Ano 5 | Londres | Edição 1808 |
04/23 A edição para resenhar algo do primeiro dia completo nos exterior desta viagem, tem uma marca muito especial: refere-se ao único dia completo da Gelsa em Londres. Nesta manhã ela esta indo de trem a Manchester para uma atividade acadêmica, só retornando a Londres na noite de terça-feira. Na manhã de quarta-feira, vamos atravessar o Canal da Mancha rumo ao continente.
Hoje também este blogue não foi pré-postado, pois na véspera não consegui terminar. Assim só posto quando aqui já é quase 8h (= 4 h, no horário de BSB) a tempo de oferecer uma edição sabatina aos meus leitores mais madrugadores.
Ontem, no primeiro dia de despertar com novo fuso, tínhamos como justificar o custar mais a levantar, pois se aqui já era quase 10h, nos absolvíamos, dizendo que no Brasil era recém 6h. A sexta-feira londrina foi de verão muito agradável, especialmente porque confrontávamos que todas nossas estadas na Europa, depois da minha primeira em 1989 e do pós-doutorado em 2002, foram no inverno europeu.
A saída mais tardia já teve, assim, uma condescendência: o fuso. Ontem, recordei uma frase, que lera em mais desses magníficos ônibus vermelhos de dois andares, dizia algo como: “Veja o mundo, visite Londres!” Isso é muito apropriado. Vê-se aqui gente de todas as partes do mundo, identificadas ou pelo biótipo ou pelas roupas típicas. Sempre lembro aquela frase que vi em uma camiseta, em resposta às manifestações xenófobas de certos países que foram colonizadores: “Nós estamos aqui, porque vocês estiveram lá!”. Para o Reino Unido nada mais apropriado, pois a Rainha Vitória, quando contemplava se reino desde a Índia à América, tinha razão de dizer: “O sol nunca se põe em meu império”.
No primeiro momento de nossa saída, senti-me como um antropólogo dividindo meu lócus de pesquisa informal: a) uma das mais movimentadas e badaladas rua londrinas; b) uma loja famosa de roupas femininas muito finas. Fiquei na Oxford Street, quase esquina da Postdan e em uma loja de roupas femininas, observando a ampla gama multicultural, traduzida especialmente pela tez e pelas vestimentas. No meu ‘estudo etnográfico’ (espero a generosa compreensão dos etnógrafos pela minha pretensão) mereceu destaque o grande número (certamente mais de uma centena) islâmicas com suas cabeças cobertas desde aquelas de quem se via apenas um par de olhos, muitas vezes com bem cuidadas sobrancelhas até aquelas com véus bem descontraídos, apenas para cumprir as normas.
O mais espetacular era vê-las comprando sedutores lingeries e outras roupas ousadas. Mesmo que isto pudesse parecer um contrassenso, até por não conseguir-se imaginá-las com outras roupas que não sejam aquelas mais recatadas e pundonorosas.
Depois deste aperitivo cultural, fomos a Tate Modern, repetindo uma visita que fizéramos em outubro de 2008. Chega-se à famosa galeria atravessando o Tamisa na Ponte Waterloo. Antes de iniciar a visita, fizemos um frugal almoço com frutas que compráramos na Oxford Street, juntando-nos a muitos que nos gramados à margem do Tâmisa curtiam o verão. Acompanhamos, por exemplo, um professor que explicava para alunos sentados na grama o que iriam apreciar na galeria.
A Tate Modern é uma das mais importantes galerias de arte moderna no Reino Unido, além de ser uma das atrações mais apreciadas pelos visitantes em Londres. Alojada numa antiga central elétrica, a galeria exibe arte moderna internacional, desde 1900 até aos nossos dias, e inclui obras de grandes artistas de renome do século vinte. A entrada para a visita à coleção permanente é gratuita e, mas as exposições temporárias que permitem explorar a obra de artistas modernos ou os movimentos artísticos de maior relevo são pagas, mas como tínhamos um cartão de ‘amigos da Tate’ que Joe & Teresa têm para agraciar seus hóspedes podemos usufruir também as temporárias de graça. Nestas mereceram destaque duas. Miró & Taryn Simon. Abro um pequeno comentário sobre um e outra. Aquele um velho conhecido que uma vez me cativou em definitivo em sua Barcelona natal há mais de duas décadas; esta uma fotógrafa famosa e audaciosa, cujo nome ouvi na tarde ontem a primeira vez.
