Ålborg Ano 4 # 1308 |
Nesses dias tem aflorado em mim Teoria da viagem, poética da geografia – um livro muito recente do filósofo Michel Onfray que foi dica de leitura aqui no segundo sábado de dezembro. Estou começando a voltar. Hoje não vamos à AAU. Quero visitar um museu que recupera um claustro franciscano subterrâneo. Ao entardecer vamos a Skørping uma pequena cidade de menos de 3 mil habitantes para jantar na casa do Educador matemático Ole Skovsmose acerca de cujas pinturas esse blogue fez uma edição especial no segundo domingo de janeiro. Mas hoje o assunto é ontem.
A fala mais exótica de minha vida passou. O cenário para dar certo estava completo: na rua neve e sol brilhavam como não havia visto antes. Internamente a equipadíssima Læreruddannelsen Aalborg do University College Nordjylland é uma escola como nem em sonhos eu imaginara pudesse existir.
Claro que de saída, uma vez mais, lamentei muito que um dia tenha havido a tentativa daqueles semitas ambiciosos em construir a Torre de Babel. Isso já me prejudicou / prejudica em minha vida. Isso deve ocorrer para bilhões de humanos. No passado, quando não havia os tradutores como o do Google isso era ainda mais dramático. Acredito que os únicos que lucraram / lucram / lucrarão com a tentativa de chegar aos céus por meio de uma torre são os tradutores e os editores de dicionários. Agora, convenhamos que Jeová não foi nada misericordioso e muito menos camarada. Poderia apenas ter mandado um tufãosinho ou uma simples soprada sobre a torre. Se não houvesse tomado a radical decisão de embaralhar as línguas (um pedia tijolo e outro alcançava uma pá; um queria água, outro entregava uma corda) e hoje todos falaríamos a mesma língua em todo o mundo. Hoje não poder me comunicar melhor com aquelas e aqueles que me ouviam tão atentamente foi doloroso.
Eu sou imensamente grato a Jette Schmidt, professora de Geografia do University College e aluna de doutorado em Science Education na Ålborg Universitet. Ela teve um desafio tão grande quanto o meu. Não sendo falante de nenhuma língua latina, traduziu para o dinamarquês meu inglês que é muito pobre. Como comentei ontem, tanto a Jette quanto eu tivemos a ajuda muito preciosa das lâminas que trouxera com toda a palestra inglês. Todavia, se eu não tivesse sua ajuda, a palestra seria para ouvidos moucos. Mesmo sabendo que ela não me lerá aqui, faço público meu profundo reconhecimento.
O mais difícil foi responder questões formuladas pelos estudantes em dinamarquês e traduzidas para o inglês, quando então eu não tinha a ‘cola’ em Power Point.
Porém, não é apenas a língua que faz diferença. A dificuldade mais significativa que tive foi exemplificar situações relacionadas com o acesso ao conhecimento. Nesta fala senti muito o quanto algo que tenho afirmado: brecha cada vez maior que se estabelece entre os que têm acesso ao conhecimento e os marginalizados. Hoje a diferença ente pobres e ricos – pessoas e países – não só que os pobres tenham menos bem, mas é que estes têm menos acesso ao conhecimento. Na realidade desta fala não tem sentido em falar em diminuir o número daqueles que ainda pertencem ao Movimento dos Sem @rroba (isto é, não tem um endereço eletrônico) pois todos os alunos das escolas tem correio eletrônico. Essa é outra realidade.
Mas, enfim, somando e subtraindo, devo dizer que valeu a experiência e acredito ter trazido alguma contribuição. Quando cheguei a AAU já havia esta mensagem: “Thank you for a very inspayring lecture “ From Discipline to Indiscipline: a reverse path to scientific literacy” at UCN Match 2nd. I wouldt like to recive the power point presentation slides, as thay containde much interesting information. Best regards, Helene. Mas na verdade, sonho com uma próxima palestra onde eu possa falar o meu português.
