Porto Alegre Ano 4 # 1376 |
Mais uma vez, segunda-feira. Uma nova semana. Madrugada chuviscosa e úmida. Temperatura para nos avisar que dentro de um pouco mais de um começa, oficialmente, o inverno.
Esta tarde, me reencontro com o grupo da UAM - Universidade do Adulto Maior do qual estive distante na última semana devido ao VII AFIC. Nesta semana, na quarta e quinta feiras, estou na Universidade de Rio Grande para participar em uma mesa-redonda no Seminário Perspectivas de Investigação no Campo da Educação Ambiental e Educação em Ciências e dar um mini-curso na Faculdade de Educação.
Esse preâmbulo me leva mais uma vez a refletir nas exigências de nossa produção acadêmica e do tempo que dispomos para tal. Em inglês há uma máxima: "Publish or perish" que pode ser traduzida como "Publicar ou perecer". Esse mote, surgido por volta de 1950, é atribuído ao geneticista estadunidense C. Kimball Atwood, da Universidade de Columbia. Logo não trago novidade nenhuma.
No dia 30 de abril, quando me dava conta que se vencia o primeiro quadrimestre de 2010, o título da blogada era ‘Tempus fugit’. Disse, então, que era a inscrição presente nos mostradores dos relógios. Hoje, o mais usual marcador de tempo parece ser aquele que está no canto direito de nossos computadores. O computador é cada vez mais o feitor que nos fustiga exigindo produção e, paradoxalmente, é ele que nos desvia da mesma ou, pelo menos, diminui a qualidade da mesma. Não vou fazer terrorismo, mas talvez ao invés de ‘tempo foge’ vemos a máxima "Publish or perish" ou "Publicar ou perecer".
"Publicar ou perecer" refere-se à pressão para publicar trabalhos constantemente para manter uma carreira na Academia. Somos avaliados – e mais as instituições nas quais trabalhamos são avaliadas – pelo número de trabalho que produzimos.
Mais recentemente se instituiu mais uma maneira de pressão. Esta se tornando moda, sermos convidados para participar de um evento com adição de um convite (às vezes, uma exigência) de encaminharmos um texto para que se organize um livro ou número temático de revista. Isso determina, quase irremediavelmente, a prática do auto-plágio, vacilitada pela tão corrente associação do “Ctrl C ao Ctrl V”.
Acerca do assunto, permito-me recomendar o excelente texto “O fetiche de quantidade” de Renato Mezan, psicanalista e professor titular na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, no caderno Mais, da Folha de S. Paulo de ontem. Ele defende que metas de produtividade e burocracia acadêmica diminuem o potencial de pesquisas científicas. Também assegura que a criação de conhecimento não pode ser medida somente pelo número de trabalhos escritos pelos pesquisadores, como é a tendência atual no Brasil.
Adiro ao articulista da Folha quando diz “Não é meu intuito recusar, em princípio, a avaliação externa, que considero útil e necessária. Gostaria apenas de lembrar que a criação de conhecimento não pode ser medida somente pelo número de trabalhos escritos pelos pesquisadores, como é a tendência atual no Brasil. Tampouco me parece correta a fetichização da forma "artigo em revista" em detrimento de textos de maior fôlego, para cuja elaboração, às vezes, são necessários anos de trabalho paciente”.
Na mesma direção, e também Mezan alerta para o “encurtamento dos prazos para a defesa de dissertações e teses na área de humanas, com o que se torna difícil que exibam a qualidade de muitas das realizadas com mais vagar, que (também) por isso se tornaram referência nos campos respectivos.”
Parece que temos nessas reflexões chamamentos para repensarmos como avaliar a produtividade acadêmico. Prometo voltar ao tema.
Com votos de uma muito boa semana, iniciada por uma frutuosa segunda-feira. Lemo-nos amanhã, muito provavelmente.
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