Porto Alegre Ano 4 # 1323 |
Nos últimos dias tenho postado as blogadas nos primeiros minutos – não sei se os leitores olham a hora de postagem – para que a Gelsa que está essa semana em Paris, tenha este texto antes de sair para suas lides acadêmicas. Como ela está num fuso de quatro horas adiante, se postasse aqui às 7 da manhã, às 11h não mais a alcançaria. Assim. hoje mais uma vez vivo na borda do dia que começa.
Hoje a pauta é mais uma vez a resposta à pergunta: Acerta a Justiça de Timóteo (MG) ao condenar casal que tirou filhos da escola para educá-los em casa? Como já comentei, para as edições de ontem e de hoje, apropriei-me da coluna de debates que a Folha de S. Paulo publica aos sábados. No dia 13 a questão trazida era propósito da condenação a opção de educar filhos em casa retirando-os da escola regular.
Ontem trouxe posicionamento pelo acerto do juiz. Defende agora posição contrário – o juiz não acertou Luiz Carlos Faria da Silva, 53anos, mestre em educação pela PUC-SP e doutor em educação pela Unicamp, é professor adjunto do Departamento de Fundamentos da Educação na Universidade Estadual de Maringá (PR) e educa seus dois filhos em casa desde 2006. Logo fala com experiência.
Não há espaço suficiente aqui para abordar os vários aspectos da decisão judicial que condenou Cleber Andrade Nunes. É perfeitamente possível, entretanto, argumentar a favor dos pais.
Tomemos dois pontos presentes nos discursos daqueles que, ao lado da autoridade judicial, condenam os pais: os alegados prejuízos à socialização das crianças e o laxismo fatalista que acompanha o reconhecimento do nível catastrófico da qualidade da instituição escolar em nosso país.
Quanto à questão da socialização, note-se que no Brasil não há pesquisa longitudinal, internacionalmente reconhecida, sobre os impactos dos cuidados infantis na trajetória de desenvolvimento socioemocional e cognitivo das crianças e no comportamento juvenil. Enquanto isso, evidências oriundas de pesquisas longitudinais, cujos resultados são publicados em revistas líderes mundiais em fator de impacto no campo, negam suporte às teses defendidas pela maioria dos experts brasileiros nesse tema.
Por outro lado, em países como França, Inglaterra e EUA, em que essa modalidade de educação não é interditada, ainda que seja regulada, não consta que haja epidemia de sociopatia entre as crianças cujos pais a praticam. Nos EUA, por exemplo, o Departamento de Educação diz que 1.508.000 crianças e adolescentes estudavam sob alguma modalidade de educação domiciliar em 2007.
Os que querem anular o direito dos pais de escolher o tipo de educação dada aos filhos negligenciam o fato de que a experiência escolar é hoje, muita vezes, ocasião de sofrimento, pois escolas e educadores são cada vez mais despojados dos instrumentos de mediação e controle dos conflitos. Ou de contenção de ações antissociais.
Eles se preocupam com a proteção dos "direitos da criança" contra o autoritarismo e a unilateralidade da visão de mundo dos pais. Mas as crianças precisam de mais proteção contra o grupo de iguais do que contra os pais, lembra Hannah Arendt.
O autoritarismo do grupo de iguais é muito mais cruel, implacável e devastador por um ser em processo de formação de personalidade. Hoje, na escola, crianças que não se enquadram no padrão médio são impiedosamente desdenhadas pelo grupo. E são cada vez mais numerosos os casos em que do desdém, e mesmo da troça, passa-se à agressão física.
Quanto à qualidade da instrução, a tolerância nacional diante do fracasso escolar tem crescido. Dados do MEC mostram que a probabilidade de uma criança brasileira encerrar os anos iniciais do ensino fundamental com desempenho em língua portuguesa e matemática abaixo do mínimo esperado é altíssima.
