TRADUÇAO / TRANSLATE / TRADUCCIÓN

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

26.— O DEFENSOR DOS ANIMAIS ENTRE NÓS

ANO
 8
LIVRARIA VIRTUAL em
www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 2524


Nesta última segunda-feira de agosto — quinto dia consecutivo de frio e chuvas no Rio Grande do Sul — Porto Alegre tem uma presença excepcional. Paul Singer, o defensor dos animais, fala esta noite no Salão de Atos da Reitoria da UFRGS.
Filósofo que tem posições firmes sobre alguns dos mais controversos temas da atualidade fala sobre direitos animais, mudança climática e ética aplicada. Pode soar exagerado afirmar que um intelectual seja capaz de provocar reações tão apaixonadas quanto as de um político ou de um líder de massas, mas no caso do filósofo australiano Peter Singer, o convidado desta noite no ciclo Fronteiras do Pensamento, a afirmação não está longe da verdade. Singer já foi definido como o “mais perigoso homem vivo” por ativistas europeus e já foi proibido de falar em público em território germânico.
Tudo isso porque, aos 67 anos, o autor é um filósofo moral à moda antiga: um pensador que acredita que seu trabalho deve ser debater na arena pública as questões de seu tempo. E, por meio de uma lógica racional que aplica como sistema ético, Singer não foge do debate em pontos polêmicos como eutanásia, aborto, aquecimento global, pobreza, desenvolvimento sustentável. Seu trabalho lançou as bases políticas do movimento pelos direitos animais hoje presente em praticamente todo o mundo. Suas formulações de ética aplicada provocam críticas e glosas apaixonadas: libertário para uns, desumano para outros. Singer tem formação em Direito, Filosofia e História, ele é, há 15 anos, o responsável pela cátedra de bioética na Universidade de Princeton (EUA).
Por telefone, de Melbourne, na Austrália, Singer concedeu a seguinte entrevista a Carlos André Moreira de Zero Hora, publicado no caderno de Cultura deste sábado, junto com outros artigos. Para esta blogada escolhi respostas a três perguntas. Na edição de amanhã pretendo um espraiar nas convicções do protetor dos animais do século 21:
Zero Hora – O senhor poderia antecipar os temas de sua conferência?
Peter Singer – Vou falar sobre o que, penso, são as principais questões éticas do presente século, como justiça global, que tem relação com o problema da pobreza global, e as mudanças climáticas. Vou também levantar questões sobre as relações entre animais humanos e não humanos, e o tanto de sofrimento que é imposto a eles pela nossa atuação no mundo não humano.
ZH – O senhor está chegando a um Estado em que o uso de extensas áreas para a pecuária não é apenas uma realidade histórica, mas é parte da identidade cultural, bem como o consumo em larga escala de carne bovina. O que o senhor teria a dizer a este público?
Singer – É claro que entendo essa questão, uma vez que estou falando da Austrália, onde também passei boa parte da minha vida, um país que construiu muit da sua economia com base na criação de rebanhos bovino e ovino, ambos ruins do ponto de vista da emissão de gases causadores do efeito estufa. Acho que é necessário que essas culturas mudem, e infelizmente isso é difícil, não acontecerá do dia para a noite. Mas é essencial que as pessoas percebam que o tamanho dos rebanhos é um dos fatores que mais contribuem para as mudanças climáticas, e Brasil e Austrália são muito dependentes do clima para a sobrevivência de sua população. Penso que o mundo está se tornando ciente dos danos provocados pelas alterações climáticas. Está para sair o relatório internacional do Intergovernmental Panel on Climate Change (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), ainda não foi publicado, deve sair em setembro, mas pude ler o relatório preliminar, que sugere que estamos nos encaminhando para um aumento de 5ºC na temperatura do planeta, o que excede o que os cientistas haviam previsto em anos anteriores. Temos que perceber que essa é uma questão muito urgente, e mesmo que ela signifique uma mudança cultural dramática, ainda há algo que possamos fazer.
ZH –Seus críticos afirmam que é uma incoerência ser, ao mesmo tempo, favorável à vida animal e ao aborto. Como o senhor responde a isso?
Singer – Minha visão a respeito dos animais não se baseia em se é certo ou errado matá-los, mas no sofrimento que infligimos a eles durante seu tempo de vida para que possamos ter alimentos e produtos. Quando falo de aborto, no período em que a maioria deles costuma ser realizado, abaixo de 24 semanas de gestação, o feto não é capaz de sofrer. Portanto, é perfeitamente coerente afirmar que se pode interromper a vida de um ser não consciente ou incapaz de sofrer e não infligir dor a seres que têm essa capacidade.

