11* “A Ciência é masculina?” vai ao Bar Farofa

Porto Alegre Ano 4 # 1316

Não sou catastrofista, mas há que convir que este 2010 transtorna nossos (des)conhecimentos do Planeta. As notícias são no mínimo intrigantes, sem deixar de reconhecer que são também devastadoras. Fico apenas com duas.

Deste que cheguei, na segunda-feira, aprendo que o Rio Grande do Sul está em estado de alerta. O ciclone (não é um ciclone) é espionado com uma intimidade de uma visita indesejada. “Ele está estacionado!” “Ele se mexeu!” “Ele não vai embora hoje, talvez amanhã!” Só falta dizerem: “Agora o ciclone se espreguiçou!” Parece folclórico quando jornalistas – ou melhor, narradores de futebol – se alçam a meteorologistas. Não é diferente quando estes cobrem apuração de eleição. Sei que buscam tranquilizar a população, mas convenhamos: merecemos algo melhor.

A outra: realmente incrível e não fosse a validação por uma instituição cientifica [Olhem eu supervalorizando e dando fé a Ciência!] colocaria no mesmo nível da primeira. O violento terremoto de 8,8 graus na escala Richter que sacudiu o Chile dia 27 de fevereiro deslocou a cidade de Concepción 3,04 metros no sentido oeste. Não recordo de jamais ter ouvido algo parecido. Certamente, só mais recentemente se tem possibilidades de fazer essas medidas com satélites e ai sabemos que até Buenos Aires foi movida de 2 a 4 centímetros a oeste. Dentro em breve vamos dizer de verdade ‘pára mundo que eu quero descer!’

Falemos em amenidades ou até em algo mais excêntrico. Para o fim de tarde desta quinta-feira tenho algo diferente. A primeira vista vou (quase) profanar uma de minhas palestras que mais apresentei. A Ciência é masculina? É sim, senhora! teve sua primeira fala, em 2002 em uma sessão ‘IHU ideias’. Essa palestra já a realizei mais de meia centena de vezes em dezenas de Universidades de vários estados brasileiros como também na França, no México, na Argentina (onde foi publicada em espanhol), no Uruguai e na Colômbia.

Pois hoje ela está no cardápio em Sarau no Bar Farofa. Atesto com folder promocional. Houve quem dissesse que esse espetáculo não combina comigo. Pois fui até o dicionário ver o que é sarau. O Houaiss me ensina que é uma 1) reunião festiva, geralmente noturna, para ouvir música, conversar, dançar; 2) reunião noturna, de finalidade literária; 3) concerto musical noturno. Opto pela alternativa 2 e recordo-me das tertúlias que participava no Círculo Literário de Madrid, durante o pós-doutorado onde a Gelsa e eu fomos convidados para falar do nosso trabalho com o MST.

Mas estou entusiasmado, mesmo que receoso, em ir ao Bar Farofa que o Professor Google Sabe Tudo me mostra que esse nome é muito recorrente para bares e existe em dezenas de cidades brasileiras. Mas esta noite vou escrever em meu diário: “falei no Bar Farofa de Porto Alegre”.

A atividade ocorre dentro da celebração do Dia Internacional da Mulher. Numa promoção do Gabinete da Vereadora Sofia Cavedon, organizada pela Professora Maria de Fátima Baierle. A proposta surgiu quando a Sofia e eu participamos, no ano passado de atividades do Fórum Regional de Educação, em Osório a convite do Vereador Denílson Silva, meu ex-orientando de mestrado. Então pensamos em levar o tema da ‘Ciência masculina’ a um dos saraus mensais promovidos pelo seu gabinete.

Claro que considerando outros pontos da programação e o cenário do evento, vou fazer profundos cortes em minha fala. Isso é complicado. Lembro de minha mãe que dizia que é mais fácil fazer uma roupa nova que reformar uma usada. Na outra sexta-feira, dia 19 poderei fazer a mesma fala mais completa na Fundação CEEE, esta em decorrência de palestra que fiz no ano passado na Eletrosul.

Nunca é demais recordar que as primeiras falas provocaram polêmicas (e até vaias) a começar pelo título provocativo do livro A Ciência é masculina? e a resposta seguida na página de abertura: É sim, senhora! Sempre contrapus as acusações machistas com as dedicatórias: Para Maria Antônia, minha neta, que, afortunadamente, será mulher em novos tempos e para Gelsa, minha companheira, cujo fazer acadêmico ajuda a chegada destes novos tempos.

É bom recordar o surgimento do livro que já teve desde 2003 quatro edições. Estava preparando a publicação do Educação conSciência (que escrevera em Madrid; hoje comecei a revisar o material da 3ª edição) quando um capitulo ficava extenso demais. Ele foi desentranhado do mesmo, e depois de apresentado no IHU Ideias, se fez livro independente. Aqui refiro minha gratidão muito especial, ao Instituto Humanitas Unisinos. Ele é um fórum de discussão muito especial. Cabe-lhe uma palavra muito corrente na academia, sem que se atente ao seu significado mais denso: seminário, canteiro onde se semeiam vegetais que depois serão transplantados, um semeadouro de ideias. Tomara que eu contribua para que no anoitecer desta quinta-feira eu ajude a fazer do Bar Farofa um seminário.