A lassidão ante o baixo padrão não se limita à instrução. Há o aspecto da formação. Nem aos leigos escapa a percepção da crise da autoridade na escola. Qualquer pessoa que encare o problema de perspectiva real e prática, despida dos cacoetes emancipacionistas impostos pelas abordagens teóricas hegemônicas no pensamento pedagógico dos últimos 30 anos, sabe das dificuldades para o exercício de atividade educativa nas escolas.
Professores são reféns de caprichos infanto-juvenis incontroláveis. A pedagogia "mainstream" ergueu um altar à espontaneidade criadora das crianças e jovens. As famílias entregaram-nas a babás, a creches ou ao trio DVD, videogame, computador.
Quando tudo sai de controle, apela-se a saídas extremas: decreta-se toque de recolher para adolescentes, como se fez recentemente em cidades do interior paulista.
Nessas condições, qual a capacidade instrucional e formativa da educação escolar? Não postulo a desescolarização. Afirmo, porém, em alto e bom som: os pais têm direito a escolher a educação que seus filhos receberão. A família Andrade Nunes foi apenada por não permanecer prostrada ante os prejuízos instrucionais e morais que a educação escolar poderia impor a seus filhos. Assumiu riscos. Agiu. E os resultados mostram que foi bem-sucedida. Merece apoio. Não recriminação.
Professor
ResponderExcluirPassei para lhe desejar um feliz início de ano, 2010, com muitas falas e variados assuntos, pois tenho como dever diário, depois que chego da universidade ler seus textos, os quais sempre trazem uma novidade. Apesar de não ter lido a Folha, fiquei imaginando o que eu faria se estivesse no lugar desses pais apenados, certamente optaria pela escola, mas não por qualquer escola. Foi o que fiz ajudando meu filho e minha nora a escolherem a escola para a neta, Milena.
Um abraço e boa noite..
Eloí
Boa noite, Mestre![ou bom dia já, pelo adiantado da hora!hehe!]
ResponderExcluirA foto fala por tuuuuuudo!
Sou apaixonada e tbm acho uma das mais belas de Curie!
Sou "fã de carteirinha" dessa batalhadora!
.
Gostaria de destacar uma frase da postagem de hoje do senhor:
"Professores são reféns de caprichos infanto-juvenis incontroláveis"..Não sei ao certo, mas talvez pela estrutura de "família" tão diferente nos dias de hoje das que haviam em minha infância[e olha que não sou tão velha assim!^^!], ou tão ausentes, mais precisamente, as crianças crescem como o senhor mesmo diz: ao desdém, quase nunca em casa, com suas famílias[sejam elas como for!].Isso tem nos acarretado essa geração presa à 'trilogia' vídeogame-DVD-computador, que cria suas próprias concepções de mundo sem saber nem vivenciar o que realmente o mundo é!Uma geração que já não se preocupa em 'consertar os erros anteriores da humanidade', e muito menos consertar seus próprios erros!Uma geração que não se preocupa com seu futuro[pois menospreza o presente em que vive!]...As famílias se auto-destituíram do posto de "educadores essenciais" de seus filhos!E colocaram nas escolas todas as expectativas de um educar que não lhe diz respeito por completo!
Bom, ao menos é o que penso!
Não me considero apenas professora, mas sim e também, educadora!No entanto, não sou [ou ao menos não deveria ser!]a única responsável pela educação desses jovens que me são confiados..o senhor me compreende, não é?!
Uma ótima 5ªfeira ao senhor também!
[]'s
Muito querida Eloí,
ResponderExcluirobrigado por fazer deste blogue a sobremesa depois da faina na Universidade, confirmada pela hora de tua postagem. Como tu, também eu, optaria pela Escola, menos como transmissora de conhecimento, mas mais como espaço de socialização
Um afago reconhecido do
Muito querida colega Thaíza,
ResponderExcluirobrigado por já na borda de uma quinta-feira ainda te fazer presente aqui. Tu que és encantada com Marie Curie deves conhecer um filme de 1943 sobre sua vida. Já dei detalhes dele nesse blogue,
Realmente, e serei repetitivo a outros comentários aqui> não somos, enquanto professoras e professores transmissores de conteúdo. Nisso o Professor Google é insuperável. Enquanto educadores temos na Escola nosso lócus de ação.
