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sexta-feira, 12 de março de 2010

12* “A Ciência é masculina?” sacralizada ou dessacralizada


Porto Alegre Ano 4 # 1317

Realmente o grande Heráclito de Éfeso, há mais de 2.500 A.P (anos Antes do Presente) estava coberto de razão quando afirmava: Ninguém se banha no rio duas vezes

porque tudo muda no rio e em quem se banha. Sim, na noite de ontem que foi (ex)tensa mudou muito o rio e mudou o banhista, ou abandonando um pouco metáforas: mudou muito o cenário de minhas palestras e mudou o palestrante. E mais, não sei dizer se ‘A Ciência é masculina?’ foi sacralizada ou dessacralizada. Talvez devesse dizer que ela (re)tornou ao seu lugar que devia estar.

Como tive aqui votos de torcidas da Thaiza, Marcos, Eloí e Jairo e certamente de mais alguns dos cerca de 70 leitores que acessaram a blogada de ontem cabe contar um pouco da memorável noite de ontem. O mais significativo foi a originalidade do cenário. A fala foi literalmente num bar onde havia mais de cincoenta pessoas que comiam, bebiam e principalmente conversavam animadamente. Minha fala, como pode ser visto na programação que mostrei ontem estava inserida no sarau que é uma promoção dos Gabinetes do Deputado Ronaldo Zulke e da Vereadora Sofia Cavedon. As atividades como um todo tinha como título gera: ‘A Ciência é Masculina? É, sim senhora’

A programação começou com cerca de uma hora de atraso, até porque uma chuvarada que acompanhou o por de sol embaralhou o trânsito. O horário de término avançou em muito no que imaginava.

O primeiro segmento foi um excerto da peça de teatro ‘Apareceu a Margarida’ com o ator Renato Campão que personalizou a Professora Margarida dando uma aula autoritária. O auditório envolveu-se na comédia. Eu me imaginando como no segmento seguinte eu captaria a atenção do público. Foram os momentos de maior nervosismo para mim.

No segundo momento foi a minha fala. Mais uma vez o PowerPoint me salvou. Havia reduzido em muito minha fala usual. De maneira muito surpreendente tive uma atenta participação dos presentes.


Iniciei mostrando o quanto a Ciência não necessita de muitos esforços para ser evidenciado: o quanto a Ciência é masculina. Talvez, o que seja muito mais complexo é explicar - ou pelo menos aceitar - o porque dessa situação. Isso parece não ser diferente quando se fala nas Artes. Quais as mulheres proeminentes que aparecem na constelação de grandes compositores, pintores ou escultores? Também na Filosofia, encontramos nomes poucas mulheres, se comparado com os de homens. A Teologia é uma área de domínio dos homens. Na Igreja católica há muitas ordens religiosas femininas fundadas por homens. Preliminarmente parece que se possa concluir que não é apenas a Ciência que é predominantemente masculina, mas nossa civilização, já há alguns milênios. Usei os Prêmios Nobel, mesmo reconhecendo um discutível critério, para mostrar a Ciência masculina.

No segundo momento de minha fala trouxe a pergunta: Por que a Ciência foi / é masculina? Mesmo que se possa considerar uma simplificação, poder-se-ia afirmar que esta inculcação tem uma procedência: a religião. Acerca dessa construção de uma religião masculina se traz algumas considerações. Talvez possamos dizer que a inculcação continuada de uma Ciência masculina se tenha fortalecido a partir de nossa tríplice ancestralidade: greco-judaica-cristã. Para cada uma dessas três raízes se traz tentativas de leituras; na grega: os mitos e as concepções de fecundação de Aristóteles; na judaica: a cosmogonia, particularmente a criação de Adão e Eva; e na cristã: aditada às explicações emanadas do judaísmo, a radicalidade de interpretações como aquelas trazidas por teólogos eminentes.

Para finalizar busquei mostrar alguns de nossos esforços para pudermos vencer aquela uma primeira das explicações: a sociohistórica, aonde teremos que fazer continuado suplantarmos resquícios de uma latente misoginia, mesmo que esta ainda esteja fortemente entranhada em nosso imaginário masculino e uma segunda das implicações a biológica, pela cada vez mais continuada valorização da maternidade, poderemos deixar de fazer dela um ônus a medida que, como homens, exercermos uma paternidade cada vez mais responsável. São utopias não impossíveis de se transformarem em realidades, por isso sempre e cada mais devem ser recordadas olhando a história que tecemos.

