Ano 5 | Paris | Edição 1818 |
14/23 DIARIO Volto às edições postadas on line. Ontem, na meia tarde chegamos de novo com a Julia e ao Benjamin (J&B), à residência deles em Paris. Cessou, então, cerca de oitenta e duas horas de minha abstenção de internet. Nunca havia vivido tão extensa experiência neste século com aquela que é, talvez, a mais maravilhosa tecnologia que está presente na vida de muitos desde o final do segundo milênio. Devo reconhecer que soube ‘me puxar’ resisti bem a tão longo jejum. Mas... vibrei quando pude encerrá-lo.
O propósito desta edição é recuperar as edições 1815/16/17 de sábado/ domingo/ segunda-
feira, quando nesta viagem a Europa 2011 vivemos um excepcional fim de semana na residência de verão de Daphne e Benoît (D&B), pais do Benjamin, na residência de verão dos mesmos em Balazuc, no departamento de Ardeche, na região sul da França. Para esta atualização das três edições pré-postadas farei um relato cronológico.
A Gelsa e eu, junto com J&B, fomos da estação Olimpiades, onde eles moram até â Gare de Lyon. Deixamos Paris às 07h50min – horário aprazado – da ensolarada manhã de sexta-feira. Viajamos de TGV (Train de Gran Vitesse = Trem de Grande Velocidade). Nosso destino era Montelimar, a 630 km, onde chegamos às 10h53min (como estava previsto), depois de duas paradas de cerca de 20 minutos nas cidades de Lyon e Valence. A primeira parada permitiu espiadinhas de matar a saudade de outras vezes que estivéramos nesta das maiores cidades francesas em atividades na Université Lyon II. Ao final desta viagem de trem nos surpreendeu as usinas nucleares às margens do Rhone, quando soubemos que a dependência francesa de energia elétrica a partir de reações nucleares hoje é da ordem de 80%. Em número de reatores nucleares a França só é superada pelos Estados Unidos.
De Montelimar, partimos de automóvel rumo a Balazuc, que está a cerca de 80 km. Levamos quase 1,5 hora, pois o fim de semana em período de férias de verão congestiona as estradas. Fomos fraternalmente recebidos pelos pais do Benjamin, que não víamos desde que os recebemos em Porto Alegre e Atlântida na virada de 2009/2010. Foi muito reencontrá-los e viver com eles, junto com J&B em um ambiente de muita alegria.
A casa que nos acolheu nos três dias merece um destaque especial, pelo ineditismo que representou em nossas vidas. Eles já têm esta residência há mais de 30 anos, tendo adquirido uma casa do século 19 em ruínas e a restauram, com excelente bom gosto, em muito estudado estilo medieval. A casa é toda de pedras calcárias, construída sobre um afloramento rochoso da mesma natureza. Há paredes de cerca de 80 centímetros de espessura. Não há nenhuma outra residência a vista e estas totalizam três em Largellas, bairro distante mais de cinco km do centro urbano de Balazuc.
As
fotos ilustram algumas vistas externas da casa. Vale referir que ao lado de este aspecto medievo que tento mostrar em minha seleção imagética, há conforto dos mais avançados, traduzido, por exemplo, pela presença de um robô, que limpa a piscina 24 horas por dia. Para significar algo da beleza da casa exemplifico que nos foi destinado aposentos, onde inclusive a sala de banhos, são decorados com anjos (gravuras e estátuas) do renascimento italiano.
Almoçamos pratos típicos da região, acompanhados de vinhos da estação (rosé). Ao entardecer fomos até Aubernas – uma cidade vizinha, para compras e pela segunda vez podemos admirar os afloramentos calcários nas duas margens do rio Ardeche, que determinam um solo muito pouco espesso e ralo que faz da vegetação raquítica muito rala e seca, pelas continuadas falta de água. A região com grama e pequenos arbustos crestados é suscetível a incêndios da vegetação e para tal a serviço de bombeiros em aviões em permanente vigília. Também os pássaros, por encontrarem pouca alimentação, são raros, São frequentes alguns barulhentos piverts (=pica-paus).