Um gostosa quinta-feira
attico chassot
Muy querido Profesor Chassot,
ResponderExcluirEs en realidad un tema complejo el que ha tocado desde ayer. Concuerdo con Marcos y con Jenny, hay pros y contras.
La escuela es efectivamente un lugar de socialización, pero no es el único.
Por otra parte, ¿qué sucede cuando es la escuela la que tiene limitaciones para atender la amplia diversidad de maneras de ser de sus educandos? No sé cómo será en Brasil, pero acá en más de una ocasión he visto cómo la escuela deriva casi exclusivamente la responsabilidad de la educación a los padres cuando sus hijos tienen alguna manera "diferente" de ser. Llámense niños con "déficits" de atención, hiperactividad,"trastornos" en la comunicación...
La lista sería larga y no viene al caso. El punto es: la escuela no es detentora de la panacea educativa para todas las realidades. Por tanto, debería haber un espacio de libertad para quienes opten por una alternativa diferente. Regulada,sí, tal como lo menciona en su artículo, pero posible.
Que tenga un lindo día,
Conheço siiiiim o filme!!
ResponderExcluirE já o procurei incansavelmente aqui em Goiânia para comprar, e mesmo na internet, e não o encontro..
Lembor-me que a primeira vez que o assiti, foi uma Profªde Orgânica da Universidade [Joana, um doooce de pessoa!]que me apresentou.
Apaixonei desde a primeira vez que o assisti, e fiquei com aquilo na memória, mas como disse, infelizmente nunca o encontrei para comprar.
=/
Fazer o que...um dia acabo encontrando, tenho certeza!!
Boa quinta!
=]
Muy apreciada Matilde,
ResponderExcluirtienes razón cuando dices que el tema de ayer y de hoy es muy complexo. Una traducción es a existencia de más comentarios que los hay en cotidiano. Tú has traído una dimensión nueva a discusión. Las responsabilidades más exigentes que se tiene con la presencia de niñas y niños que exigen necedades especiales. Aquí hay un punto neurálgico. Más do que nunca, a mi juicio, esa responsabilidad debe ser compartida con los padres y la Escuela. También en Brasil, como tú relatas de Ecuador, ha las dos situaciones: padres que quieren transferir el ônus a la Escuela y esta, que ante la dificultad, lava las manos, y se asume impotentes.
En fin y al cabo estoy en acuerdo contigo que debería haber espacios para alternativas tipo de esas referidas en los dos textos sin penalización para aquellos que deseasen experimentar.
Agradezco tu siempre tan preciosa visita
attico chassot
Estimada colega Thaiza,
ResponderExcluiro filme é lindo. Não posso te oferecer minha cópia que foi me presenteado pelo querido colega Geziel Nascimento Moura, um muito competente pesquisador e professor de Química do Belém do Pará. Minha cópia, na última exibição apresentou sérios problemas.
Procuremos assim tu e eu.
Depois de falar de Marie Curie num bar como há semana, amanha certamente terei um auditório mais comportado.
Afagos do
attico chassot
Buenas! Professor Chassot.
ResponderExcluirJá faz tempo que não navego por esse blogue, início de ano é sempre complicado, cheio de tarefas, planejamentos, discussões e afins.
E como estou começando a projetar meu TCC em Pedagogia, no qual irei "dialogar" com Edgar Morin, numa proposta de investigar o aprender na complexidade das redes, focando mais precisamente a contribuição da informática educativa nas escola, tenho tentado compreender, reler e reler... e isso tem ocupado quase todo o tempo.
Aí volto a ler o seu blog, com um tema muito instigante, provocador e atual (podemos dizer). E confesso, encontro dificuldades em me posicionar, mas gostaria de reforçar alguns apontamentos feitos pelo professor e pelos colegas "comentaristas" do blog. A criança aos cuidados e solta frente a televisão, vídeo game, Internet (alunos de 8 anos com orkut e milhões de fotos. Onde estão os pais?) é algo assustador. Não sei se isso não está "destruindo" a ideia de infância que temos.