Juan Miró (1893-1983) quando jovem frequentou a Escola de Belas Artes da capital catalã e a Academia de Gali. Em 1919, depois de completar os seus estudos, visitou Paris, onde entrou em contato com as tendências modernistas como os fauvismo e dadaísmo. No início dos anos 20, conheceu o fundador do movimento em que trabalharia toda a vida, André Breton, entre outros artistas surrealistas.
Em 1928, viajou para a Holanda, tendo pintado as duas obras Interiores holandeses I e Interiores holandeses II. Mais tarde, em 1944, iniciou-se em cerâmica e escultura. Em suas obras, principalmente nas esculturas, utiliza materiais surpreendentes, como a sucata.
Três anos depois, rumou pela primeira vez aos Estados Unidos. Já nos anos seguintes; durante um período muito produtivo, trabalhou entre Paris e Barcelona.
No fim da sua vida reduziu os elementos de sua linguagem artística a pontos, linhas, alguns símbolos e reduziu a cor, passando a usar basicamente o branco e o preto, ficando esta ainda mais naïf.
Nesta exposição que apresenta centenas de obras distribuídas em 13 amplas salas com
cuidadosa contextualização, especialmente mostrando as lutas de Miró contra o franquismo, que só viu se extinguir ao final de sua vida. É dele afirmação: Eu entendo que um artista é alguém que, em meio ao silencio dos demais, usa sua própria voz para dizer algo e que busca certificar-se que o que diz não é sem utilidade, mas algo que é útil para a humanidade.
Taryn Simon nasceu em New York em 1975. Sua mais recente produção: A Living Man Declared Dead and Other Chapters está na Tate Modern, desde maio de 2011 e estará na Neue Nationalgalerie, Berlin a partir de setembro deste ano. A artista produz uma instalação que é, ao mesmo tempo, inovadora, criativa e social e politicamente comprometida. Talvez pudesse dizer que ela é uma etnopsicobiofotógrafa. Para queles que têm na fotografia uma ferramenta de pesquisa vale conhecer seus livros em http://tarynsimon.com/
Dezoito grupos de imagens que exploram a história de diversas famílias, suas circunstâncias pessoais, relações e problemas humanos transformam o projeto da fotógrafa estadunidense.
A exposição "Um homem vivo dado por morto e outros capítulos" recebe esse nome depois do caso de quatro homens que vivem na Índia, mas que eram registrados como mortos perante as autoridades locais de seu país devido a um conflito relacionado com a herança de terras.
Ao longo de um período de quatro anos Taryn Simon fez crônicas fotográficas de 18 histórias de gerações de famílias através de uma montagem na qual utiliza imagem e texto. Em cada "capítulo", a artista mostra como forças externas, territoriais, de poder, circunstanciais ou de religião colidem com as forças internas da herança psicológica e física. Taryn Simon produziu um trabalho que é ao mesmo tempo coeso e arbitrário, no qual realiza o mapeamento das relações de sangue e outros componentes do destino.
Seu trabalho anterior Contraband (2010) é um arquivo de desejos globais e ameaças percebidas, apresentando imagens de 1.075 documentos que foram detidos ou apreendidos de passageiros para entrar nos Estados Unidos a partir do exterior. Um índice americano do oculto e desconhecido (2007) revela objetos, sites e espaços que são parte integrante de fundação da América, a mitologia, ou funcionamento cotidiano, mas permanecem inacessíveis ou desconhecidos para o grande público. Estes temas vãos desde invisíveis cápsulas radioativas em uma instalação de armazenamento de resíduos nucleares a um urso preto em estado de hibernação para a coleção de arte da CIA.