Na madrugada anterior, talvez insone pela palestra, postei o blogue quando no Brasil passava das 22h de segunda-feira (aqui já mais de 02h de terça-feira) e por tal a edição de ontem saiu ainda com data de 01 de março. Mas a madrugada foi generosa com um muito promissor convite, presente nesta mensagem: Caríssimo professor Attico, ainda muito frio da Dinamarca? fui incumbida de fazer-lhe um convite para ministrar uma disciplina na UAM - Universidade do Adulto Maior. Que acontece nas segundas-feiras das 14h às 15h e que ficaria dentro das suas horas do Núcleo de alfabetização científica. A disciplina seria o Processo histórico e antropológico do envelhecimento, tendo mais ou menos 35 alunos, dentro da indissociabilidade de ensino, pesquisa e extensão. Um forte abraço! Aládia Ordobás, Coordenadoria de Pesquisa e Pós-Graduação. Minha resposta não poderia ser diferente desta: Estimada Aládia, a temperatura hoje aqui está 5 graus negativos. [...]. Mas a resposta ao teu convite é JA, TAK que significa SIM, OBRIGADO, em dinamarquês. Estou muito feliz com o desafio que me oferecem quando vivo o meu 50º ano de magistério. Farei o melhor contribuir com a UAM, uma das mais significativas realizações do Centro Universitário Metodista - IPA. Retorno, como acordado quando de meu pedido de afastamento, nesta segunda-feira dia 8. Com muita expectativa, agradeço por me desafiarem e confiarem no meu trabalho, ac
Mais de uma vez já atravessou em meu imaginário atividades que vou desenvolver nesse novo desafio. Isso é muito gostoso. Não foi sem razão que quando fiz a minha fala, com orgulho, apresentei o logo do Centro Universitário Metodista - IPA, reconhecendo que a instituição permitiu o meu afastamento, na primeira semana letiva. Sou particularmente grato ao professor José Luís Corrêa Novaes, Coordenador dos Cursos de Filosofia, que me substituiu na noite de ontem.
À tarde, assisti à conferência “Challenges of teacher education for the new generations” feita pela Gelsa em evento promovido por rede de professores de pesquisadores envolvidos com a Educação de professores. Foi a primeira vez que assisti uma fala dela em inglês. Encantei-me, não apenas com seu inglês fluente, mas com a densidade de suas reflexões. São poucos os pesquisadores que podem projetar em um slide que se inicia assim: Knijnik’s perspectives. Eu tinha por que estar muito orgulhoso.
Ao anoitecer participamos de um jantar com colegas da Universidade. Quando às 20 horas retornamos ‘à nossa casa’ caminhando cerca de um quilômetro com uma temperatura de cinco graus negativos, uma e outro estávamos cansados, mas contentes com nossa quase despedida de Ålborg. Hoje é o penúltimo dia aqui. Com votos de que a quarta-feira seja muito boa a cada uma e cada um.
Inesquecível Chassot,
ResponderExcluirParabéns pelo convite da Aládia. Sei que fará um excelente trabalho.
Tenho certeza que os dinamarqueses adoraram sua palestra.
Desejo que curta bem o seu dia (bem gelado!)
Saudades!!!!
Mestre Chassot, que bom que os discentes da UAM também tarão a oportunidade de ouvir suas falas. É uma oportunidade maravilhosa para ambos. Em que dias serão suas aulas ao Curso de Filosofia?Estou pensando em infiltrar-me para assistir uma aula sua aos futuros filósofos.
ResponderExcluirParabéns pela fala na AAU. Mesmo com o problema babelênico, acredito que todos devem ter aproveitado suas considerações para fazer reflexões acerca da educação.
Ótimo dia.
Querida Joélia,
ResponderExcluirobrigado por tuas torcidas.
Estou empolgado com as possibilidades da UAM.
Para ti na querida Jequié um afago desde Ålborg em uma noite gelada, recém chegando ao apartamento, quase no ocaso de meus dias aqui
attico chassot
Meu caro Marcos,
ResponderExcluirobrigado pela vibração com meu trabalho na UAM. Estou gostosamente desafiado. As aulas no curso de filosofia são nas noites de terças-feiras no primeiro tempo. Devemos discutir se vale a pena tu assistires.
A tua solidariedade babelina me gratifica.
Uma muito boa quinta-feira,
attico chassot