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quinta-feira, 15 de agosto de 2013

15.- UMA CANETA (IN)DESEJÁVEL

ANO
   8
Livraria Virtual em
www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
2518

Abro a edição com o recordar que, em tempo não tão distante, o 15 de agosto era feriado (=dia santo): assunção de Maria, dogma católico. Mas, hoje, honro o dia laboral, com a edição hebdômada. Devo referir, que no interstício entre estas duas quintas-feiras, houve cinco edições extras, algumas momentosas. É meu incorrigível apego há tempos que este blogue era diário.
Quase a cada dia, tentam-nos seduzir com novas quinquilharias em parafernália de novidades eletrônica. Eis uma que não conhecia — e antecipo — não caiu nas graças de meus desejos de consumo.
Uma empresa alemã desenvolveu um protótipo de uma caneta que, enquanto se escreve, detecta erros ortográficos. Lernstift é uma caneta digital que, além da tinta, contém um pequeno computador que alerta os utilizadores para os erros.
Daniel Kaesmacher, sócio fundador da Lernstift, disse        que «basicamente há duas funções: o modo-caligrafia que ajuda a corrigir letras individuais e o modo-ortografia que corrige, por vibração, palavras mal escritas».
O pequeno computador Linux, com pilhas AAA, inclui um dispositivo de vibração e um leitor que reconhece movimentos específicos e formas das letras e palavras.
A caneta é constituída por diversos sensores, como o giroscópio para medir a orientação, o acelerômetro para calcular a propulsão e um magnetômetro para medir a força e direção dos campos magnéticos.
O produto foi inventado por Falk Wolsky, que teve a ideia depois de observar diversos momentos de frustração da sua mulher com os erros do filho, um deles verbalizado com a questão «Porque é que as canetas não podem automaticamente avisar os erros?» Segundo o inventor, as canetas vão, inicialmente, trabalhar com inglês e alemão, mas haverá outras línguas aplicadas ao dispositivo.
O anúncio deste novo petrecho, mesmo não me seduzindo, convida-me a olhar em diferentes tempos os artefatos que envolveram/envolvem meu escrever. Quando me refiro que sou um escrevinhador da ‘idade da pedra’, ratifico que não estou usando o sentido metafórico. Comecei minha alfabetização numa lousa [Lâmina de ardósia enquadrada em madeira para nela se escrever ou desenhar com ponteiros ou estiletes da mesma pedra]. Depois passei a escrever a lápis e com pena de aço [Pequena lâmina de metal, terminada em ponta, que, adaptada a um suporte, serve para escrever ou desenhar. (Pena XII)].
Aqui, vale recordar a ritualística que havia no levar a caneta ao tinteiro e na volta para o papel — quanto tempo de reflexão havia no escrever de então, se comparado com o leve teclar de agora —; e neste tempo de reflexão sobre o que se escrevia havia o secar a página com um mata-borrão.
O significativo sucesso posterior foram as canetas-tinteiros, com seus depósitos de borracha que se enchia com uma pequena alavanca metálica. Estas, em geral causavam muitos borrões, que acarretavam fazer novamente os temas ou lembrados castigos.
A revolução na tecnologia de escrever para mim aconteceu em 1954, quando ganhei a minha primeira caneta esferográfica, invento ainda tão presente em nossas escritas, quase sessenta anos depois. Mesmo tendo comprado uma Remington, com um dos meus primeiros salários de professor, em 1961, nunca fui um aficionado da máquina de escrever, e quando fiz mestrado em 1977, minha dissertação foi datilografada por outros. Já a tese de doutorando, em 1992, não apenas a digitei, como a imprimi.
A propósito de máquinas de escrever, elas têm sido assuntadas nos últimos dias. No dia 16 de julho, neste blogue dizia da ‘ressureição’ das mesmas. No domingo, na Folha de S. Paulo, Marcelo Tas escrevia acerca da entrada dos computadores nas redações de jornais, quando “uns profetizavam que a chegada das ‘máquinas silenciosas com monitores parecidos com os de TV’ era um sinal do fim do jornalismo. Outros se agarravam nostálgicos às suas Olivettis como náufragos diante de uma boia no convés do Titanic.
No mesmo dia e no mesmo jornal Tom Hanks, em um texto memorístico elenca três razões que, na sua visão, tornam as velhas e robustas maquinas de escrever superiores a laptops e iPads de última geração e conta como estas são objetos de seu colecionismo.
Uso o computador desde 1989. E nestes quase um quarto de século, devo creditar muito de minha produção escrita a este meio de registro, que, para mim, só não desbancou ainda a caneta esferográfica, na elaboração de meu diário, talvez porque para isto o suporte papel, seja mais passível de receber as emoções de um dia de vida. Hoje uso iPad, fisicamente parecido com a lousa de ardósia e tenho um smartfone; este pode ser usado também para telefonar.
Este registro, sobre minha história com ferramentais de escrever está aqui, catalisado pela novidade tecnológica recém anunciada. Muito provavelmente há especulações para o assunto voltar em futuras edições, para fruição intelectual.