12 comentários:

  1. Meu Caro Mestre Chassot
    Pelo que tenho observado em minhas aulas, e agora quando uma norma regulamentadora de segurança do trabalho (NR 36) tenta reduzir os riscos para quem trabalha em industrias de carnes e derivados, que o publico discente ao tomar conhecimento do ritual operacional que ocorre dentro dos frigorificos, demonstra rejeição aos processos de abate de animais. Quem sabe aí nao esteja um principio de mudança. JB

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Estimado colega e amigo Jairo.
      Reconheço tua tese: se os consumidores vissem a tortura a que se submetem os animais diminuiria o consumo de carnes. Mas teu comentário alerta a outra dimensão de ‘sofrimento — que a NR 36 procura minimizar —: a tortura física e psicológica que os animais racionais (= mulheres e homens trabalhadores da indústria de carnes)ç Há muito já li das denuncias que fazes em http://profjairobrasil.blogspot.com.br/ Peter Singer, o defensor dos animais, preocupa-se como tu com os animais racionais.
      Obrigado por enriqueceres esta blogada.

      attico chassot

      Excluir
  2. Muito pertinentes a blogada do Mestre Chassot e o comentário do Prof. Jairo Brasil. Não consigo imaginar alguém trabalhando durante anos em um matadouro (ou abatedouro, pra usar o eufemismo) e não ficar abalado psicologicamente. Sou um gaúcho carnívoro, minha imagem de um encontro perfeito entre família e amigos (como fizemos ontem) é um churrasco. Mas estou conseguindo diminuir o consumo de carne, primeiro adotando a famosa segunda sem carne, depois a "quinta sem carne" e agora já é dia sim, dia não. Um dia talvez eu consiga parar completamente de contribuir com o sofrimento de animais irracionais e racionais.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Muito estimado Juliano,
      (faço cópia ao prof. Jairo)
      Belo depoimento de um gaúcho (aquerenciado em Brasília) carnívoro que gradativamente vai se abstendo de produtos oriundo de ‘matadouros de animais’.
      Tua alternativa do ‘dia sim/dia não’ traduz um não radicalismo. Há muito abandonei o churrasco e tenho desencadeado campanha contra essa barbárie gaúcha que é o tal de ‘espeto corrido’, Não podemos esbanjar alimento desta maneira quando tantos passam fome.
      Obrigado por te fazeres presente com comentário tão educativo.
      A admiração do

      attico chassot

      Excluir
    2. Obrigado, Mestre! Muito feliz pela sua amizade!

      Excluir
  3. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Limerique

      Pois Singer, cheio de ideias geniais
      Vê todos os seres como iguais
      Sejamos homens ou bichos
      Temos os mesmos caprichos
      Afinal, não somos todos animais?

      Excluir
  4. De Paul Singer vale a pena conhecer "Curso de introdução à economia política". Sem a pretensão de imitar o Mestre em suas ricas dicas sabáticas.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Paul Singer que você se refere é economista, O Singer acima é Peter, filósofo. O Chassot se enganou.Abraços, JAIR.

      Excluir
    2. Muito estimado e atento Jair,
      realmente o Chassot, se enganou. Das três blogadas destas segunda, terça e quarta feiras, na primeira vez que citei o nome do contestado filósofo australiano Singer, nomeei o como Paul Sinher, num lapso por evocar aquele que é talvez a nossa maior referência em economia solidária: Paul Israel Singer (Viena, 24 de março de 1932),um economista e professor brasileiro nascido na Áustria.
      Ao desculpar-me de ti e de meus leitores , nesta errata homenageio um dos mais importantes intelectuais brasileiros.
      Com estima,

      attico chassot

      Excluir
    3. Estimado Poeta Jair sÓ agora dei-me conta que vinhas em meu socorro em minha gafe do quase parônimo. Sou um bucÉfalo distraÍdo, achei que falavas com o mestre, minhas desculpas e meus agradecimentos ainda que tardios.

      Excluir
  5. Estou pensando seriamente em abolir para sempre o consumo de carne. Em seu lugar já adotei o consumo de ovos. É tanto ovo. Dia e noite. No café, no almoço e no jantar. E no lanche também. Até levanto na madrugada para preparar os...ovos. O que fazer? Minha remuneração salarial me induziu a tal. É do conhecimento de todos que carne, principalmente a vermelha, não é saudável. Grande abraço Mestre.

    ResponderExcluir