O geomorfismo da região exige que se construa muitos platôs para que se consiga solo agriculturável. Mas na região de Balazuk até esta alternativa é difícil.
No sábado, às 9 h, em dois carros, os três casais, fomos a Avignon – cidade que há muito desejava conhecer. Mais uma vez uma distância de cerca de 120 km necessitou cerca de duas horas para ser vencida, tal a intensidade do movimento de carros e bicicletas em fim de semana de férias.
Da viagem há destaques: primeiro, para mais de uma dezena de pequenas cidades (muitas com menos de mil habitantes), todas em estilo muito antigo ainda marcadas pela presença dos romanos na região, com casas e igrejas de pedras calcárias; segundo. Os diferentes cultivares, como videiras em latadas verticais muito baixas, de girassóis em lindas floradas que faziam amarelos os campos até o horizonte e também muitos rolos de feno recém-segado.
Avignon, onde chegamos às 11h, estava movimentadíssima, pois junho é o mês em que se realiza, desde 1947 um concorrido festival de teatro. Há grupos de vários continentes que realiza apresentações em muitos pontos da cidade. Para chamar atenção do público para suas peças nas ruas e principalmente entre as mesas dos restaurantes, grupos de atores apresentam pequenos excertos de suas peças teatrais. Assim de maneira continuada se consome teatro.
Outra dimensão de nossa visita estava relacionada fortemente a história da cidade: esta já antes da presença romana tinha a presença dos Celtas que se pode ver em ruínas e prédios recuperados. Mas sua maior importância é por ter no século 14 se convertida em ‘a cidade dos Papas’ e sede do governo da igreja católica. Assim, é famosa por se ter convertido na residência dos Papas em 1309, quando se encontrava sob governo dos reis da Sicília pertencentes à casa de Anjou. Em 1348, o Papa Clemente VI adquiriu a cidade à rainha Joana I da Sicília e permaneceu como propriedade papa, formando um estado pontifício soberano independente por mais de 4 séculos (até 1791, quando foi incorporada ao resto de França durante a Revolução Francesa).
Primeiro nós seis visitamos os lindos jardins do palácio papal e a vista de suas pontes. Depois o Benoît e eu visitamos, por mais de duas horas as imensas dependências do palácio e aprendemos, com auxílio de áudio-guias, um pouco do governo de sete papas que comandaram desde Avignon entre 1309 e 1377, onde um destaque especial é poder econômico da igreja. Neste período talvez o feito maior da cristandade foi a reconquista da Península Ibérica dos islâmicos podendo conhecer como eram festejados os butins trazidos ao papa após as batalhas vencidas pelos espanhóis. Dei-me conta o quanto preciso estudar acerca deste período.
Na volta à Balazuc fizemos uma parada em uma encantadora cidade com marcas da presença romana: Uzèc
Na segunda parte do retorno a Gelsa e eu viemos no carro com Benoît e a Dafne, pilotado com precisão por esta e encantados com os conhecimentos acerca da história da região oferecidos pelo Benoit.
Só à noite de sábado soubemos alguns detalhes sobre o massacre de Oslo do dia anterior, com ampliação, pela televisão, de uma breve notícia que soubéramos por rádio pela manhã.
O domingo, diferente das previsões de muito sol e calor, foi fresco e nublado. Pela manhã fizemos duas visitas a cidades históricas, preciosidades do Ardeche.
Primeiro fomos a linda Argentiére e
depois visitamos a indescritível Balazuc, nas imediações da qual estamos desde sexta-feira. Recebemos de nossos anfitriões o “Balazuc, village médiéval du Vivarais” de Aimé Bocquet e mais que falar acerca desta incrível cidade que tem um pouco mais de 300 habitantes, com prédios do seéculo 12 e 13, como muitas cidades francesas, trago algumas fotos que fiz na manhã de domingo.