Os alunos da ed. infantil de 3 e 4 anos, parecem mini adolescentes, estão todos na moda, as meninas já usam muitas vezes roupas totalmente inadequadas, principalmente para brincar. Existe uma discussão sobre a sexualidade por de trás dessa dimensão.
Por fim, não tenho um posicionamento, mas acho o debate muito pertinente.
Abraços.
Prof. Luís Dh.
Mestre Chassot, como pode ser visto ontem, esse é um assunto polêmico. Sempre haverá os que são favoráveis e contrários a determindado tema. Porém, espero que essa iniciativa dos pais não se torne algo corrente em todo o Brasil.
ResponderExcluirDevemos nos preocupar em melhorar as condições da educação, e não em repreender quem toma uma medida alternativa para tentar garantir um ensino de qualidade para os filhos.
Ótimo dia.
Meu caro Mestre! Ponderando as duas possibilidades, aceitaçao ou condenaçao do HomeSchool, assumo esta última, pois acredito não haver preparo suficiente por parte dos pais para tanto. Sem contar ainda o envolvimento doméstico e familiar pela proximidade, e que muitas vezes pode interferir na prática pedagógica (se é que se pode assim denominar). A adoçao de idéias como essa só vem a reforçar o que Frigotto In Gentilli 2008 trata como Metamorfose Conceitual no Campo Educacional, refletindo que muitas vezes as crises estabelecidas pelo capitalismo nos fazem adotar uma postura de aceitaçao do Estado Mínimo, inclusive no campo da educaçao. Abraço do JB.
ResponderExcluirMeu caro colega Luis,
ResponderExcluirbuenas tchê.... Primeiro saúdo teu retorno. É bom telo aqui como comentarista. A propósito de teu TCC, defendo a tese que para bem dialogar com um autor é bom conhecê-lo. Para tal vale ler Um ponto no holograma - A história de Vidal, meu pai onde Edgar Morin, dos mais reconhecidos sociólogos pós-moderno faz uma admirável tessitura de mais de quatro séculos da historia de sua família, para nos narrar a densa história de Vidal, seu pai.
Quanto à polêmica Escola SIM/NÃO trazes novos ingredientes; o adolescer precoce das crianças. A Escola, ou melhor, professoras e professores, não estão preparados pra tal. Essas reflexões ainda não foram contempladas em CHASSOT, Attico. Mudanças na Escola. Pátio, Revista Pedagógica. Ano XIV, Fevereiro/Abril 2010, p 10-13, Porto Alegre, ISSN 1518-305X. que recém publiquei. Vale pensar nisso.
Obrigado pelo teu retorno,
attico chassot
Marcos, meu caro,
ResponderExcluirpelo menos hoje e ontem não és comentarista. O mérito desta trazida parece ser não só reflexões muito densas postadas ontem e hoje, mas dar conhecimentos a algo bastante desconhecido (e muito discutível) no Brasil a Educação exclusivamente em casa.
Obrigado pela continuada parceria na ajuda das discussões
attico chassot
Meu caro Jairo,
ResponderExcluirtu que és bloguista certamente não te surpreendes, mas a mim me encanta (mesmo que me aumente o trabalho) ver os leitores participando, algo muito raro, mesmo que tenha quase uma centena de visitas diárias. Para mim a opção Escola ainda é a mais condizente, Acredito que somente a elite poderia hoje pensar na ‘Educação doméstica’ tendo os tutores ou os curadores. Isso me leva pensar no extremo oposto das elites, onde em nossas vilas existem as mulheres cuidadores de crianças ou crecheiras, Todavia elas buscam mais se aproximar, segundo me parece, da Educação escolar do que da Educação familiar. Não conheço esse texto do Gaudêncio Frigoto que referes.
Valeria uma blogada sobre ele.
No aguardo. Obrigado por tua participação
attico chassot