Encerrei dizendo que nossa presença naquele sarau só terá sido válido se nos dermos conta que não devemos esquecer a nossa história. Muito provavelmente se possa dizer que foram as continuadas miradas no passado que fizeram minha fala. Esse era um dos propósitos daquele encontro. E, afirmei. Que seria bom se juntos conseguirmos.

Só lamento que eu não tenha aproveitado mais esse auditório, que no começo não cria que captaria a atenção dos presentes. Eu me subestimei. Terminado minha fala me imaginava como me superaria se tivesse uma nova oportunidade.

A fala seguinte foi da professora Simone Dorneles, que

tendo como fio condutor a obre de Simone Beauvoir conectou com brilhantismo gênero, educação e cidadania com minha fala.

A festa prosseguiu com um show musical coma cantora e harpista Liane Schuler –montenegrina, detalhe significativo no reencontro de laços de conhecidos comuns e o cantor e mestre no violão Demétrio Xavier, que entre musicas apresentou a sua linda música ‘A cerração na Sanga do Pedro Lira’ que venceu a última Califórnia da Canção.

Ao final os 'artistas' foram homenageados pela Sofia Cavedon e Ronaldo Zulke. Valeu ter levado A Ciência é Masculina? É, sim senhora! a um bar. Isso foi bom pelas manifestações de apreço que recebi dos participantes especialmente de meus colegas e amigos Fátima e José Clóvis.

Agora meus votos de uma sexta-feira. Acompanho a Gelsa encerrando suas atividades em Ålborg e viajando à Paris onde tem atividades na próxima semana. Convido para a blogada sabatina aqui.

8 comentários:

  1. Maravilhoso. Eu estava lá e assisti sua palestra, entre batendo uma foto e outra...nisso bateu a vontade de assisti-la por inteiro... e parabéns peo seu belo resumo desse encontro promovido pela vereadora Sofia e o deputado Zulke.. vu linkar com o blog da Sofia.

    Marta Resing

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  2. Estimada Marta,
    obrigado por teu comentário.
    Sou muito grato a ti e todos que me ofereceram esta oportunidade.
    Meu resumo conta um pouco da noite muito rara para mim.
    Com continuada disponibilidade,
    attico chassot

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  3. É até difícil imaginar o senhor nervoso, Mestre!
    =]
    Mas, mediante um ambiente diferenciado do que o de costume, dá para entender claramente!
    Mas, pelo que vejo, tudo correu melhor do que o esperado e, como o senhor mesmo disse, "se subestimou".
    Mas eu disse que seria um sucesso, não disse?!
    hehehe!!
    Uma doce e agradável sexta feira!
    []'s

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  4. Mestre Chassot! No teu relato já pude perceber que perdi uma noite memoravel. Parece que "A Ciencia é Masculina?" realmente capturou os presentes, tal a expressão de atenção de todos. Estás de parabéns mais uma vez, por aceitar esse desafio e "não fugir da raia"como diziam os antigos. Abraços do JB.

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  5. Estimada Thaiza,
    valeu tua torcida! Sabes o que me encanta em nosso fazer profissional as renovadas ‘primeira vez’, Cada ano, cada semestre, cada aula se parece como uma nova estreia. Daí porque ficarmos nervosos.
    Lindo os teus votos que me inspiram desejar-te um doce e suave fim de semana.
    Um afago do
    attico chassot

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  6. Meu caro Jairo,
    és um hábil ‘fotopsicólogo’. Realmente a minha grande surpresa foi a atenção do público. Foi só que não soube aproveitar melhor. Mas eu aprendo. No próximo sarau farei melhor. Cada vez mais me disponibilizo levarmos essa fala para a Factum.
    Com muita admiração
    attico chassot

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  7. Mestre Chassot, parece que Heráclito estava realmente certo. Ressalto, a parte, que esse pensamento de Heráclito de Éfeso tem um sabor de piada particular entre alguns colegas meus do Curso de História, já que era um bordão frequentemente utilizado por um antigo professor: de cada duas aulas, em uma delas, com certeza, ela a usava.

    Pelo seu relato, parece que tudo correu muito bem na noite de ontem. Pena eu não ter poddido estar lá para ouví-lo, mas creio que haverão novas oportunidades.

    Ótimo dia.

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  8. Prezado Marcos,
    realmente na há de faltar oportunidades para estares em uma fala e ela nunca será a mesma das muitos que já assististes;
    Os continuados agradecimentos do

    attico chassot

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