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sexta-feira, 28 de maio de 2010

28* Sobre o dia seguinte


Porto Alegre Ano 4 # 1394

Vivo hoje a situação de uma postagem atípica. Primeiro por postá-la mais tardiamente. Já às 7h, estava na Academia Treinar para uma de minhas três sessões semanais de uma hora. Outra, como sempre posto muito cedo, é usual encerrar o dia com algo pré-pronto para a edição do dia seguinte. Ontem até me ocorrera falar acerca de uma comemoração: no dia 23 de abril de 1960 – portanto, há 50 anos atrás - a pílula anticoncepcional recebia a permissão para ser receitada, distribuída e vendida explicitamente como anticoncepcional oral nos Estados Unidos. Começava uma “revolução” que incidiria nos anos seguintes na vida de milhões de mulheres de todo o mundo, e através delas nos homens, nas famílias e nas sociedades de todas as nações. Farei isso provavelmente na segunda-feira.

Titulei essa edição ‘Sobre o dia seguinte’. Realmente os dois assuntos trazidos aqui – cupins e estada na UPF – marcaram meu dia. Permito-me hoje tecer essa blogada com um rescaldo de ontem, que quer ser mais que um café requentado.

Meu ‘Scriptorim’ ainda rescende ao inseticida lançado ontem contra os cupins. Deve ter havido um cupinicídio generalizado. Indefesos seres eussociais foram atacados por quatro humanos em um morticínio que eu patrocinei. Isso de seres eussociais mexeu comigo. Como trouxe aqui ontem: o termo eussocial é conferido aos animais que apresentam as sociedades mais complexas, ou seja, aqueles que compartilham três características: uma sobreposição de gerações em um mesmo ninho, o cuidado cooperativo com a prole, e uma divisão de tarefas (reprodutores e operárias). A grande pergunta que nos fazemos é: “o que é um ser inteligente?”. Recordo Friedrich Engels – o grande parceiro intelectual e suporte financeiro de Marx – que ensina: Os humanos se distinguem das demais espécies animais pela capacidade de produzir trabalho (útil) para a facilitação de sua vida.

Ontem aflorou muito uma pergunta que estava no Manual de doutrina Cristã. Lateralmente devo dizer que procuro um exemplar deste catecismo para preparação da primeira comunhão. Lá havia uma pergunta: O que é o homem? É um animal racional dotado de corpo e alma. Seguia outra pergunta: Para que vivemos na Terra? Para amar e servir a Deus e assim salvar a nossa alma. Será o cupim um animal tão irracional, mesmo tendo cuidado com a prole e dividindo tarefas entre os distintos estratos sociais, construindo extensas galerias na busca de alimentos.

Alguém pode pensar que esteja ‘variando’. Devo reconhecer que pensei muito nisso. Escrevi, há um tempo que fiz literatura infantil (inclusive premiada em dois concursos estaduais) um conto “Tratado de Paz” em que Bernardo e André fazem um acordo com formigas, que consistia na definição de quais vegetais estas podiam usar e quais deveriam proteger. Ontem, se antes da matança me fosse dado acesso uma audiência com a rainha da colônia de cupins que hospedava (notem que uso o tempo verbal no passado, como se a equipe da Mosca, tivesse tido sucesso) aceitaria fornecer madeira que poderiam usar para alimentação em troca de não atacar minhas prateleiras e meus livros. Certamente teria mais sucesso que os acordos de paz que os humanos não sabem fazer entre si.

Deixo os cupins que espero que descansem em paz e falo do dia depois da palestra de encerramento da “IX Semana do Químico: Química, Tecnologia e Sociedade” do Curso de Química do ICEG da UPF.

Houve algo inédito: Nunca minha estada em um evento teve um dia seguinte como nesta fala que volto a comentar. Houve dez comentários (no computo as minhas respostas) no blogue – algo inusual, pois estes são no máximo um ou dois, ou até zero. As emoções que estes retratam podem ser vistas na edição de ontem.

Mas houve ainda cerca de meia dúzia de recados, que me permito transcrever abaixo, com minhas respostas. Para quem fez essa viajada tudo isso é um bálsamo que mitiga qualquer cansaço. Fico muito gratificado quando vejo a dimensão que dás ao meu fazer Educação. Saber que conto com parceiros como as alunas e os alunos do Curso de Química da UPF. Só pelo teor dos comentários posso inferir que as sementes caíram em solo fértil.

Minha pergunta é porque essa tão diferente manifestação pós-palestra? Seria porque na abertura agradeci algo que também se afigurou como inédito: as mensagem pré-palestra manifestando expectativas e boas vindas.

Mas eis algumas das alegrias que me ofereceram aqueles e aquelas que assistiram minha palestra “A ciência como instrumento de leitura para explicar transformações da natureza” . Elas foram postadas na espaço de recados do blogue que não permite mais de algumas linhas.

Mensagem: Mestre querido. Como lhe disse ontem sempre vou dar uma espiadinha em seu blog. Que bom que pode sentir como o admiramos e como nos foi importante as suas palavras. Nunca esquecerei :CURIOSIDADE! Nada de ser cubeiro! Muito interessante esta vida de cupim. É muito prazeroso aprender com o senhor. Melhor seria se todos tivessem esse seu dom de passar conhecimento... Abraço de uma aluna que lhe admira bastante. Até breve Luciana Luft

Luciana muito querida, Obrigado por tua chegada no blogue e conheceres um pouco sobre esses cupins eu eussociais. Apareça de vez em vez. Um afago do attico chassot

Mensagem: Bom dia, Prof Chassot.

