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domingo, 21 de março de 2010

21*DOM* Voltando a uma fabula econômica

Porto Alegre Ano 4 # 1326

Pode parecer prosaico, mas algo muito significativo do meu sábado foi ter postado na undécima hora (e não é metafórico, pois ainda estava em demorada fila quando a agência postal da Goethe fechou ao meio dia) doze exemplares do Alfabetização científica: questões e desafios para a Educação catados de muitas fontes. Na noite de quarta-feira, recebi um pedido de mestrandos de Blumenau. O livro está esgotado. Naquele dia havia pautado com a Editora Unijuí uma quinta edição, com eliminação de alguns capítulos. É muito significativo: quando da primeira edição em 2000 ainda se fazia livros acadêmicos de quase meio milhar de páginas. Agora há precisão de reduzi-los. Consegui com muito esforço amealhar 12 exemplares. Foi decisiva para a completação a ajuda do competente livreiro e professor Paulo Stolz, da livraria Multicultura, que ainda pela manhã me trouxe exemplares para completar a dúzia. Tenho que agora pensar na nova edição do livro.

Esse fim de semana sonho terminar um capítulo de um livro que é uma produção coletiva de pesquisadores da área de Educação Química, que já me envolve desde o início de 2010, onde o meu texto é apresentado sob forma de um diálogo internético entre uma jovem aluna, que cursa a segunda metade do curso de licenciatura em Química e um professor que há muito se envolve com a formação de docentes para a área das Ciências da Natureza. O ponto de partida são interrogações que Maria Clara faz para o professor Giordano. Ao final ocorre uma tentativa de mostrar como sempre se alfabetiza cientificamente, mesmo àqueles que já se consideram alfabetizados.

Mas aos domingos, já contei aqui que a proposta é de blogadas light. Pois essa semana quando os noticiosos davam conta dos tumultos no mercado do euro mostrando que a crise não era só com a economia da Grécia; era bem mais ‘globalizada ou europeizada’ evoquei a inexplicável fábula econômica: Geração de riqueza trazida aqui domingo passado. Os euroeconomistas apresentavam a receita para a crise: gerar riqueza com a movimentação no ‘impulsionar serviços’.

Pois um leitor reescreveu a historieta tornado-a mais incrivelmente (in)verossímil. Apenas pediu anonimato: “Gostei da fábula. Aqui vai uma nova versão. Fico anônimo. Reescrevi em horário de trabalho, e não quero cair em desgraça com meu empregador. Admiro esse blogue, A.Celsius.” A propósito, na sexta-feira aqueles que me assistiam na Fundação CEEE (e sei de outras empresas que é assim) me diziam que não podem acessar blogues em serviço. Issp poderia gerar uma blogada, mas não dominical. Vamos à releitura da historieta.