À
noite de domingo, depois de percorrer 30 km,
fomos jantar em Labastide-de-Virac, outra pérola do Ardeche, que se estende por uma área de 23,32 km², com 218 habitantes, segundo os censos de
1999, com uma densidade de 9 hab/km².
Nesta segunda-feira fizemos a rota inversa. Quase meio-dia nos
despedimos de nossos queridos anfitriões Daphne e Benoît, vibrando pelos dias passados com eles, e fomos até Montelimar de carro. Ali tomamos o TGV para voltar a Paris. Ao final da tarde visitamos em Ville sur le Marne, uma cidade vizinha de Paris, a IKEA – uma megaloja sueca, onde vimos utilidades para lar, que para nós se constituíram em novidades.
Nesta terça-feira viveremos o dia de despedida da França. Espero ter recuperado um pouco destes dias de postagens anômalas. Com o pedido de compreensão meus votos de uma muito boa terça-feira.
Caro Attico,
ResponderExcluirduas observações sobre o teu final de semana: a primeira é que viveste dias de verão 'dentro' da história que aprendemos pelos livros, acompanhados da imaginação que se faz presente quando se lê alguma coisa; a segunda é sobre a dependência da energia nuclear. Dou-me conta que estamos, cada vez mais, dentro de uma 'bomba atômica'.
Votos de uma continuada e curtida viagem!
Um abraço,
Garin
Caro Chassot,
ResponderExcluirimagino tua felicidade em reaver a tecnologia tão ligada a ti. Curioso pensar que não faz muito tempo em que não sabíamos o que é internet, celulares, televisão digital, sensores de presença e por aí segue a lista. Hoje estas tecnologias incorporam-se em nosso cotidiano de forma até intrusiva, pois não chegamos a refletir necessariamente sobre seu uso.
Vale destacar que foi na França o local de descobrimento da radioatividade, com os trabalhos de Becquerel que resultaram em sua descoberta acidental. Vale lembrar também que esta é a terra onde viveram Pierre e Marie Curie, que tanto se dedicaram ao estudo da nova propriedade (assim denominada por Marie). Farás alguma visita ao Instituto do Rádio fundado por ela?
Estou escrevendo uma espécie de diário de bordo de como foi a estadia em Istambul no blog de robótica www.viaspositronicas.blogspot.com
Espero que possas matar um pouco de saudades da cidade multicultural que ela é.
Abraços, desde a praia do Janga, que hoje encontra-se com o céu nublado e prenúncio de chuvas.
Pai e Gelsa, Feliz dia dos avos para vocês!! Fiquei encantada com as fotos do fim de semana..que lugar lindo... Parabens pelo recesso internético..imagino como deve ter sido dificil! Amanha a MC vai ir brincar cm o Antonio na Laura. E amanha mesmo começam nossas "ferias". Vamos ficar 2 dias em Floripa e 2 dias em Juquiá, SP. Beijos e parabéns pelo dia de vocês!! Clarissa
ResponderExcluirAve Chassot,
ResponderExcluirque maravilha te acompanhar nesta viagem no tempo. Parece que postas teus relatos diretamente da idade das trevas.
Grande abraço,
Guy (em Île Maurice)
Caro chassot,
ResponderExcluirValeu a pena o jejum de blogadas "ao vivo", por assim dizer. Teu périplo pelas cidades antigas da região que foi ocupada pelos celtas e romanos, nos remete a uma quadra da história pouco conhecida. É bom ler teu relato mesclado de informações pessoais com fatos histórico e até geográficos, fica denso e interessante. Obrigado pela olhada sutil e inteligente e a tradução em palavras compreensíveis, JAIR.
Bem vindo a Paris, amigo.
ResponderExcluirE eis que vc nos brinda com uma magnífica gleria de fotos! Hoje à noite abrirei um Beaujolais para curti-las melhor!
gde abraço
Renato