6 comentários:

  1. Mestre Chassot!
    É fantástico inaugurar um novo dia lendo, uma vez mais, seu blog sempre cheio de saberes.
    Obrigado por suas continuadas aulas,
    Malu Manauara

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  2. Limerique

    No princípio eram pecinhas de barro
    Meio arcaico e um tanto bizarro
    Depois lousa de ardósia
    Da qual tablete é sósia
    Agora teclado, ao qual me amarro.

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  3. Limerique

    Da tábua de argila primordial
    Ardósia, caneta e lápis de pau
    À datilografia
    Que bem escrevia
    Já temos a caneta gramatical.

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  4. E curioso observar com esses avancos tambem trazem retrocessos. Agora por exemplo posto essa do smart, presente de meus filhos, e com o qual ainda nao sei acentuar, resultado uma tragedia contra a boa ortografia. Agora, nosso artefato vibratorio, quando na versao brasileira, devera vir com uma corrente para ser preso as maos pois facilmente saltara pulando tamanha vibracao.

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  5. Olá Professor Áttico.
    Após longo tempo, um Chronos furioso que me furta, consigo um tempo para me atualizar nas leituras do blog. É sempre gostoso vir ao blog e saborear-se com a vida que contagia a escrita dos post.

    Inspirado na leitura do post, lembrei de um ensaio que fiz há algum tempo e compartilho com todos aqui:

    Das conexões que nascem no e do olhar

    Nas conexões que fizemos
    links de emoção estabelecemos.
    A vida pulsa em novos territórios,
    a cor dos olhos,
    pixels aos milhões,
    as imagens constituem.
    A vida na tela,
    e as telas da vida.
    Tudo se virtualiza.
    No entanto,
    mesmo no florescer da cibernética
    é o calor do olhar,
    que aquece os corações.

    Que em educação
    possamos a vida fazer pulsar,
    numa eterna experiência
    de se encantar com um sorriso puro,
    um toque, um olhar,
    sensibilidade
    é isso que a virtualidade pode e deve fomentar,
    aos poucos nesse solo cibernético,
    nossos pés analógicos,
    começam a tocar.

    (Luís C. Z. Dhein)


    Forte Abraço.

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  6. Meu caríssimo Luís,
    há um tempo Cronos tem me furtado de tua presença aqui. Hoje, Cairós com a generosidade me brinda com teu agradável retorno. Muito bom isso.
    Tuas reflexões são uma elegia àquilo que sonhamos. Uma Educação que façam mulheres e homens mais cidadãos que não só são competentes para ler o mundo que vivem, mas o ajudam transformar para melhor.
    Quando rejubilo-me com teu retorno, convido para conhecer uma postura acerca de alfabetização científica que será assuntada na blogada de amanhã.
    Com continuada admiração

    attico chassot

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