Julho de 2009, em Salinas, praia herma praia gaúcha, faz muito frio e mar agitado, o vilarejo parece deserto. Muitos moradores estão endividados, vivendo as custas de crédito. Às 8h da manhã chega um viajante e entra na única pensão da praia. “Não sei se tenho serviço por um dia na região. Mas queria fazer uma reserva”. “O senhor antecipa duas diárias. São R$ 100, se até o meio dia o senhor cancelar, devolvo integralmente, se for depois das 12, o cancelamento devolvo a metade”. “Perfeito, aqui está uma nota de 100 reais e até mais tarde!” Logo que ele sai, o gerente do hotel toma sua moto e voa até Cidreira com os R$ 100 e vai até o açougue pagar sua dívida de 80. Retorna com uma nota de 20 reais. O açougueiro pega a nota e vai até um criador de suínos a quem devia 50 reais. Paga a dívida e embolsa 50 reais. O criador pega os R$ 100 e vai ao veterinário para liquidar sua dívida de compra de remédios e uma consulta do doutor ao seu plantel: recebe 10 reais de troco. O veterinário aproveita a manhã fria e vai à locadora, onde devia 30 reais de aluguéis de filme que lhe mitigavam o inverno solitário, volta com 70 reais para sua loja-consultório. O dono da locadora vai ao supermercado e paga uma dívida de 50 reais, recebendo 50 reais de troco. O dono do supermercado toma os R$ 100,00 e paga eletricista que acabara de concluir um serviço no valor de 80 reais e recebe 20 de troco. O eletricista pega sua bicicleta e passa na madeireira e quita sua dívida de 20 reais e embolsa os 80 reais que recebe de troco. Um dos empregados da madeireira ao ver com uma nota de 100,00 reais lembra que lhe eram devidas horas-extras exatamente nesse valor. O empregado da madeireira recebe seus atrasados e pede para sair mais cedo e vai com discrição até a zona de prostituição e paga 100,00 o que devia para a Valderina por favores prestados na última visita à zona. A Valderina pega a nota de R$ 100,00 e vai ao hotel, lugar onde, às vezes, levava seus clientes e que, ultimamente, não havia pago pelas acomodações, e paga uma dívida de 80 recebendo 20 reais do gerente (aqueles que ele recebera de troco do açougue) e fica com a mesma nota de 100 reais que circulara pela manhã. Um pouco depois, o viajante retorna ao hotel, e explica que não vai precisar ficar na região. Recebe de volta a mesma nota R$ 100,00 de volta, agradece, e diz que retorna depois do almoço a Porto Alegre.

Agora, meus leitores, expliquem: Entrou em circulação mais 320 reais distribuídos para oito pessoas. Estas e mais três passaram a viver sem dívidas e deverão ter mais ganas na produção de serviços, que geram riquezas que exorcizam crises.

Depois desse epílogo à fabula econômica só resta aditar votos de um muito bom domingo, agora já plenamente outonal, naquela que se diz ser – no Rio Grande do Sul – a estação mais linda. Que o domingo augure uma muito boa semana. Nesta este blogue terá uma leitora em Berlin. A Gelsa chegou ontem à tarde para começar a terceira e última etapa de seu périplo europeu. E chegou com boa notícia: antecipou seu retorno. Ao invés de chegar, segunda-feira dia 29, deverá estar em Porto Alegre quando o próximo sábado se transmutar em domingo.

6 comentários:

  1. Mestre Chassot!A criatividade da fábula economica talvez merecesse créditos ao autor. Todavia, respeitemos sua solicitaçao de anonimato. Parabens pelo sucesso de teu Alfabetizaçao Cientifica, e para o grupo de Blumenau que irá fruir de tão consistente texto; sou testemunha disso. Abraço do JB com votos de um bom domingo.

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  2. Meu Caro Jairo,
    muito provavelmente o ignoto A. Celsius lerá teus elogios no teu comentário. Vibro com o trabalho que será feito pelo grupo de mestrandos de Blumenau.
    Um muito bom domingo, quando acabo de terminar a primeira versão do texto que referi.
    Retorno ampliados teus votos de um bom domingo,
    attico chassot

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  3. Prof Chassot
    Estou a iniciar o trabalho registrando, ou mais especificamente sistematizando minhas leituras e idéiar, nas quais coloco muita fé e esperança: alfabetizar contém um grande significado implícito e explícito para o mundo em todos os sentidos. Parabéns pelo sucesso do seu livro.
    Um abraço e aguardo...

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  4. Estimada Eloi,
    Obrigado por esta visita dominical. Uma boa semana.
    Um afago com carinho

    attico chassot

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  5. Mestre Chassot, fiquei sem internet ontem, devido a um problema da Oi, mas agora o acesso está normal.

    A reescrição da "fábula econômica" acaboou, realmente, sendo mais completa e [in]verossímil do que a original.

    Ótimo domingo.

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  6. Meu caro Marcos,
    ocorre que tu me/nos viciastes. Quando faltas algo nos sensibilizas. Devo te antecipar que teu comentário sobre Kierkegaard será parte de um texto em burilamento. Aguarda. Realmente A. Celsius com sua reescrita tornou a historieta muito mais (in)verossímil.
    Obrigado, pois aqui nunca é tarde para comentários,
    attico chassot

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