Em outro trabalho: Inocentes (2003) documenta casos de condenação injusta em os EUA, pondo em questão a função da fotografia como um testemunho aceitável e árbitro da justiça. Fotografias e escrita têm sido objeto de exposições monográficas em instituições, incluindo Tate Modern, London (2011); Neue Nationalgalerie, Berlin (2011); Whitney Museum of American Art, New York (2007); Museum für Moderne Kunst, Frankfurt (2008); Kunst-Werke Institute for Contemporary Art, Berlin (2004); e P.S.1 Contemporary Art Center, New York (2003).
Após estas duas exposições por mais de uma hora ficamos na loja e livraria da Tate Modern de onde parecia não querer sair. Na volta, quase 8h p.m. ainda era dia, jantamos em um restaurante turco, próximo de nosso hotel. Ali homens e mulheres fumavam narguilé. Ao chegarmos ao hotel empenhei-me em fazer um relato para meus leitores, que entrego aqui, com um relativo atraso. Sinto-me justificado por nesta viagem não trazer dicas sabatinas de leitura. Adito votos de um muito bom sábado. O meu promete ser maravilhoso no British Museum.
Caro Chassot,
ResponderExcluirmuito obrigado por nos levares junto ao teu dia londrino. Sinto-me companheiro nesta viagem, hoje inclusive, visitando galerias famosas. É um privilégio contar com as narrativas que fazes do teu diário de viagem (que não é de motocicleta).
Um abraço e boas visitas!
Garin
http://norberto-garin.blogspot.com
Ola estimado prof. Attico e profa. Gelsa,
ResponderExcluirQue voces tenham otima estada em Londres curtindo o verao europeu! Vou concluir a leitura hoje ainda...aqui estou corrigindo exames do final do semestre. Bom fim de semana! Abracos,
Eloisa
Ola Mestre Chassot
ResponderExcluirQue maravilha estar em Canoas e ao mesmo tempo virtualmente visitando as obras de arte dessas celebridades. Vejo que a iagem está plena de momentos exultantes de cultura. Grato pela trazida e um bom final de semana londrino. JB
Caro Chassot,
ResponderExcluirTua viagem, para nós leitores, está saindo melhor do que o esperado. Estamos dando uma olhada na Europa, através de teus olhos. Quase me vi na Oxford Street olhando a fauna local em seu meio ambiente. Quanto à Tate, admirei o Miró e a Taryn Simon, como se lá estivesse. Abraços e curta porque a vida é curta, JAIR.
Caríssimo Chassot
ResponderExcluirEspero que vc e Gelsa curtam esse verão londrino e aproveitem bastante a estada em terras da rainha. A Tate tem um acervo fantástico, visitei-a em 2000.
Certamente a travessia do canal da Mancha não será a nado, mas nos brindará com relatos interessantes.
Grande abraço
Renato
Meu caro Garin,
ResponderExcluircom parceria como a tua compensa fazer relatos,
Um bom fim de semana
attico chassot
Muito querida Eloisa,
ResponderExcluiré bom aqui em Londres receber afagos desde a Nigéria,
um bom fim de semana
attico chassot
Meu caro Jairo,
ResponderExcluirCanoas e Londres conectadas por blogares
Um muito bom fim de semana
attico chassot
Meu caro Jair,
ResponderExcluiresta avaliação de trota-mundo como tu catalisa uma nova blogada
Bom fim de semana
attico chassot
Meu caro Renato,
ResponderExcluiratravessar o Mancha a nado e o Atlântico como sardinha devem quase se equivaler em termos de desgaste.
Que bom que te recordei a Tate, amanhã tem um convite: British Museum.
Um bom fim de semana para ti e para a querida Sueli
attico chassot
Mestre! Relatos maravilhosos como sempre! Sempre acompanho o blog, apesar de nunca ter postado nenhum comentário. Conheci Londres em 2008, e é bom poder agora relembrar, através do teu blog, esta maravilhosa cidade!
ResponderExcluirEstimada Lívia,
ResponderExcluirobrigado pela companhia,
saber o que dizes aumenta o deseja de fazer bons relatos
attico chassot