais importantes da Ciência
de todos os tempos.
O livro
resgata uma experiência completamente inovadora na área do ensino de Ciência,
realizada, há mais de um século por Marie Curie e alguns colegas. Estes muito
renomados como os físicos Jean Perrin (Prêmio Nobel de Física 1926) e Paul
Langevin — com quem Marie teve momentosa relação de amor, que foi motivo de
escândalos à sociedade francesa —, o escultor Jean Magrou, o naturalista Henri
Mouton. Eles criaram uma espécie de cooperativa
de ensino para seus filhos quando estes estavam nos anos intermediários do
ensino fundamental — na estrutura brasileira hoje — para crianças de dez a doze
anos. As aulas ocorriam nos laboratórios ou nos estúdios de trabalho de cada a um.
A experiência está descrita no livro à p. 21-23; este texto é de autoria de Éve
Curie — uma das duas filhas do casal Curie, e foi extraída da biografia que ela
escreveu da mãe — a edição brasileira da referida biografia foi traduzido por
Monteiro Lobato.
Além de
conhecimento estas aulas transmitiam amor pela ciência e prazer pelo trabalho
em equipe, respeito aos métodos de pesquisa e o uso de linguagem adequada à
ciência. Havia também aulas de arte e literatura. A experiência não durou muito,
mas foi marcante na historia das crianças que a vivenciaram. O grupo sobrecarregado
de trabalho resolveu, após dois anos, que as crianças deveriam voltar aos
programas oficiais de ensino e fazerem os exames adequados para seguirem suas
carreiras.
Isabelle
Chavannes — posteriormente engenheira química — foi uma destas alunas de Madame
Curie e tomou notas detalhadas de dez aulas de física entre janeiro e novembro
de 1907. As notas incluem ilustrações e comentários ligeiros sobre o humor da
professora (que costumava terminar as aulas com uma distribuição de quitutes).
As aulas envolvem problemas que ficam progressivamente mais difíceis e
elaborados. São problemas de hidrostática, equivalentes a aquilo que estudamos
em física e podem ser observada na reprodução do sumário que está ao lado.
O livro é
profusamente ilustrado com as anotações de Isabelle. Eis um exemplo.
O fato das
anotações terem sobrevivido à virada do século e terem sido recuperados, em um
lance de sorte, há poucos anos. dá uma ideia do quanto são tênues as marcas que
deixamos ao longo de nossa vida. Qualquer pessoa interessada no ensino de Ciências
e mesmo em história da Ciência vai apreciar muito de folhear este livro e acompanhar
as aulas de Curie.
A tradução foi
feita por Waldyr Muniz Oliva, membro da Academia Brasileira de Ciências. O ex-Reitor
da Universidade de São Paulo, nas p. 9-11, é autor da apresentação da
edição brasileira, onde narra como recebeu, em Lisboa, de Remi Langevin a
edição francesa da obra — que conta como foram encontradas as anotações de sua
tia-avó Isabelle Chavannes que se transformaram no livro.
“Um dia meu
avô decidiu arrumar o que se encontrava no porão e em particular um baú de
papeis de sua irmã Isabelle Chavannes. Eu fui encarregado de colocar na
caldeira o que ele desejava queimar. De repente minha atenção foi atraída pelo
conteúdo de um fichário preto: ele continha as anotações tomadas por Isabelle
durante as aulas de física elementar dadas por Marie Curie, Meu avo deu-me de
presente o fichário e as anotações” (Remi Langevin, p. 20).
Langevin traz
a informação que o livro já havia sido publicado em cinco idiomas, o que faz
Oliva propor-se a traduzir para português e publica-lo pela editora da USP.
Encerro,
não sem emoção, este texto com as palavras finais do prefácio ‘uma pedagogia
moderna’ Yves Quéré da Academia de Ciência Francesa: “O que fica é que estas
páginas exalam um perfume de impressionante frescor, como se essas crianças
tivessem sido as primeiras a receber um ensino neste estilo; como de sua
alegria de aprender fosse contemporânea do alvorecer da aventura humana; e como
se, em sua extrema singularidade elas simbolizassem todas as crianças do mundo,
questionadoras infatigáveis de uma natureza que, seguindo a intuição poética de
Novalis, não poderia verdadeiramente descobrir-se senão para elas” (p. 15).
É interesante observar também que normalmente as más atitudes tomam corpo na história, enquanto as boas iniciativas geralmente se perdem no tempo. Porém no tocante a Marie Curie, o que acontece é o contrário. Essa cientista teve tantos feitos brilhantes que outros, aparentemente menos significativos, são esquecidos. Tal como Nietzscie teve grandes decepções com a perda prematura de sua mãe e irmã o que a levou a desacreditar de Deus, mais a sua veia científica manteve-a firme no propósito de melhorar o mundo.
ResponderExcluirabraços
Antonio Jorge
Limerique
ResponderExcluirGrande cientista que sempre fora
De teses apaixonantes autora
Agora em doação
Ouvindo seu coração
Marie Curie tornou-se professora.
Ave Chassot,
ResponderExcluirrejubilei-me em saber desta maravilha. Apesar da santa inveja que senti dos pupilos mirins da Madame Curie, vi-me comovido ao conhecer os anseios pedagógicos da laureada. Fico querendo ser uma mosquinha para estar naquele laboratório e ouvir o que conversavam, sobre quais assuntos aprendiam e quais eram as piadas que emergiam naquele laboratório... Esta proposta era altamente inovadora para a época, este tipo de alfabetização científica in loco ainda é utópica, mas vem ao encontro da politecnia que plasma em nosso sistema educacional do estado (felizmente).
Buscarei o livro!
Abraços
Professor!!!
ResponderExcluirEsse é daqueles que eu não só quero como 'preciso' para minha biblioteca pessoal!
Juro que não sabia de sua existência!
o.0
Vou correndo providenciar um!!
Um mol de abraços!
E, muitíssimo obrigada pela dica valiosíssima!!!
=]