Agora entendo o carinho que todos têm ao comentar sobre o "Mestre Chassot", pois ontem a noite também senti o mesmo, fico orgulhosa em saber que nós Químicos temos um Mestre tão especial para aprender e compartilhar a Ciência

Um abraço de sua fã Josiane.

Josiane querida, obrigado pelo teu carinho. Para mim também foi uma noite especial.Um afago do attico chassot

Assunto: RES: Mais uma fã, aluna e estudiosa lhe fazendo perguntas...

Querido Mestre, sou mais uma dos quase 200 ouvintes da palestra ministrada pelo senhor na noite que passou. Sou também, aluna do professor Ademar e estou, neste momento escrevendo uma resenha do seu livro "A ciência é masculina?", e gostaria de sua ajuda grandiosa, pois fiquei com uma dúvida para a elaboração da mesma. Não tive coragem ontem a noite de te pedir isto, e ainda neste momento não sei direito como me dirigir a você em relação a este fato. Necessito citar na resenha a qual perspectiva teórica a sua obra pertence, e estou tendo muitas dificuldades para identificá-la. Se for possível me auxiliar nesta questão, seria muito grata.

Atenciosamente,
Aline Adiers, Bacharel em Química e estudante de Licenciatura em Química pela UPF.

Muito querida Aline, a tua questão é irrelevante. Lembra do que falei ontem à noite de Feyerabend, Não precisamos necessariamente identificarmos uma determinada perspectiva teórica, Mais quais são os diferentes rótulos para então nos encaixar em um. Pensei muito em uma resposta, Talvez diria que fui um pouco hermeneuta na escrita do A Ciência é Masculina? Talvez, tenha aplicada a heurística. Devo dizer que nos sete anos deste livro nunca alguém havia feito tal pergunta, Nem eu, jamais, me fizera Releva minha dificuldade em responder, um afago attico chassot

Mensagem: Olá Mestre Chassot!

Sou acadêmica do curso de Química licenciatura da UPF, e ontem tive o privilégio de conhecê-lo pessoalmente. Conhecia seu trabalho através de seus livros, já era sua fã, mas ontem depois da palestra nossa, acho que não tenho palavras para designar tamanha adoração pelo senhor e pelo seu trabalho que contribui em muito para meu crescimento pessoal e profissional.

Porém fiquei com duas perguntas, melhor dizendo duas curiosidades. O que leva o senhor a destacar bem o masculino e o feminino em seus livros? em que momento surgiu essa ideia, que faz com que seus livros sejam escritos para cada um individualmente? E qual o segredo para escrever livros tão interessantes e que conseguem chegar a vivencia de todos?

Obrigada pela atenção e por compartilhar de seus conhecimentos! Abraço, Camila Missio da Silva

Muito querida Camila,

Obrigado pelas referências tão queridas a minha fala de ontem. As tuas duas perguntas são uma fácil e outra difícil. A primeira é decorrente dos ensinamentos de Paulo Freire que tive o privilégio de conhecer pessoalmente. A segunda daria um artigo.

Sua análise pode ser suportada pela tentativa de compartilhar respostas a três interrogações: O que escrevo? Como escrevo? Por que escrevo? A primeira é de fácil resposta. A segunda traz algo de como iniciar um texto. A terceira, mais complexa, já mereceu contribuições de leitores de diferentes linguagens e países. Já antecipo que talvez ainda tenha que buscar ajudas psicanalíticas para responder esta terceira pergunta.

Tenho um texto mais completo que se desejares posso te enviar, coso não encontrares nesta referência. CHASSOT, Attico. Blogues como artefatos culturais pós-modernos para fazer alfabetização científica. Competência: Revista da Educação Superior do Senac-RS. p. 11-28. V.2, N.2 Julho de 2009 ISSN 1984-2880.

Uma vez mais obrigado pelo estímulo acerca da noite de ontem, um afago do attico chassot

Estendi-me demais. Votos de um saldo de sexta-feira e bom fim de semana. Adito uma vez mais um convite para amanhã.

Um comentário:

  1. CAMILA escreveu
    Olá Mestre Chassot!
    Seu blog me viciou, nossa tive até outra visão sobre cupins, a cada dia que passa, a cada palavra sua que leio, me encanto mais!
    Depois da sua palestra na UPF, observei que meus "óculos" da ciência estavam um tanto sem foco, hoje tenho uma visão bem mais ampla, e uma vontade enorme de buscar novos conhecimentos! Ontem à noite, o senhor foi o comentário pelos corredores da UPF, todos ainda estavam maravilhados com sua presença na nossa semana acadêmica. E confesso que fiquei numa curiosidade de assisti a palestra que o senhor falou sobre "A ciência é masculina?", tanto é que comprei o livro, e tenho certeza que este será "devorado" no final de semana!!!!
    No outro email o senhor me falo de um texto, com certeza quero ler, se puder me enviar fico muito agradecida, eu procurei por essas referências, mas no "tio google" e não consegui!
    Um grande abraço e os votos de um ótimo final de semana!!!
    Camila Missio da Silva
    Chassot respondeu
    Estimada Camila,
    obrigada por teu comentário, Tomo a liberdade de (auto)postá-lo no blogue, até porque ‘vocês’ na quinta-feira me viciaram com dez comentários e deixaram essa edição ‘sapateira. A tua metáfora acerca da necessidade de ajustamento de foco merece ser trazida para todos. Vês que agora já enxergas os cupins diferentes, Eles como os humanos são eussociais. Estou te enviado o texto onde tento responder: o que escrevo? / como escrevo? / por que escrevo? Antecipo que é um texto de que já tem um ano e em alguns trechos parece velho. Se leres o blogue desse sábado verás que tu e eu estaremos próximos nas leituras.
    Releva fazer público teu comentário sem autorização.
    Um afago do
    attico chassot

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